Gravidez na Adolescência
Gravidez na adolescência
A gravidez na adolescência é uma temática importante que deve ser discutida nos mais diversos âmbitos: familiares, sociais, escolares, etc.
Afinal, a gestação que ocorre na adolescência pode acarretar tanto em efeitos negativos (como tentativas arriscadas de aborto, problemas de saúde e questões de saúde mental), quanto em efeitos positivos (quando a adolescente aceita o papel de futura mãe e inclui, nessa jornada, os seus próprios desejos).
Por isso, refletir sobre esse assunto e pensar sobre o que acontece nessa fase da vida da adolescente é algo relevante e que pode auxiliar na disseminação de informações importantes.
A seguir, apresentamos uma série de considerações sobre o assunto. Confira.
Aspectos psicológicos da gravidez na adolescência
Para iniciarmos as nossas discussões, apresentamos abaixo alguns dos principais aspectos psicológicos da gravidez na adolescência para que possamos refletir sobre o que pode acontecer nessas situações. Vamos lá!
1. Medo relacionado às mudanças na rotina
Certamente, a adolescente, ao se deparar com uma gestação, pode temer as grandes mudanças em sua rotina. A gestação, que muitas vezes não estava planejada (para não generalizarmos e dizermos que nunca), pode acarretar em uma série de dúvidas com relação ao futuro.
Como ficarão os estudos? Quem irá acompanhá-la ao médico? Como ela conseguirá manter um bebê forte, saudável e feliz? De que maneira ela poderá ensinar esse bebê?
Uma mulher adulta pode ter questionamentos parecidos. Mas a adolescente, frente aos seus sonhos para o futuro, diante de uma rotina de estudante e dentro de uma “dependência” de seus pais, que ainda existe, pode se sentir perdida com relação ao próprio cotidiano.
Nesse caso, a família precisa servir de alicerce para que a jovem aprenda a lidar com a situação e possa, junto daqueles que a apoiam, encontrar formas e mecanismos de enfrentar a nova realidade.
2. Gravidez desejada x indesejada
Como dito acima, não podemos generalizar que toda gravidez na adolescência é algo visto como super ruim e negativo pela adolescente. Isto é, a adolescente pode ter o desejo de ser mãe, e, inclusive, a gestação pode ter sido induzida de certa forma.
Afinal, existem muitas realidades no mundo. Não podemos acreditar que todas as gravidezes na adolescência são negativas, indesejadas e “maléficas”. Se fizéssemos isso, estaríamos reduzindo a natureza humana a uma única realidade.
No entanto, também é evidente que, em muitos casos, e até mesmo na maior parte deles, as adolescentes podem sentir a angústia de estar diante de uma gravidez indesejada.
Essa falta de desejo pela gestação pode gerar um sofrimento doloroso, uma vez que a adolescente enxerga o caso como algo irreversível, que cresce, literalmente, a cada dia, dentro do seu ventre.
Inicialmente, o reflexo de acreditar que é algo extremamente ruim é bastante comum. Porém, com o apoio da família e com o acompanhamento psicológico, a adolescente pode começar a encontrar novos sentidos e significados para a situação.
Não estamos dizendo que é fácil. Estamos dizendo que existem vias que podem, sim, ser interessantes e menos dolorosas para a gestante.
Sendo assim, a família deve evitar julgamentos e comparações, acolhendo essa situação e oferecendo um ambiente no qual a adolescente possa viver o seu “luto”, digamos assim.
3. Dificuldades para a construção de um projeto de vida
Antes da gravidez, a adolescente estava planejando, mesmo que em forma de “rascunho”, o seu próprio futuro.
Talvez terminar o Ensino Médio, iniciar uma graduação, começar a trabalhar, sair da casa dos pais… Havia um plano, mesmo que superficial. Até mesmo a ausência de plano poderia ser considerado um projeto de curto prazo – um que sinalizava que, agora, ela não iria pensar nisso.
Porém, a partir do momento em que o exame dá positivo, um novo projeto de vida precisa ser construído. Todos os planos precisam de novos nortes, e todas as ideias e ideais da menina precisam ser repensados em prol de um outro ser vivo que, em breve, estará em seus braços, totalmente dependente dessa mãe.
Esse baque pode ser difícil de ser assimilado, provocando angústia e dor. A menina adolescente, diante da novidade, precisa de um suporte para encarar a situação, lidar com as angústias e, mais tarde, iniciar um novo projeto de vida para si e para seu filho.
4. O medo do abandono
O medo do abandono e da má aceitação da família também pode ser uma das maiores angústias da gravidez na adolescência.
Não é de hoje que vemos notícias sobre meninas grávidas que foram expulsas de casa, sem ter como lidar com a situação ou como arcar com a sua própria vida e a vida de um bebê.
Além disso, o medo do abandono do parceiro também aparece, concomitantemente. Todo esse medo pode resultar em casos de tentativa de aborto, bem como situações em que a adolescente esconde a gravidez ao máximo, negando, inclusive, para si mesma que essa gestação existe.
A ansiedade e a depressão podem aparecer nessas situações, sobrecarregando as emoções dessa jovem que, agora, enfrenta mil sensações diferentes.
Todo esse cenário pode gerar um grande sofrimento que merece atenção psicológica.
5. Sentimentos ambivalentes de vergonha e felicidade
Os sentimentos ambivalentes também podem aparecer na gravidez na adolescência. A jovem pode se sentir feliz e “abençoada” por estar gerando o seu filho, um bebê. Ao mesmo tempo, pode sentir vergonha e culpa por ser tão jovem e já estar gestando um outro ser.
Além disso, os sentimentos ambivalentes de realização e angústia por não querer ser mãe também podem aparecer. Essa “contradição”, que já é comum em qualquer gestação (inclusive planejada), vem com o plus provocado pelas pressões sociais de se engravidar na adolescência.
6. Medo de não construir um vínculo com o bebê
A adolescente também pode começar a temer o vínculo que criará com o seu bebê. Por se tratar de uma situação difícil, seja financeiramente, seja com relação à aceitação do filho em si, o vínculo pode ser algo que gera muitas dúvidas na gestante.
Se a sua relação com a própria mãe for conflitante, a angústia pode aumentar ainda mais. Afinal, ela pode temer projetar, em sua história de vida, tudo o que viveu com a sua própria mãe.
Essas sensações vão invadindo a mente da adolescente que merece receber apoio, atenção e acolhimento para atravessar todas essas questões.
7. Medos e dúvidas quanto ao papel de mãe
Ser mãe é uma construção. Ninguém nasce mãe. Torna-se mãe!
Sendo assim, a adolescente, diante desse novo papel social que precisa construir, pode temer não desenvolver as habilidades e aptidões necessárias.
Ela pode visualizar a sua própria mãe, com tantas tarefas e “dando conta de tudo”, aparentemente, e idealizar que a maternidade tem que ser assim: perfeita.
Porém, a perfeição não existe. E a adolescente pode se sentir imperfeita, naturalmente, tendo medos e dúvidas sobre a sua atuação como mãe.
8. Aspectos psicológicos e biológicos comuns na gestação
Além de todos esses pontos que elencamos acima, há ainda outros aspectos psicológicos na gestação que devem ser considerados. Afinal, apesar de cada gestação ser única, ainda assim podemos encontrar semelhanças e fatores biopsicossociais que impactam no desenvolvimento de qualquer mulher.
Por isso, quando pensamos em gravidez na adolescência, devemos também pensar na gravidez de maneira geral. Portanto, convidamos você para conhecer o nosso conteúdo sobre aspectos psicológicos na gravidez e saber mais sobre o assunto.
Como auxiliar uma adolescente grávida?
A gravidez na adolescência, apesar de não ser esperada pela grande maioria das pessoas, ainda é uma realidade muito recorrente.
A família, diante dessa situação, pode implementar ações e alternativas que auxiliem a adolescente na hora de vivenciar esta nova fase de sua vida.
Abaixo trouxemos algumas orientações que podem ser úteis. Acompanhe.
Irregularidades menstruais
1. Auxiliar na compreensão do que está acontecendo
A adolescente pode não ter total discernimento do que está acontecendo. Ela pode entender que está grávida e que será mãe, mas não necessariamente que deverá construir um novo plano de vida por conta disso. Muitas vezes, os pensamentos podem estar ancorados nos resultados de curto prazo.
Além desse ponto, a família também pode ajudar a adolescente a entender o que está acontecendo com o seu próprio corpo. Falar sobre as mudanças físicas e emocionais é uma forma de minimizar o medo e a angústia que a jovem pode viver.
2. Auxiliar na construção de um plano futuro
Em um primeiro momento, o baque pode ser bastante intenso. A jovem pode se sentir perdida, sem direcionamentos para o seu próprio futuro.
A família, por outro lado, pode servir de alicerce, de co-piloto para essa jornada. Pode auxiliar a jovem a pensar em alternativas para manter os seus sonhos vivos, construindo uma ponte entre a adolescente e a sua árdua passagem para a vida adulta.
A adolescência, por si só, já representa mudanças significativas e drásticas. Os aspectos psicológicos da adolescência são inúmeros, e as alterações emocionais, mentais e físicas geram desconfortos, dúvidas, medos e incertezas.
Somar isso com uma gestação é criar um futuro nublado, e um medo de não dar conta de tudo.
Por isso, a família deve servir de alicerce na hora de oferecer a essa gestante um apoio para que sejam feitas reflexões em prol de um futuro que ainda pode existir e ser gratificante.
3. Apoiar os sentimentos ambivalentes vividos na gestação
Não devemos recriminar os sentimentos ambivalentes vividos pela adolescente. Primeiro porque toda gestante pode querer e não querer ser mãe ao mesmo tempo, devido às dúvidas e aflições dessas mudanças. Segundo porque, na adolescência, a pressão social pode auxiliar na construção de sentimentos ambivalentes ainda mais intensos.
Portanto, quando a adolescente apresentar medo, angústia e até mesmo raiva por estar grávida, acolha-a. Quando ela mostrar alegria, sensações boas e felicidade, acolha-a.
A adolescente está passando por muitas mudanças emocionais, vivendo uma verdadeira “montanha russa de sentimentos”. E a família tem o papel de acolher essas emoções, abrindo um espaço de escuta que alivie a adolescente e ofereça a ela conforto e direcionamento.
4. Incentivar, fortemente, os cuidados com a saúde
Os cuidados com a saúde, como por exemplo as visitas ao médico para o pré-natal, devem ser fortemente incentivados. A família pode acompanhar a gestante durante todas essas etapas, dando a ela um espaço seguro para lidar com as mudanças do seu corpo, mente e social.
Esses cuidados com a saúde não devem ser negligenciados, uma vez que eles podem prevenir problemas e resguardar a vida da gestante e do bebê.
5. Oferecer uma rede de apoio
Seja um membro da rede de apoio dessa gestante-mãe. Ofereça a ela um espaço para descansar e cuidar de si, enquanto a família oferece apoio na hora de cuidar do bebê.
Ajude-a frente às suas dúvidas, ofereça um ombro quando for necessário, e auxilie nos cuidados com o recém-nascido.
Toda essa dedicação pode ser uma verdadeira “salvação” para a adolscente que, até então, estava se sentindo perdida, desconectada, “estranha”.
6. Incentivar os estudos, dentro de limites possíveis
Em um primeiro momento, a adolescente pode pensar em optar pela interrupção dos estudos. Porém, se a família for capaz de oferecer uma rede de apoio sólida, é muito importante que os estudos sejam incentivados.
Apoiar a adolescente no mantimento dos seus estudos pode ajudá-la a construir um futuro que seja mais realizador.
Esteja com ela durante essa trajetória. Ofereça ajuda se for possível e esclareça o quanto os estudos são extremamente importantes.
7. Incentivar a psicoterapia e o pré-natal psicológico
O pré-natal psicológico e a psicoterapia em si podem servir de molas propulsoras para o mantimento da saúde mental da jovem que vive uma situação de gravidez na adolescência.
No espaço terapêutico ela poderá receber o suporte profissional mais alinhado às próprias necessidades que possui.
Além disso, terá um espaço para poder falar do que sente, sem medo de ser julgada, recriminada ou diminuída.
As emoções poderão ser escutadas, e ela poderá encontrar novos significados para o que sente.
Muitos tabus podem ser quebrados, e o psicólogo pode, ainda, orientar e tirar dúvidas importantes que a gestante pode ter, porém, não tem coragem de perguntar para outra pessoa.
8. Auxiliar no vínculo mãe-bebê
A família também pode servir de ponte na criação do vínculo mãe-bebê.
Ajudar a recém mãe a amamentar, auxiliá-la na criação de momentos de interação com o bebê e ensiná-la formas e métodos de cuidar de uma criança pequena são ações que podem fazer toda a diferença na construção do afeto.
E tudo isso pode promover resultados ainda mais positivos quando feito com paciência, carinho e atenção, mostrando à adolescente que ela não está sozinha, e que existem pessoas preocupadas em auxiliá-la nesse momento delicado.
Lembre-se de que a adolescente pode se sentir perdida e com medo de não compreender o seu próprio bebê. Por isso, estar por perto para acalmá-la e ajudá-la nessas descobertas é algo muito benéfico.
9. Oferecer uma atmosfera que contribua para uma boa autoestima
Por fim, considere contribuir para o mantimento da autoestima da adolescente. Elogios e suportes fazem toda a diferença. Ajude-a a enxergar os pontos fortes e as próprias habilidades, elevando a autoconfiança e aumentando a visão positiva que ela pode ter de si mesma.
E não se esqueça, você, enquanto pai, mãe, irmão, tio, etc., também pode procurar apoio psicológico para lidar com essa situação, a fim de ter mais conhecimento sobre o que sente e visando a construção de um laço ainda mais saudável com a adolescente.
Referências
DADOORIAN, D. Gravidez na adolescência: um novo olhar. Artigos • Psicol. cienc. prof. 23 (1) • Mar 2003.
DIAS, A. C. G.; TEIXEIRA, M. A. P. Gravidez na adolescência: um olhar sobre um fenômeno complexo. Revisão Crítica da Literatura • Paidéia (Ribeirão Preto) 20 (45) • Abr 2010.