Vício em Jogos de Azar
O que é o vício em jogos de azar?
O transtorno do jogo, também conhecido como jogo patológico ou jogo compulsivo, é uma condição de saúde mental caracterizada pela perda de controle sobre o ato de jogar, seja em cassinos, apostas esportivas, jogos online ou outras formas de jogo.
O vício se refere ao desejo incontrolável de continuar jogando, apesar dos transtornos que isso causa na vida do paciente.
Quando uma pessoa está jogando, ela se dispõe a arriscar algo na esperança de obter um retorno ainda maior. Em alguns casos, esta busca pode estimular o sistema de recompensa do cérebro, de forma parecida com o que acontece no caso de drogas ou o álcool, levando ao vício.
A pessoa pode perseguir continuamente apostas que levam a perdas, usar todas as suas economias, vender casas e carros e criar dívidas. Ele Habitualmente tem consciência dos danos causados pelo jogo, de forma que tende a jogar escondido da família ou até recorrer a roubo ou fraude para sustentar seu vício.
Qual o limite entre a diversão e o vício?
Infelizmente, não existe um limite preciso de até onde é considerado normal e a partir de quando o hábito se torna um vício.
A maioria dos jogadores casuais param quando perdem ou estabelecem um limite de quanto estão dispostos a perder. A pessoa viciada em jogos de azar, continuará jogando enquanto puder.
Alguns sinais indicativos de que o jogo de azar se transformou em vício incluem:
- Preocupação constantemente em como obter mais dinheiro de jogo;
- Necessidade de jogar com quantias crescentes de dinheiro para obter a mesma emoção;
- Tentativas sem sucesso de parar de jogar;
- Sentir-se inquieto ou irritado ao evitar o jogo;
- Utilização dos jogos de azar com válvula de escape para sentimentos de desamparo, culpa, ansiedade ou depressão;
- Tentativa de recuperar o dinheiro perdido apostando mais;
- Mentir para familiares quando está jogando;
- Jogar escondido;
- Faltar ao trabalho por conta do jogo
- Algumas pessoas podem recorrer ao roubo ou fraude para obter dinheiro para o jogo.
Fatores de risco
O vício em jogos de azar pode resultar de uma combinação de fatores biológicos, genéticos e ambientais.
O que faz certas pessoas se tornarem viciadas não é bem conhecido. Entretanto, alguns fatores podem aumentar o risco de isso acontecer, incluindo:
- Outras formas de vício ou compulsão;
- Outros problemas de saúde mental, incluindo:
- transtornos de personalidade;
- Depressão;
- Ansiedade;
- Transtorno bipolar;
- Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC);
- Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH);
- Idade mais jovem;
- Presença de familiares ou amigos próximos com vício em jogos de azar;
- Personalidade altamente competitiva;
Fases do Transtorno do jogo
O transtorno do jogo costuma se desenvolver em quatro fases progressivas. Essas fases ajudam a entender como o comportamento se instala e se agrava ao longo do tempo.
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Fase de Ganhos
O indivíduo começa a jogar ocasionalmente e tem uma ou mais experiências positivas significativas, como um grande ganho em dinheiro.
Dependendo do tipo de jogo, as primeiras vitórias reforçam a ideia de “sorte” ou habilidade, levando a um aumento da frequência e nos valores das apostas.
Ainda que as perdas geralmente sejam maiores do que os ganhos, a percepção dos ganhos é muito mais forte do que a percepção das perdas.
É comum nessa fase que a pessoa se mostre orgulhosa por ter “ganhado o valor de um carro” com uma aposta. Ela pode ter perdido o valor de cinco carros com as apostas, mas não perceberá isso claramente.
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Fase de Perdas
Com o tempo, o jogador começa a se dar conta do dinheiro perdido, mas acredita que conseguirá recuperar as perdas continuando a apostar.
As perdas financeiras tornam-se mais significativas, podendo levar a um endividamento crescente.
Nesse momento, a pessoa começa a mentir para os familiares e passa a jogar escondido.
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Fase do Desespero
Nesta etapa, o jogo se torna compulsivo. O indivíduo já perdeu o controle sobre o próprio comportamento e enfrenta consequências graves, como falência financeira, rupturas familiares, perda de emprego e até envolvimento em atos ilegais para sustentar o vício.
Em muitos casos, passa também a desenvolver outras formas de vício e dependência, como o alcoolismo, tabagismo ou uso de drogas ilícitas.
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Fase da Rendição
Nesta última fase, o jogador sente que perdeu tudo. Pode haver desistência de tentar controlar o jogo, negação do problema ou entrega total ao comportamento compulsivo.
Em outros casos, pode também ser o momento em que ele reconhece a gravidade do problema e decide buscar ajuda.
Sentimentos comuns dessa fase incluem:
- Perda de autoestima e sentimento de impotência;
- Quadro depressivo acentuado;
- Possível procura por tratamento (quando há percepção da gravidade).
Tratamento
Suporte Familiar
Quando se está diante de um familiar com Transtorno do Jogo Compulsivo, o primeiro passo é entender que esse familiar está com uma doença e que ele não tem controle sobre suas ações. Não tem relação com falta de caráter ou falta de preocupação com a família, muito pelo contrário.
A negação faz parte do quadro clínico dessa doença. Assim, confrontos duros, acusações ou tentativas de impor mudanças à força podem gerar resistência, raiva e mais afastamento.
No entanto, é preciso impor limites claros, que podem incluir:
- Não emprestar dinheiro;
- Não acobertar dívidas ou mentiras;
- Estabelecer limites financeiros compartilhados, se houver contas em comum.
Em alguns casos de maior resistência, pode ser necessário medidas mais drásticas para proteger o patrimônio da família, inclusive com ajuda jurídica. A intervenção no patrimônio é prevista em certas situações.
Mesmo que o familiar recuse ajuda, você pode (e deve) procurar orientação profissional com o médico psiquiatra.
Por fim, é preciso cuidar de sí. Viver com alguém que tem comportamento compulsivo pode causar estresse crônico, ansiedade e depressão nos familiares. Por isso, é essencial:
- Buscar terapia para você;
- Manter a rotina de autocuidado;
- Estabelecer limites saudáveis;
- Manter sua vida social e emocional ativa.
Psicoterapia
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é o método de tratamento psicoterapêutico mais eficaz para o transtorno do jogo.
A TCC ajuda o paciente a desenvolver estratégias para resistir aos impulsos e a melhorar o controle emocional e a tomada de decisões.
Os jogos podem deixar um vazio na vida da pessoa que, se não for adequadamente ocupado, pode levar a recaídas ou à substituição por outros vícios, como álcool ou drogas. A prática de atividades físicas é um dos métodos de tratamento mais efetivos nesse sentido.
Grupos de apoio
Participar de grupos como os Jogadores Anônimos pode ser uma ferramenta importante na recuperação. Esses grupos oferecem suporte emocional, incentivo e troca de experiências com pessoas que enfrentam o mesmo problema.
Tratamento medicamentoso
Em alguns casos, pode ser necessário o uso de medicamentos, especialmente quando o transtorno do jogo está associado a outras condições psiquiátricas, como:
- Transtornos de ansiedade;
- Depressão;
- Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
Medicamentos como inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), estabilizadores de humor ou antagonistas opioides podem ser prescritos.