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Transtornos de comportamento na infância

Transtornos de comportamento na infância

Os transtornos de comportamento na infância podem ser desafiadores para os pais e educadores. Afinal, são tantas singularidades que devem ser levadas em conta na hora de abordar uma criança com transtorno, não é mesmo?
Por isso, buscamos desmistificar alguns conceitos por trás dos transtornos mais comuns na infância, visando auxiliar na hora de lidar com esse tipo de questão no dia a dia escolar e/ou em casa. Acompanhe.

Principais tipos de transtornos de comportamento na infância

Primeiramente, é importante termos uma visão geral dos sintomas dos principais transtornos de comportamento na infância. Para isso, separamos os três principais em tópicos, a seguir:

1. Transtorno de Oposição Desafiante
O Transtorno de Oposição Desafiante, também chamado de TOD, consiste em um padrão de humor bastante irritável, em que a criança busca, de forma constante, desafiar e questionar as considerações dadas pelos adultos, por exemplo.

A criança apresenta perder a calma facilmente, além de ser sensível e facilmente incomodada. É como se a criança estivesse sempre pronta para “rebater” o que lhe é dito, visando desafiar e questionar as regras estabelecidas à sua volta.

Também apresenta um perfil bastante “raivoso”, devido à facilidade para se irritar com o que acontece.

Ao mesmo tempo, costuma questionar as figuras de autoridade, como professores, pais, tios, cuidados, etc. Além disso, costuma recusar as regras que podem ser impostas, mesmo que seja feito um simples pedido à criança.

É o caso de os pais solicitarem que a criança arrume o quarto e ela agir de forma explosiva negando essa atividade. Ainda por cima, pode culpar os outros pelos seus erros, dizendo que não vai arrumar o quarto porque os pais também não querem arrumar – ou algo parecido com isso.

Uma criança com TOD também pode apresentar comportamentos vingativos e maldosos.

Esses são alguns dos sinais que podemos encontrar em casos de TOD. Para receber o diagnóstico, a criança precisa evidenciar pelo menos 4 sintomas por, no mínimo, 6 meses. Além disso, os sintomas comportamentais precisam estar associados a outros indivíduos além dos irmãos.

Outro ponto relevante que deve ser considerado é a gravidade atual dos sintomas de TOD:

  • Leve: Sintomas restritos a apenas um ambiente.
  • Moderado: Sintomas presentes em pelo menos dois ambientes.
  • Grave: Sintomas presentes em três ambientes ou mais.

2. Transtorno da Conduta
O Transtorno da Conduta, segundo o próprio DSM-V, caracteriza-se como um padrão de comportamento no qual a criança apresenta uma postura de violar os direitos básicos de outras pessoas, bem como as regras sociais estabelecidas para a faixa etária do pequeno.

Alguns sinais consistem em:

  • Ameaçar as outras pessoas de forma constante e repetitiva.
  • Provocar ou intimidar as outras pessoas, sejam colegas de turma ou mesmo professores.
  • Atitudes fisicamente cruéis com pessoas ou animais.
  • Utiliza “armas” para agredir ou intimidar outra pessoa, como por exemplo, garrafa quebrada, pedaço de madeira, etc.
  • Envolve-se em situações nas quais são destruídas as propriedades alheias. No caso da escola, a criança com Transtorno da Conduta pode, simplesmente, destruir o material escolar alheio, sem motivos e de forma maldosa.
  • Apresenta comportamentos como: fugir de casa, ficar fora de casa à noite mesmo sem a autorização dos pais, etc.

Esses são apenas alguns dos sinais do Transtorno de Conduta. A avaliação profissional é primordial para analisar o comportamento da criança e verificar, inclusive, os possíveis gatilhos por trás dessa atuação agressiva do pequeno.
Além disso, é importante ter em mente os graus de gravidade do caso:

  • Leve: A criança tem comportamentos que caracterizam o transtorno, mas são poucos e não causam danos graves a terceiros. Por exemplo: mentir, permanecer fora à noite sem autorização, quebrar algumas regras impostas pelos pais, etc.
  • Moderado: A quantidade de comportamentos nocivos é maior. Os impactos a terceiros também costumam ser moderados, como no caso de furtar sem confrontar a vítima.
  • Grave: Os comportamentos são frequentes e em grande quantidade, além de que as condutas causam danos consideráveis às outras pessoas, como por exemplo, crueldade física, roubo com confronto, etc.

3. Transtorno Explosivo Intermitente
No caso do Transtorno Explosivo Intermitente, a criança pode apresentar comportamentos de raiva desproporcionais à situação vivida.

Isto é, a criança pode ter “explosões” agressivas em situações tidas como simples, pelo fato de não conseguir controlar os impulsos agressivos.

Essas explosões podem aparecer das seguintes formas:

  • Agressão verbal, com xingamentos de baixo calão e desproporcionais à situação vivida. Essas agressões ocorrem em uma média de duas vezes por semana, durante um período mínimo de 3 meses.
  • Agressão física que não resulta em danos ou destruição de propriedades, nem em lesões físicas em animais ou outros indivíduos.

Para ser caracterizado como Transtorno Explosivo Intermitente, a criança precisa apresentar uma agressividade que seja grosseiramente desproporcional à situação. Por exemplo, é o caso de uma criança proferir diversos xingamentos de baixo calão, com um tom raivoso, para um colega que simplesmente deixou um lápis da criança cair no chão.

Perceba que no exemplo acima a explosão está acima do que seria considerado adequado ou “normal” para o ocorrido.

Além disso, essas explosões costumam causar sofrimento tanto no próprio indivíduo que tem crises, quanto em quem está à sua volta. Isso porque as explosões podem servir de estopim para o isolamento social, problemas escolares, dificuldades para se relacionar com a família, etc.

Quais as causas dos transtornos de comportamento na infância?

Quando pensamos em questões de saúde mental e nas causas de transtornos mentais, devemos considerar o fato de que as causas costumam ser multifatoriais. Isto é, não existe um único gatilho, de causa e efeito, por trás do desenvolvimento de um transtorno.

Sendo assim, fatores sociais, ambientais e genéticos podem estar envolvidos com o curso do problema.

Vamos pensar um pouco mais sobre esses fatores? Acompanhe:

  • Fatores sociais: Supervisão estressante por parte dos pais;
  • Conflitos familiares;
  • Punição constante e desproporcional;
  • Violência na família;
  • Abuso físico ou psicológico, seja na escola ou em casa;
  • Privação afetiva;
  • Falta de diálogo e proximidade;
  • Entre outros pontos.
  • Fatores ambientais: Contexto em que a criança está inserida;
  • Ambiente escolar;
  • Contexto social violento e negligente;
  • Questões relacionadas aos hábitos familiares e a possibilidade de ter acesso à alimentação e recursos de sobrevivência de uma forma digna;
  • Entre outros pontos.
  • Fatores genéticos: Causas de transtornos mentais em familiares próximos.

Além disso, questões psicológicas e emocionais da criança também podem servir de base para o desenvolvimento de transtornos de comportamento na infância.

Quais os tratamentos para os transtornos de comportamento na infância?

Compreendido os fatores gerais que podem contribuir para o desenvolvimento de transtornos de comportamento na infância, vamos agora discutir sobre os principais tratamentos. Acompanhe:

1. Psicoterapia
A psicologia infantil é uma forte aliada no tratamento de transtornos de comportamento na infância. Por meio da conversa com o psicólogo, e com o auxílio de atividades lúdicas importantes, a criança poderá expressar suas emoções, compreender melhor o que sente, entender os gatilhos por trás dos comportamentos, etc.
O profissional poderá ajudar a criança na sua trajetória de autoconhecimento, visando trazer a ela a oportunidade de entender melhor os seus impulsos, encontrando ferramentas de autocontrole, por exemplo.

2. Administração de medicamentos
Em alguns casos, a conversa com o psiquiatra também é necessária para que este possa prescrever medicamentos que auxiliem no tratamento dos transtornos de comportamento na infância.
Isso porque alguns medicamentos podem ajudar a inibir determinados comportamentos impulsivos, por exemplo.

3. Atividades lúdicas com o auxílio de psicopedagogas
O acompanhamento de psicopedagogos também pode ser relevante. Afinal, por meio de encontros com esses profissionais, a criança poderá expressar as suas emoções e desenvolver habilidades sociais por meio de atividades lúdicas, visando o esclarecimento de suas condutas, por exemplo.

Como os pais podem lidar com filhos que tenham transtornos de comportamento na infância?

Além de seguir com o acompanhamento profissional, visando oferecer um tratamento alinhado às necessidades das crianças com transtornos de comportamento na infância, existem medidas que os próprios pais podem colocar em prática para criar uma atmosfera mais saudável para os pequenos. Veja algumas considerações que podem ajudar:

1. Converse com a criança para mediar as situações
Quando a criança estiver passando por um momento de explosão de raiva, como por exemplo, agredindo verbalmente, atuando de forma inapropriada ou algo do tipo, tente conversar com a criança para mediar a situação.
Cuidado para não aumentar o tom de voz e tentar, apenas, mostrar que tem razão. A criança pode estar vivendo uma sensação angustiante muito intensa quando está diante de uma crise. Portanto, tenha cautela na hora de abordá-la e não fique tentando, apenas, confrontá-la.
Diga que quer entendê-la e escutá-la, dando a ela a oportunidade de respirar fundo e pensar sobre o que está fazendo.

2. Acolha os momentos de explosão e raiva
Abraçar, demonstrar uma postura calma e confiante também podem ajudar na hora de lidar com uma explosão de comportamento impulsivo da criança.
Demonstrar que você está presente, que entende as frustrações e sensações do pequeno, bem como quer saber como ajudá-lo, pode ser um caminho acolhedor mais frutífero.

3. Aprenda mais sobre o transtorno do seu filho
Procure aprender um pouco mais sobre o transtorno do seu filho. Quanto mais nos munimos de conhecimentos, mais podemos compreender as singularidades da criança diante dos sintomas, ajudando-a a lidar com eles e aprendendo a se portar com o pequeno de um modo mais saudável e positivo.

4. Considere fazer a sua psicoterapia
Você também pode investir em um processo psicoterapêutico. Afinal, lidar com um diagnóstico de transtornos de comportamento na infância não é tarefa fácil. As dúvidas podem surgir, o medo pode aparecer e há, inclusive, quem sinta culpa.
Por isso, fazer psicoterapia pode lhe ajudar a encontrar mecanismos internos para lidar com as frustrações advindas da situação, ao mesmo tempo em que pode expressar suas emoções e medos, visando equilibrá-los para elevar a sua qualidade de vida.
Não negligencie o que você sente. Isso também é muito importante!

5. Atue de forma integrada à escola
Procure manter uma proximidade com as ações da escola. Esteja presente, participe, mostre ao seu filho que você está envolvido.
Dessa forma, todos poderão atuar, de maneira conjunta, em prol do auxílio da criança que está, a cada dia, descobrindo novas formas de lidar com as emoções e com os impulsos que sente.
Assim, as chances de construir uma atmosfera mais positiva para todos serão ainda maiores.

Referências
KRAUSER, C.; SCHERER, Z. A. P.; BUENO, G. A. S. Transtornos do Comportamento: conhecimentos e ações de profissionais de saúde e assistência social. Rev. Bras. Enferm. 73 (1) 2020.

Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5 – 5a Edição.

VINOCUR, E.; PEREIRA, H. V. F. S. Avaliação dos transtornos de comportamento na infância. Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto. Ago. 2011.