Maconha (Cannabis)
O que é maconha?
Maconha é o nome popular da planta do gênero Cannabis, que apresenta três espécies: sativa, indica e ruderalis. Além delas, existe um grande número de variedades obtidas pela manipulação e cruzamento de diferentes espécies e variedades.
Os efeitos psicoativos responsáveis pelos efeitos recreativos da droga estão relacionados principalmente ao Delta-9-tetrahidrocanabinol (THC).
Um grande número de variedades têm sido obtidas pela manipulação e cruzamento de diferentes espécies, obtendo-se folhas com maior quantidade de THC.
Particularmente nos últimos 15 anos, essas variantes da planta foram mais amplamente disponíveis no “mercado” de rua, sendo geralmente chamadas de “skunk” ou “sinsemilla”.
Em um estudo realizado por Potter e colegas, quando se comparou a potência da cannabis apreendida pela polícia na Inglaterra entre os anos de 1996/8 e 2004/5, o teor médio de d-9-THC foi de 13,9% em anos mais recentes, 4.86% maior do que o observado entre 1996/8 (1, 2).
Além do uso social, que é ilegal no Brasil, a maconha tem sido utilizada há milhares de anos com fins medicinais para tratar diversas condições de saúde.
O composto mais utilizado para fins medicinais é o canabidiol (CBD), mas outros compostos da maconha também têm sido considerados para isso.
Neste artigo, focaremos no uso recreativo. Discutiremos a respeito do uso medicinal da maconha em um artigo específico.
Como a maconha pode ser consumida?
A maconha pode ser consumida de diferentes maneiras:
- Cigarro enrrolado a mão, também chamado de baseado (forma mais comum);
- Cachimbos;
- O material vegetal de cannabis também pode ser concentrado em uma resina chamada haxixe.
- Outra maneira de ingerir a droga é misturar as folhas, flores, caules ou sementes da planta em alimentos ou preparados na forma de um chá.
Quais os efeitos imediatos da maconha?
Quando a maconha é fumada, o THC passa rapidamente dos pulmões para a corrente sanguínea, que transporta a substância para o cérebro e outros órgãos do corpo.
A seguir, o THC atua nos receptores canabinóides das células cerebrais.
Esses receptores são normalmente ativados por substâncias químicas semelhantes ao THC e que são naturalmente produzidas pelo corpo.
Eles influenciam o prazer, a memória, o pensamento, a concentração, a percepção sensorial e temporal e a coordenação dos movimentos.
Outros efeitos da maconha incluem:
- Percepções e humor alterados;
- Coordenação prejudicada;
- Dificuldade em pensar e resolver problemas;
- Problemas com a memória;
- Aumento ou diminuição do apetite;
- Batimento cardíaco acelerado;
- Boca seca;
- Olhos avermelhados.
Risco de acidentes
O efeito do uso crônico da maconha no risco de acidentes é controverso, com resultados discordantes em diferentes estudos.
O uso recente, por outro lado, prejudica no curto prazo a capacidade de julgamento e coordenação motora. Desta forma, ela contribui para um maior risco de lesão ou morte ao dirigir um carro.
Isso é válido especialmente quando a maconha tiver sido fumada até quatro horas antes de dirigir (1).
Quais os riscos de longo para a saúde?
O uso de maconha está associado a uma série de problemas de saúde, particularmente relacionados a problemas cardíacos e pulmonares e condições de saúde mental.
Problemas pulmonares
A fumaça da maconha é irritante para os pulmões. Assim, fumantes inveterados podem experimentar muitos dos problemas respiratórios associados ao tabagismo (1).
Isso inclui:
- Tosse produtiva (com catarro);
- Infecções respiratórias (Bronquite, pneumonia);
A maconha contém uma quantidade maior de compostos químicos carcinogênicos quando comparado com o tabaco. Entretanto, não existem ainda evidências claras de aumento no risco de câncer de pulmão (1).
Problemas cardíacos
O risco de efeitos cardiológicos em decorrência do uso de maconha é controverso.
Alguns estudos propuseram um maior risco de eventos cardíacos agudos, como Arritmia cardíaca ou Infarto do Miocárdio, especialmente em pessoas mais velhas e com outros fatores de risco cardiovasculares (1).
Entretanto, um estudo de revisão mostrou que não existem evidencias suficientes para este tipo de conclusão (1).
Saúde mental
Vários estudos relacionam o uso crônico de maconha e doenças mentais.
Estes efeitos podem ser de curto prazo, com o uso ocasional, ou de longo prazo, especialmente com o uso abusivo e prolongado.
Entre os efeitos da maconha relacionados à saúde mental, incluem-se:
- Depressão
- Ansiedade
- Distúrbios de personalidade
- Pensamentos suicidas (entre adolescentes)
- Falta de motivação para se envolver em atividades tipicamente gratificantes
Por outro lado, pode ser questionável se estes problemas são totalmente decorrentes do uso da maconha propriamente dito e quanto que existe de contribuição de outros fatores comportamentais e familiares comuns a pessoas que fumam maconha (1).
Pesquisas mostram que o uso recente de cannabis aumenta em três a sete vezes o risco de acidentes, em comparação com motoristas que não usaram drogas ou álcool (1). Este risco é maior quanto maior a concentração de THC no sangue (1).
A frequente combinação de maconha e álcool potencializa o risco na direção, mais do que qualquer uma das substâncias usadas isoladamente.
Uso de maconha na gestação e amamentação
Um número crescente de mulheres grávidas tem recorrido à maconha para o tratamento de náuseas e vômitos típicos da gestação.
Em 2018, porém, a Academia Americana de Pediatria divulgou uma diretriz aconselhando mulheres grávidas ou amamentando a evitar o uso de maconha (1). Segundo esta diretriz, não existe uma dose segura para a mulher grávida.
Os diversos compostos químicos da maconha, incluindo o THC, podem atravessar a barreira placentária, podendo comprometer o desenvolvimento do sistema endocanabinóide no cérebro do feto.
A maconha pode levar a problemas com o desenvolvimento cerebral de longo prazo, afetando a memória, o aprendizado e o comportamento da criança.
Outras possíveis consequências incluem:
- Restrição do crescimento fetal;
- Maior risco de natimorto;
- Parto prematuro;
- Baixo peso de nascimento.
A maconha também deve ser evitada durante a amamentação, já que seus compostos químicos podem ser passados para o bebê através do leite materno. Isso aumento o risco especialmente para problemas com o desenvolvimento cerebral.
Dependência química da maconha
Ao contrário da crença comum, a maconha tem potencial para desenvolver dependência química.
Aproximadamente 9% das pessoas que fazem uso da maconha vêm a desenvolver dependência (1). Esta incidência é maior entre aqueles que começam a usar em uma idade jovem (17% desenvolvem dependência) e entre as pessoas que usam a droga diariamente (25 a 50% se tornam viciados) (1).
O vício em maconha é mais comumente diagnosticado durante a adolescência ou a idade adulta jovem.
Sintomas de abstinência de maconha
O abuso de drogas a longo prazo está associado a vários sintomas de abstinência de maconha, que normalmente se desenvolvem dentro de uma semana após a interrupção do uso.
Alguns dos sintomas mais comuns de abstinência de cannabis incluem:
- Irritabilidade, raiva ou agressividade;
- Nervosismo ou ansiedade;
- Dificuldade para dormir;
- Diminuição do apetite ou perda de peso;
- Inquietação;
- Humor deprimido;
- Dor abdominal, tremores, sudorese, febre, calafrios ou dor de cabeça
Tratamento
As opções de tratamento ou para dependência de maconha é semelhante a programas e protocolos de tratamento para outras formas de dependência, como o álcool ou o tabaco.
Assim como com outras drogas, o tratamento não cura a dependência, apenas controla ela. Uma pessoa com histórico de dependência química tem alto risco para retomar o vício, caso volte a experimentar a droga.
Pessoas com sinais de dependência devem preferencialmente procurar ajuda médica, já que tentativas de parar por conta própria tendem a não funcionar no longo prazo, com altas taxas de recaídas.
Em média, os adultos que procuram tratamento para transtornos por uso de maconha usaram a droga quase todos os dias há mais de 10 anos e tentaram parar o vício mais de seis vezes (1). Quanto mais precoce for o tratamento, mais fácil e efetivo será a recuperação.
O primeiro passo do tratamento envolve a desintoxicação do corpo, o que pode causar sintomas desconfortáveis de abstinência.
Passada a fase de abstinência, o paciente entra em uma fase de reabilitação.
Para evitar as recaídas, é importante que o afastamento da droga seja acompanhada do afastamento de comportamentos que favorecem o vício.
Isso inclui, entre outras coisas, o afastamento de ambientes onde habitualmente ocorre o consumo da droga. O vazio deixado pela falta da maconha deve ser substituído por hábitos mais saudáveis, como a prática de atividade física.
Outras atividades (inclusive profissionais) que geral alta demanda de estresse e ansiedade tamém devem ser evitadas.
A psicoterapia pode ser uma importante aliada neste processo.