Instabilidade Multidirecional do Ombro

A Instabilidade Multidirecional do Ombro é uma condição relacionada a uma frouxidão generalizada das estruturas capsuloligamentares.

Esta frouxidão habitualmente tem origem genética. Ela é comum tanto a atletas como não atletas, mas pode ser potencializada por esportes que estendem o braço acima da altura da cabeça. Entre estas modalidades, devemos considerar a ginástica, natação, tênis e outras modalidades de arremesso. Nestes atletas, há um alongamento repetitivo da cápsula do ombro em amplitudes extremas de movimento.

A Instabilidade multridirecional deve ser diferenciada da Instabilidade Traumática do Ombro.Neste casos, a luxação do ombro é unidirecional (geralmente anterior) e acomete um único ombro. Além disso, há geralmente uma história de trauma significativo no primeiro episódio de luxação.

As principais características da instabilidade multidirecional são o início atraumático, com acometimento dos dois ombros e hiperfrouxidão em outras articulações, como o cotovelo, punho ou joelho.

Ainda que a frouxidão e instabilidade acometa os dois ombros, eventualmente os sintomas podem estar relacionados a apenas um dos ombros. Um teste muito usado na avaliação destes pacientes é o teste do sulco. Neste teste, o braço é tracionado para baixo, abrindo o espaço entre a cabeça do úmero e o teto do ombro.

Quando a cabeça umeral se desloca mais do que 2 cm para baixo, é um sinal indicativo da instabilidade multidirecional.

Exames de imagem como a radiografia e a ressonância magnética ajudam a identificar lesões que acontecem em decorrência dos múltiplos episódios de luxação. Eles devem ser solicitados especialmente nos pacientes que se apresentem com dor ou limitação funcional.

Entre estas lesões, as principais delas são as lesões do labrum da glenoide e as lesões do manguito rotador.

A maioria dos pacientes com Instabilidade Multidirecional do Ombro pode ser tratada de forma não cirúrgica. A fisioterapia é feita com ênfase na reabilitação muscular, especialmente com o fortalecimento dos músculos do manguito rotador e dos músculos ao redor da escápula.

Proporcionar estabilidade dinâmica (muscular) à articulação é especialmente importante, uma vez que a estabilidade estática fornecida pelos ligamentos está comprometida.

A cirurgia pode ser considerada no paciente que não melhora apesar de uma reabilitação adequadamente instituída. Diferentes técnicas com acesso aberto ou artroscópico foram descritas. Em comum, elas envolvem a plicatura ou imbricamento da cápsula articular, diminuindo a frouxidão desta estrutura.

A indicação da cirurgia deve ser feita sempre com bastante cautela. Isso porque que a estabilidade provida pela cirurgia apenas será alcançada às custas de uma restrição na mobilidade.

Ainda que a mobilidade pós cirúrgica seja maior do que a da maior parte das pessoas, o paciente que cresceu acostumado com um ombro hipermóvel não costuma tolerar bem esta perda de movimento.

Especial cuidado deve ser adotado no caso de atletas. Muitos deles são bem-sucedidos justamente em decorrência da maior mobilidade articular. Assim, a perda de mobilidade proporcionada pela cirurgia, apesar de pequena, pode ser prejudicial para a carreira esportiva.