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Síndrome de Rett

O que é síndrome de Rett?

A Síndrome de Rett é um distúrbio genético que acomete o neurodesenvolvimento. Ela acontece quase exclusivamente em meninas, prevalência em torno de 1 a cada 10 ou 20 mil meninas.

Ela tem como principais características a regressão das habilidades sociais, habilidades de fala e habilidades motoras previamente adquiridas.

A Síndrome de Rett já foi considerada um tipo de autismo sindrômico, em manuais diagnósticos como o DSM e a CID.

Mas desde a última versão da CID-11 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) a Síndrome de Rett ganhou uma classificação própria, com o código LD90.4.

A síndrome de Rett também foi removida da lista de transtornos do espectro autista (TEA) no DSM-5, o manual de diagnóstico e estatística de transtornos mentais da Associação Americana de Psiquiatria.

Título

A Síndrome de Rett é causada, na grande maioria dos casos, por mutações no gene MECP2 (Methyl-CpG-binding protein 2), localizado no braço longo do cromossomo X (Xq28).

O gene MECP2 codifica uma proteína que regula a expressão de outros genes, sendo essa regulação fundamental para o funcionamento neuronal e para o desenvolvimento normal do cérebro.

Existem mais de 200 tipos diferentes de mutações descritas nesse gene, com severidade clínica variável dependendo do tipo e localização da mutação.

Por que a síndrome afeta quase só meninas?

Como o MECP2 está no cromossomo X, meninas (XX) com uma mutação em apenas um dos cromossomos X ainda têm um X funcional — o que permite sobrevivência, apesar das manifestações graves.

Em meninos (XY), a presença de uma única cópia mutada de MECP2 costuma ser letal na fase neonatal, já que não há um segundo cromossomo X para compensar.

Características clínicas da Síndrome de Rett

A Síndrome de Rett é caracterizada por uma série de sinais e sintomas que surgem após um período de desenvolvimento aparentemente normal nos primeiros 6 a 18 meses de vida. Nesse momento, há uma regressão súbita de habilidades previamente adquiridas, principalmente de fala e uso funcional das mãos.

Em relação à comunicação, há uma perda completa ou quase completa da linguagem verbal.

Já as mãos sofrem com uma perda de seu uso funcional, com movimentos voluntários e objetivos, os quais são substituídos por movimentos estereotipados característicos, como torcer, esfregar ou bater palmas.

Embora a Síndrome de rett seja uma doença progressiva, a gravidade dos sintomas depende também do tipo de mutação que acomete o gene MECP2. Algumas mutações estão associadas a formas mais leves, com preservação parcial da linguagem e da marcha. Outras causam formas graves, com regressão profunda e ausência total de fala e mobilidade.

Outros sinais que podem estar presentes incluem:

  • Regressão significativa em habilidades motoras e cognitivas após um período inicial de desenvolvimento aparentemente normal;
  • Apraxia: dificuldade em coordenar movimentos voluntários, como alcançar e segurar objetos e também de planejar e programar sequências de movimentos de fala;
  • Problemas respiratórios: respiração irregular, incluindo episódios de apneia durante o sono.
  • Comportamentos desafiadores, como agitação e irritabilidade;
  • Deficiência intelectual, geralmente grave
  • Microcefalia adquirida (perímetro cefálico deixa de crescer adequadamente).
  • Crises epilépticas são comuns

Fases da Síndrome de rett

A síndrome costuma evoluir em quatro fases:

  1. Fase I (estágio inicial): desaceleração do crescimento e leve atraso (6 a 18 meses).
  2. Fase II (fase de regressão rápida): perda de habilidades motoras e linguísticas (1 a 4 anos).
  3. Fase III (plateau): estabilização de algumas funções, melhora na atenção e comunicação não verbal.
  1. Fase IV (deterioração motora tardia): progressiva rigidez, escoliose e piora da mobilidade, mas sem perda cognitiva adicional.

Síndrome de Rett X Transtorno do Espectro autista

A síndrome de Rett e o Transtorno do Espectro Autista (TEA) compartilham algumas características, especialmente nos primeiros anos de vida, como dificuldades de comunicação, isolamento social e movimentos estereotipados. No entanto, existem diferenças clínicas importantes que ajudam a diferenciá-las. Mostramos as principais diferenças na tabela abaixo

Síndrome de Rett x TEA

Característica Síndrome de Rett Autismo (TEA)
Causa Mutação no gene MECP2 (cromossomo X) Multifatorial (genética + fatores ambientais)
Sexo predominante Quase exclusivamente meninas Mais comum em meninos
Início dos sintomas Desenvolvimento normal até 6–18 meses, seguido de regressão Pode haver atraso desde o início ou regressão sutil
Perda de habilidades Abrupta, principalmente fala e uso das mãos Pode haver estagnação ou regressão mais gradual
Movimentos das mãos Estereotipias típicas: torcer, esfregar, perda funcional Estereotipias variadas, mas mantém uso funcional das mãos
Fala e linguagem Perda da linguagem adquirida, dificuldade severa Atraso ou ausência de fala, mas sem perda abrupta
Interação social Redução após regressão, mas pode haver reações emocionais Dificuldade consistente na comunicação e interação social
Microcefalia adquirida Comum Rara
Epilepsia / convulsões Frequente (60% ou mais dos casos) Presente em uma parte dos pacientes, mas menos comum
Alterações motoras Hipotonia, rigidez, distúrbios de marcha, apraxia Pode haver, mas não são centrais ao quadro clínico
Problemas respiratórios Comuns (hiperventilação, apneia) Incomuns

Diagnóstico da Síndrome de Rett

Nas meninas com alterações características da Síndrome de rett, a confirmação é feita por meio de um teste molecular que busca identificar a mutação no gene MECP2, encontrado em até 95% dos casos típicos.

Uma vez confirmado, outros exames podem ser solicitados para avaliar as repercussões da síndrome, incluindo:

  • Eletroencefalograma (EEG)
  • Ressonância Magnética de crânio (pode mostrar atrofia cerebral leve)
  • Avaliação audiológica e visual
  • Avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor

Tratamento da Síndrome de Rett

A Síndrome de rett não existe cura. No entanto, o tratamento busca melhorar a qualidade de vida e controlar os sintomas.

O profissional mais qualificado para isso é o pediatra do desenvolvimento. A Pediatria do Desenvolvimento é uma subespecialidade da Pediatria focada no crescimento, desenvolvimento neuropsicomotor e comportamento da criança, desde o nascimento até o final da adolescência. Seu foco principal são doenças com acometimento de múltiplos órgãos e sistemas do corpo, incluindo a Síndrome de Rett.

Médicos de outras especialidades e profissionais de equipe multidisciplinar também devem ser envolvidos no tratamento, a depender das necessidades individuais:

  • Fisioterapia: busca manter a mobilidade e prevenir deformidades
  • Terapia ocupacional: estimulação sensorial e funcionalidade das mãos
  • Fonoaudiologia: busca melhorar a capacidade comunicativa e de linguagem, incluindo métodos de comunicação alternativa. Atua também na presença de problemas com a deglutição.
  • Psicopedagogia: atua por meio de intervenções educacionais adaptadas

Qual o prognóstico da Síndrome de Rett?

A Síndrome de rett é uma doença progressiva e com prognóstico funcional comprometido, com limitações motoras e cognitivas persistentes. Ainda assim, a qualidade de vida pode melhorar muito com o suporte adequado.

A expectativa de vida é reduzida em relação à população geral, mas pode variar bastante.

Pacientes com epilepsia severa, aspiração, infecções graves ou arritmias apresentam prognóstico mais reservado, enquanto outras meninas podem sobreviver até seus 40 ou 50 anos de idade.

A expectativa de vida é maior quando:

  • A epilepsia é bem controlada;
  • Há suporte nutricional adequado;
  • A mobilidade é mantida por mais tempo;
  • Não há complicações respiratórias graves.