Problemas de Linguagem na Criança
Desenvolvimento da linguagem
O ser humano se comunica através de símbolos verbais/orais adquiridos durante a primeira infância. Seu meio ambiente determina a língua que a criança terá acesso e desenvolverá habilidades de comunicação oral e escrita para uso durante a vida, apesar de que pode adquirir, ao longo desta, outras línguas.
Desde bebê, o cérebro tem todo o aparato para o aprendizado da linguagem. Aspectos emocionais também interferem nessa aquisição. Algumas crianças poderão receber estímulos em maior qualidade e quantidade e outras poderão atrasar, por não possuírem aporte emocional e estímulos favoráveis.
Quando falamos de habilidades de comunicação em bebês e crianças precisamos lembrar, portanto, que estas estão em fase de desenvolvimento, ou seja, aprendendo- as. Por um lado, sua plasticidade cerebral (a capacidade do cérebro para se reabilitar) é maior nesta fase, facilitando os aprendizados.
Por outro lado, desvios na linguagem neste período costumam trazer sequelas na vida escolar e até na idade adulta, se não forem tratados e precisam de uma detecção, de preferência no primeiro ano de vida para que a criança não se prejudique em seu desenvolvimento posterior e até na vida adulta.
Como o cérebro, o emocional e o ambiente influenciam no desenvolvimento da linguagem?
Nos primeiros anos de vida, o cérebro possui uma alta capacidade de apreensão de conhecimentos, o que é chamado em neurologia de plasticidade cerebral. Assim, todos os estímulos recebidos nessa fase serão cruciais para o desenvolvimento geral da pessoa: motor, linguístico, emocional e cognitivo.
Por este motivo, a quantidade e a qualidade das informações que a criança recebe serão importantes, pois sabemos que as áreas cerebrais de Broca e Wernicke, consideradas as áreas anatômicas da fala e linguagem, nascem prontas para estas aquisições.
Sem o estímulo do meio ambiente, que seriam as variáveis comportamentais, a linguagem pode até não acontecer, como demonstram algumas experiências com pessoas que foram privadas deste estímulo e não aprenderam a falar.
Da mesma forma, sem estímulos emocionais equilibrados, poderá haver desvios de linguagem e aprendizagem em fases posteriores.
Desenvolvimento normal da linguagem
Os primeiros sons que os bebês produzem são gritos e ruídos chamados de pré -fala, entre os seis e os 10 meses de idade. Estes sons são sucedidos por balbucios duplicados (repetições de sílabas).
Quando aparecem as primeiras palavras, o que acontece até os 10 a 12 meses de vida. São utilizados os mesmos sons, e as palavras contêm o mesmo número de sons e de sílabas, que as sequências precedentes do balbucio, mas elas têm um significado.
O importante papel do feedback auditivo é um alerta para a detecção precoce das perdas auditivas, pois elas apresentam atraso na produção do balbucio canônico.
Por volta dos 18 meses de idade, as crianças parecem ter construído um sistema mental para representar os sons de seu idioma e para produzi-los dentro das limitações de suas capacidades de articulação.
A esta altura, a produção de sons da fala pelas crianças torna-se consistente nas diferentes palavras– em contraste com o período anterior, em que a forma de som para cada palavra era uma entidade mental separada.
O desenvolvimento da linguagem é rápido durante os primeiros anos de vida. Os bebês entendem as primeiras palavras já aos cinco meses de idade, produzem-nas entre 10 e 15 meses, atingem o marco de 50 palavras de vocabulário com significado e efetividade aos 18 meses, e o de 100 palavras entre 20 e 21 meses.
Por volta dos 24 meses de idade, a criança começa a reunir duas, três ou mais palavras em frases curtas. As primeiras frases são combinações de palavras de conteúdo, e frequentemente não incluem palavras com função gramatical, por exemplo, artigos e preposições – nem terminações de palavras, por exemplo, marcadores de plural e de tempo.
Gradualmente, à medida que domina a gramática de seu idioma, a criança se torna capaz de produzir enunciados cada vez mais extensos e gramaticais. De maneira geral, o desenvolvimento de períodos complexos, isto é, com várias orações, começa um pouco antes do segundo aniversário, e está praticamente completo aos quatro anos de idade.
O curso do desenvolvimento da linguagem é muito semelhante entre crianças, e mesmo entre os idiomas, o que sugere a existência de uma base biológica universal desta capacidade humana. No entanto, a taxa de desenvolvimento é muito variável, e depende tanto da quantidade e natureza das experiências linguísticas da criança quanto de suas capacidades de fazer uso dessas experiências.
Distúrbios da comunicação na criança
Os distúrbios da fala e da linguagem são doenças não tão incomuns na infância, sendo passíveis de prevenção e tratamento quando diagnosticados precocemente.
Na maioria das vezes esses distúrbios são percebidos pelos pais, que referem que a criança tem dificuldade para falar ou que não fala, ou que ela dificilmente é compreendida, ou que é incapaz de dizer alguns sons corretamente ou que gagueja.
Os pediatras, como profissionais responsáveis pela saúde da criança, são os primeiros a avaliar o desenvolvimento infantil e, muitas vezes, são questionados sobre os aspectos comunicativos da criança.
Esta é a importância deste profissional conhecer o desenvolvimento normal, físico, cognitivo, neurológico e da linguagem da criança para poder encaminhar a um fonoaudiólogo para confirmação e diagnóstico de linguagem.
A etiologia (causa) dos distúrbios da comunicação pode envolver fatores orgânicos, intelectuais/cognitivos e emocionais (estrutura familiar relacional), ocorrendo, na maioria das vezes, inter-relação entre todos esses fatores. Essas alterações podem variar em gravidade, podendo ter origem desenvolvimental ou adquirida.
Os distúrbios de desenvolvimento da fala e da linguagem (oral e escrita) possuem causa primárias associados como uma deficiência mental (cognitiva), neurológicas como uma paralisia cerebral, uma afasia, perdas auditivas, etc., mas podem não ter causa aparente, sendo chamados de etiologia idiopática.
O meio ambiente e fatores emocionais acabam influenciando de forma positiva ou negativa.
Tipos de problemas de linguagem
Alguns distúrbios mais comuns relacionados à linguagem incluem:
- Gagueira,
- Troca de letras,
- Problemas de articulação;
- Dislexia
- Atraso na linguagem.
Estes problemas podem estar relacionados à fala, articulação, às habilidades de sucção, mastigação e deglutição, principalmente, mas também a audição e até a escrita.
As dificuldades na aquisição da linguagem na infância podem acontecer por diversos motivo, incluindo:
- Problemas de audição
- Problemas neurológicos;
- Problemas de visão
- Fatores emocionais e psicológicos.
Alterações de fala
Ocorre um atraso na aquisição dos sons/fonemas da língua ou aquisição desviante. – Produção atípica dos sons da fala, omissões, substituições ou adições.
Gagueira de desenvolvimento ou disfemia
A gagueira surge entre 2 e 3 anos. – Caracterizado por rupturas (disfluências) na fala, como repetições de sons e sílabas, bloqueios e prolongamentos. – Movimentos associados.
Alteração no desenvolvimento da linguagem oral sem causa aparente
Podem-se observar atraso ou distúrbio no desenvolvimento da linguagem. – A alteração pode ser na expressão e/ou recepção da linguagem.
Caracteriza-se por vocabulário pobre, dificuldade na combinação de palavras para formar frases, uso inadequado da linguagem, sintaxe pouco estruturada, dificuldade de compreensão, alterações gramaticais, fala ininteligível, dificuldade com conceitos abstratos e figurativos.
Distúrbios da fala
As crianças entre 5 e 7 anos que não conseguem pronunciar corretamente todas as consoantes e suas combinações, podem apresentar um problema de articulação. Podemos citar: dislalia, que é a omissão, distorção, substituição ou acréscimo de sons na palavra falada e a disartria.
A Disartria é um problema articulatório que se manifesta na forma de dificuldade para realizar alguns ou muitos dos movimentos necessários à emissão verbal, por lesões do sistema nervoso central, como nas paralisias cerebrais.
Se a criança possui uma ressonância nasal maior ou menor que a do padrão, é possível que tenha problemas nas vias orais como vegetação adenóide, lábio leporino ou fissura palatina, causas de problemas da fala.
Afasia (distúrbios da linguagem de origem neurológica central)
A afasia caracteriza por falhas na compreensão e na expressão verbal, relacionadas à insuficiência de vocabulário, má retenção verbal, gramática deficiente e anormal, escolha equivocada de palavras, que ocorre por uma lesão cerebral congênita (de nascimento) ou adquirida.
Ela pode ser observada em criança que: ouve a palavra, mas não a interioriza com significado; demora para compreender o que é dito; apresenta gestos deficientes e inadequados; confunde a palavra ou frase com outras similares; têm dificuldade de evocação, exteriorizada por ausências de respostas ou tentativas incompletas para achar a expressão ou emissões que a substituem.
Dislexia
A criança disléxica apresenta dificuldades com a identificação dos símbolos gráficos no início da sua alfabetização, acarretando fracasso em outras áreas que dependem da leitura e da escrita. As principais dificuldades são:
- Dificuldade em planejar e fazer redação.
- Demora a aprender a falar, fazer laço, a reconhecer as horas, a pegar e chutar bola, a pular corda;
- Atrapalhar-se ao pronunciar palavras longas;
- Escrever números e letras correspondentes, ordenar as letras do alfabeto, meses do ano e sílabas de palavras compridas, distinguir esquerda e direita.
Disgrafia
As principais trocas da criança disgráfica são:
- Traçado na escrita de tamanho pequeno ou grande, pressão leve ou forte, letras irregulares ou retocadas;
- Ligações defeituosas de letras na palavra;
- Apresentação desordenada do texto;
- Margens mal-feitas ou inexistentes;
- Movimentos contrários ao da escrita convencional;
- Irregularidades no espaçamento das letras na palavra;
- Distorção da forma das letras o e a;
- Direção da escrita oscilando para cima ou para baixo;
- Dificuldade na escrita e no alinhamento dos números na página.
Avaliação dos problemas de linguagem
O papel do profissional que trabalha com distúrbios da linguagem na criança é proporcionar o desenvolvimento das habilidades e, por conseguinte, sua inclusão social.
Ele deve fazer o estudo, a avaliação, o diagnóstico do distúrbio e prosseguir com o tratamento dos transtornos relacionados à comunicação oral e escrita, trabalhando a criança e orientando os pais para otimizarem os estímulos em casa.
Bebês na UTI e recém-nascidos devem ser avaliados desde o nascimento para realização dos testes da orelhinha para prevenir as sequelas na comunicação oral da surdez congênita e da linguinha, para evitar as consequências do freio de língua curto (que podem causar atrasos na fala).
Qualquer hipótese de desvio na comunicação deve ser considerada e avaliada por um profissional especializado, já que podem trazer consequências diretas para a criança.
Na maior parte das vezes, o médico pediatra é o primeiro a identificar ou a avaliar um problema de linguagem, sendo fundamental que tenha o conhecimento para evitar atrasos nessa identificação.
A foniatria é uma especialização da otorrinolaringologia voltada para o estudo dos problemas de linguagem.
Já a fonoaudiologia especializada em linguagem trabalha na reabilitação e tratamento destas crianças.