Pesquisar

Alimentação na Criança Atleta

Importância da alimentação na criança atleta

A ingestão de uma dieta adequada na infância é fundamental para manter a saúde, favorecer o crescimento e a maturação, além de minimizar o risco de lesões e otimizar o desempenho esportivo.

Os efeitos de uma alimentação saudável em crianças fisicamente ativas podem ser percebidos tanto na saúde geral quanto no rendimento esportivo.

Embora os princípios básicos da alimentação sigam diretrizes semelhantes às dos atletas adultos, existem particularidades no organismo infantil que precisam ser consideradas.

Muitos dos hábitos alimentares adquiridos na infância e adolescência — seja por crianças atletas ou não — tendem a se manter ao longo da vida. Assim, uma criança habituada a uma alimentação equilibrada terá mais facilidade para manter hábitos saudáveis na vida adulta. Por outro lado, aquelas acostumadas ao consumo excessivo de doces, açúcares e alimentos ultraprocessados podem enfrentar maiores dificuldades e prejuízos à saúde com o passar dos anos.

Durante a infância e a adolescência, o corpo exige energia não apenas para atender às demandas do esporte, mas também para sustentar o crescimento e o desenvolvimento físico. Como o organismo está em constante transformação, essas demandas nutricionais mudam continuamente e exigem acompanhamento adequado.

Suplementos alimentares

Um estudo britânico com atletas juniores (até 18 anos) revelou que 62% relatavam o uso de suplementos alimentares, especialmente multivitamínicos e sais minerais (1).

O apelo da indústria especializada nesse segmento é bastante atrativo, principalmente para adolescentes. Este grupo tende a ser mais vulnerável à propaganda, muitas vezes acreditando que o “pó mágico” os tornará mais fortes e atléticos.

No entanto, a esmagadora maioria das crianças e adolescentes apresenta demandas nutricionais que podem ser plenamente supridas por meio de uma alimentação equilibrada com alimentos naturais. Nesse cenário, os suplementos não trazem benefícios adicionais — o que vale, inclusive, para grande parte dos atletas profissionais.

Independentemente de o objetivo ser tornar-se um adulto fisicamente ativo ou um atleta de alto rendimento, é fundamental que a criança seja educada desde cedo a construir hábitos alimentares saudáveis com base em alimentos reais.

Em raros casos, adolescentes com demandas energéticas muito elevadas poderão considerar o uso de suplementos. Ainda assim, essa medida só deve ser adotada após todos os ajustes possíveis na alimentação regular.

Como o próprio nome sugere, o suplemento deve complementar, e jamais substituir, uma dieta equilibrada.

Demandas nutricionais do jovem atleta

Crianças fisicamente ativas diferem das crianças sedentárias e de atletas adultos em relação a aspectos fisiológicos, metabólicos e biomecânicos, o que terá implicações em suas necessidades nutricionais.

Crianças e adolescentes têm necessidades mais elevadas de proteína do que os adultos para promover o crescimento.

Ainda assim, na maioria de países ocidentais o consumo da proteína excede as exigências, de forma que o consumo proteico da maioria dos jovens atletas costuma ser adequado.

Todavia, atletas em uso de dietas restritivas e especialmente os vegetarianos encontram-se sob maior risco de não conseguirem ingerir quantidades proteicas adequadas.

Gordura

A criança utiliza proporcionalmente mais gordura e menos carboidrato para a geração de energia, quando comparado com os adultos.

Isso acontece porque as reservas de glicogênio são mais baixas nas crianças do que nos adultos e, também, porque as enzimas envolvidas no metabolismo da glicose não estão inteiramente desenvolvidas, especialmente antes da adolescência.

Muitos jovens praticantes de exercício físico restringem, excessivamente, a ingestão dietética de gordura com o objetivo de reduzir a massa e/ou a gordura corporal.

Além da ingestão calórica insuficiente, o baixo consumo de gordura pode resultar em uma ingestão insuficiente de ácidos graxos essenciais e vitaminas lipossolúveis.

Ferro

O ferro é um elemento fundamental para o atleta. Ele compõe a hemoglobina, substância responsável pelo transporte de oxigênio no sangue e a mioglobina, responsável pelo transporte de oxigênio no músculo.

A ingestão inadequada e a deficiência de ferro é comum na população em geral e ainda mais comum em atletas, que apresentam perdas relacionadas ao exercício.

Mulheres adolescentes do sexo feminino, em particular, são ainda mais vulneráveis, devido às perdas menstruais e às maiores necessidades diárias devido ao processo de desenvolvimento corporal.

O consumo insuficiente de ferro também é mais comum nesse grupo. Alguns estudos relatam que até 40-50% das mulheres atletas adolescentes têm baixos estoques de ferro (2).

A carne vermelha é uma das principais fontes de ferro, de forma que atletas vegetarianos estão mais suscetíveis para a deficiência de ferro. Atletas envolvidas com esportes que presam por um corpo extremamente magro, como a ginástica ou o ballet, e esportes com categorias de peso, como o remo e os esportes de luta, também favorecem a ocorrência de deficiência de ferro, haja vista que as dietas para controle de peso tendem a apresentar uma quantidade de ferro inferior à necessidade diária.

Por fim, a ingestão de alimentos de valor nutricional desprezível, como refrigerantes, pizzas e doces, também apresentam quantidade insuficiente de ferro, sendo este comportamento bastante prevalente durante a adolescência.

Dietas especiais

Diversas “dietas de moda” estão ganhando espaço crescente entre atletas. Não é incomum que atletas adolescentes sejam atraídos por estes programas e seus prometidos resultados milagrosos. Dietas low carb, Dieta cetogênica, Dieta paleolítica e jejum intermitente são apenas algumas das mais utilizadas.

Todas estas dietas apresentam resultados de fato surpreendentes quando em substituição a uma dieta completamente desregrada. Entretanto, não existe evidência de que possam trazer qualquer benefício para um jovem atleta quando comparado com uma dieta nutricionalmente bem equilibrada.

Além disso, há um maior risco de que as restrições alimentares impostas possam comprometer o desenvolvimento integral da criança.

Por fim, é preciso considerar o crescente número de atletas adolescentes vegetarianos ou mesmo veganos.

Estas dietas, quando bem equilibradas, podem suprir a maior parte da demanda energética do atleta, mas o risco de deficiências é maior, de forma que o acompanhamento com o nutricionista é fundamental.

Distúrbios nutricionais no jovem atleta

Quando crianças e adolescentes são submetidos a programas de treinamento excessivamente rigorosos — incompatíveis com sua idade, grau de maturação ou limites individuais — os benefícios da prática esportiva podem ser anulados ou até se tornarem prejudiciais, especialmente quando associados a uma alimentação inadequada.

Uma frase comum entre pais e familiares de jovens atletas é que eles “são privilegiados porque podem comer de tudo e continuam magros”.
De fato, o jovem atleta apresenta uma demanda energética elevada, o que pode permitir a manutenção de um peso corporal aparentemente saudável, mesmo com uma dieta nutricionalmente pobre. No entanto, isso não significa que ele esteja isento das consequências de uma alimentação desbalanceada — tanto para a saúde quanto para o desempenho esportivo.

Distúrbios nutricionais são frequentes na adolescência, particularmente entre meninas envolvidas em modalidades com exigência estética por um corpo excessivamente magro, como balé, ginástica artística e saltos ornamentais.
Essas atletas podem relatar sintomas como irregularidades menstruais, fadiga persistente, distúrbios do sono e lesões frequentes.

Adolescentes que demonstram preocupação constante com o peso devem receber atenção redobrada de pais e treinadores, pois podem estar vivenciando um quadro de Deficiência Energética no Esporte — condição que requer avaliação especializada.

Garantir a ingestão equilibrada de proteínas, fibras alimentares (frutas, vegetais, grãos integrais), carboidratos e gorduras em todas as refeições e lanches é essencial para manter níveis adequados de glicemia e assegurar o bom funcionamento físico e mental do jovem atleta.

Hidratação

A hidratação do atleta infantil também exige cuidados especiais. A criança tem uma taxa de suor mais baixa quando comparado com adultos, o que ajuda a preservar os estoques de água. Por outro lado, a capacidade de dissipar calor é reduzida.

A desidratação pode dificultar ainda mais o ajuste da temperatura corporal, deixando o atleta mais susceptível ao hiperaquecimento.

Idealmente, o atleta infantil deve evitar a prática esportiva em ambientes abertos nos dias e horários mais quentes.

Além disso, é importante que se programe paradas regulares para reidratação. O controle de peso e da cor da urina são mecanismos simples com os quais o estado de hidratação da criança pode ser avaliado, como discutimos em um artigo específico sobre a hidratação do atleta.