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Saúde Mental da Gestante e da Puérpera

Por que devemos falar sobre a Saúde Mental da Gestante e da Puérpera?

A gestação e o período pós-parto (puerpério) são fases intensas de mudanças físicas, emocionais, sociais e hormonais.

Embora cercada por expectativas positivas, essas transformações podem desencadear ou agravar transtornos mentais, afetando a saúde da mãe e o desenvolvimento do bebê.

Muitos tabus e estigmas ainda envolvem os sentimentos negativos e os transtornos mentais nessa fase, dificultando que gestantes e puérperas peçam ajuda.

Profissionais de saúde, familiares, parceiros e a sociedade devem ser agentes ativos na quebra dos tabus, criando espaços seguros para que a mulher fale sobre seus sentimentos.

Discutimos alguns desses tabus abaixo.

  1. “Ser mãe é ser feliz o tempo todo”

Existe uma idealização de que a maternidade é sempre um momento de plenitude e alegria. Isso faz com que mulheres que se sintam tristes, ansiosas ou sobrecarregadas acreditem estar “falhando” como mães.

  1. “Se eu estou sofrendo, é porque sou fraca ou ingrata”

Muitas mulheres pensam que não têm o direito de sofrer, principalmente se a gravidez foi planejada. Isso contribui para sentimentos de culpa, vergonha e isolamento.

  1. “Problemas emocionais podem prejudicar o bebê, então é melhor esconder”

Há o medo de que admitir dificuldades emocionais durante a gestação ou pós-parto possa ser malvisto por profissionais ou familiares. Isso reforça o silêncio.

  1. “Tristeza pós-parto é normal e vai passar sozinha”

Embora alterações de humor leves sejam comuns no início do puerpério (“baby blues”), muitas mulheres desenvolvem quadros clínicos de depressão ou ansiedade, que precisam de acompanhamento e tratamento especializado.

A Felicidade Plena nas Redes Sociais

No entanto, vivemos em uma era em que as redes sociais fazem parte do cotidiano — e também da maternidade. Imagens de gestantes sorridentes, puérperas com bebês calmos e frases como “nunca fui tão feliz” são onipresentes em plataformas digitais.

As pessoas colocam o que querem em suas redes – e escondem o que não querem. Isso pode levar a uma sensação irreal de “felicidade plena”, que não existe para ninguém.

A maternidade é um processo complexo, repleto de alegrias, mas também de desafios. Validar o sofrimento é tão importante quanto celebrar as conquistas.

A imagem da “supermãe feliz” que dá conta de tudo com um sorriso no rosto torna-se uma referência inalcançável para muitas mulheres. Esse ambiente pode piorar a autoestima e aumentar a sensação de fracasso e de fraqueza, potencializando os desafios de saúde mental materna.

Fatores de risco para problemas de saúde mental na gestação

Embora qualquer gestante possa apresentar problemas de saúde mentalna gestação, o risco é maior na presença de determinadas condições:

  • Histórico pessoal ou familiar de transtornos psiquiátricos (depressão, ansiedade, bipolaridade)
  • Gravidez não planejada ou indesejada
  • Problemas no relacionamento conjugal ou ausência de rede de apoio
  • Baixa escolaridade ou situação socioeconômica precária
  • Violência doméstica ou abuso (físico, sexual, psicológico)
  • Estresse crônico ou eventos traumáticos recentes
  • Doenças crônicas maternas (como hipertensão, diabetes, lúpus)
  • Complicações maternas ou fetais na gestação atual ou pregressa.

Fatores de risco no puerpério

Os primeiros dias após a chegada do bebê é um momento muito esperado, cercado de expectativas positivas. Mas é também um momento de medos e desafios nem sempre fácil de ser transpostos, podendo estar associados a diferentes transtornos de saúde mental.

Embora qualquer mulher possa desenvolver esses transtornos, o risco é maior em determinadas condições:

  • Parto traumático ou cesárea de urgência
  • Prematuridade ou problemas de saúde do recém-nascido
  • Amamentação difícil ou dolorosa
  • Privação de sono
  • Sentimentos de sobrecarga ou culpa
  • Isolamento social
  • Falta de apoio emocional do parceiro ou familiares
  • Histórico de transtorno mental prévio ou durante a gravidez

Tristeza pós-parto ou baby blues

A tristeza pós-parto, também conhecida como “baby blues”, pode ser descrita como um quadro no qual a puérpera vive sentimentos de tristeza, insegurança, insatisfação, fadiga e baixa autoestima, devido ao nascimento do bebê.

Caracteriza-se como um quadro transitório e não patológico que acomete cerca de 80% das puérperas, que faz parte da transição que a mulher faz para dar a entrada no papel que cumprirá dentro da maternidade.

Embora seja mais “brando” que a depressão pós-parto, é importante manter um olhar atento para o caso, viabilizando mais qualidade de vida para a mulher e uma condição que permita um melhor vínculo entre mãe-bebê.
Essa tristeza costuma durar cerca de duas semanas, e pode fazer com que a mulher se sinta mais sensível e “com medo” do que está por vir.

Depressão pós-parto

A fase perinatal é um dos momentos da vida da mulher que apresenta maior risco de desenvolver um quadro de depressão.

Diferentemente da tristeza materna (ou “baby blues”), a depressão pós-parto não é um processo fisiológico e não deve ser normalizado. Os sintomas são mais intensos e podem surgir semanas ou meses após o parto e podem não se recuperar sem uma intervenção específica.

Entre esses sintomas, incluem-se:

  • Tristeza profunda.
  • Baixa autoestima.
  • Sentimento de culpa.

O tratamento pode envolver tanto a a psicoterapia, oferecida por um psicólogo, como medicamentos

prescritos pelo psiquiatra, a depender da história clínica singular de cada mulher.

Transtorno de Ansiedade

Sinais e sintomas de ansiedade são normais e esperados tanto na gestação como no puerpério. No entanto, o transtorno de ansiedade vai além da preocupação ou medo ocasionais. Trata-se de uma condição psiquiátrica caracterizada por preocupação excessiva, constante e desproporcional, que pode interferir no sono, alimentação, relacionamentos e na capacidade de funcionamento diário.

Na gestação e no pós-parto, o transtorno de ansiedade pode se manifestar de forma mais intensa devido às transformações físicas, hormonais, emocionais e sociais que ocorrem nesse período. Quando eles persistem por mais de duas semanas e há prejuízo na qualidade de vida ou nas atividades diárias, é importante que se busque ajuda médica.

O tratamento geralmente envolve uma abordagem multidisciplinar, combinando psicoterapia, suporte social e, em alguns casos, medicação. O objetivo é ajudar a mãe a lidar com a ansiedade, reduzir os sintomas e melhorar sua qualidade de vida.

A psicoterapia deve buscar o fortalecimento da rede de apoio, incluindo o parceiro, a família e colegas. Deve buscar também a redução de estressores externos, organizando a rotina e ajustando as prioridades. Isso inclui medidas de alto cuidado, como a melhora na qualidade do sono, melhora do padrão alimentar e a prática de atividades físicas regulares e outras atividades de laser.

O tratamento medicamentoso pode ou não ser necessário, considerando-se o risco-benefício tanto para mãe como para o bebê.

Discutimos mais sobre isso em um artigo sobre O Transtorno de Ansiedade na Gestação e no Puerpério.

Transtorno de Pânico

O transtorno de pânico é um tipo de transtorno de ansiedade caracterizado por crises súbitas e intensas de medo ou desconforto extremo, conhecidas como ataques de pânico. Esses episódios ocorrem sem aviso prévio, geralmente acompanhados de sintomas físicos marcantes, como taquicardia, falta de ar e sensação de morte iminente.

Essas crises geralmente duram entre 10 a 30 minutos, mas os efeitos emocionais podem durar muito mais tempo.

Na gestação, o medo do parto e da maternidade, eventos traumáticos e a falta de apoio social aumentam o risco para o transtorno de pânico.

No puerpério, ele pode estar associado a exaustão física e mental, privação do sono, a pressão para ser uma “boa mãe” e o medo de não conseguir cuidar do bebê da forma como idealizou.

A  psicoterapia e especialmente a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é o tratamento de escolha, podendo ou não ser combinado ao tratamento medicamentoso.

Burnout materno

O burnout materno, também chamado de burnout parental, caracteriza-se como um esgotamento emocional com sintomas físicos, desencadeado pelo excesso de cobranças e atividades que a atuação materna exige.

Como o nome diz, é uma chama que aos poucos vai se apagando, até desligar por completo.

São sinais do burnout:

  • Irritabilidade e alterações repentinas de humor.
  • Sentimento de insegurança.
  • Sensação de culpa por crer “não ser uma boa mãe”.
  • Exaustão mental

Mais tarde, à medida que os sintomas vão se agravando o burnout pode levar a outros sintomas físicos, incluindo:

  • Dores de cabeça constantes.
  • Problemas gastrointestinais.
  • Distúrbios do sono.
  • Tensão e dor muscular.
  • Lapsos de memória.
  • Problemas para se concentrar e manter o foco.
  • Fadiga constante, mesmo após uma boa noite de sono.

Da mesma forma que outras condições de saúde mental que afetam a gestante ou a puérpera, a psicoterapia é a base do tratamento. Ela deve buscar o fortalecimento da rede de apoio, incluindo o parceiro, a família e colegas. Deve buscar também a redução de estressores externos, organizando a rotina e ajustando as prioridades. Isso inclui medidas de alto cuidado, como a melhora na qualidade do sono, melhora do padrão alimentar e a prática de atividades físicas regulares e outras atividades de laser.