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Estresse e irritabilidade no esporte

Estresse e irritabilidade no esporte

Casos de estresse e irritabilidade no esporte costumam ser frequentes em diversas situações. Em casos extremos, a irritabilidade pode ocasionar o aparecimento de condutas violentas, tanto entre os atletas, quanto com relação à própria torcida.

Sendo assim, discutir sobre a temática é imprescindível para minimizarmos esse tipo de situação prejudicial à saúde mental dos atletas e demais envolvidos. Confira lendo este texto.

Quais as causas do estresse e da irritabilidade no esporte?

As causas das situações de estresse e de irritabilidade no esporte são multifatoriais. Isso quer dizer que tanto as ocorrências à volta do atleta, quanto as suas percepções sobre o que está acontecendo, podem influenciar na sua reação diante das adversidades.

Veja algumas das possíveis causas que podem estar presentes nessas condutas:

1. Percepção da situação e crenças sobre o adversário
As crenças que o indivíduo carrega e a sua percepção sobre a situação podem provocar impactos nos níveis de estresse e irritabilidade no esporte. É o caso de o sujeito enxergar o seu adversário como um inimigo que deve ser aniquilado a qualquer custo, mesmo que isso exija uma postura extremamente desgastante por parte do atleta.
Quanto à sua percepção, o atleta pode criar, em seu imaginário, a ideia de que apenas a vitória o fará um bom profissional. Isto é, há uma ancoragem que apenas vencendo o “inimigo” que ele realmente será bom no que faz.
Esse é um dos exemplos que podemos considerar quando pensamos na percepção e nas crenças do sujeito.

2. Autocrítica excessiva
Quando pensamos no estresse, a autocrítica excessiva pode ser uma das molas propulsoras do problema. O fato de querer atingir uma perfeição que, na prática, não existe, pode ocasionar uma sobrecarga de cobranças, treinos e exigências que desgastam a saúde física e mental do indivíduo.

3. Supervalorização da vitória
A supervalorização da vitória também entra em nossa lista de fatores que contribuem para o aparecimento de estresse e irritabilidade no esporte.
Não é incomum vermos pessoas valorizando a vitória como se ela fosse a única coisa que importasse no esporte. Embora ela realmente seja importante, isso não quer dizer que o único objetivo da prática esportiva deva ser o ganho no fim de uma partida.
O ideal é ressignificar essa visão, encontrando no esporte outros caminhos de crescimento, desenvolvimento, superação, etc., que elevem a satisfação com relação à prática.

4. Pressão externa
A pressão externa, que pode ser provocada pelos treinadores, equipe técnica e torcedores, ocasiona uma sobrecarga nos atletas que, muitas vezes, podem tentar suprir com as demandas alheias.
No entanto, em muitas situações essas cobranças e demandas são irreais, não baseadas nas possibilidade do atleta, levando-o a uma exposição exaustiva a treinos, por exemplo.
Essa cobrança pode ocasionar o estresse durante a prática esportiva, como a irritabilidade e casos de violência ao se deparar com a possibilidade de estar perdendo uma partida.

5. Provocações e desentendimentos
As provocações também costumam fazer parte de muitas práticas esportivas, especialmente quando estamos diante de verdadeiros “rivais” – conhecidos pela sociedade como tais.
Assim sendo, essas provocações, quando não manejadas de forma sadia, podem levar o sujeito a ter comportamentos violentos e agressivos, devido aos níveis de irritabilidade.
Por isso, pensar sobre o estresse e a irritabilidade no esporte é um passo importante para minimizar os reflexos agressivos diante das provocações e desentendimentos.

6. Comparações
As comparações podem ocasionar o sentimento de estresse intenso no atleta, que estará se cobrando excessivamente ao se comparar com alguém que ele julga ser melhor.
Essa comparação pode ser ainda mais negativa quando um terceiro a faz. Isto é, quando o treinador, por exemplo, compara o seu grupo de atletas com outros, com o intuito de instigá-los a mudança, mas, na prática, ocasiona impactos na autoestima, aumentando os níveis de estresse e de autocobrança tóxica, etc.

7. Competitividade tóxica
A competitividade tóxica, que está relacionada com outros pontos que já discutimos no decorrer desta lista, também pode ocasionar um aumento no estresse e irritabilidade no esporte.
O indivíduo pode enxergar, no esporte em si, apenas a necessidade de ganhar do seu adversário que, na sua mente, é um inimigo que deve ser “derrubado”.
Essa postura gera pressão para ambos os lados, podendo aumentar a sensibilidade emocional frente a uma provocação, como entre outros efeitos.
Por isso, é papel dos atletas e de toda a equipe técnica analisar o verdadeiro significado da competitividade e entendê-la por vias mais sadias e menos “sobrecarregadas”.

Como lidar com o estresse e a irritabilidade no esporte?

Embora não exista método ou passo a passo para minimizar as emoções relacionadas ao estresse e à irritabilidade no esporte, ainda assim algumas reflexões e ações podem contribuir para a construção de uma nova visão frente ao que vem acontecendo nos momentos mais intensos – e antes deles.

A seguir, descrevemos algumas orientações que podem ser postas em prática na hora de minimizar o estresse, a irritabilidade e, ainda, os comportamentos violentos e agressivos que podem surgir em decorrência dos impactos emocionais. Veja:

1. Pausa inicial para lidar com o que é sentido
O sentimento de irritabilidade e o aumento do estresse podem ser bastante desestabilizantes. Por isso, parar por um instante para pensar sobre o que está sentindo é um caminho.
Durante a prática esportiva, o atleta pode imaginar que está diante de um semáforo. Ao perceber que os níveis de estresse e irritabilidade no esporte estão altos, imagine a cor “vermelha” desse semáforo, que o manda “parar” imediatamente.
Não no sentido de parar de atuar dentro do campo esportivo, durante a partida, mas no sentido de parar, imediatamente, o comportamento que possa estar sendo violento ou agressivo.
Essa postura de imaginar o semáforo e criar esse alerta pode ajudar a interromper a impulsividade diante do que está acontecendo.
Fora dos campos, isso também pode ser colocado em prática. Quando a irritabilidade e o estresse estão em níveis elevados, antes de discutir com um colega nos bastidores é interessante pensar na técnica do semáforo para interromper a postura impulsiva, dando um tempo para si mesmo pensar sobre o que está acontecendo, como veremos no tópico a seguir.

2. Análise mais tranquila do que está acontecendo
Após ocorrer a interrupção inicial do comportamento que possa estar inadequado, é possível começar a refletir sobre o que está acontecendo, de uma forma mais tranquila. Respirar fundo e tentar pensar sobre a situação com mais clareza é uma forma de minimizar aqueles comportamentos que tendem a ser impulsivos e, muitas vezes, causadores de arrependimentos.
Portanto, durante a partida, após o “stop” do vermelho, considere pensar sobre o que está acontecendo: estou me sentindo assim por conta da provocação do outro? Por que estou dando atenção à provocação? Qual a importância da visão do outro? O que eu posso fazer, pensando na minha atuação, para seguir com o jogo de uma forma equilibrada, sem dar créditos às provocações alheias?
É importante sempre adaptar os questionamentos para a situação em questão, visando pensar, com mais clareza, sobre o que se sente, por que se sente e como é possível lidar com isso de forma saudável.
Já nos bastidores, outras perguntas podem ser feitas: o que está me deixando irritado a ponto de eu querer brigar com o meu colega? Vale a pena discutir e partir para a ofensa? Será que não é melhor os dois darem um tempo para pensar?
Novamente, adaptar as perguntas para o contexto no qual você está inserido é um modo de avaliar a situação por outras vias, pensando em estratégias que minimizem os efeitos negativos do estresse e da irritabilidade no esporte.

3. Reflexão sobre o problema e suas possíveis soluções
Refletir sobre o problema é o terceiro passo que pode ser considerado, depois de barrar a postura agressiva e pensar sobre o que está acontecendo.
Isto é, além de analisar como você se sente e por quais motivos determinados sentimentos têm aparecido, é hora de verificar qual é o real problema: será que o problema, dentro do campo, é apenas algo narcisista e relacionado ao ego? Ou será que realmente é algo que está atrapalhando o seu desempenho ou os resultados da sua equipe? Se for algo relacionado ao ego, como é possível resolver? Se houve injustiça na atuação do adversário, como resolver? Será que é melhor deixar de lado e seguir adiante, já que você não é o árbitro e não tem o poder de mudar?
É sabido que nem sempre teremos todas as respostas quando buscarmos soluções para o que está acontecendo. Mas, saber nomear o problema, com mais clareza, pode contribuir para uma visão mais assertiva do que realmente deve e/ou pode ser feito.

4. Solicitar o suporte de outra pessoa quando possível
Em algumas circunstâncias, pode ser necessária a solicitação da ajuda e do suporte de uma outra pessoa. É o caso de contatar o treinador para lidar com os conflitos dentro da equipe, por exemplo.
Se você estiver com algum problema relacionado a si mesmo, como no caso de sentir a sua autoestima abalada com as provocações do adversário, pense em conversar sobre isso com o psicólogo ou algum colega, a fim de analisar a situação e pensar sobre outras vias.
Lembre-se de que, apesar de ser um atleta de alto rendimento, você também é um ser humano, com emoções, limites e angústias.

5. Analisar as demandas excessivas
A análise das demandas excessivas também pode contribuir para a redução do estresse e da irritabilidade no esporte. É o caso de verificar até que ponto faz sentido você se cobrar tanto para vencer do adversário X, sendo que, na realidade, não há comparação entre o desempenho de ambos, pois pode ser que o outro lado tenha anos a mais de experiência, por exemplo.
Além disso, é interessante refletir sobre a cobrança de sempre estar treinando e vencendo. Ninguém é super-herói no esporte, embora a mídia possa nomear alguns atletas dessa forma. Lembre-se disso!

6. Cuidados com a postura de “robô”
Seguindo o que já viemos assinalando diversas vezes ao longo deste conteúdo, é imprescindível que se analise a forma como se tem enxergado o papel do atleta. Isto é, será que não está sendo visto como um robô, que deve receber recomendações sobre o seu desempenho físico e apenas isso? Deixando de lado a sua vida social, psíquica e emocional?
Nós não somos seres divididos em partes. Nós somos seres inteiros. Embora existam formas de minimizar os impactos das emoções na prática esportiva, como usando técnicas de redução de estresse no esporte, ainda assim estaremos sujeitos ao aparecimento das reações emocionais.
Isso decorre do fato de que as emoções têm funções em nossas vidas. Elas nos ajudam a analisar melhor o que está acontecendo, fazem com que tomemos decisões, nos ajudam a minimizar situações que nos colocam em risco, etc.
Por isso, devemos ter em mente que as emoções estão presentes no dia a dia do atleta, e que ele não pode ser visto com um robô que apenas executa movimentos sincronizados. A quebra dessa visão de “máquina” pode dar espaço para se falar sobre emoção, canalizando-as e dando nome ao que se sente – sendo que esse passo é um caminho para pensar em estratégias para lidar com o que é vivido.

7. Conscientização acerca das consequências da violência
A violência não traz frutos positivos para ninguém. Embora no momento de raiva ela possa colocar “para fora” o que estamos sentindo, a verdade é que os comportamentos violentos podem acarretar uma série de consequências negativas na vida emocional e profissional do atleta.
Refletir sobre as consequências dos seus atos, antes de colocá-los em prática, é muito importante para impedir posturas deploráveis, como vemos no campo esportivo em algumas situações.
O que acontecerá se você começar a xingar? Quais serão as consequências se você tiver um comportamento violento? Como ficará a sua imagem, a sua carreira e o seu sonho de crescer na profissão de atleta? Como você contará à sua família que agiu de forma inconsequente? Quais sentimentos irá carregar depois do ocorrido? Será que tudo isso realmente vale a pena?
Reflita sobre essas situações, de forma recorrente, se quiser criar novas visões sobre a violência em decorrência do estresse e da irritabilidade no esporte.

8. O adversário não é o seu inimigo
Muitas vezes, a pressão no esporte pode fazer com que o atleta passe a enxergar o outro como um inimigo, que deve ser aniquilado e derrubado. No entanto, adversário não é a mesma coisa que um inimigo! Ele não está lá para desejar o seu mal, querer que você seja destruído, ou qualquer coisa semelhante.
Quebrar essa visão é uma das formas de não se deixar levar pela visão deturpada da competitividade tóxica, que pode levar o sujeito a ter comportamentos agressivos, ficar provocando o adversário o tempo todo e, mais tarde, partir para a violência.
Sendo assim, veja o seu adversário como alguém que tem o mesmo objetivo que você. Encare-o como uma oportunidade de superar desafios, de desenvolver estratégias de atuação para si mesmo, e assim por diante. Mas jamais o coloque na categoria “inimigo” – mesmo quando ele provoca excessivamente. Lembre-se dos primeiros tópicos que descrevemos com relação a isso (sinal vermelho, reflexão, etc.).

9. Buscar apoio psicológico
A Psicologia Esportiva também pode contribuir para situações de estresse e irritabilidade no esporte. O psicólogo poderá ajudar o indivíduo a nomear as suas emoções, ao mesmo tempo em que desenvolve mecanismos e ferramentas para lidar com o que sente no dia a dia.
A autoestima, a ressignificação dos ganhos e das perdas, entre outras ações, também poderão ser postas sobre a mesa com o auxílio do psicólogo.
Considere essa oportunidade de cuidar da sua saúde mental e busque apoio de profissionais da saúde mental.

Referências
CHIMINAZZO, João Guilherme Cren; MONTAGNER, Paulo Cesar. Treinamento esportivo e burnout: reflexões teóricas. Lecturas: revista digital de educación física y deportes, Buenos Aires, ano, v. 10, 2004.

DE ALBUQUERQUE, Carla Lopes; PAES, Rosângela Vieira Dornelas Câmara. TÉCNICAS DE REGULAÇÃO EMOCIONAL NO ESPORTE DE ALTO RENDIMENTO. LIVRO AVALIADO POR PARES E-BOOK DE DISTRIBUIÇÃO LIVRE E GRATUITA disponível em: link. p. 32, 2020.

NETO, Amarilio Ferreira et al. A violência no esporte-uma abordagem interdisciplinar. Motrivivência, n. 2, p. 49-52, 1989.