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Abordagem psicológica da anorexia

Abordagem psicológica da anorexia

A abordagem psicológica da anorexia consiste em um acompanhamento que visa oferecer autoconhecimento, fortalecimento emocional, mudanças frente aos pensamentos e crenças distorcidas sobre o corpo e a própria aparência, além de outras questões relacionadas à visão que a pessoa tem da sua alimentação e dos alimentos.

Vale ressaltar que cada caso será sempre único e singular, pois as causas da anorexia são multifatoriais e envolvem muitas questões do indivíduo, da família, da sociedade em geral, etc.

Sendo assim, acompanhe este texto para acessar uma série de informações relevantes sobre a temática, buscando compreender melhor o assunto e, a partir disso, saber quais medidas podem ser tomadas em casa em paralelo ao tratamento especializado.

Abordagem psicológica da anorexia

Como dito anteriormente, a abordagem psicológica da anorexia considera as questões singulares e subjetivas do paciente. Por isso, não podemos dizer que existe um passo a passo ou um protocolo imutável para o atendimento nesses casos.

Afinal, cada situação pode estar associada a fatores específicos do sujeito, que serão analisados na psicoterapia.

A seguir, descrevemos algumas das ações que podem ser colocadas em prática nessas situações:

1. Reconhecimento do quadro
Sem dúvidas, esta é uma etapa que pode ser complexa para muitas pessoas que têm o diagnóstico de anorexia. Afinal, não é fácil reconhecer um quadro clínico como este, pois é possível que os sentimentos de culpa, baixa autoestima ou revolta atravessem a rotina do sujeito.
Sendo assim, inicialmente, na psicoterapia, visa-se encontrar mecanismos que auxiliem o sujeito a reconhecer o seu caso, sem se culpar ou se acusar de alguma coisa, mas sim, visando o estabelecimento de uma visão mais clara do que pode estar acontecendo.
Esse processo pode levar algumas sessões, já que, de início, o sujeito pode negar, de diversas formas, que precisa de apoio psicológico com relação à alimentação.

2. Compreensão dos gatilhos emocionais
Os casos de anorexia podem estar associados com muitas questões emocionais diferentes, que variam de indivíduo para indivíduo.
Alguns podem ter problemas de autoestima relacionados à visão familiar, à sociedade, ao ambiente escolar, etc. Outros podem buscar um altíssimo desempenho em esportes, crendo que, para isso, precisam perder cada vez mais peso.
Dessa forma, fazer o reconhecimento e a detecção dos possíveis gatilhos emocionais por trás da auto restrição alimentar é algo que faz parte da abordagem psicológica da anorexia.

3. Aumento da autoestima
Certamente, a autoestima pode ficar fragilizada em casos de anorexia. Sendo assim, o indivíduo pode buscar, no emagrecimento constante, uma forma de ser aceito e de se sentir parte de um grupo que é, digamos, “bem visto” pelos outros.
Esses problemas relacionados à autoestima poderão ser discutidos nas sessões de psicoterapia, a fim de que o sujeito avalie a visão que tem de si mesmo e possa, pouco a pouco, quebrar crenças distorcidas e encontrar visões mais claras de si mesmo.

4. Redução dos pensamentos distorcidos
As crenças e visões distorcidas da realidade podem estar associadas à história de vida do indivíduo, sua criação, contexto social e desenvolvimento psíquico desde a infância até a adolescência. Além disso, a visão distorcida também pode ter um viés relacionado à interação que ocorre no seio familiar.
Vale ressaltar que isso não significa que exista um culpado, mas sim, é interessante considerar essa premissa para saber que existem formas de reaver esses pensamentos distorcidos, que conectem o sujeito com a realidade que o rodeia e com a real perspectiva sobre o seu corpo.
Esse processo é nutrido por meio de conversas, questionamentos, reflexões e insights que surgem na psicoterapia.

5. Implementação de hábitos e mudanças saudáveis
O psicólogo também atuará conjuntamente com outros profissionais, com o propósito de fazer a implementação de hábitos saudáveis e mudanças que possam ser positivas para o paciente.
É o caso de oferecer suporte, orientação e direcionamento quanto à rotina de exercícios, sono, hobbies, descanso, atividades que trazem prazer, interações sociais, etc.

6. Análise e ressignificação das emoções e dos pensamentos
As emoções têm muita relação com a forma como enxergamos as coisas e lidamos com a vida. Por isso, a abordagem psicológica da anorexia também considera a análise das emoções e a ressignificação do que é sentido e vivido no cotidiano.
Às vezes, é difícil para o sujeito colocar em palavras os sentimentos e as emoções que estão sendo vividas no dia a dia. Essa dificuldade de expressar o que se sente pode acarretar uma sobrecarga emocional, resultando em impactos não só na saúde mental, como na física.
Isto é, questões psicossomáticas podem aparecer diante de sentimentos mal resolvidos ou mal interpretados.
Assim sendo, na psicoterapia é possível trabalhar o que se sente, visando entender melhor as próprias emoções e encontrar formas mais saudáveis de lidar com elas.

7. Análise dos padrões impostos pela sociedade e a visão da paciente
Durante as sessões de terapia, é possível discutir sobre a visão que o paciente tem com relação aos padrões de beleza que são impostos. Afinal, a sobrecarga que recai sobre a busca incessante pela “beleza perfeita” pode ser uma das molas propulsoras dos casos de anorexia.
Consequentemente, quebrar tabus e enxergar esses padrões como situações irreais – apenas vistas na internet ou em revistas, por exemplo -, pode auxiliar o paciente na detecção da impossibilidade de atingir uma perfeição, uma vez que ela não existe.
Essa quebra, portanto, pode resultar em uma maior autoaceitação e mais amor-próprio, uma vez que percebe-se o valor que se tem mesmo que não esteja dentro de um padrão inatingível.

8. Ressignificação de si diante do outro
Ressignificar a sua posição no mundo, compreender o seu papel enquanto sujeito desejante e pensante, entender que existem limitações entre o ideal do outro e o ideal do paciente, são questões trabalhadas na psicoterapia.
Isso porque, infelizmente, pode ser que haja interações problemáticas nos relacionamentos interpessoais que levam o paciente a tentar emagrecer “a qualquer custo”, apenas para caber no afago, amor e aceitação alheia.
Isso não quer dizer que o outro possa, conscientemente, estar pedindo para que a pessoa emagreça. Mas sim, são muitas questões psíquicas complexas que podem estar envolvidos direta ou indiretamente, como se a anorexia fosse uma súplica para ser percebido pelo outro.
Logo, a ressignificação da própria subjetividade e a valorização do eu são trabalhadas durante as sessões de terapia, sempre considerando a história de cada indivíduo.

Como o paciente pode começar a lidar com a anorexia?

Receber o diagnóstico de anorexia não é nada fácil, e nós compreendemos isso. Não existem palavras ou passo a passo que quebre, de um segundo ao outro, a angústia e a dor de estar atravessando essa situação.

Porém, algumas medidas podem, gradativamente, oferecer uma atmosfera mais sadia para você que quer compreender melhor o seu caso e quer lidar com isso de uma maneira mais equilibrada.

Abaixo descrevemos alguns detalhes que podem servir de reflexão:

1. Reconhecer a situação
Sabemos que não é simples reconhecer um diagnóstico. O medo de se sentir rotulado e encaixado em uma “categoria” pode ser bastante conflitante, emocionalmente falando.
Contudo, reconhecer a situação também pode ser uma peça-chave na hora de buscar a ajuda especializada, que viabilize a diminuição dos sintomas e foque, unicamente, na sua saúde e na sua qualidade de vida.
Sendo assim, reconhecer o caso não é ser fraco, é ser forte e dar a si mesmo a oportunidade de buscar apoio qualificado e eficiente.

2. Contar com uma rede de apoio
Buscar fortalecer os laços sociais com as pessoas que são importantes na sua vida também é um caminho que pode ser interessante.
O apoio social, que fornece amor, cuidado, atenção e suporte nos momentos difíceis, contribui para um aumento da autoestima e da autoaceitação. Sendo que estes dois podem servir de base para uma melhor adesão ao tratamento.

3. Buscar ajuda especializada
Buscar apoio de psicólogos, nutricionistas e médicos também é um caminho muito importante. Esses profissionais estudam para lidar com situações parecidas, visando a sua qualidade de vida e saúde.
Isto é, eles não estão lá para julgar ou falar que você está certo ou errado. Mas sim, estão lá para orientar e apresentar caminhos promissores para o seu desenvolvimento.

4. Refletir sobre mudanças gradativas
Refletir sobre mudanças que podem ser implementadas na rotina, sem desrespeitar os limites da mente e do corpo, também é válido.
O que pode ser feito, neste momento, para desenvolver um caminho mais saudável para si mesmo? Quais atitudes podem contribuir para que as mudanças, pensadas no tratamento médico, sejam verdadeiramente alcançadas?

5. Cuidar das emoções
As suas emoções podem contribuir, e muito, com os cuidados com a sua saúde mental. Quando escutamos as nossas emoções, buscamos entendê-las e aprendemos a lidar melhor com elas, assim, passamos a desenvolver uma inteligência emocional que minimiza os comportamentos que podem ser caracterizados como impulsivos.
Não estamos dizendo que este processo é fácil, mas evitar “engolir o choro”, por exemplo, é um caminho que pode auxiliar na hora de dar voz ao que acontece dentro de você, buscando ressignificar o que se sente e restabelecer o equilíbrio emocional.

6. Praticar hábitos saudáveis
Os hábitos saudáveis contribuem para a saúde física e mental de diversas formas. Dentre eles, podemos citar os exercícios físicos (que respeitem os limites do organismo e sejam recomendados pelo educador físico, neste caso); os cuidados com o sono; o autocuidado no dia a dia; a implementação da alimentação, com base no que for prescrito pelo nutricionista; entre outros pontos.

Como a família pode auxiliar o paciente com anorexia?

Além de o paciente poder colocar em prática uma série de ações, ao mesmo tempo em que se considera a abordagem psicológica da anorexia na psicoterapia, também podemos pensar em recomendações para os familiares.

Embora não exista receita para enfrentar a situação, ainda assim podemos considerar algumas premissas enriquecedoras nesses casos. Veja a seguir:

1. Desculpabilização
A família tem que ter a delicadeza de escolher bem as palavras quando for se comunicar com o paciente, visando evitar qualquer tipo de discurso que fomente um sentimento de culpa.
Lembrem-se de que o indivíduo com anorexia não escolhe desenvolver o transtorno, mas sim, lida com conflitos internos que podem ter servido de gatilho para tal situação.
Se o paciente demonstrar que se sente culpado, esclareçam que isso não é uma questão de querer ou não querer comer – mas sim, que é algo mais profundo que merece ser acolhido por quem entende.

2. Espaço de acolhimento e escuta
Escutar, acolher e acalentar também é algo que a família pode fazer. Às vezes, um indivíduo com transtorno mental pode estar atravessando uma série de conflitos emocionais, que são difíceis de compreender e assimilar.
A escuta, nesses casos, pode ajudá-lo a desabafar e, até mesmo, a organizar os pensamentos e ideias frente ao que vem acontecendo.

3. Cuidado com os comportamentos de “forçar” a alimentação
A família deve ter o cuidado de não tentar “forçar” a alimentação. Isto é, não é recomendado que seja forçada a ingestão alimentar, por uma série de motivos.
Primeiro, porque forçar e fazer chantagens emocionais pode ser algo que desgasta o relacionamento e quebra a confiança na família.
Segundo, porque o excesso de alimentos sendo ingeridos de uma hora para outra pode sobrecarregar o organismo.
Terceiro, porque o indivíduo está em sofrimento psíquico diante do diagnóstico, e ter paciência quanto a isso é indispensável.

4. Estabelecer horários para a alimentação
Seguindo o que foi relatado logo acima, ao invés de forçar a alimentação, considerem criar acordos quanto aos horários para que as refeições sejam feitas em família.
Demonstrar saudade da pessoa, conversar com ela durante a refeição (sobre diversos assuntos e não apenas sobre alimentação), são medidas que podem contribuir para a criação de um ambiente mais motivador e acolhedor.
Lembre-se de considerar a prescrição do nutricionista quanto à quantidade de refeições e alimentos.

5. Comunicação não-violenta – especialmente na infância e adolescência
A comunicação não-violenta é muito importante. Isto é, não deve-se impor que a criança ou o adolescente coma o que está no prato, com imposições feitas por meio da força física, castigos, etc. Mas sim, é fundamental criar um ambiente de confiança, afeto e respeito, dizendo à criança ou ao adolescente que os pais ficariam muito felizes se ele se sentasse à mesa e fizesse uma refeição junto para “matar a saudade”.
Perceba que em ambos os casos é solicitada a alimentação e a presença do filho, mas sem forçá-lo de maneira rude ou bruta.

6. Acolhimento emocional, respeito e escuta
Acolha as emoções da pessoa, escute, seja respeitoso. Não diminua o que ela sente, não minimize suas dúvidas e saiba dar espaço para que ela se queixe e coloque para fora o que sente.
Às vezes, precisamos apenas de um espaço de escuta e acolhimento para nos sentirmos mais fortalecidos frente aos desafios do cotidiano. Considere sempre a premissa de que a fala pode ser muito terapêutica.

7. Incentivo à procura por ajuda
Sempre que possível, fale sobre a importância de buscar ajuda especializada e o quanto os profissionais da saúde estudam e se qualificam para oferecer benefícios à saúde e à vida de seus pacientes.
Quebre o estigma de que só quem é “louco” é que procura um psicólogo, mostrando os benefícios que a psicoterapia pode oferecer.

8. Não se esqueça que cada um dos lados enxerga a situação de modo diferente
Lembre-se de que cada um dos lados enxerga a situação de forma diferente. Isto é, o paciente, na grande maioria das vezes, acredita, de forma delirante, que realmente está acima do peso e precisa emagrecer.
Você, que vê a situação de fora, pode perceber que isso não é irreal, mas o paciente não. Ter paciência quanto a isso, sem ficar forçando que o outro “enxergue a realidade” e dando a ele o tempo necessário para assimilar tudo, é muito importante.

9. Cuidados com julgamento e acusações
Nunca utilize uma linguagem que dê a entender que o outro tem culpa do que está acontecendo. Não se esqueça de que as acusações podem quebrar a confiança e ferir o indivíduo. Por isso, exercite a paciência e fique atento quanto às palavras de teor preconceituoso que, às vezes, podemos proferir.

10. Cuidado com a reintrodução alimentar exagerada
Por fim, não se esqueça de que é importante seguir as recomendações dadas pelos profissionais da saúde, quanto à reintrodução alimentar.
Isto é, não force para que o indivíduo coma mais e mais, pois isso pode levar a uma sobrecarga do organismo que resulta em problemas graves de saúde.
Respeite sempre as recomendações médicas e, em caso de dúvidas, converse com um profissional de sua confiança.
Jamais implemente estratégias duvidosas no dia a dia e sem comprovação científica. Aqui, o tratamento prescrito por profissionais qualificados deve ser seguido, sem alterações com base em materiais que você lê na internet, por exemplo.

Não se esqueça: este conteúdo é orientativo e serve para que você reflita sobre a temática, ou seja, não pode ser usado como diagnóstico ou tratamento.

Referências
GOIÁS, Secretaria do Estado de Saúde – Governo do Estado de. Anorexia nervosa.

NUNES, T. K. B. Anorexia e família: dinâmica e tratamento. 2005. 46 f. Monografia (Graduação em Psicologia) – Faculdade de Ciências da Educação e Saúde, Centro Universitário de Brasília, Brasília, 2005.

SCHMIDT, E.; MATA, G. F. Anorexia nervosa: uma revisão. Fractal, Rev. Psicol. 20 (2) • Dez 2008.