Abordagem Psicológica no Preparo para a Cirurgia Bariátrica
Abordagem psicológica no preparo para a cirurgia bariátrica
A abordagem psicológica no preparo para a cirurgia bariátrica é extremamente importante e desempenha um papel fundamental na adesão do paciente ao tratamento. Afinal, a cirurgia não é algo meramente prático, pois inclui questões psicológicas, sociais, funcionais, biológicas e demais áreas da vida do indivíduo.
Por isso, fizemos este conteúdo com uma série de informações sobre essa temática, visando auxiliar você no entendimento de alguns fatores envolvidos com a avaliação psicológica do paciente obeso, frente à cirurgia bariátrica. Acompanhe!
Abordagem psicológica no preparo para a cirurgia bariátrica
A abordagem psicológica no preparo para a cirurgia bariátrica tem como propósito oferecer mais segurança e conhecimentos ao indivíduo que passará pelo procedimento cirúrgico. Além disso, é feita a avaliação de questões psicológicas e emocionais, a fim de compreender quais contingências estarão envolvidas com o tratamento, e se há, ou não, risco de complicações relacionadas à cirurgia.
A seguir, apresentamos com mais detalhes como essa abordagem pode ser feita no tratamento de pacientes obesos:
1. Avaliação psicológica dos níveis de ansiedade e depressão
Inicialmente, o psicoterapeuta poderá investir na avaliação psicológica dos níveis de ansiedade e depressão. Essa avaliação nutre o tratamento, trazendo à luz importantes informações sobre a forma como o paciente tem lidado com a sua condição e com as questões de sua vida de maneira geral.
Essa avaliação é capaz de proporcionar detalhes e informações que serão usadas pelo psicólogo no momento da intervenção. Isto é, por meio dessa avaliação, o psicólogo pode conhecer melhor o paciente, entendendo os seus níveis de ansiedade e depressão frente ao seu quadro clínico, o que fornece dados para uma intervenção focada na subjetividade.
Além disso, essa avaliação permite que o psicólogo estude a viabilidade da cirurgia, considerando se haverá ou não uma real adesão do paciente para com o tratamento oferecido.
2. Avaliação dos níveis de compulsão alimentar
A compulsão alimentar pode ou não estar presente no paciente obeso, o que deve ser avaliado antes da cirurgia. Afinal, quais são os motivos pelos quais a compulsão pode existir? Quais fatores sociais, emocionais, psicológicos e de formação psíquica fomentam o comportamento? Quais situações propiciam a compulsão? E o que pode barrá-la em algumas circunstâncias?
Essa análise pode permitir que o terapeuta intervenha na relação que o paciente tem com os alimentos e com a alimentação, aumentando as chances de sucesso pós-operatório.
3. Análise das expectativas e desmistificação de crenças
A abordagem psicológica no preparo para a cirurgia bariátrica também considera a análise das expectativas que muitos pacientes podem ter com relação ao processo cirúrgico em si.
Isso porque, muitas vezes, o paciente pode criar mitos e fantasias sobre os resultados do tratamento, crendo que terá o “corpo de revista” logo após a cirurgia. Algumas mulheres referem por exemplo que querem ficar “com o corpo da Barbie”.
Além disso, pode acreditar que perderá todo o peso “a mais” apenas com a cirurgia, sem se dar conta de que além do processo cirúrgico, há um caminho de reeducação alimentar e de mudanças de hábitos pela frente.
Sendo assim, é papel do psicólogo quebrar com esses mitos e crenças errôneas que o indivíduo possa ter internalizado. Eventualmente, o psicólogo poderá sinalizar isso para o cirurgião, sugerindo a não realização da cirurgia ao menos em um primeiro momento.
4. Psicoeducação
A psicoeducação também é uma importante ferramenta que contribui para o bom resultado do tratamento. Isso decorre do fato de que é por meio da psicoeducação que o paciente pode:
- Aprender mais sobre a sua condição.
- Entender melhor como a obesidade pode ter ocorrido, ou seja, quais questões sociais, psicológicas e ambientais podem ter contribuído para o desenvolvimento do quadro.
- Compreender quais são as mudanças no seu corpo frente à cirurgia.
- Entender como os hábitos devem ser alterados em prol do tratamento adequado.
- Tirar dúvidas tanto sobre a obesidade, quanto sobre a cirurgia e o pós-cirúrgico.
5. Avaliação das outras tentativas de emagrecimento
A abordagem psicológica no preparo para a cirurgia bariátrica também investiga quais foram as outras tentativas de emagrecimento que o sujeito já pode ter investido. Quais foram os métodos colocados em prática? Em quais momentos fracassaram? Quais sentimentos estavam envolvidos com o fracasso? Como a pessoa lidou com o resultado negativo? O que levou à falha desses outros métodos? Quais ações poderiam ter sido diferentes?
Essas e outras perguntas podem ajudar a mapear quais questões psicológicas, de autoestima e de autoconhecimento, podem estar envolvidas com o desejo de emagrecer e seus “fracassos”.
A partir disso, pode-se trabalhar questões e impasses que prejudicaram o curso do tratamento e da tentativa de emagrecimento colocados em prática anteriormente, visando minimizar as chances de insucesso da cirurgia.
6. Compreensão da postura da família e a entrevista com esta
O psicólogo também poderá investigar a postura da família com relação ao quadro de obesidade do paciente e também com relação à visão que os familiares têm da cirurgia em si.
Isso porque o psicólogo também pode intervir no sistema familiar, psicoeducando os envolvidos para que estes também façam parte do suporte do paciente que fará a cirurgia. Afinal, a família tem um papel importante no tratamento, podendo ser uma mola propulsora de motivação ou fortalecimento da vulnerabilidade do paciente.
7. Entendimento dos motivos pelos quais o paciente quer emagrecer
Durante a conversa com o paciente, o psicólogo também investiga quais são os motivos pelos quais o paciente deseja emagrecer. O que o levou a esse objetivo? Será que são as imposições sociais? Problemas de autoestima? Questões relacionadas apenas à saúde física? Dificuldade para se locomover?
Esses questionamentos podem auxiliar na hora de direcionar o tratamento mais pertinente para o paciente. Por exemplo, se o foco do emagrecimento são questões relacionadas à aceitação alheia, a autoestima poderá ser desenvolvida durante as sessões com o psicoterapeuta, mudando a visão do tratamento como algo que fará bem ao indivíduo, e não aos “olhos alheios”.
8. Impactos da obesidade na vida do paciente
Os impactos que a obesidade tem projetado na vida do paciente também serão escutados e avaliados.
Quais são as maiores dificuldades provenientes do quadro de obesidade? Quais são as maiores limitações? Como a pessoa se sente profissionalmente, pensando na perspectiva de um obeso? Quais impactos a vida sexual e amorosa têm sofrido? Entre outros questionamentos.
Essa investigação possibilita uma intervenção voltada diretamente para os impactos que a obesidade tem causado na vida do paciente. Por exemplo, se for possível detectar uma postura de isolamento social devido à obesidade, as habilidades sociais do paciente poderão ser trabalhadas desde a abordagem psicológica no preparo para a cirurgia bariátrica.
9. Espaço de escuta e expressão das emoções e sentimentos
O espaço de escuta e de expressão das emoções e sentimentos também entra para a abordagem psicológica no preparo para a cirurgia bariátrica. Afinal, sabemos que o paciente poderá estar lidando com questões emocionais profundas, tanto relacionadas à obesidade e toda a história de vida, quanto ao medo de fazer a cirurgia, lidar com o pós-operatório, e assim por diante.
Sendo assim, o psicólogo também visa oferecer um ambiente de escuta e acolhimento para o sujeito, a fim de que este se sinta mais confortável com a situação e que possa lidar com suas emoções de uma forma mais assertiva.
Afinal, o ato de colocar em palavras as angústias, medos e pensamentos, é muito terapêutico e pode auxiliar no encontro de insights.
10. Incentivar e promover a adesão ao tratamento
O psicólogo também poderá incentivar e promover a adesão ao tratamento, quebrando paradigmas, escutando as angústias do paciente e proporcionando um ambiente que promova segurança e bem-estar ao sujeito.
Afinal, as dúvidas sobre o tratamento e sobre o que acontecerá depois podem desencorajar o indivíduo, e o psicólogo poderá orientá-lo de forma empática.
11. Reordenação da rotina e dos hábitos
O psicólogo, na abordagem psicológica no preparo para a cirurgia bariátrica, também orientará o paciente sobre a necessidade de implementar mudanças de hábitos e na rotina, de uma forma geral.
Desse modo, poderá apoiá-lo na autoanálise frente à reordenação da rotina, como forma de auxiliá-lo nas melhores escolhas para o novo estilo de vida que será construído.
Além disso, o terapeuta também poderá esclarecer as dificuldades e a resistência que poderá surgir. Afinal, sabemos que não é fácil implementar mudanças de rotina e de hábitos, da noite para o dia. Por isso, o psicólogo visa preparar o paciente para essas dificuldades, ao mesmo tempo em que o auxilia no planejamento das mudanças que serão postas em prática.
12. Análise dos gatilhos e da vulnerabilidade
Por fim, o psicólogo também poderá analisar quais são os gatilhos emocionais que podem fomentar o comportamento compulsivo de alimentar-se demasiadamente ou de deixar de lado as recomendações médicas e profissionais.
Isto é, o psicólogo avaliará, junto com o paciente, quais são as situações cotidianas que aumentam a sua vulnerabilidade frente à obesidade. Por exemplo: Será que os amigos têm instigado a alimentação exagerada, ao convidar o paciente para comer fast food? Será que a família tem limites alimentares saudáveis? Como é a relação do paciente com a alimentação em determinados contextos? Há situações que ele come mais por influências externas? Quais gatilhos emocionais, como ansiedade ou estresse, provocam um consumo alimentar mais exagerado?
Esses e outros questionamentos podem ajudar na hora de minimizar as situações que expõem o indivíduo às suas vulnerabilidades e gatilhos.
Como auxiliar um paciente obeso que fará cirurgia?
Além de compreender como funciona a abordagem psicológica no preparo para a cirurgia bariátrica, podemos também discutir sobre algumas ações que a família pode colocar em prática na hora de fornecer um suporte a mais para o paciente.
Afinal, como mencionamos anteriormente, a família pode ter o papel de fomentar a adesão ao tratamento, bem como pode ocasionar um aumento da vulnerabilidade do paciente.
Por isso, convidamos você para analisar alguns fatores que podem ser colocados em prática em casa, sempre lembrando, claro, que não se trata de um passo a passo, mas sim de sugestões que devem sempre ser adaptadas de acordo com a realidade e a subjetividade do paciente. Veja:
1. Adaptação a novos hábitos alimentares
A família, muitas vezes, pode representar um dos maiores gatilhos para a alimentação exagerada e “descompassada”. É o caso de familiares com hábitos alimentares ruins, nos quais há o consumo exagerado de fast food, lanches calóricos e bebidas alcoólicas. Também é considerado um hábito ruim o fato de haver refeições com grandes quantidades de alimentos, que podem ocasionar o ato compulsivo de comer mais e mais, apenas para satisfazer o desejo provocado pela visão de uma mesa exageradamente farta.
Obviamente, não estamos dizendo que a família tem que reduzir o que come de uma forma brusca. Mas, sim, estamos querendo apresentar a possibilidade de toda a família implementar, na medida do possível e de forma gradativa, um estilo de alimentação mais saudável e equilibrado.
Analisar como é a relação da família com a comida e se há muitos excessos no dia a dia, é uma ação que pode resultar em mudanças positivas. Assim, é possível fortalecer o comprometimento do paciente frente às mudanças alimentares impostas a ele, bem como é possível melhorar a saúde e a qualidade de vida de toda a família.
Afinal, se todos aderirem a uma reeducação alimentar, feita por um nutricionista, a qualidade de vida, a saúde física e mental e demais questões da vida dos sujeitos poderão ser impactadas positivamente.
Além do mais, muitos dos gatilhos por trás da compulsão alimentar do obeso poderão ser evitados no dia a dia.
2. Apoio emocional que motiva
Apoiar o paciente frente às dificuldades do tratamento e os medos que podem surgir, é um comportamento que pode motivá-lo a ir adiante.
Acolher as angústias, demonstrar presença e mostrar-se disposto a ajudá-lo a implementar mudanças saudáveis são comportamentos que podem melhorar a qualidade de vida do sujeito.
Lembre-se de que ele está passando por um momento difícil, no qual é necessário mudar hábitos enraizados, ao mesmo tempo em que se transforma a maneira de se relacionar com diversas áreas de sua vida, como a interação com os amigos, os happy hours, etc.
Tudo isso pode gerar momentos de tristeza, revolta, angústia, ansiedade e estresse. Portanto, não julgue as emoções do paciente, mas, sim, tente oferecer a ele um suporte emocional que seja mais positivo.
Ao perceber que pode contar com a família nos momentos mais difíceis e desgastantes, o paciente, tendencialmente, poderá se sentir mais motivado para ir adiante no tratamento.
3. Desculpabilização do paciente
A família também pode auxiliar o indivíduo na visão que ele constrói dele mesmo. Isso porque, muitas vezes, o paciente obeso pode se culpar pelos próprios comportamentos. Porém, é necessário ajudá-lo a entender que o tratamento vai além da “boa vontade”. São diversos os fatores envolvidos.
Mostrar apoio, mesmo diante das “recaídas”, é algo que pode encorajar a pessoa a tentar mais uma vez. Seja uma mola propulsora de motivação, e não de culpa.
Mesmo quando o paciente não consegue atingir sucesso em uma meta estabelecida para o processo de emagrecimento, ele ainda está em sofrimento psíquico com relação a isso. Portanto, fortalecer esse sofrimento, apenas o culpando, não é a melhor alternativa. Agora, incentivar o tratamento e a busca pelo apoio psicológico, é.
4. Alinhamento de expectativas
A família também deve cuidar com todas as expectativas que coloca sobre o indivíduo, bem como deve auxiliá-lo na construção de uma visão mais pautada na realidade.
Isso porque tanto a família, quanto o próprio paciente, podem ter uma visão mágica da cirurgia, crendo que o emagrecimento total acontecerá logo após o processo cirúrgico. Mas não é bem assim!
O processo de emagrecimento deverá ser seguido no pós-operatório, e a família deve ter o cuidado de não colocar muitas expectativas exageradas sobre o indivíduo.
Lembre-se de que ele está lidando com diversos excessos. Ter de lidar com mais um, provocado pelas expectativas da família, poderá ser mais um “peso” emocional. Cuidado!
Evite essas expectativas exageradas aprendendo mais sobre a cirurgia, sobre a obesidade e sobre o que deve ser feito no pós-operatório.
5. Incentivo aos hábitos saudáveis
Por fim, a família também pode incentivar os hábitos saudáveis dos indivíduos, dando a ele a oportunidade de implementar mudanças positivas na própria rotina.
Por exemplo, se a família tem comportamentos sedentários, que tal começarem a caminhar em conjunto? Que tal mudar a rotina de sono, estabelecendo um horário mais saudável para todos? Que tal convidar o indivíduo para atividades ao ar livre, ou para um almoço saudável em um restaurante que foca em alimentos menos calóricos?
Todas essas medidas, por menores que possam parecer, vão fomentar as mudanças de hábito na vida do indivíduo, projetando grandes transformações no futuro.
Afinal, é dando um passo após o outro que poderemos, mais tarde, estar em um lugar totalmente diferente.
E lembre-se: o apoio de profissionais da saúde não deve ser descartado. A família também pode conversar com o médico e com o psicólogo, visando reequilibrar suas emoções e aprender mais sobre o caso clínico do sujeito. Quanto mais conhecimento tivermos, melhor poderá ser a nossa intervenção para com o paciente.
Referências
AKAMINE, A. M. B. C.; ILIAS, E. J. Por que avaliação e preparo psicológicos são necessários para o paciente candidato à cirurgia bariátrica? À Beira do Leito. Rev. Assoc. Med. Bras. 59 (4). Ago 2013
BRAGA, L. R. A influência que a relação familiar pode exercer no paciente pós cirurgia bariátrica. Trabalho de Conclusão de Curso – Centro Universitário Jorge Amado, 2009.
DELAPRIA, A. M. T. A IMPORT NCIA DO ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO NO PRÉ E PÓS-OPERATÓRIO DA CIRURGIA BARIÁTRICA. Revista Uningá, [S. l.], v. 56, n. S1, p. 78–88, 2019.