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Reabilitação pós Acidente Vascular Cerebral

Qual a importância da reabilitação após um Acidente Vascular Cerebral?

A reabilitação após um Acidente Vascular Cerebral não é capaz de reverter o dano cerebral já estabelecido. No entanto, ela pode minimizar sequelas, evitar complicações e melhora a qualidade de vida do paciente.

75% de todas as pessoas que sofrem um AVC sobrevivem ao episódio (1). Entretanto, 20% dos sobreviventes precisarão ser institucionalizados e 50% se tornam dependentes de outras pessoas no dia a dia (1).

O processo de reabilitação envolve um conjunto de cuidados multidisciplinares que ajudam a potencializar a recuperação, com foco no reaprendizado e no desenvolvimento de novas maneiras de fazer as tarefas que foram afetadas pela lesão cerebral. Além disso, ela estimula a capacidade de reorganização e remodelação cerebral, que é conhecida como neuroplasticidade.

A melhora pode continuar por anos após um AVC, mas para a maior parte das pessoas é mais rápida nos primeiros seis meses. É por isso que é importante que os profissionais de reabilitação comecem a trabalhar com a pessoa vítima de AVC o mais rápido possível, preferencialmente, ainda durante a internação hospitalar.

Recuperação neurológica

A recuperação do paciente após um Acidente Vascular Cerebral acontece por diferentes mecanismos.

Um deles é a neuroplasticidade, ou seja, a habilidade do sistema nervoso para se reorganizar e se remodelar após uma lesão. Para isso, os neurônios que foram preservados formam novas conexões e áreas do cérebro que não foram afetadas podem assumir parte das funções perdidas.

Outro mecanismo é a Diásquise Cerebral. Após o AVC, parte das células ao redor da área infartada deixa de funcionar, ainda que não esteja definitivamente comprometida. À medida em que estas células se recuperam, é esperado que haja uma melhora da função neurológica.

Treino de Marcha

Os principais fatores que influenciam na capacidade de caminhar após o AVC incluem força, equilíbrio, coordenação, orientação espacial e função cognitiva, sendo que cada um destes fatores podem ser mais ou menos comprometidos pelo dano cerebral.

Após o AVC, a marcha tende a ser lenta e assimétrica, especialmente em decorrência de um tempo anormal de contração e relaxamento da musculatura.

Isso pode ser minimizado através do retreinamento da marcha.

Uma das técnicas para isso envolve a utilização de uma esteira ergométrica, com o peso do corpo sendo sustentado por um sistema de cabos e contrapesos que pode tirar até 40% do peso do paciente. Com a melhora clínica, este auxilio pode ser gradativamente reduzido.

Nos pacientes com maior comprometimento, pode ser optado também pela utilização de uma órtese de perna motorizada para produzir o padrão de caminhada.

Reabilitação dos membros superiores

Na maior parte das vezes, o comprometimento motor do membro superior é mais grave do que o do membro inferior.

Contraditoriamente, no entanto, a reabilitação dos braços é muitas vezes relevada a um segundo plano.

Isso se deve ao fato de que a maior parte das atividades básicas de autocuidado podem ser razoavelmente bem realizadas com o. membro superior não afetado. De outra forma, muitas das atividades feitas com os membros inferiores dependem de ter ambos os membros funcionantes.

À medida em que se foi percebendo que a falta de estímulo para a utilização do membro afetado para uma atividade funcional prejudica a as alterações da neuroplasticidade que levam à recuperação motora, a atenção para a reabilitação dos membros superiores tem ganhado cada vez mais espaço na reabilitação do paciente.

Espasticidade

Também chamada de “aperto” e “rigidez” dos músculos, a espasticidade muscular envolve paralisia, hipertonia (tensão permanente dos músculos em repouso) e incapacidade de controlar os músculos.

Como regra geral, a espasticidade pode ser tratada com exercícios terapêuticos ou por tratamento focal com toxina botulínica ou injeções de fenol.

Exercícios diários de alongamento são necessários para reduzir o tônus muscular, tanto em movimento como em repouso, além de evitar a contratura dos tecidos moles.

O uso de órteses também pode ajudar a evitar as contraturas articulares, mas deve ser considerada com bastante cautela nos casos mais graves de espasticidade.

Dor pós Acidente Vascular Cerebral

A dor neuropática acomete aproximadamente 8% dos pacientes pós AVC em intensidade moderada e 5% dos pacientes de maneira intensa e pode acometer diferentes áreas do corpo.

Ela pode ser tratada por medicamentos específicos, além de outras terapêuticas indicadas para dor crônica.

Incontinência ou retenção urinária

A incontinência intestinal e a incontinência urinária ocorre em um terço a dois terços dos pacientes após o AVC. Além disso, cerca de 30% dos pacientes sofrem com a retenção urinária.

As estratégias de micção planejada ou evacuação planejada costumam ser as primeiras abordagens nestes pacientes. Elas envolvem a ida ao banheiro em horários pré-estabelecidos, mesmo que o paciente não sinta a necessidade para isso.

Outras estratégias medicamentosas e não medicamentosas podem ser consideradas caso a caso, quando isso for insuficiente.

Saúde mental

A percepção das sequelas e das limitações decorrentes do AVC podem dar origem a uma variedade de reações psicológicas em pacientes que sofreram um derrame, incluindo tristeza, ansiedade, depressão, desespero, raiva ou frustração.

A depressão é observada em um a dois terços dos pacientes que sobrevivem a um AVC.

Questões relacionadas à autoestima, afeição e relacionamentos também devem ser enfatizadas.

Entre 40% a 70% dos sobreviventes de AVC apresentam alguma forma de disfunção sexual, sendo que a causa está muito mais relacionada a problemas como medo, ansiedade, depressão e desconforto do que a uma sequela orgânica direta do AVC.

Tratamentos relacionados à saúde mental podem envolver psicoterapia ou medicamentos, sendo que a melhora psíquica do paciente tem uma enorme contribuição para uma melhor adesão ao programa de reabilitação.

Tecnologia assistiva

Diferentes tipos de dispositivos estão disponíveis para auxiliar o paciente com AVC a atingir um maior nível de independência e funcionalidade, a depender das limitações apresentadas.

Estes dispositivos podem estar relacionados a atividades como alimentação, banho, caminhada ou locomoção (incluindo cadeiras de rodas) ou comunicação.