Relacionamento entre irmãos
Relacionamento Entre Irmãos
O relacionamento entre irmãos pode ser bastante complexo pelo simples fato de que não temos a chance de escolher quem serão os nossos irmãos – diferentemente do que ocorre com os amigos.
Além disso, a competição pela atenção dos pais, a diferença de idade, entre outros fatores, podem contribuir para a construção de um relacionamento saudável ou desajustado.
A seguir, descrevemos algumas informações importantes sobre o tema, visando ajudar os pais na hora de implementar ações que contribuam para o desenvolvimento saudável dos filhos. Confira!
Fatores relacionados ao relacionamento entre irmãos
São diversos os fatores que podem impactar na construção do relacionamento entre irmãos. Alguns desses fatores podem desencadear efeitos positivos, enquanto outros podem desencadear consequências negativas.
Tudo dependerá da subjetividade e do contexto no qual os irmãos estão inseridos. Conhecer essas contingências é uma forma de implementar mudanças que possam contribuir para uma melhor relação fraterna.
A seguir, você verá a descrição desses fatores. Lembrando que podem existir muitos outros, mas nos atemos aos principais e que podem, tendencialmente, ser mais recorrentes. Vamos lá!
1. Tratamento recebido pelos pais
Sem dúvidas, o tratamento recebido pelos pais pode impactar profundamente o relacionamento entre irmãos. Se o tratamento é relativamente semelhante – pois é impossível ser igual -, a competição entre os filhos pode ser mais branda.
Porém, quando os pais adotam uma postura de favoritismo, tratando os irmãos de forma muito diferente, o relacionamento fraterno poderá ficar prejudicado.
Além disso, quando os pais são violentos com os filhos, as chances de estes replicarem tal comportamento entre si são bastante significativas. Isto é, se os pais batem nos filhos ou os ofendem, as chances de eles fazerem o mesmo, em momentos de desentendimento, são bem grandes. Isso porque, os filhos são, de certa forma, aprendizes dos pais.
Em paralelo a isso, não podemos deixar de citar o comportamento que muitos pais têm de proteger e mediar os conflitos do filho caçula com mais frequência, não fazendo o mesmo pelo filho mais velho. Discursos como “você é o mais velho, deveria ser mais maduro e deixar o seu irmão brincar com este brinquedo” é algo que pode minar a relação entre irmãos.
Afinal, mesmo que, de fato, um filho seja mais velho, isso não quer dizer que esse argumento seja válido. Lembre-se de que o irmão pode ser visto como um “inimigo” em determinadas situações, portanto, apenas pedir que a criança ceda às vontades da outra é algo que pode: 1. Aumentar a revolta do filho mais velho para com o mais novo; 2. Fortalecer, no filho mais novo, a ideia de que ele pode desafiar o irmão mais velho, já que será protegido; 3. Reforçar um tratamento diferente para com as vontades do filho mais novo, em detrimento ao filho mais velho.
2. Diferença de idade
A diferença de idade entre os irmãos também pode impactar no relacionamento. Idades próximas podem ter uma dinâmica de interação diferente dos casos em que os irmãos têm uma diferença de idade de 5 anos ou mais, por exemplo.
Afinal, no caso de 5 anos de diferença, em específico, o filho mais velho fará 18 anos e atingirá a maioridade – deixando de lado o perfil infantil – enquanto o filho mais novo ainda terá 13 anos e poderá sentir essa diferença nos comportamentos do irmão.
Sendo assim, o relacionamento entre irmãos pode ser afetado na medida que a faixa etária está relacionada diretamente com as fases do desenvolvimento humano.
Obviamente, nessas circunstâncias não há muito o que “fazer” para evitar as mudanças. Porém, mediar e conversar com o filho mais novo, quando o mais velho demonstra desinteresse pelas brincadeiras, é algo que pode ajudá-lo a entender melhor o que está acontecendo.
3. Competição pelo amor dos pais
A competição pelo amor dos pais também é algo frequente, e isso é inegável. Acontece que, antes do segundo filho nascer, o primogênito se via como o “centro das atenções” dentro de casa, recebendo todo o cuidado dos pais e sendo o principal assunto do cotidiano.
Porém, quando o filho mais novo nasce, essa atenção plena deixa de existir. Agora, os pais precisam dar atenção a duas crianças, o que pode resultar em uma diminuição do foco no primogênito.
Como consequência, o filho mais velho pode enxergar a situação como um momento de competição entre os irmãos, que deverá acontecer de forma acirrada.
As brigas e desentendimentos por conta disso podem surgir, e os irmãos podem buscar se mostrar “melhores” do que o outro.
Em paralelo a isso, quando os pais cometem o equívoco de comparar o desempenho dos irmãos, isso pode fortalecer ainda mais a competição. Por isso, justamente, esse comportamento é inconcebível quando pensamos no desenvolvimento de um relacionamento saudável entre irmãos.
4. Ambivalência de sentimentos
O relacionamento entre irmãos também pode ser carregado por uma ambivalência de sentimentos. Amor e “ódio”, carinho e ciúme, desejo de ter por perto e, ao mesmo tempo, vontade de se afastar, entre outras ambivalências, podem surgir dentro dessa dinâmica, o que é natural e esperado.
O fato de não poder escolher quem será o seu irmão – nem mesmo a quantidade de irmãos – e todas as contingências desse relacionamento podem tornar os sentimentos ambivalentes.
O amor entre irmãos é genuíno e forte, mas o “ódio” no momento de briga, na competição pela atenção dos pais, etc., pode aparecer. Isso não quer dizer que os filhos não se gostem mais – é apenas a ambivalência da relação agindo.
Obviamente, isso não quer dizer que devemos permitir que as crianças briguem e se ofendam por conta dessa ambivalência, mas, sim, podemos compreender que em alguns momentos elas vão, sim, se desentender, sem que isso seja algo “anormal”.
Contudo, a violência, física, psicológica e/ou verbal não pode ser considerada normal, mesmo em casos de ambivalência de sentimentos. Mediar essas situações é importante para impedir o agravamento dos ciclos violentos.
5. Contexto histórico
O contexto histórico e social da família também pode afetar o relacionamento entre irmãos. Em casos de famílias menos favorecidas, nas quais os pais precisam trabalhar e deixam os filhos (ainda menores de idade) cuidando dos mais novos, a relação fraterna poderá desenvolver uma dinâmica mais parental.
Em outras circunstâncias, isso não ocorrerá. Por isso, quando pensarmos em ferramentas e ações que contribuam para a construção do respeito e do companheirismo entre irmãos, devemos ter a consciência de que o contexto no qual as crianças e os adolescentes estão inseridos pode fazer toda a diferença.
6. Estilo de vida da família
O estilo de vida da família também pode impactar a relação entre irmãos. Famílias mais unidas podem construir um laço fraternal mais forte, enquanto que famílias com “agendas cheias” e distanciamentos podem dificultar esse tipo de interação.
Obviamente, não estamos aqui para julgar uma dinâmica familiar como certa ou errada, mas, sim, apenas para apontarmos os fatores que podem impactar positiva ou negativamente a relação entre irmãos.
7. Responsabilidades dadas ao filho mais velho
As responsabilidades que são dadas ao filho mais velho também podem impactar o relacionamento entre irmãos. Por exemplo, se o filho mais velho atua como se estivesse em uma posição parental, na ausência dos pais, o irmão mais novo poderá enxergá-lo dessa forma, interagindo de uma maneira diferente do que aconteceria quando a hierarquia entre irmãos fosse a mesma.
Pensar em todas essas situações pode nos ajudar a refletir sobre o quanto o relacionamento entre irmãos é bastante complexo e singular. Não existe um relacionamento ideal ou regras que devem ser estabelecidas nesse sentido, afinal, cada situação é única.
Ao mesmo tempo, temos algumas considerações que podem ser levadas em conta na hora de transmitir valores e conhecimentos valiosos para os filhos. A seguir, no próximo tópico, apresentamos algumas dessas orientações. Continue lendo.
Como incentivar um relacionamento saudável entre irmãos?
Querendo ou não, as atitudes dos pais podem impactar profundamente o relacionamento entre irmãos. A forma como tratam os filhos, a maneira como mediam os conflitos, entre outras ações, podem resultar em uma dinâmica fraternal positiva ou negativa.
Por isso, reunimos algumas considerações que podem vir a contribuir para uma interação mais saudável entre os irmãos. Acompanhe e saiba mais:
1. Atenção individualizada dos pais em momentos específicos
Promover momentos em que a atenção dos pais não será competida entre os irmãos é algo que pode ser bem interessante.
Isto é, reservar um tempo na agenda dos pais para dar atenção total a um momento com um dos filhos pode contribuir para o fortalecimento do vínculo, diminuição da competição e aumento da autoestima.
Por isso, considere compartilhar momentos individuais com cada filho. Não precisam ser horas ou dias, mas, sim, momentos periódicos, que dêem a entender que os seus filhos são especiais cada qual à sua maneira, e que não existe um que mereça mais ou menos atenção.
2. Elogie a cooperação entre irmãos
Quando os seus filhos estiverem cooperando entre si, seja num momento de brincadeira ou na hora de fazer alguma atividade – como atividade doméstica, por exemplo -, não deixe de elogiar esse comportamento.
Mostre a eles que você se sente feliz de vê-los interagindo dessa forma, comente sobre eles serem uma equipe, e assim por diante. Criar esse tipo de discurso pode ajudá-los a internalizar a ideia de que eles estão ali para apoiar um ao outro, e não para “passar por cima” do irmão.
3. Mediar conflitos de crianças menores de 8 anos
As crianças menores de 8 anos podem apresentar uma maior dificuldade para lidar com conflitos entre irmãos. Por isso, os pais podem e devem intervir nessas circunstâncias.
No entanto, é muito importante que essa intervenção seja completamente imparcial, evitando-se ficar ao lado apenas de um filho. Afinal, sabemos que é muito comum os pais ficarem ao lado do filho mais novo, mas, como comentamos anteriormente, esse comportamento pode agravar problemas de relacionamento entre irmãos.
Sendo assim, saiba escutar ambos os lados, mostre que está ali para ajudar e auxilie os seus filhos na hora de se acalmarem. Diga para eles respirarem fundo e se controlarem aos poucos, antes de seguir com a discussão. Depois que a “poeira abaixar”, diga que quer ouvir o que aconteceu, dando oportunidade para que cada um fale em determinado momento.
Depois, faça questionamentos que possam ajudá-los a entender onde erraram e onde acertaram com os irmãos. Assim, aos poucos, eles mesmos poderão refletir sobre a situação e, quem sabe, construir insights que levarão para toda a vida.
4. Mediar conflitos que apresentam violência nos maiores de 8 anos
Crianças maiores de 8 anos podem começar a lidar melhor com os conflitos entre irmãos. Isso quer dizer que não necessariamente você terá que intervir. Contudo, se a discussão começar a apresentar sinais de violência, como palavrões, empurrões e etc., é muito importante que os pais tomem alguma atitude.
Deixe claro que a violência não irá ajudá-los a resolver o problema, e que o ideal é que eles respirem fundo e procurem se acalmar um pouco antes de tentar encontrar uma solução para o que está acontecendo.
Novamente, não demonstre estar ao lado de um filho, mesmo quando, nitidamente, o outro esteja errado. Mas, sim, seja imparcial e ajude-os a reconhecer os erros e acertos dentro da discussão, visando construir uma atmosfera que seja mais saudável e justa.
5. Nunca compare os seus filhos
Infelizmente, é muito comum vermos os pais comparando o desempenho dos filhos, especialmente quando querem “corrigir” um deles. Algo como “Seu irmão é mais organizado que você” é um comportamento comparativo, que pode minar a autoestima do filho, aumentar a rivalidade entre irmãos e fragilizar o relacionamento fraternal.
Sendo assim, sempre que se sentir instigado a fazer esse tipo de comparação, freie a si mesmo. A comparação nunca será justa, em nenhum momento, nem mesmo para “animar” o seu filho – dizendo que o outro foi pior em algo, por exemplo.
Cada ser humano tem uma forma completamente única de ser, viver, existir, sentir e pensar. Logo, comparar duas histórias completamente diferentes é algo inválido, que não tem fundamento algum.
Portanto, policie-se para não fortalecer a ideia de que os irmãos estão competindo entre si e exclua as comparações das conversas em família.
6. Estímulo a escuta e empatia
Estimular a escuta e a empatia pode ajudar a melhorar o relacionamento entre irmãos. Para isso, você pode conversar sobre o assunto com os seus filhos, mas, além disso, reforçar por meio dos seus próprios comportamentos.
Como você, enquanto adulto, lida com os conflitos dentro da família? Você abre espaço para que as pessoas falem? Você demonstra entender o outro lado? Ou é sempre agressivo diante dos desentendimentos?
Fazer essa autoanálise é importante para detectar como você tem representado a resolução de conflitos para o seu filho. Será que você tem passado uma boa impressão nesse sentido? Será que está disseminando informações válidas sobre os conflitos?
Estimular a empatia e a escuta exige paciência e tempo. Pense nisso e implemente esses valores nos relacionamentos familiares a partir de hoje.
7. Estimule a resolução de conflitos
Ainda pensando na mediação de conflitos, quando levamos em consideração o relacionamento entre irmãos, devemos estimular que isso aconteça de forma saudável e natural.
Ou seja, ao invés de fazer os seus filhos apenas “pedirem desculpas” um para o outro, que tal ajudá-los a pensar sobre o que aconteceu, visando realmente resolver o problema?
Afinal, forçar um pedido de desculpas pode não agregar valor algum e, pelo contrário, pode aumentar a revolta entre irmãos.
Sendo assim, saiba estimular a resolução de conflitos, impedindo que esses problemas nunca sejam resolvidos e comecem a se acumular – a ponto de se tornar um impeditivo para o laço fraternal saudável.
Não se esqueça, ainda, de considerar a possibilidade de terapia familiar, caso julgue necessário. O atendimento psicológico, nesse sentido, poderá ajudá-lo a manejar os conflitos, fortalecer a comunicação intrafamiliar, etc. Pense nisso e considere essa alternativa na hora de lidar com o relacionamento entre irmãos.
Referências
CNN. Como ajudar a melhorar o relacionamento entre irmãos. Artigo de blog. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/como-ajudar-a-melhorar-o-relacionamento-entre-irmaos/ Acesso em 24 nov. 2022.
FACHADA, Sophie Élodie. Padrões de relacionamento entre irmãos. 2016. Dissertação de Mestrado.
SILVA, Emeline Pompeo da; LUCAS, Michele Gaboardi. Relação entre irmãos: a percepção do primogênito. Pensando famílias, v. 24, n. 1, p. 144-159, 2020.