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Ginecologia do Esporte

Especificidades da Ginecologia do Esporte

Idealmente, qualquer mulher deve realizar uma consulta ginecológica com frequência no mínimo anual.

Esta avaliação pode contribuir para a saúde de diferentes maneiras, incluindo:

  • Avaliação de eventuais sintomas;
  • Investigação de eventuais doenças ou condições que ainda não provoquem sintomas;
  • Esclarecimento de dúvidas e orientações relacionadas à saúde sexual, menstrual ou reprodutiva.

Entretanto, quando se trata do atleta, algumas especificidades devem ser levadas em consideração:

  • O ciclo menstrual pode interferir na capacidade de treinamento e na performance esportiva. Por outro lado, a escolha do método anticoncepcional pode minimizar eventuais efeitos negativos;
  • A incontinência urinária, e em especial a Incontinência Urinária de esforço, é mais comum na atleta;
  • Problemas menstruais são mais comuns nas atletas do que em não atletas. A amenorreia (falta de menstruação) é inclusive um dos componentes da Tríade da Mulher Atleta. Os outros componentes são a deficiência energética e a osteoporose;
  • Outras condições, como a Síndrome do Ovário Policístico, também são mais comuns em atletas;
  • Questões específicas relacionadas à prática de atividades físicas durante a gestação devem ser abordadas, quando necessário.

Irregularidades menstruais

50% das mulheres atletas apresentam ciclos menstruais irregulares, estando a Amenorreia presente em 13% delas (1).

A amenorreia na mulher Atleta está geralmente associada a uma das duas seguintes condições:

  • Síndrome dos Ovários Policísticos: condição caracterizada pelo aumento nos níveis de testosterona, ovários com aspecto policístico e menstruações infrequentes ou ausentes;
  • Amenorreia hipotalâmica: ausência de menstruação em decorrência da desregulação na produção e liberação dos hormônios sexuais femininos. Na atleta, isso acontece geralmente associado à Tríade da mulher atleta.

Tríade da mulher atleta

A Tríade da Mulher Atleta se caracteriza pela frequente combinação de três condições:

  • Deficiência energética;
  • Baixa densidade mineral óssea;
  • Alterações menstruais.

Ela é mais comum em algumas modalidades, incluindo:

  • Esportes com categoria de peso: decorre da necessidade frequente de rápida perda de peso, para bater o peso da categoria. Inclui modalidades de luta e o remo, entre outras;
  • Esportes que prezam o físico magro: incluindo o ballet, a ginástica artística ou rítmica e a natação artística (previamente conhecida como Nado Sincronizado);
  • Esportes de ultra resistência: decorre do grande gasto energético. Inclui modalidades como a maratona aquática, a maratona ou ultra-maratona, voltas ciclísticas e Ironman, entre outras.

O ginecologista do Esporte é muitas vezes o profissional que faz o diagnóstico da síndrome. Ele também deve fazer parte da equipe multidisciplinar a tratar a Tríade da Mulher Atleta.

Síndrome dos Ovários Policísticos em atletas

A Síndrome dos Ovários Policísticos é um distúrbio comum entre esportistas de elite e a causa mais frequente de problemas menstruais na atleta (1). Além de a síndrome ser comum na população como um todo, o aumento nos níveis de testosterona é considerado uma vantagem esportiva para estas atletas, o que justifica uma “seleção natural” destas mulheres para o esporte competitivo.

A amenorreia decorrente da síndrome dos Ovários Policísticos, entretanto, deve ser diferenciada da amenorreia decorrente da Deficiência Energética no Esporte, que acontece na Tríade da Mulher Atleta.

Menstruação e desempenho esportivo

90% das mulheres relataram preferir determinada fase do ciclo para competir. Entre elas, 58,0% preferiram o período pós-menstrual, sendo que 2% delas preferem competir quando estão menstruadas.

Mais de metade das mulheres relatam sintomas moderados a graves relacionados à Tensão Pré-Menstrual (1).

Nem todas as atletas são “abaladas” da mesma forma. Assim, a abordagem precisa ser individualizada.

Diferentes formas de tratamento para os problemas relacionados ao ciclo menstrual da atleta estão disponíveis, a depender das queixas e das preferencias individuais de cada atleta.

Medidas como calor local, uso de medicações analgésicas e anti-inflamatórias e ajustes na alimentação podem trazer bons resultados. Se isso for suficiente para permitir que a mulher compita na sua mais alta performance independentemente da fase do ciclo menstrual, nenhuma outra intervenção se fará necessária.

Caso contrário, a mulher atleta terá outros meios de tratamento a sua disposição, incluindo o tratamento hormonal com as pílulas e outros Métodos Anticoncepcionais Hormonais.

Métodos anticoncepcionais

Todos os métodos anticoncepcionais disponíveis para a população em geral também podem ser considerados para a mulher atleta.

A escolha depende de fatores como o desejo futuro de gestação, a necessidade de prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis, sintomas relacionados ao ciclo menstrual, facilidade de uso, aspectos religiosos e preferências individuais.

No caso de atletas que têm a capacidade de treinamento ou competição afetados negativamente pelo ciclo menstrual, há a possibilidade de usar as pílulas anticioncepcionais, com o objetivo principal de controle do ciclo.

Algumas, inclusive, fazem isso com o objetivo principal de controlar o ciclo menstrual, sem o objetivo de anticoncepção. Elas escolhem o momento para menstruar ou mesmo optam por não menstruar.

Em um estudo feito no Reino Unido com 430 atletas de elite (1), 74% das atletas que faziam uso de pílulas anticoncepcionais relataram ter manipulado deliberadamente a menstruação pelo menos uma vez durante o ano anterior, com 29% relatando ter feito isso pelo menos 4 vezes no ano.

Discutimos mais sobre isso em um artigo específico sobre Menstruação e Anticoncepção para a Atleta.

Incontinência urinária

A incontinência urinária relacionada ao exercício  é uma condição caracterizada pela perda involuntária de urina. É um problema comum, especialmente entre idosos, mulheres pós-menopausa, gestantes, mulheres com filhos e também em atletas. Ainda que seja mais comum entre as mulheres, os homens também podem ser acometidos.

Estima-se que aproximadamente 50% das mulheres atletas desenvolvam incontinência, número três vezes maior do que na população não atlética, mas isso varia bastante de acordo com a modalidade. Incidências de até 80% foram descritas para certas modalidades (1).

A tabela abaixo mostra a incidência de Incontinência urinária em diferentes modalidades esportivas, de acordo com um estudo com 291 atletas de elite (1).

MODALIDADE INCONTINÊNCIA
Ginástica 56%
Ballet 43%
Badminton 31%
Voleibol 30%
Atletismo 25%
Handebol 21%
Basquetebol 17%

Além de uma maior incidência, os sintomas da Incontinência urinária também são mais importantes na mulher atleta. Como mostra disso, um estudo com 291 atletas de elite de diferentes modalidades mostrou que 9,6% das atletas referiram perda frequente de urina durante a prática esportiva.

Entretanto, apenas 0,8% referiram esta perda frequente fora da atividade esportiva (1).

Testosterona na Mulher Atleta

A testosterona é classificada como um hormônio sexual masculino. Entretanto, ela também é produzida naturalmente em pequenas quantidades pelo ovário feminino.

Os níveis de testosterona considerados normais no homem variam entre 7,7 a 29,4 nmol / L. Nas mulheres, varia entre 0 e 1,7 nmol / L (1).

Algumas poucas mulheres, entretanto, possuem níveis mais elevados da testosterona. Isso pode acontecer de forma fisiológica ou em decorrência de diferentes condições clínicas.

Ainda que estas condições possam acometer atletas ou não atletas, elas são mais comuns em mulheres envolvidas com o esporte de alto rendimento. Isso se deve, provavelmente, em decorrência das vantagens esportivas proporcionadas pelos altos níveis de testosterona.

Existem muitas controversas relacionadas à Testosterona  Alta na Mulher Atleta, com federações impondo limites competitivos.

Este posicionamento é bastante criticado por alguns. Não por se negar as vantagens esportivas, mas por não se equiparar a outras vantagens  físicas naturais, como uma mulher excessivamente alta jogando basquete, por exemplo.