Pesquisar

Rebeldia na adolescência

Rebeldia na adolescência

Sem dúvidas, a rebeldia na adolescência gera conflitos e desentendimentos entre pais e filhos. Porém, nem sempre a rebeldia deve ser vista como algo estritamente ruim ou representativo de uma postura inadequada do adolescente. Mas sim, essa “rebeldia” pode representar a passagem para a vida adulta e a busca pela própria personalidade.

Por isso, ter um conhecimento mais claro desses aspectos é fundamental para oferecer um lar mais harmonioso aos jovens que, de uma hora para outra, se vêem obrigados a assumir responsabilidades que, até antes, eram camufladas pela “inocência da infância”.

A seguir, portanto, você poderá visualizar uma série de considerações importantes sobre essa temática. Continue lendo.

Considerações gerais sobre a adolescência

Antes de nos aprofundarmos no tema específico “rebeldia na adolescência”, devemos pensar um pouco mais sobre os aspectos psicológicos da adolescência.
Desse modo, poderemos ter um olhar mais compreensivo diante do desenvolvimento dos nossos pequenos. Vamos lá?

1. Adolescente em busca de uma identidade
O adolescente está vivendo uma fase na qual ele busca uma identidade própria. Isso significa que ele passa a pensar mais “com a própria cabeça”, questionando mais as ideias e atitudes dos pais.
Afinal, ele quer entender como o mundo funciona e quer criar uma personalidade e uma perspectiva sobre o universo. Logo, precisa questionar o que os pais decidem, buscando, dentro dessa atitude, encontrar o seu próprio ponto de vista.
Entretanto, muitos pais ainda têm dificuldades para compreender esse ponto, e entendem a busca da identidade como rebeldia na adolescência.

2. O igual é desinteressante
Em se tratando do cérebro do adolescente, as mudanças na estrutura cerebral e na captação de serotonina podem ocasionar efeitos intensos nos comportamentos dos jovens.
Antes, na infância, determinadas situações simples eram vistas como super divertidas e interessantes, devido à carga de prazer gerada no cérebro.
Agora, os índices de serotonina despencaram, fazendo com que as atividades antigas se tornem desinteressantes. Esse desinteresse faz com que o jovem se afaste da “mesmice” da família e passe a experimentar muita coisa diferente.
Por conta disso, o adolescente pode negar compromissos e programas com os pais, sem que isso seja apenas rebeldia na adolescência.

3. Um novo grupo social para chamar de “meu”
Os adolescentes podem ter dificuldades para se enxergar e se identificar com os familiares que têm diferentes idades.
Por isso, partem em busca de um grupo social que os compreenda e que viva as mesmas questões e inseguranças que eles.
Sendo assim, é muito comum os adolescentes andarem em verdadeiros “bandos”, preferindo os amigos do que os momentos em família.
Isso não quer dizer que o adolescente não ame a sua família. Quer dizer que ele está em busca de atividades e grupos que o ajudem a se tornar um adulto e que viabilizem alguma identificação, já que a passagem da inocência da infância para as responsabilidades da vida adulta podem deixá-lo muito confuso dentro da família.

4. Busca da independência
A busca pela independência começa a acontecer. O adolescente pode se “revoltar” contra as regras impostas pela família, demonstrando comportamentos de rebeldia na adolescência.
Porém, o foco não está em maltratar ou afrontar os pais, mas sim em buscar a sua autonomia e independência.
Por isso, quando o adolescente busca “fugir de casa” para ir a uma festa, ele não está querendo confrontar, necessariamente, o pai ou a mãe, mas sim, ele pode estar tentando ser independente e “dono do próprio nariz”.
Obviamente, isso não quer dizer que os pais devem permitir tudo. Mas, pode significar que os pais podem começar a oferecer algumas autonomias e responsabilidades ao adolescente em desenvolvimento.

5. “Confusão” vivida entre a transição da infância para a vida adulta
Como mencionado anteriormente, o adolescente está meio “perdido” em sua troca de papéis significativa.
Em alguns momentos, a família cobra maturidade e uma visão mais adulta. Em outros, impede que o adolescente possa sair de casa, tratando-o, na visão dele, como uma criança.
Essa confusão de papéis pode causar impactos no emocional do adolescente, o que gera comportamentos que, muitas vezes, podem ser caracterizados como rebeldia.
Mas, nem sempre esses comportamentos são reflexos de uma personalidade rebelde. Às vezes, o adolescente nem percebe os comportamentos que têm, e vai tentando, dia após dia, ajustar-se à realidade do mundo – tentando ser adulto e tentando abandonar a postura da infância.
Porém, a própria família pode contribuir para a confusão do adolescente, tratando-o como criança, como vimos acima. Aqui, o adolescente pode sim questionar os pais e se “revoltar” diante disso. É algo comum e que faz parte das descobertas de muitos adolescentes.

Como lidar com a rebeldia na adolescência?

Apesar de ser algo “esperado” na adolescência, muitos pais podem acabar sendo muito duros com os filhos, impondo regras, punindo, etc.
Portanto, precisamos pensar em estratégias que partam da comunicação não-violenta na hora de lidar com a rebeldia na adolescência.
Abaixo trouxemos algumas recomendações que podem ser úteis nesse sentido. Continue lendo e confira!

1. Compreenda os aspectos gerais da adolescência
No tópico acima, nós descrevemos alguns dos aspectos gerais da adolescência. Porém, os pais podem buscar mais conhecimentos nesse sentido, para compreender o que é esperado nesta faixa etária e, assim, aprender a lidar melhor com esses comportamentos dos filhos.
Afinal, às vezes acreditamos que determinado comportamento é algo relacionado à rebeldia na adolescência quando, na verdade, é algo natural e que está ajudando o adolescente a se organizar no mundo.
Inclusive, conversar com um psicólogo pode ser bem interessante. Assim, os pais poderão tirar dúvidas e aprender ainda mais sobre essa fase tão importante da vida de qualquer pessoa.

2. Escute o seu filho e dê voz a ele
Comece a dar mais voz ao seu filho. Antes de simplesmente negar alguma coisa ou tentar tirar a credibilidade dele, tente ser empático e ouça o que ele tem a dizer.
Quando buscamos entender o adolescente, mesmo que nossa ideia seja contrária a dele, ele percebe que tem espaço dentro de casa. E esse espaço pode fortalecer a autoestima, a autoimagem e a identidade que o adolescente vem construindo.
No caso de escutar as emoções, o adolescente pode começar a entender melhor o que sente e, a partir disso, desenvolver uma inteligência emocional mais sadia.

3. Fortaleça a autoestima do seu filho
Fortalecer a autoestima do seu filho também pode contribuir na hora de lidar com a rebeldia na adolescência. Isso porque alguns comportamentos tidos como “rebeldes” podem ser apenas o reflexo de um adolescente tentando ser visto dentro de casa.
Portanto, fortaleça a autoestima elogiando o seu filho, apontando os pontos positivos que você enxerga nele, e assim por diante.
Diga o quanto ele é importante para você e esteja presente na trajetória de descobertas dele.
Jamais diminua os medos, sonhos ou angústias que ele possa sentir. Afinal, quando diminuímos alguma emoção de outra pessoa, ela pode se sentir indigna de ter tal sensação, diminuindo a autoestima. Pense nisso.

4. Entenda que ele está em busca de uma autonomia
Nós sabemos que não é fácil compreender o fato de que o seu filho está em busca de uma autonomia. Porém, é importante considerar esse fator como um dos mais intensos da adolescência.
Nós devemos sair da posição narcisista de acreditar que tudo o que o filho faz é para nos atingir, e devemos criar a consciência de que determinados comportamentos dizem respeito às descobertas dele mesmo.
Esse tipo de mudança de perspectiva pode ajudar na hora de compreender melhor determinadas atitudes dos jovens.
Portanto, considere conversar com o seu filho sobre isso. Deixe claro que você entende que ele está descobrindo novas coisas e assumindo novas responsabilidades. Aumente a segurança dele diante dessas mudanças e mostre-se disponível para ajudá-lo como for preciso.

5. Ofereça responsabilidades ao seu filho
Um adolescente, que ainda está muito perdido com relação ao seu papel na sociedade, pode ter comportamentos rebeldes e mal vistos.
Nesses casos, uma alternativa interessante é começar a oferecer responsabilidades ao seu filho. Dessa forma, ele começará a elaborar a ideia de que está desenvolvendo a sua personalidade adulta, e que agora é “importante” a ponto de assumir algumas responsabilidades sozinho.
As responsabilidades podem ser as mais diversas, como manter algum cômodo da casa arrumado, cuidar dos irmãos mais novos, preparar uma refeição, entre outros.
Tudo isso pode ajudá-lo a se inserir no mundo e compreender os novos papéis que vão entrando em sua vida, pouco a pouco.

6. Respeite o que o seu filho sente
Pode ser que o seu filho fique irritado com mais frequência, especialmente quando você nega algo que ele solicitou.
No entanto, respeite o que ele sente. Não fique dizendo coisas como “pare de ficar emburrado” ou “isso não é motivo para se chatear”, pois, para ele, é motivo sim.
Diga que compreende a frustração do seu filho, mas que determinada situação precisa ser conduzida da forma que você falou pois, neste momento específico, pode ser o melhor caminho. Também deixe claro que mais adiante ele poderá ter mais liberdade, à medida que for demonstrando comportamentos responsáveis e mais organizados.
Isso poderá ajudá-lo a entender como pode se portar para ir se construindo dentro da sociedade e dentro da família. Ao mesmo tempo, ajuda-o a compreender que possui voz e que seus sentimentos são válidos e acolhidos, o que pode aumentar a confiança nos pais.

7. Auxilie o adolescente nas suas descobertas
Seja um verdadeiro co-piloto da história do seu filho. Caminhe ao lado dele, dê apoio quando ele tiver dúvidas, acrescente informações sobre as situações novas que ele quer vivenciar.
Em contrapartida, cuidado para não ser muito protetor ou “dar todas as respostas” quando, na verdade, o ideal é que o adolescente descubra algumas coisas sozinho.
Os pais podem alertar o adolescente dos perigos, dar exemplos do que viveram e, ainda assim, apoiar algumas decisões e dizer que estarão por perto caso necessário.
Isso pode encorajar o adolescente e ajudá-lo a se inserir no mundo de uma forma gradual e saudável.

Entenda que a adolescência é um trajeto sadio e necessário

Nós, adultos, devemos compreender que a adolescência é como se fosse uma viagem a um local totalmente desconhecido.

Imagine que você precisa viajar para um país com uma cultura diferente da sua. Você terá dificuldades para se portar adequadamente, bem como poderá ficar perdido com relação ao que é seu dever e seu direito.

A angústia e o medo podem aparecer, e você poderá buscar um grupo de pessoas pelo qual se identifique, afastando-se daquele que possui ideias totalmente contrárias às suas.

No começo, tudo será assustador. Mas à medida que você vai conhecendo o novo país, o trajeto começa a ficar mais ameno.

Aos poucos, você se sente mais à vontade, aprende a agir com as outras pessoas e consigo mesmo, e começa a enxergar a sua identidade dentro desse novo grupo social.

Toda essa história, quando trazida para a realidade da adolescência, pode nos ajudar a compreender os comportamentos desajustados ou “exagerados” dos adolescentes.

Lembre-se de que a trajetória da adolescência é necessária, e que o mundo é o novo e estranho país no qual o adolescente está e precisa se descobrir.

Pensar sobre essas perspectivas é um caminho interessante para aprender a lidar com um filho adolescente.

Em casos extremos de rebeldia na adolescência, procure ajuda

Obviamente, se a rebeldia na adolescência for muito intensa, a ponto de prejudicar o bem-estar da família e até mesmo colocar o adolescente em risco, busque auxílio de um profissional da saúde mental.
Assim, você poderá receber intervenções e orientações mais alinhadas às necessidades presentes na situação.
Boa sorte!

Referências
Cérebro adolescente: O grande potencial, a coragem e a criatividade da mente dos
12 aos 24 anos, nVersos, 2016, 320 páginas.

O cérebro adolescente: A neurociência da transformação da criança em adulto,
181 páginas.