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Síndrome do Ninho Vazio

Síndrome do Ninho Vazio

A Síndrome do Ninho Vazio pode impactar pais e mães de diversas idades, que precisam lidar com a ausência dos filhos a partir da saída destes de casa.

Os efeitos dessa síndrome podem ser mais intensos ou mais suaves, dependendo das questões singulares e contextuais do casal que atravessa essa situação.

Pensando nisso, trouxemos informações sobre a SNV com o intuito de conscientizar e auxiliar as pessoas frente a esse quadro. Acompanhe para saber mais sobre ele.

O que é a Síndrome do Ninho Vazio?

A Síndrome do Ninho Vazio pode ser caracterizada como um conjunto de sinais e sintomas que geram sofrimento decorrentes da ausência dos filhos na casa dos pais. É o caso de os pais se sentirem desamparados, entristecidos e até mesmo “desnorteados” a partir do momento em que os filhos saem de casa e seguem com a própria vida.

A síndrome não possui um tempo específico de ocorrência, pois muito se deve às questões de saúde mental de cada progenitor. Isso quer dizer que uma pessoa pode enfrentar os sintomas por mais tempo, enquanto outra consegue reorganizar a vida familiar com mais facilidade..

Há, inclusive, pais que talvez nem enfrentem a Síndrome do Ninho Vazio diante da saída dos seus filhos. Tudo dependerá do contexto, da energia que é posta sobre o papel de pai e mãe, entre outras circunstâncias.

Outro ponto que podemos ressaltar é que a Síndrome do Ninho Vazio também pode estar associada à ausência de outros membros familiares, ou seja, não necessariamente ela aparecerá apenas quando um filho sai de casa. Mas, sim, quando um tio, um primo ou um sobrinho sai de casa, os demais familiares poderão experimentar os sintomas da síndrome.

Quais as causas da Síndrome do Ninho Vazio?

As causas são multifatoriais, mas costumam estar associadas às relações familiares que vão sendo constituídas com o passar do tempo.

Isso quer dizer que a dinâmica familiar, as questões emocionais dos envolvidos e a forma como ocorre a saída do filho ou do parente de casa podem servir de estopim para o desenvolvimento do problema.

Sintomas da Síndrome do Ninho Vazio

Os sintomas podem sofrer alterações de indivíduo para indivíduo. Isso quer dizer que algumas pessoas podem experimentar sintomas mais intensos, enquanto outras podem ter efeitos mais brandos.
De todo modo, podemos citar alguns dos principais sinais da Síndrome do Ninho Vazio. Acompanhe:

1. Tristeza relacionada à perda do papel parental
A tristeza relacionada à perda do papel parental é um dos sinais da Síndrome do Ninho Vazio. Os pais podem se sentir entristecidos ao perceber que não terão mais que cuidar, da mesma forma, de seus filhos que, agora, são independentes e seguiram o próprio caminho.
Essa tristeza pode aparecer de forma mais intensa ou mais leve, dependendo da importância que o papel parental apresentava para o indivíduo. Por exemplo, se o sujeito dedicava toda a sua rotina aos cuidados com os filhos, pode se sentir mais entristecido quando estes saem de casa. Já indivíduos que tinham uma rotina mais diversificada podem ter menos impactos nesse sentido.

2. Dificuldade para estabelecer uma nova rotina
A rotina familiar, muitas vezes, está associada às funções de cada membro. Os pais podem dedicar muito de suas vidas nos cuidados com as crianças, por exemplo. Porém, quando os filhos crescem e saem de casa, essa rotina deixa de existir, abrindo espaço para algo que, talvez, ainda não tenha sido organizado.
Diante dos sentimentos vividos na Síndrome do Ninho Vazio, o casal pode enfrentar dificuldades para estabelecer uma nova rotina diante da ausência dos filhos. É o caso de ter dificuldades para selecionar as prioridades, os horários para as novas atividades, etc.
Antes, muito do tempo diário era dedicado a atividades focadas nos filhos. Agora, esse espaço precisa ser preenchido, o que pode resultar em uma dificuldade para tornar o dia “cheio” de atividades.
Inclusive, o casal pode enfrentar situações de tédio e tristeza por conta dessa nova realidade. Afinal, o que fazer com o tempo livre e com a possível “liberdade” estabelecida?

3. Problemas no relacionamento com o(a) parceiro(a)
Durante o desenvolvimento dos filhos, o casal pode organizar a sua dinâmica em torno dos pequenos. Isto é, a vida de casal pode ser substituída pela parentalidade.
É o caso de o casal não ser mais próximo um do outro, mas, sim, focar apenas nos planos relacionados aos pequenos.
Quando o tempo passa e os filhos crescem, pode aparecer um gap na rotina do casal, que se vê compelido a pensar sobre a relação a dois que, há muito tempo, estava sendo deixada de lado.
Consequentemente, problemas no relacionamento podem vir à tona. O casal pode se ver diante de questionamentos e dificuldades para estabelecer o vínculo que tinham quando casaram, sendo que isso pode ter ficado “mascarado” com a presença dos filhos.

4. Autoestima rebaixada e sentimento de inutilidade
A dedicação dos pais para com a criação dos filhos é bastante intensa. Os pais abrem mão de muitas coisas, dedicam horas e horas do seu dia em prol da prole, e assim por diante.
Quando os filhos saem de casa, é comum que os progenitores passem a questionar a sua real utilidade. Antes, sentiam-se úteis ao direcionar os filhos rumo aos melhores caminhos na vida. Agora, podem ter dificuldades para encontrar motivos pelos quais são “úteis”.
É o caso de ter sentimentos de desvalia e rebaixamento aparecerem, acreditando não possuir atributos para ser uma “pessoa importante”.
Ver a independência dos filhos pode dar a entender que os pais não tem mais serventia, o que não é verdade. É válido pensar que a independência dos filhos muitas vezes está associada com a criação que receberam, ou seja, com todo o trabalho e toda a dedicação dos pais.
Pensar sob essa perspectiva pode ser mais saudável do que, simplesmente, enxergar-se como inútil.
Além disso, é válido considerar que a vida é feita de fases e que sempre podemos encontrar novos caminhos e sentidos para seguir em frente rumo a novos sonhos.

5. Sentimento de solidão e abandono
O sentimento de solidão e de abandono são outros sinais de que a Síndrome do Ninho Vazio pode estar se instaurando.
O casal pode se sentir abandonado pelos filhos, não diretamente, mas no sentido de se sentir sozinho com a ausência deles. Ou seja, não necessariamente os pais culpam os filhos por esse sentimento, embora haja quem faça isso, mas, ainda assim, sentem-se abandonados e excluídos do círculo social deles.
Não é simples atravessar esses sentimentos, mas vivê-los e ressignificá-los é um dos caminhos para enfrentar a síndrome.

6. Sintomas de depressão
Os sintomas de depressão também podem surgir em alguns casos de Síndrome do Ninho Vazio. O casal, ou um dos progenitores, pode sentir uma tristeza intensa, além de perder o interesse por atividades que antes julgava como prazerosas.
O indivíduo também pode apresentar outros sintomas de depressão, como apatia, choro fácil, baixa autoestima, dificuldade para enxergar sentidos e objetivos para a vida, fadiga excessiva, distúrbios do sono, etc.
É muito importante buscar ajuda profissional caso detecte esses sintomas, a fim de evitar o agravamento do quadro e para restabelecer a saúde e a qualidade de vida do sujeito.

7. Problemas psicossomáticos podem aparecer em alguns casos
Em alguns casos, as questões emocionais podem “escorregar” para o corpo, resultando em questões psicossomáticas. É o caso de haver o aparecimento de dores e distúrbios físicos inexplicáveis, como enxaqueca, problemas digestivos, entre outros.
Isso se deve ao fato de que o nosso corpo e a nossa mente estão interligados, ou seja, eles não atuam de forma independente, mas, sim, interdependente. Logo, quando as nossas emoções estão abaladas, podemos experimentar efeitos na saúde do nosso corpo, resultando em uma psicossomatização.

Como lidar com a Síndrome do Ninho Vazio?

Apesar de não existir uma fórmula mágica para enfrentar a Síndrome do Ninho Vazio, algumas medidas podem contribuir para uma redução dos sintomas e efeitos que a síndrome causa.
Assim, além do acompanhamento profissional ser importante, pequenas ações podem ajudar você a ressignificar esse momento. Vamos juntos pensar sobre isso:

1. Vivência do luto da perda do papel parental
De fato, os pais podem experimentar um sentimento de luto ao perder o papel parental que vinham desempenhando ao longo dos anos.
Isso quer dizer que vivenciar esse momento é saudável e válido. Logo, não há necessidade de, simplesmente, se sentir “super feliz” de uma hora para outra.
Respeitar esse seu tempo de elaboração da nova realidade é um caminho que pode ajudá-lo a atravessar essa fase da vida.
Por isso, desabafar sobre o assunto, permitir-se chorar, pensar nas emoções sentidas para lidar com elas, entre outras ações, são bem-vindas quando pensamos em vivenciar o luto da perda do papel parental.
Lembre-se de que toda perda significativa provoca um luto. Isso porque, ao longo de nossas vidas, vamos investindo energia psíquica no que fazemos e nos dedicamos. Logo, quando perdemos algo que recebia muita energia, temos que aprender a investir isso em outra área de nossas vidas. Ou seja, precisamos atravessar o luto para encontrar novos caminhos.

2. Buscar novas atividades prazerosas
Quais atividades geram prazer, felicidade e bem-estar? Você já parou para pensar sobre isso?
Nesta nova fase, pode ser que você se depare com uma agenda mais “folgada” e com mais tempo livre. Sendo assim, uma forma de preenchê-la de maneira positiva é investindo em atividades e projetos que fazem bem a você.
Sabe aquele sonho de escrever um livro que pode ter sido deixado de lado na juventude? Esse pode ser um bom momento de realizá-lo.
Portanto, encontre atividades novas que possam agregar na sua rotina de uma maneira interessante, possibilitando novas perspectivas para a sua vida.
Faça essas descobertas dentro do seu tempo. Não precisa encontrar mil atividades para preencher a sua agenda da noite para o dia. Mas, sim, considere ir experimentando coisas novas aos poucos, a fim de encontrar possibilidades que façam sentido para você.

3. Ressignificar a rotina familiar
A sua rotina familiar está organizada de que forma? Com muitos gaps devido à ausência dos filhos? Então talvez seja o momento de criar novas rotinas para o seu lar.
Se antes você não conseguia dedicar tempo para cuidar da casa, devido às demandas dos filhos, que tal incluir esse cuidado com o lar a partir de agora?
Refletir sobre as novas atividades que podem ser incluídas na rotina da família é um caminho que pode auxiliar na superação da Síndrome do Ninho Vazio.
Você pode conversar com o seu parceiro sobre as atividades que possam fazer sentido, visando promover uma rotina saudável, equilibrada e agradável.
Inclusive, vale a pena fazer uma análise dos hábitos que você possui, visando implementar mudanças saudáveis, como prática de exercícios, cuidados com a alimentação, entre outros fatores.
Vale ressaltar, ainda, que você não precisa excluir os seus filhos da sua rotina, de uma forma completa. Os almoços em família e encontros no fim de semana ainda podem acontecer de uma forma periódica e combinada entre as partes.

4. Mudanças práticas em casa
Quando os filhos saem de casa, muita coisa passa a mudar, a começar pela organização dos cômodos.
Se os seus filhos saíram, evite manter os quartos deles intactos por muito tempo, pois isso pode alimentar o sentimento de que o filho voltará para o ninho, preenchendo-o.
Portanto, seguir adiante fazendo mudanças práticas na organização da casa é uma das formas de lidar com a Síndrome do Ninho Vazio.
Claro que você não precisa implementar essas mudanças assim que os seus filhos saem de casa, mas, pensar nessa possibilidade e planejar essas alterações é algo saudável e válido.
Ficar preso no passado, tentando manter a casa como ela era quando havia filhos morando com você, pode ser algo que complique o processo de superação.

5. Buscar ajuda psicológica
Em algumas situações, os pais podem enfrentar dificuldades diante da Síndrome do Ninho Vazio. Não tenha medo ou vergonha de buscar ajuda profissional por conta disso. O psicólogo é um profissional preparado para ajudar você a lidar com as questões emocionais, inclusive nessa fase da vida.
Portanto, buscar a psicoterapia é uma forma de enfrentar a síndrome de uma forma interessante. Você poderá cuidar das suas emoções, falar sobre suas frustrações e dores, entre outros pontos.
Ao mesmo tempo, poderá se conhecer melhor, fortalecer a autoestima, encontrar caminhos para a sua rotina, e assim por diante. Considere essa possibilidade, pois um profissional neutro pode ajudá-lo a encontrar novos direcionamentos.

6. Priorizar-se e fazer novos planos
Durante a criação dos filhos, é muito comum que os pais os coloquem como prioridade em suas vidas. Assim, quando os filhos saem de casa, essa dinâmica pode mudar. Nessa situação, é interessante mentalizar a ideia de que, agora, você é quem deve ser a prioridade de sua vida. Você é a pessoa mais importante, que merece cuidados e realizações.
Sendo assim, pare e reflita sobre o que você sempre quis fazer por si mesmo, mas, por falta de tempo, pode ter negligenciado. Analise quais são as mudanças que você gostaria de implementar em sua rotina, colocando-se em primeiro lugar.
Você gosta de viajar e quer investir nessa atividade? Deseja aprender algo novo e quer iniciar um curso? Reflita sobre todas as possibilidades que podem priorizar você e os seus sonhos a partir de agora.

7. Compreender os benefícios de os filhos seguirem o próprio caminho
Outra ação que pode ser colocada em prática é a compreensão e reflexão acerca dos benefícios por trás do ato de os seus filhos seguirem o próprio caminho deles.
Afinal, durante muitos anos você, enquanto progenitor, pode ter se dedicado ao desenvolvimento e a aprendizagem dos seus filhos. Agora, eles estão aptos para seguir a própria vida e isso promove benefícios para a saúde mental e o bem-estar deles. Reflita sobre o fato de eles saírem de casa mostra o quanto o papel de pai e mãe pode ter sido bem-sucedido, da forma como você desejou.
Essas perspectivas podem ajudá-lo a enxergar nessa mudança muitos benefícios.

8. Reajuste e readaptação da vida a dois
Como mencionamos no decorrer deste conteúdo, a Síndrome do Ninho Vazio também pode ocasionar impactos na vida do casal, que até então estava ancorada na criação dos filhos.
Sendo assim, buscar garantir a comunicação no relacionamento para pensar em formas de readaptar e reajustar a vida a dois é um caminho válido.
Inclusive, a terapia de casal também pode ajudar quando ambos percebem que necessitam de ajuda e apoio para enfrentar essa nova situação conjugal.
Lembrem-se de respeitar o tempo de adaptação, que pode ser mais ou menos demorado. Buscar reconhecer o outro, aprender mais sobre si mesmo, entre outras medidas, são formas de fortalecer a relação e de encontrar novos caminhos para seguirem juntos.
Criem novos planos, conversem sobre desejos e sonhos, enfim. Priorizem essa nova fase da relação e moldem uma rotina que seja agradável para ambos os lados. Quem sabe assim, aos poucos, a ordem é restabelecida e uma nova rotina poderá ser desfrutada.

E lembrem-se: o acompanhamento profissional pode ser válido nesses casos. Não descartem essa possibilidade.

Referências
SARTORI, Adriana CR; ZILBERMAN, Monica L. Revisitando o conceito de síndrome do ninho vazio. Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo), v. 36, p. 112-121, 2009