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Testosterona na Mulher Atleta

Testosterona alta na mulher atleta

Definição da testosterona alta na mulher

A testosterona é classificada como um hormônio sexual masculino. Entretanto, ela também é produzida naturalmente em pequenas quantidades pelo ovário feminino. A testosterona na mulher atleta costuma apresentar níveis mais elevados. Entretanto, em algumas mulheres não atletas, pode acontecer de forma fisiológica ou em decorrência de diferentes condições clínicas.

Os níveis de testosterona considerados normais no homem variam entre 7,7 a 29,4 nmol / L. Nas mulheres, varia entre 0 e 1,7 nmol / L (1).

Ainda que estas condições possam acometer atletas ou não atletas, elas são mais comuns em mulheres envolvidas com o esporte de alto rendimento. Isso se deve, provavelmente, em decorrência das vantagens esportivas proporcionadas pelos altos níveis de testosterona.

Causas da testosterona alta na mulher

A Síndrome de Ovários Policísticos é uma das principais causas para pequenos aumentos nos níveis de testosterona.

Mas, em algumas condições, este aumento pode ser bem maior, para próximo dos níveis observados em homens, proporcionando uma significativa vantagem esportiva. Isso acontece especialmente no caso de certas síndromes genéticas.

Limites competitivos da testosterona

A testosterona tem o potencial de melhorar a performance esportiva da mulher atleta.

No atletismo, por exemplo, os homens têm resultados que são em média 9 a 12% superiores ao das mulheres. A testosterona, sem dúvidas, é uma das principais responsáveis por isso.

A IAAF (International Association of Athletics Federations) definiu em 2019 um limite máximo de testosterona de 5,0 nmol / L para elegibilidade na classificação feminina em certas disciplinas (2). Atletas com níveis superiores de testosterona se vêm obrigadas a realizar tratamentos para a redução nos níveis hormonais, caso queiram continuar a competir.

Esta conduta tem sido muito questionada por questões éticas e discriminatórias. Um dos principais argumentos contrários a este tipo de comportamento é que a maioria dos atletas de elite possuem atributos fora da curva de normalidade e que dá a ele certas vantagens esportivas.

Estabelecer um limite para os níveis de testosterona seria o mesmo que estabelecer uma altura máxima para jogadores de basquete, por exemplo.

Outro exemplo vem das piscinas: os músculos de Michael Phelps produzem metade do ácido láctico de uma pessoa normal, permitindo que ele se esforce por muito mais tempo sem se cansar (3). O Comitê Olímpico Internacional nunca tomou medidas para impedí-lo de competir com outros atletas, que produzem níveis normais de ácido lático.

Obrigar as mulheres a usarem medicações para reduzir os níveis de testosterona, por outro lado, não significa tornar a disputa mais justa, muito pelo contrário.

Uma testosterona de 4 pode ser considerada deficiente em um homem, podendo ser em parte responsabilizado por sintomas como distúrbios sexuais, Insônia, fadiga e letargia.

Este mesmo nível em uma mulher será considerado elevado e uma vantagem competitiva. Mas, no caso de mulheres com testosterona naturalmente elevada, ela pode se comportar de forma semelhante a um homem com testosterona baixa, com comprometimento não apenas da sua performance, mas também da sua saúde.

Testosterona baixa e reposição de testosterona na mulher atleta

Da mesma forma que no homem, é esperado que a mulher tenha uma redução nos níveis de testosterona com o avanço da idade.

Ainda assim, nenhum nível de corte nos valores de Testosterona Total deve ser usado para diferenciar mulheres com e sem deficiência de testosterona.

Apesar de ser muitas vezes vendida como a “Fonte da Juventude”, o uso e os benefícios da reposição de testosterona entre as mulheres é bastante limitado.

Um consenso referendado pelas principais sociedades de especialidade, incluindo entre outras a International Menopause Society, a Endocrine Society, a European Menopause and Andropause Society, a International Society for Sexual Medicine, a International Society for the Study of Women’s Sexual Health (4), chegou às seguintes conclusões em relação à reposição de testosterona em mulheres:

  • Nenhum nível de sangue de corte nas dosagens de testosterona deve ser usado para caracterizar a Testosterona Baixa Feminina;
  • Não há dados suficientes para recomendar o uso de testosterona em mulheres na pré-menopausa para o tratamento da função sexual ou qualquer outro resultado;
  • Não há evidências suficientes para apoiar o uso de testosterona para melhorar o desempenho cognitivo, ou para retardar o declínio cognitivo, em mulheres na pós-menopausa;
  • Os dados disponíveis não referendam o tratamento com testosterona no tratamento da osteoporose feminina;
  • Nenhum efeito estatisticamente significativo na massa corporal magra, gordura corporal total ou força muscular deve ser atribuído à testosterona.

O painel internacional concluiu que a única indicação baseada em evidências para terapia com testosterona para mulheres é para o tratamento da perda do desejo sexual, com dados disponíveis que suportam um efeito terapêutico moderado.

Não existem dados suficientes para apoiar o uso de testosterona para o tratamento de qualquer outro sintoma ou condição clínica, ou para a prevenção de doenças.

Qual a dose segura da testosterona na mulher?

A reposição de Testosterona vem sendo realizado através da reposição oral, intramuscular e sob a forma de chip (popularmente conhecidos como “chip da beleza”).

Ainda que muitas vezes indicadas como forma de reposição hormonal (o que nos faz pensar em elevar os níveis do hormônio para valores fisiológicos), na prática muitas mulheres estão buscando níveis mais elevados do hormônio, além do que seria esperado para a mulher pré-menopausa. Os riscos, nestes casos, serão maiores quanto mais elevadas as doses.

Uma alegação muito comum de quem advoga pelo uso da testosterona (a maioria formada por não especialistas) está relacionado à dose: “A diferença entre o remédio e o veneno está na dose”, dizem.

Ainda que o risco de complicações e efeitos colaterais aumente com o aumento da dose e do tempo de uso, a segurança da terapia de testosterona em longo prazo, mesmo dentro de valores considerados fisiológicos, ainda não foi estabelecida.

Isso significa que não existe uma dose considerada totalmente segura e a prescrição deve sempre considerar os potenciais riscos e benefícios.

Outro problema é que na maioria dos países, incluindo o Brasil, não existem formulações aprovadas para uso dentro das doses que seriam recomendadas para as mulheres.

O uso, quando indicado, é feito a partir do fracionamento das doses indicadas para os homens, o que aumenta significativamente o risco de super-dosagens acidentais.

Chip da Beleza

Popularmente conhecido como “chip da beleza”, o Implante de Gestrinona é uma terapia hormonal não convencional e não aprovada pela maioria dos órgãos públicos e associações médicas mundiais.

A Gestrinona foi inicialmente usada por administração oral no tratamento da endometriose. Já os implantes foram colocados no mercado com o objetivo de contracepção, controle da TPM e reposição hormonal pós menopausa.

Devido aos seus efeitos androgênicos (como diminuição de gordura e aumento de massa muscular), esse implante tem ganhado fama entre as mulheres que buscam melhora do desempenho físico e estético. Habitualmente, múltiplos implantes são usados nestes casos.

A ausência de estudos de longa duração que mostram sua real eficácia e segurança é o principal motivo para sua desaprovação pelas principais agências regulatórias ao redor do mundo.

Somado ao pouco conhecimento sobre o hormônio, temos o fato dele ser sinteticamente manipulado sem regulamentação rigorosa e específica, o que envolve um risco real de superdosagem (em muitos casos proposital).

Veja aqui o posicionamento da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) em relação aos implantes de gestrinona.