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Hanseníase

O que é a Hanseníase?

A hanseníase, antigamente conhecida como lepra, é uma doença infecciosa causada pela bactéria Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen.

A doença se manifesta, principalmente, por lesões na pele, com diminuição de sensibilidade térmica, dolorosa e tátil. Estas manifestações estão associadas ao acometimento do Sistema Nervoso Periférico.

A hanseníase tem tratamento e cura. Entretanto, lesões já estabelecidas no momento do diagnóstico poderão não ser recuperadas e podem deixar sequelas permanentes.

Aspectos históricos

A Hanseníase é conhecida há mais de três ou quatro mil anos.

Os impactos da doença foram sentidos especialmente durante a idade média, em decorrência da falta de tratamento adequando à época somado com a alta incidência.

A profilaxia foi estabelecida pela igreja católica no ano de 583, consistindo-se da separação entre a população sadia e os doentes.

Os pacientes eram excluídos da comunidade, passando a residir em locais especialmente reservados para esse fim. Eram também obrigados a utilizar vestimentas características que os identificavam como leproso.

Estima-se que haviam na Europa do século XIII aproximadamente 20 mil leprosários. Entretanto, por volta de 1870, a hanseníase já havia praticamente desaparecido em quase todos os países da Europa. Acredita-se que este declínio teve como motivo principal a melhoria das condições sócio-econômicas experimentadas pelos povos europeus.

Incidência da Hanseníase no Brasil

Atualmente, os países com maior detecção de casos são os menos desenvolvidos ou com superpopulação. 

Apesar de o Brasil ser considerado um país bem desenvolvido do ponto de vista econômico, as diferenças sociais são gritantes e existe uma grande população vivendo às margens da sociedade, o que justifica as incidências ainda elevadas da hanseníase. 

O país ocupa hoje o segundo lugar mundial em número de casos, perdendo apenas para a Índia. Em 2016, o Ministério da Saúde registrou no Brasil mais de 28.000 casos novos da doença (1).

A prevalência varia entre 0,4 a 17 casos por 10.000 habitantes, de acordo com a região. As Regiões Norte e Nordeste apresentam as taxas de prevalência mais elevadas.

Sintomas

O período de incubação da Hanseníase varia de seis meses a até cinco anos ou mais. Isso significa que o paciente desenvolve a doença por um longo período sem que qualquer sinal ou sintoma da doença esteja presente (1).

A hanseníase pode se apresentar com manchas mais claras, avermelhadas ou mais escuras. Elas podem ser pouco visíveis e têm limites imprecisos. 

Além disso, as lesões também se caracterizam por:

  • Alteração da sensibilidade;
  • Perda de pelos;
  • Ausência de transpiração.

Quando o nervo de uma área específica é afetado, os sintomas podem incluir:

  • Dormência;
  • Perda de tônus muscular;
  • Retração dos dedos.

Úlceras nos pés

A úlcera plantar ocasionada pela hanseníase é o resultado de lesões repetidas que acontecem em função da falta de sensibilidade na região, da mesma forma que ocorre com o Pé Diabético

Em casos graves, pode levar à amputação dos dedos ou pé.

Classificação da hanseníase

A hanseníase pode ser classificada em dois tipos:

  • Hanseníase paucibacilar: presença de poucos ou nenhum bacilo nos exames;
  • Hanseníase multibacilar: presença de muitos bacilos. 

Hanseníase paucibacilar

A Hanseníase paucibacilar é subdividida em dois tipos:

Hanseníase indeterminada

  • Estágio inicial da doença;
  • Presença de até cinco manchas de contornos mal definidos;
  • Sem comprometimento neural.

Hanseníase tuberculoide

  • Manchas ou placas com até cinco lesões;
  • Margens bem definidas;
  • Um único nervo comprometido. 

Hanseníase Multibacilar

A Hanseníase Multibacilar também pode ser dividida em dois subtipos:

Hanseníase borderline ou dimorfa

  • manchas e placas, acima de cinco lesões, 
  • Bordas das lesões podem ser pouco ou bem definidas;
  • Comprometimento de dois ou mais nervos.

Hanseníase virchowiana

  • Forma mais disseminada da doença;
  • Dificuldade em separar a pele normal da pele danificada;
  • Pode comprometer nariz, rins e órgãos reprodutivos masculinos.

Como ocorre a transmissão da Hanseníase?

A forma multibacilar, quando não tratada, possui alto potencial de transmissão.

A transmissão acontece por via respiratória, por meio de convivência muito próxima e prolongada com o doente.

Tocar a pele do paciente não transmite a hanseníase.

Após a primeira dose da medicação, não há mais risco de transmissão e o paciente pode conviver normalmente em meio à sociedade.

Reação hansênica

A reação hansênica se caracteriza por um episódio de agudização sobreposto à evolução crônica e insidiosa da hanseníase. 

Ela pode acometer os nervos (forma mais comum), pele ou olhos. Algumas são bastante evidentes clinicamente, enquanto outras podem se desenvolver sem que o paciente perceba os sinais e sintomas claramente.

A inflamação aguda é causada pela atuação do sistema imunológico do hospedeiro em ataque ao Mycobacterium leprae.

Estes episódios são responsáveis por perda funcional de nervos periféricos e pela piora das incapacidades que acontecem no paciente com Hanseníase. 

A Reação Hansênica pode ocorrer:

  • Antes do tratamento;
  • No momento do diagnóstico;
  • Durante o tratamento;
  • Depois que o tratamento tiver sido concluído

A maioria das reações ocorrem durante o primeiro ano e especialmente nos primeiros seis meses após o diagnóstico. 

Ela acontece em aproximadamente 25 a 30% dos pacientes ao longo do tratamento (1).

O risco de reação hansênica depende do tipo clínico de hanseníase e da função neurológica no momento do diagnóstico, conforme a tabela abaixo:

 

Risco de Reações Hansênicas durante o tratamento
Hanseníase Pausibacilar Hanseníase Multibacilar
Função normal do nervo no diagnóstico 1% 16%
Função alterada do nervo no diagnóstico 16% 65%

Fonte: Croft RP et al. Lancet (2000) 355: 1603-6.

Reação Hansênica Tipo 1

A reação é causada pelo aumento da atividade do sistema imunológico lutando contra o bacilo da hanseníase, ou mesmo por restos de bacilos mortos.

Isto conduz a instalação de um processo inflamatório agudo onde quer que haja bacilos de hanseníase no corpo. Entretanto, ela envolve principalmente na pele e nos nervos.

A Reação Hansênica do Tipo 1 é também chamada de reação reversa.

Reação Hansênica Tipo 2

Ocorre quando um grande número de bacilos da hanseníase é morto e gradualmente decomposto.

As proteínas dos bacilos mortos provocam uma reação imunológica.

A manifestação clínica mais comum é o Eritema Nodoso Hansênico.

Uma vez que estas proteínas estão na corrente circulatória, a reação tipo 2 poderá envolver vários órgãos do corpo, causando sintomas generalizados.

Diagnóstico

A suspeição da hanseníase é feita por meio de um quadro clínico compatível.

Isso envolve avaliação dermatoneurológica do paciente, por meio de testes de sensibilidade, palpação de nervos e avaliação da força motora. 

A confirmação pode ser feita por:

  • Baciloscopia: coleta da serosidade cutânea das orelhas, cotovelos e da lesão de pele, seguida da análise do material em laboratório, que busca identificar o Mycobacterium leprae; 
  • Biópsia da lesão ou de uma área suspeita.

Já o diagnóstico das reações hansênicas é feita pela avaliação da função neurológica e visual. Isso deve fazer parte de toda avaliação do paciente com Hanseníase.

Qualquer perda funcional que tenha ocorrido desde que o paciente foi examinado na última consulta pode ser um indício de uma Reação Hansênica.

Se estes pacientes forem tratados efetivamente, danos neurais recentes podem ser curados e a incapacidade pode ser prevenida.

Avaliação dos contactantes do paciente com Hanseníase

Todos os contatos próximos ao portador da Hanseníase devem ser investigados. 

Isso inclui todas as pessoas que tenham residido com o paciente ao longo dos últimos cinco anos antes do diagnóstico.

A investigação é realizada com o exame dermatoneurológico. Esta avaliação deve ser realizada pelo menos uma vez ao ano, por pelo menos cinco anos.

Além disso, deve ser avaliado a cicatriz vacinal de BCG.

A Vacina BCG, indicada para a prevenção da tuberculose, também ajuda na prevenção da Hanseníase.

Estudos mostram que ela é capaz de prevenir até 60% dos casos (1). 

A necessidade de vacinação deve ser avaliada da seguinte forma:

  • Contactantes intradomiciliares com menos de um ano de idade: não necessitam da administração de outra dose de BCG.
  • Contantes intradomiciliares com mais de um ano de idade, comprovadamente vacinado com a primeira dose: administrar outra dose de BCG (intervalo mínimo de seis meses entre as doses); 
  • Contantes intradomiciliares com mais de um ano de idade e com duas doses/cicatrizes: não administrar nenhuma dose adicional.

Tratamento

O tratamento medicamentoso da hanseníase envolve a associação de três antimicrobianos: rifampicina, dapsona e clofazimina.

Além disso, medicamentos específicos podem ser indicados no caso de uma reação hansênica.

A duração do tratamento varia de acordo com a forma clínica da doença:

  • Seis meses, no caso da Hanseníase Paucibacilar;
  • Um ano, no caso da Hanseníase Multibacilar.

Este tratamento pode levar à cura da doença. Entretanto, danos já estabelecidos no momento do diagnóstico podem não mais serem revertidos. Isso acontece especialmente quando o dano estiver presente por seis meses ou mais no momento do diagnóstico.

Tratamento da Reação Hansênica

O tratamento medicamentoso para reação hansênica é realizado conforme classificação do tipo de reação: 

  • Reação tipo 1: o tratamento é feito com corticoesteroides (prednisona ou dexametasona). 
  • Reação tipo 2: tratamento com talidomida. Ela pode ser associada à prednisona em caso de comprometimento dos nervos.