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Abordagem psicológica no alcoolismo

Abordagem psicológica no alcoolismo

A abordagem psicológica no alcoolismo visa propiciar uma diminuição do sentimento de culpa que o indivíduo pode sentir. Além disso, questões emocionais que, muitas vezes, são gatilhos para o consumo de álcool, também são trabalhados na psicoterapia.

Outro ponto relevante, quanto às questões psicológicas, é que a família tem um papel muito importante no processo de tratamento. E é sobre tudo isso que discutimos no decorrer deste texto. Acompanhe e saiba mais.

Informações gerais sobre o alcoolismo

O alcoolismo pode ser compreendido como uma doença na qual o indivíduo tem dificuldade para controlar a ingestão de álcool. Ele pode se sentir dependente da substância química, aumentando as doses e sentindo dificuldades para manter-se longe do consumo.

Trata-se de um quadro que exige acompanhamento psiquiátrico e psicológico, além de que, em algumas situações, pode ser necessária a internação para que o tratamento de reabilitação seja iniciado.

Neste texto, focaremos apenas nas questões relacionadas aos cuidados que o paciente pode colocar em prática, bem como a sua família, relacionados às questões psicológicas. Para saber mais informações sobre o diagnóstico e sintomas do alcoolismo, acesse o nosso conteúdo completo.

Abordagem psicológica no alcoolismo: Como o paciente pode começar a lidar com o alcoolismo com base nas questões psicológicas?

Existem algumas ações, que colocadas em prática de forma gradativa e respeitando os limites do paciente, fornecem um suporte para começar a lidar com os impasses provocados pelo alcoolismo.

Obviamente, essas ações não excluem o processo de tratamento oferecido pelo médico psiquiatra, mas sim, podem auxiliar no manejo da situação, visando mais qualidade de vida e saúde mental.

Veja, a seguir, alguns desses comportamentos que o indivíduo com diagnóstico de alcoolismo pode colocar em prática:

1. Reconhecer o problema
Sabemos que não é fácil receber o diagnóstico de alcoolismo e que, muitas vezes, é muito difícil admitir a situação para si mesmo.
Porém, reconhecer o problema é um ponto de partida que pode contribuir para melhores tomadas de decisão lá na frente.
Se negamos a realidade, apenas porque ela é dolorosa e difícil de assimilar, podemos agir como se “nada estivesse acontecendo”. É o caso de um indivíduo ter dificuldades para não ingerir álcool, mas não falar sobre isso ou sequer pensar no assunto, consumindo a bebida em festas, em encontros com os amigos, etc., e agravando o quadro.
O reconhecimento do problema pode ser gradativo, afinal, a pessoa precisa passar pelo processo de luto ao receber o diagnóstico. Assim sendo, a negação até faz parte do luto, mas quando ela perdura por muito tempo, a ponto de o sujeito negar completamente o problema, é preciso ficar atento.
Por isso, se você recebeu o diagnóstico de alcoolismo ou desconfia de tal situação, saiba que não há nada de errado em aceitar a situação e reconhecer o problema.
Muitas pessoas enfrentam esse quadro, e isso não é motivo de culpa ou de vergonha. O alcoolismo é uma doença, e deve ser tratado como tal, sempre respeitando o sujeito.
Portanto, faça uma autoanálise e considere reconhecer o problema.

2. Construir uma rede de apoio familiar
Quem vem à mente quando você pensa em pessoas que sabe que pode contar? Quem são as pessoas que sempre estiveram com você, nas mais diversas adversidades da vida?
Fazer essa breve reflexão pode ser um caminho para construir uma rede de apoio que sustente uma vida mais saudável e feliz.
Afinal, como somos seres sociais, fazer parte de um grupo que emana apoio, carinho, cuidado e amor, é algo indispensável para a saúde mental.
Sendo assim, considere se aproximar das pessoas que importam na sua vida. Mantenha contato, converse, fale sobre como você se sente, etc.
Quando se sentir à vontade, comente sobre o diagnóstico. Esse tipo de laço social pode ser muito relevante nos momentos de crise, por exemplo.

3. Buscar implementar atividade saudáveis na rotina
Busque por atividades que possam contribuir para o seu bem-estar e para a sua saúde de uma maneira geral.
Não há necessidade de implementar mudanças mirabolantes da noite para o dia. Quando pensamos na abordagem psicológica no alcoolismo, pensamos em mudanças gradativas, que respeitem os limites do paciente e o induzam a uma vida mais plena e feliz.
Por isso, certifique-se de fazer uma autoanálise e verificar o que pode ser implementado na sua rotina como algo saudável. Por exemplo:

  • Qual tipo de exercício físico pode ser incluído em sua rotina? Pense sobre ele e considere incluí-lo de forma gradativa, aumentando a quantidade de minutos praticados, semanalmente.
  • Como está a sua alimentação? Avalie quais alimentos são nocivos à saúde e descarte-os da rotina, aos poucos. Também avalie quais são saudáveis e podem ser incluídos a partir de agora.
  • Você tem uma rotina de sono adequada? Descubra quantas horas de sono por noite é o ideal para você e tente estabelecer uma rotina para dormir e acordar, todos os dias, nos mesmos horários. Esse ciclo organizado pode trazer mais disposição, bem-estar e saúde, sendo que estes três pilares podem impactar no tratamento do alcoolismo.
  • Quando foi a última vez que você praticou um hobby longe do álcool? Talvez este seja um momento para pensar em atividades que sejam prazerosas e agradáveis, como caminhada, passeios ao ar livre, prática de esportes, trabalhos manuais, leitura, dança, música, etc.
  • Esses são apenas alguns exemplos de ações que podem ser colocadas em prática, gradativamente, e aumentando a quantidade de exposição a elas de forma periódica.

4. Identificar gatilhos e manter-se longe deles
Identificar os principais gatilhos de consumo também é um caminho relevante.
Por exemplo, avalie o que pode despertar o desejo pela bebida. Abaixo trouxemos algumas situações que podem servir de reflexão:

  • Momentos de confraternização com os amigos: se eles têm sido gatilhos porque os seus colegas bebem, considere sugerir programas que não tenham bebida alcoólica.
  • Festas diversas que tenham bebidas.
  • Questões emocionais, como o sentimento de frustração: que pode ocasionar o desejo pela bebida. Aqui, o ideal é buscar lidar com a emoção por outras vias, como por exemplo, escrevendo sobre o que sente ou conversando com um amigo de confiança.
  • Setor de bebidas do supermercado: evitá-lo pode ser uma medida protetiva.
  • A possibilidade de ter acesso fácil à bebida: se os seus familiares bebem e guardam bebida em casa, converse com eles sobre o quanto isso pode servir de gatilho mental.

5. Participação em grupos terapêuticos
Participar de grupos terapêuticos, em instituições de saúde mental, também contribui para o tratamento do alcoolismo.
Isso porque, quando pensamos na abordagem psicológica no alcoolismo nesses grupos terapêuticos, podemos estar diante de situações como:

  • Identificação: Ao perceber que outros indivíduos vivem situações semelhantes, a identificação pode criar uma sensação de pertencimento e acalento. A solidão pode ser quebrada e novas perspectivas sobre a vida podem ser criadas.
  • Motivação: A motivação também pode aparecer em algumas situações. Afinal, ver a perseverança do colega do grupo terapêutico pode ser uma mola propulsora para seguir adiante.
  • Apoio mútuo: Dentro de um grupo terapêutico para o tratamento do alcoolismo, é possível encontrar amparo e apoio mútuo, que são importantes fatores para fortalecer a autoestima e a saúde mental.
  • Escuta empática: Você terá um espaço neutro para falar sobre as suas angústias, dúvidas e medos, visando um ambiente de acolhimento e escuta empática.
  • Ambiente sem preconceitos ou julgamentos: Você não precisará ter medo de ser julgado ou discriminado, pois todos estão ali com o propósito de se autoconhecer e de buscar mudanças significativas para a vida.

6. Tratamento psiquiátrico
O tratamento psiquiátrico também é muito importante. Você poderá receber o apoio que necessita para enfrentar situações como:

  • Recaídas.
  • Desejo intenso de consumir bebida alcoólica.
  • Sintomas de abstinência.
  • Questões emocionais envolvidas com esse processo.

Além disso, o médico psiquiatra poderá prescrever medicamentos que contribuam para a minimização dos sintomas e um aumento da sua qualidade de vida.

7. Psicoterapia
A psicoterapia também pode contribuir durante o tratamento do alcoolismo. Isso porque, por meio das conversas e sessões com o psicólogo, é possível atingir fatores como:

  • Minimizar a culpabilização, reconhecendo que alcoolismo é doença, e não escolha.
  • Entender melhor os gatilhos por trás do consumo, evitando-os.
  • Escutar as emoções e os sentimentos que podem estar envolvidos com o consumo exagerado de bebida alcoólica.
  • Encontrar mecanismos internos que auxiliam no mantimento da disposição e do foco diante do tratamento.
  • Ter um espaço para falar sobre as suas emoções, medos, dúvidas e angústias, sem medo de ser julgado.
  • Receber orientações e aprender mais sobre o próprio quadro de alcoolismo.
  • Encontrar ferramentas e ações que possam minimizar o desejo de consumir a bebida.
  • Reforçar a autoestima, o autoconhecimento e a autoconfiança, que são pilares essenciais na vida do ser humano.
  • Encontrar possibilidades de mudança e enxergar projetos e planos para o futuro.
  • Estabelecer metas concretas e que respeitem os seus limites.
  • Entre outros fatores.

8. Criação de objetivos e metas
Criar objetivos e metas para os próprios comportamentos também é algo que pode contribuir para o tratamento do alcoolismo.
Existem metas que podem ser criadas tanto para o consumo (por exemplo, conseguir se desfazer de todas as bebidas que tem em casa), quanto para as emoções ou outros fatores da vida (como conseguir expressar as emoções, colocá-las no papel quando aparecerem, etc.).
Todas as metas e objetivos, incluindo mudanças de hábitos e na rotina, devem acontecer respeitando os seus limites e dentro de um tempo hábil para tal transformação.
Isso quer dizer que não será da noite para o dia que as mudanças acontecerão, e ter essa consciência pode minimizar a pressão sobre si mesmo e o medo de não conseguir.
Afinal, um passo de cada vez, rumo a cada meta e objetivo, é mais saudável do que tentar pular etapas e se sobrecarregar.

Como lidar com um caso de alcoolismo na família?

Sabemos que, assim como para o paciente é muito difícil lidar com o diagnóstico, para a família pode ser complexo e doloroso enfrentar um caso de alcoolismo.
No entanto, existem algumas medidas que podem ser colocadas em prática, em paralelo ao tratamento, e que podem contribuir para um aumento na qualidade de vida de todos os envolvidos.
A seguir, apresentamos algumas orientações que podem servir de reflexão. Veja:

1. Desculpabilizar
Muitas vezes, um indivíduo com diagnóstico de alcoolismo pode se sentir culpado pela sua situação. Se ele consome a bebida e não consegue manter o controle quanto a isso, a culpa pode aparecer de forma intensa, resultando em impactos emocionais.
Sendo assim, a família pode ser um porto-seguro que mostra, ao paciente, que a culpa não é dele. Na realidade, não existe um culpado para a situação. Acontece que o alcoolismo é uma doença, causada por uma série de fatores, e não ocasionada apenas porque o indivíduo quer ou não quer beber.

2. Cuidados com os comportamentos da família
Os comportamentos que a família tem em casa também devem ser analisados.
Será que os familiares estão comentando sobre bebidas ou consumindo-as na presença do paciente? Será que estão comprando bebidas e guardando em casa, sem se dar conta de que isso pode ser um gatilho? Será que estão diminuindo o sujeito por ser alcoólatra?
Esses e outros questionamentos devem ser feitos para analisar a conduta da família.
Lembre-se de que o indivíduo com alcoolismo precisa de um ambiente acolhedor, respeitoso, amoroso e que minimize os gatilhos por trás do consumo – e não de um que culpe e fortaleça esses gatilhos.

3. Relatar que existem possibilidades de mudança
Relatar a existência da possibilidade de mudanças também é um caminho bastante promissor.
Às vezes, é muito comum que o paciente se sinta “perdido” frente ao diagnóstico. Nessas situações, receber o apoio da família, enxergando que existe como mudar e que a medicina já desenvolveu tratamentos para esse caso, é um caminho promissor.
Por isso, conversem sobre as possibilidades, mostrem pesquisas, informem e eduquem-o acerca da possibilidade de se atingir mudanças.

4. Apresentar os possíveis benefícios da mudança
Além de relatar que existe a possibilidade de implementar mudanças na rotina e na vida, considerem apresentar os benefícios que o indivíduo pode atingir.
Isso porque, diante das adversidades presentes no tratamento, o sujeito pode não enxergar sentidos e propósitos concretos para tal, digamos, “sofrimento”. Isto é, como há os momentos difíceis, como quando é preciso atravessar a abstinência, o indivíduo pode não enxergar os reais benefícios por trás do tratamento.
Cabe a família, portanto, apresentar os caminhos que podem gerar bem-estar e reflexos positivos no futuro.
Falem sobre o aumento da qualidade de vida, a melhora na saúde, a disposição para atividades prazerosas, a possibilidade de construir um maior autocontrole, entre outras vantagens de investir em um tratamento que priorize a saúde, o bem-estar e o futuro do sujeito.

5. Incentivar a busca por apoio profissional e acompanhar o indivíduo
Sem dúvidas, incentivar a busca por apoio e tratamento profissional também é importante. Nos dois passos acima, de apresentar a possibilidade de mudança e os benefícios de atingir tais mudanças, são preparativos para levar o indivíduo aos profissionais qualificados.
Inclusive, acompanhá-lo nas consultas e demonstrar apoio emocional nesses momentos é algo que pode fazer toda a diferença.
Afinal, esses gestos podem ser entendidos como uma verdadeira demonstração de amor e afeto.

6. Reforçar a autoestima e a autoconfiança do indivíduo
Reforce a autoestima e a autoconfiança do indivíduo, por meio de palavras de apoio, elogios, acolhimento (que gera sensação de pertencimento e valia), entre outras ações.
Da mesma forma, encoraje-o quando ele sentir que não conseguirá seguir adiante no tratamento. Mostre que você confia nele e que acredita que mesmo diante das recaídas ele conseguirá atravessar esse momento.
Quando a família demonstra acreditar no valor do indivíduo, a autoestima tende a ser melhorada.

7. Orientar e apoiar frente às crises de abstinência
As crises de abstinência poderão existir no início do tratamento, e fazem parte do processo.
Sendo assim, procurar aprender mais sobre elas para orientar, tirando dúvidas, e criar um ambiente de apoio para enfrentar as adversidades vividas, é algo que faz parte da abordagem psicológica no alcoolismo.

8. Apoiar a mudanças e jamais minimizar os passos que são dados
Apoie cada passo que o indivíduo conseguir dar. Jamais minimize as conquistas que são atingidas. Lembre-se de que ele está atravessando muitas adversidades, e cada passo concluído pode significar muita coisa.
Por isso, saiba comemorar, junto com o indivíduo, os resultados que vêm sendo atingidos. Mostre que você se importa com cada vitória e deixe claro que cada conquista significa muito.
Nunca compare uma conquista com uma perda – mesmo quando a perda pareça maior -, pois devemos comemorar as conquistas e superar as perdas, não compará-las.

9. Acolher e escutar o indivíduo
Por fim, procurem criar um ambiente de acolhimento e escuta para o indivíduo, dando atenção às emoções, ao que ele tem a dizer, aos medos, angústias, dúvidas, etc.
Tudo isso pode servir de base para que ele comece, aos poucos, ressignificar o que sente e compreender melhor o que está acontecendo.
Além disso, o diagnóstico pode colocá-lo diante de um luto, e ter a família para apoiá-lo, escutando-o, pode ser um caminho para elaborar esse sentimento de enlutado.

Considere, ainda, a possibilidade de a família buscar orientação com profissionais da saúde, especialmente os que estiverem atendendo o familiar. Assim, a aquisição de conhecimento acerca das estratégias de abordagem psicológica no alcoolismo poderá ser ainda maior.
Jamais negligencie a necessidade de haver o acompanhamento médico nos casos de alcoolismo.

Referências
NOGUEIRA, T. S.; RIBEIRO, C. Abordagem terapêutica da dependência alcoólica. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, [S. l.], v. 24, n. 2, p. 305–16, 2008. DOI: 10.32385/rpmgf.v24i2.10489.

WANDEKOKEN, K. D.; LOUREIRO, R. J. Alcoolismo: possibilidades de intervenção durante tratamento no serviço ambulatorial. Arq Ciênc Saúde 2010 out-dez; 17(4):185-91.