Sífilis Congênita
O que é a Sífilis Congênita?
A sífilis congênita é uma infecção transmitida da mãe para o feto via transplacentária, causada pela bactéria Treponema pallidum, o mesmo agente responsável pela sífilis adquirida.
É uma condição evitável com diagnóstico e tratamento adequados da gestante durante o pré-natal, mas que continua sendo um importante problema de saúde pública.
Segundo o Ministério da Saúde, a taxa de incidência da sífilis congênita no Brasil é acima de 7 casos por 1.000 nascidos vivos. Esses números refletem falhas na triagem, tratamento ou seguimento adequado das gestantes, especialmente em população com acesso mais limitado aos serviços de saúde.
Transmissão
A transmissão ocorre de forma transplacentária, em qualquer fase da gestação, embora a doença seja mais grave quanto mais precoce for a transmissão.
O risco de transmissão vertical depende da fase da sífilis materna:
- Sífilis primária ou secundária: risco acima de 70%.
- Sífilis latente precoce: risco de 40-50%.
- Sífilis latente tardia ou terciária: risco de aproximadamente 10%.
- Também pode ocorrer transmissão intraparto, se houver lesões genitais ativas.
Sinais Clínicos
A sífilis congênita pode ser classificada como precoce, quando as manifestações aparecem até os 2 anos de idade, ou tardia, caso as manifestações tenham início apenas após os 2 anos.
Sífilis Congênita Precoce
Até 70% dos bebês não apresentam quaisquer sinais ou sintomas da doença ao nascimento.
Quando sintomático, o bebê pode apresentar:
- Rinite serossanguinolenta (“coriza sifilítica”).
- Lesões cutâneo-mucosas: pênfigo palmo-plantar, exantema descamativo.
- Hepatoesplenomegalia.
- Icterícia.
- Anemia e plaquetopenia.
- Osteocondrite/metáfise em sabre (visível em RX de ossos longos).
- Linfadenopatia generalizada.
Sífilis Congênita Tardia
Estigmas tardios aparecem em crianças não tratadas, incluindo:
- Dente de Hutchinson (incisivos centrais em forma de chave de fenda).
- Surdez neurossensorial.
- Nariz em sela.
- Arco tibial em sabre.
- Ceratite intersticial.
- Cicatrizes peribucais.
Diagnóstico
Diagnóstico materno
Testes de triagem para a sífilis são de rotina e obrigatórios no pré-natal, mesmo que a gestante não apresente sintomas. O teste para sífilis (VDRL ou teste rápido) deve ser feito nos seguintes momentos:
- Na 1ª consulta do pré-natal (idealmente até 12 semanas);
- No início do 3º trimestre (28 semanas);
- No momento do parto ou aborto.
A confirmação da Sífilis materna é feita com o VDRL positivo + teste treponêmico (ex: FTA-Abs, TPHA). No entanto, isso não significa que a doença tenha sido transmitida para o bebê.
Diagnóstico no feto ou bebê
A sífilis congênita pode ser suspeitada ainda durante a gestação, principalmente por meio da avaliação da mãe e da vigilância fetal. No entanto, o diagnóstico definitivo geralmente só é possível após o nascimento, com base em exames do recém-nascido.
A sífilis congênita deve ser suspeitada nas seguintes condições:
- Mãe com tratamento inadequado ou não tratado.
- Mãe com VDRL de alta titulação.
- Recém-nascido com VDRL maior que o materno.
- Presença de sinais clínicos ou alterações em exames.
Após o nascimento, o principal exame diagnóstico é o VDRL, que deve ser avaliado a partir de uma amostra do sangue periférico, não do cordão umbilical.
Títulos de VDRL do bebê maior do que o da mãe são altamente suspeitos da Sífilis Congênita. No entanto, títulos iguais ou menores não excluem a doença.
Outros exames podem ser solicitados na busca de sequelas características da sífilis congênita, incluindo:
- Hemograma (anemia, plaquetopenia).
- RX de ossos longos.
- Função hepática.
- Radiografia de tórax e ultrassonografia transfontanela (se necessário).
Tratamento da Gestante
A Penicilina benzatina é o único tratamento eficaz que previne a transmissão vertical, sendo que diferentes esquemas de tratamento podem ser adotados a depender da fase da doença.
Considerando que a sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível, é fundamental que o parceiro sexual também seja tratado.
O controle de cura é feito por meio da dosagem do VDRL, que deve ter uma queda de 2 diluições em até 6 meses.
Tratamento do recém-nascido
Todo recém nascido filho de mãe com sífilis diagnosticada deve receber tratamento com penicilina. No entanto, o esquema de tratamento pode variar a depender da presença de sinais clínicos da doença ou se a mãe realizou tratamento adequado na gestação.
Prognóstico
O prognóstico da Sífilis Congênita varia conforme o tratamento recebido.
Quando o diagnóstico é precoce e o tratamento é iniciado nos primeiros dias de vida, a maioria dos recém-nascidos evolui sem sequelas. Os títulos do VDRL caem progressivamente e tendem a se negativar nos primeiros 6 a 12 meses. Lesões ósseas, hepatoesplenomegalia e outras manifestações podem regredir completamente.
Mesmo no caso de neurossífilis ela também pode ter boa evolução se tratada precocemente.
Quando a mãe não recebe tratamento ou é tratada de forma inadequada, até 40% dos fetos infectados morrem intraútero. Já os recém-nascidos podem apresentar prematuridade, baixo peso ao nascer, síndrome da angústia respiratória ou infecção disseminada grave.
Até 70% dos bebês nascidos com a infecção não apresentam quaisquer sintomas ao nascimento, vindo a apresentar as manifestações características mais tardiamente. Assim, todos devem ser avaliados e tratados. Sem tratamento, a sífilis congênita pode ser incapacitante, desfigurante ou fatal, mesmo anos após o nascimento.