Redução do estresse no ambiente esportivo
Redução do estresse no ambiente esportivo
A redução do estresse no ambiente esportivo se faz necessária uma vez que as emoções, quando desequilibradas e negligenciadas, podem impactar no bem-estar, na saúde mental e no desempenho do atleta.
Por isso, dar uma atenção mais efetiva às emoções e às questões que estão presentes no dia a dia das equipes é um caminho que pode promover ambientes esportivos mais sadios, produtivos e motivadores. Portanto, convidamos você para acompanhar este texto e saber mais sobre o que temos a dizer sobre isso.
Fatores que contribuem para o aumento do estresse no ambiente esportivo
Um ponto que pode contribuir para a redução do estresse no ambiente esportivo é o conhecimento acerca dos potenciais gatilhos por trás desse tipo de situação. É o caso de conseguir detectar alguns fatores que podem elevar os níveis de estresse, visando minimizá-los e, quando possível, extingui-los da rotina dos atletas.
Abaixo você verá alguns desses fatores e queremos convidar você para que faça uma análise da situação atual no seu ambiente esportivo, visando detectar possíveis questões que têm abalado o emocional dos atletas. Vamos lá!
1. Competitividade
Claramente a competitividade pode elevar os níveis de estresse no ambiente esportivo. Porém, é importante ficar atento ao nível de competitividade que tem sido instigado nesse espaço.
Em alguns momentos, a competitividade pode se tornar tóxica, que é quando há agressões, brigas, desejo incessante de ganhar e o esporte é visto apenas como um caminho para a vitória. Ou seja, quando a vitória é o único objetivo do atleta.
Nessas situações, o estresse pode ser muito mais elevado, e é papel dos profissionais envolvidos com o atleta mostrar que a competitividade faz parte do esporte, mas que a vitória não é a única coisa que importa. Existem outros ensinamentos, superações e desafios para serem vividos no campo esportivo.
2. Falta de autoconfiança
A falta de autoconfiança também pode aumentar os níveis de estresse no espaço esportivo. É o caso de o indivíduo não acreditar que tem a capacidade de superar determinado desafio ou determinado adversário.
Aqui, é muito importante que se elimine o processo de comparação. Não dá para comparar um atleta com outro, pois cada um possui uma história de vida completamente distinta.
Além disso, é imprescindível buscar fortalecer a autoestima, analisando quais são os pontos fortes do atleta e visualizando essas qualidades como fatores de orgulho, mesmo diante de desafios que podem resultar na perda de uma competição, por exemplo.
A força e a conquista não podem se basear apenas nos troféus conquistados, caso contrário, a falta de autoconfiança e o estresse poderão ser recorrentes.
3. Metas não alcançadas
As metas não alcançadas também podem elevar os níveis de estresse do atleta e de toda a sua equipe.
A angústia de não atingir determinado resultado esperado pode provocar impactos na saúde mental, por isso, é preciso saber ouvir o que se sente, por que se sente e como é possível lidar com esses sentimentos.
Além disso, passado o tempo de “luto” por não atingir uma meta, o atleta pode estudar os motivos pelos quais tal objetivo não foi atingido, e reconhecer, nessa perda, uma oportunidade de se desenvolver e se autoconhecer ainda mais.
4. Cobranças da família e dos treinadores
As cobranças da família e dos treinadores costumam ser fontes de estresse e decepção para o atleta, quando este não consegue atingir os resultados esperados por todos.
Por conta disso, alinhar as expectativas com todos os envolvidos, trazendo às metas para o real e não deixando-as em um nível altíssimo e inacessível, é primordial para evitar cobranças que ultrapassem os limites do sujeito.
5. Falta de prazer em treinar
A falta de prazer em treinar pode surgir quando a rotina passa a se tornar desgastante e maçante, sem perspectivas de futuro. Esse tipo de situação pode ocorrer, por exemplo, no caso de um jovem talento esportivo, que se vê diante da necessidade de abrir mão do seu contato com os amigos para, simplesmente, treinar.
Essa falta de prazer ocasiona angústia, tristeza e até mesmo irritabilidade, reduzindo o desempenho do atleta e, em alguns casos, levando-o à desistência.
6. Falta de reconhecimento
A falta de reconhecimento é um problema importante que deve ser considerado quando pensamos na redução do estresse no ambiente esportivo. Quando o treinador e demais envolvidos com a vida do atleta não reconhecem as suas vitórias, reduzindo os seus ganhos, o indivíduo pode viver situações de estresse, frustração e tristeza.
Além disso, pode construir, dentro de si, uma visão deturpada do esporte, enxergando no ato de ultrapassar recordes e sempre ganhar a única chance de ser reconhecido.
Por conta disso, é muito importante que a equipe saiba reconhecer as vitórias e superações do atleta, inclusive em momentos de “fracasso” e perda.
7. Dificuldades financeiras
Em muitos casos, o esportista pode se ver diante de impasses financeiros que podem atrapalhar as suas chances de se desenvolver e alavancar a sua carreira. Sabemos que nem sempre as oportunidades serão as melhores e, por isso, essa questão não poderia ficar de fora da nossa lista de itens que elevam o estresse no esporte.
Buscar patrocinadores, desenvolver networking, criar uma marca pessoal e tentar conciliar a vida financeira pessoal com o trabalho de esportista são caminhos difíceis e dolorosos, mas que merecem atenção.
8. Conflitos interpessoais
Os problemas de relacionamento no esporte podem surgir de diversas maneiras e por inúmeros motivos.
Falta de comprometimento do colega, competitividade dentro de um mesmo time, discordância nas escolhas feitas entre os pares, entre outros fatores, podem elevar os níveis de estresse por conta dos conflitos vividos nesse espaço.
Aqui, o diálogo, a comunicação e a empatia devem operar para que todos possam explanar as suas opiniões, terem algumas atendidas e respeitarem as visões alheias, sem anular ou diminuir ninguém.
Como promover a redução do estresse no ambiente esportivo?
Até aqui, tivemos a oportunidade de discutir fatores estressantes e potenciais caminhos para lidar com eles no que diz respeito à prática esportiva. Agora, vamos visualizar algumas considerações que tanto os atletas, quanto a comissão técnica e toda a equipe, podem levar em conta para buscar alternativas na hora de promover a redução do estresse no ambiente esportivo:
1. Desenvolvimento de metas claras e objetivas
O desenvolvimento de metas claras, objetivas, assertivas e, acima de tudo, possíveis, é um passo que pode contribuir para a redução do estresse no ambiente esportivo.
Quando o indivíduo sabe quais são os próximos passos que deve dar, respeitando os seus limites e colocando-se em uma posição mais protetiva para a sua saúde mental, a tendência é que o estresse se reduza.
Em contrapartida, quando as metas e as cobranças são excessivas e não levam em consideração a opinião do atleta, mas, sim, apenas do treinador, o indivíduo pode se sentir pressionado e sobrecarregado.
Por isso, toda a equipe pode se reunir para traçar metas e objetivos que sejam leais com a realidade. Embora possa haver desafios e superação de limites, é preciso cuidar para não extrapolar as possibilidades de cada indivíduo.
2. Compreensão do estresse e como ele impacta a rotina
Entender o que é o estresse, quando ele aparece, com qual intensidade e de qual maneira, é uma forma de compreendê-lo a ponto de poder manejá-lo.
Sem esse conhecimento, podemos nos deixar levar pelas sensações provocadas pelo estresse, perdendo o controle emocional.
Em contrapartida, se olharmos para o estresse, percebendo o que ele provoca, por que provoca e como provoca, podemos nos questionar até que ponto ele está ancorado com a realidade ou não. Além disso, temos maiores chances de extinguir os gatilhos emocionais que possam estar ocasionando as sensações de estresse.
Por isso, considere se questionar: por que estou estressado? Será que é algo relacionado ao real, ou às projeções que eu tenho feito das situações negativas? O que posso fazer para minimizar a situação negativa? O que está sob meu controle? E o que não está? Como posso deixar para “lá” aquilo que escapa do meu controle?
3. Aceitar as emoções
Assim como ouvir o estresse e entendê-lo é importante, o desenvolvimento da inteligência emocional também pode auxiliar na redução do estresse no ambiente esportivo.
Quando conseguimos compreender e nomear as nossas emoções, podemos encontrar, dentro de nós, mais atributos para lidar com elas e minimizar o que vem sendo sentindo. Também podemos, em alguns casos, simplesmente aceitar que a emoção está presente, permitindo que ela se manifeste até “gastá-la”.
Esse tipo de postura pode reduzir os níveis de sobrecarga emocional, muito comuns em casos nos quais não se tem o hábito de expressar, ouvir e falar sobre o que se sente.
Sendo assim, considere a possibilidade de dar uma atenção a mais para as suas emoções. O que você tem sentido? Em quais circunstâncias? Existe alguma forma de minimizar essa emoção? Se não, como é possível explorá-la e desabafá-la de forma saudável? Com quem você pode conversar sobre o que sente? O que essa emoção causa na sua vida? Como você pode minimizar os impactos negativos? Como potencializar as aprendizagens por trás do que vem sendo sentido?
Esses e outros questionamentos podem ajudar na hora de compreender o que se sente e o que pode ser feito com isso.
4. Investir em atividades relaxantes
As atividades relaxantes também podem ajudar na hora de promover a redução do estresse no ambiente esportivo. Lembre-se de que um atleta de alto nível, apesar de ter um grande engajamento com a vida esportiva, não deve abrir mão dos seus hobbies, dos momentos de descontração e do lazer.
Dentre esses momentos, as atividades relaxantes podem diminuir o estresse psicológico, aumentar a sensação de prazer e bem-estar, e desencadear momentos felizes e mais equilibrados emocionalmente.
Por isso, você pode experimentar diversas atividades diferentes, encontrando aquelas que possam contribuir para a sua saúde e bem-estar. Considere práticas como meditação, ASMR, leitura, respiração diafragmática, musicoterapia, entre outros.
5. Alinhar expectativas frente aos resultados
Com relação à cobrança que é vivida no ambiente esportivo, um ponto a ser tratado, com todos os envolvidos, é a expectativa criada com relação aos resultados que se almeja atingir.
O atleta, por meio do diálogo, pode discutir com os seus pares e demais envolvidos o que realmente pode ser atingido, ou seja, o que é possível, ao considerar os limites vivenciados neste momento.
Esse alinhamento de expectativa pode reduzir a cobrança externa, que muitas vezes enxerga no atleta a postura de um super-herói, embora ele não seja.
Ao trazer a realidade de que existem limites específicos, todos aqueles que projetam cobranças excessivas poderão expandir os seus horizontes e pensar de forma diferente sobre os resultados.
6. Psicoterapia
A Psicologia Esportiva pode contribuir para redução do estresse no ambiente esportivo e na vida pessoal do atleta. O terapeuta, que possui uma visão neutra e externa ao que o paciente traz para as sessões, poderá promover questionamentos que levem o analisando aos seus próprios insights.
As emoções também são escutadas, compreendidas e ressignificadas, projetando uma visão mais humana do que se sente e de como é possível lidar com isso.
Também é possível trabalhar a gestão da rotina, o posicionamento frente às cobranças externas, a comunicação com os pares, a interação com os adversários, entre outros fatores que podem se relacionar com a saúde mental do atleta.
7. Priorizar o descanso e as pausas
O descanso e as pausas devem ser uma prioridade para os atletas de alto nível. Caso contrário, o esgotamento físico e psicológico poderá ser uma realidade bastante desgastante para o indivíduo.
Sendo assim, construir uma rotina que não negligencie os momentos de descanso e que servem para recarregar as energias é algo que deve ser considerado.
Lembre-se de que somos seres humanos, com limites orgânicos. Portanto, tentar ultrapassar esses limites é levar a si mesmo a desgastes que, mais tarde, podem desencadear problemas irreversíveis.
Respeite o seu tempo, seus limites e as imposições do seu próprio corpo. Faça pausas e descanse adequadamente, cuidando de você para além do papel de atleta. Afinal, atrás dessa posição de atleta de alto rendimento, existe um ser humano com uma história de vida, sonhos, medos, objetivos, etc. Não o negligencie!
Esperamos que este conteúdo possa contribuir para a redução do estresse no ambiente esportivo. Lembre-se de sempre considerar o acompanhamento de um profissional da saúde e não descarte uma consulta profissional por conta deste material. Ele é meramente informativo.
Referências
MARTINS, M. V. A. Psicologia do esporte: influência dos aspectos psicológicos no rendimento de atletas de alto nível. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Rio Claro, 2018.
PIRES, D. A. et al. A síndrome de burnout no esporte brasileiro. Revista da Educação Física/UEM, v. 23, p. 131-139, 2012.