Pesquisar

Esclerose Múltipla

O que é a Esclerose Múltipla?

A esclerose múltipla é uma doença autoimune que acomete o sistema Nervoso Central.

A reação autoimune característica da doença causa inflamação e lesão da bainha de mielina — uma camada responsável pelo isolamento elétrico dos neurônios. Essa lesão se regenera com a formação de uma cicatriz (esclerose), o que dá origem ao nome da doença.

Quando isso acontece, a transmissão de impulsos nervosos fica comprometida, levando a uma variedade de sintomas que podem afetar funções motoras, sensoriais, cognitivas e emocionais.

Embora a esclerose múltipla possa afetar pessoas entre 15 e 60 anos, o início dos sintomas é mais comum entre os 20 e 40 anos de idade. A condição é rara na infância, sendo que menos de 5% dos casos ocorrem em indivíduos com menos de 18 anos. No entanto, quando afeta crianças, tende a se manifestar de forma mais grave, com surtos mais intensos e frequentes.

A doença evolui por meio de períodos de surtos, seguidos por fases de remissão. No início, os períodos de remissão podem ser longos, mas as crises tendem a se tornar mais frequentes com a progressão da doença.

Embora os pacientes costumem se recuperar bem após cada surto, essa recuperação pode ser incompleta, levando à deterioração progressiva ao longo do tempo.

Não há cura para a esclerose múltipla, mas o tratamento pode ajudar a controlar os sintomas e a retardar a progressão da doença.

Qual a causa da Esclerose Múltipla?

A causa exata da esclerose múltipla ainda é desconhecida. No entanto, acredita-se que a doença possa ser desencadeada por algum fator externo — como uma infecção ou exposição ambiental — que leve o organismo a desenvolver uma resposta imunológica anormal, conhecida como reação autoimune.

Nessa condição, o sistema imunológico passa a atacar erroneamente estruturas normais do próprio corpo – no caso, as células da bainha de mielina.

Quais os sintomas da Esclerose Múltipla?

Os sinais e sintomas da esclerose múltipla variam amplamente, dependendo da extensão do comprometimento nervoso e das regiões do sistema nervoso afetadas.

Entre os sintomas iniciais mais comuns, destacam-se:

  • Formigamento, dormência, dor, ardência ou coceira em braços, pernas, tronco ou face;
  • Perda de força ou destreza nos movimentos das pernas ou mãos — as articulações podem parecer rígidas;
  • Problemas de visão, como visão dupla ou turva;
  • Alterações na marcha e no equilíbrio, com tontura, vertigem e fadiga frequente.

Com a progressão da doença, os movimentos tornam-se trêmulos, irregulares e ineficazes.

Em alguns casos, o paciente pode evoluir para paralisia parcial ou total. Os músculos podem apresentar espasticidade, ou seja, permanecem contraídos continuamente, sem relaxamento adequado.

A fraqueza muscular e a espasticidade podem dificultar ou mesmo impedir a locomoção, sendo que alguns pacientes necessitam de cadeira de rodas.

Outros sintomas incluem:

  • Cãibras dolorosas nos membros;
  • Alterações na fala, como voz arrastada, sussurrada ou com pausas;
  • Distúrbios urinários, como urgência miccional, incontinência ou retenção de urina;
  • Constipação intestinal ou incontinência fecal;
  • Disfunção sexual, que pode afetar tanto o desejo quanto a função erétil ou a lubrificação.

Neurite óptica

Sintomas visuais são comuns na esclerose múltipla, tanto como manifestação inicial quanto ao longo da progressão da doença.

Esses sintomas ocorrem principalmente devido ao acometimento do nervo óptico, estrutura responsável por conduzir as imagens captadas pelos olhos até o cérebro, onde serão devidamente processadas.

A neurite óptica, inflamação do nervo óptico, representa a primeira manifestação da doença em cerca de 15% a 20% dos pacientes com esclerose múltipla. Além disso, mais da metade dos pacientes desenvolverão ao menos um episódio dessa condição ao longo do curso da doença.

É importante destacar, no entanto, que a neurite óptica não é exclusiva da esclerose múltipla. Ela pode ocorrer em outras doenças, tornando essencial uma avaliação médica especializada para o diagnóstico preciso.

Sinais e sintomas da Neurite óptica

A neurite óptica se manifesta, na maioria dos casos, como uma redução da acuidade visual que se desenvolve ao longo de algumas horas ou dias. Essa perda visual costuma ser acompanhada por dor durante os movimentos oculares.

A perda de visão é geralmente central e, na maior parte dos casos, não é grave. Alguns pacientes também podem apresentar dificuldade para diferenciar cores (discromatopsia), especialmente tons de vermelho e verde.

Normalmente, apenas um olho é afetado durante o episódio inicial.

A maioria dos pacientes começa a apresentar melhora espontânea em algumas semanas, com recuperação visual significativa — ou até total — em até um ano. A acuidade visual costuma retornar ao normal ou se aproximar bastante disso.

No entanto, alguns pacientes podem continuar com:

  • Dificuldade para distinguir cores;
  • Fotofobia (sensibilidade à luz);
  • Visão embaçada ou desbotada.

Em casos mais graves, principalmente quando há lesões extensas do nervo óptico evidenciadas por exames de imagem, a recuperação visual pode ser incompleta.

Além disso, é possível que ocorram recorrências da neurite óptica, afetando o mesmo olho ou o olho contralateral, o que exige acompanhamento neurológico contínuo.

Fatores de risco

Entre os fatores que aumentam o risco para a esclerose múltipla, incluem-se:

  • Idade: a esclerose múltipla geralmente se inicia entre os 20 e os 40 anos de idade.
  • Gênero: mulheres são duas a três vezes mais acometidas do que os homens.
  • Raça: pessoas de raça branca são mais acometidos do que negros e asiáticos.
  • Histórico familiar de Esclerose Múltipla.
  • Pacientes com outras doenças autoimunes, incluindo a Tireoidite de Hashimoto, Anemia Perniciosa, Psoríase, Diabetes tipo 1 ou doenças inflamatórias intestinais.
  • Certas infecções, especialmente a infecção pelo Vírus Epstein-Barr, que é o agente causador da mononucleose infecciosa.
  • Tabagismo
  • Baixos níveis de vitamina D e baixa exposição à luz solar.
  • Clima: a esclerose múltipla é muito mais comum em países com climas temperados, do que naqueles de clima mais quente.

Diagnóstico

Não existe um exame específico capaz de confirmar o diagnóstico de forma isolada. Por isso, o diagnóstico da EM é considerado clínico e de exclusão.

Na maioria dos casos, o diagnóstico é relativamente direto, baseado em um padrão típico de sinais e sintomas compatíveis com a doença.

Exame físico e histórico clínico

O médico neurologista avalia o histórico do paciente, a frequência e o tipo dos surtos, além dos achados no exame neurológico. A presença de surtos repetidos com recuperação parcial, afetando diferentes áreas do sistema nervoso central ao longo do tempo, é sugestiva da doença.

Exames complementares

Alguns exames ajudam a reforçar a hipótese diagnóstica, mas seus achados não são exclusivos da Esclerose Múltipla:

  • Ressonância magnética (RM): pode mostrar lesões desmielinizantes características, especialmente no cérebro e na medula espinhal.
  • Exame do líquor (líquido cefalorraquidiano): pode revelar bandas oligoclonais, indicando inflamação crônica.
  • Potenciais evocados: avaliam a condução elétrica nos nervos, podendo detectar comprometimento oculto de vias neurológicas.

Diagnóstico diferencial

É fundamental excluir outras doenças que causam sintomas semelhantes, como:

Um erro comum é considerar qualquer surto de desmielinização como Esclerose Múltipla. Por isso, o acompanhamento por um neurologista com experiência em doenças desmielinizantes é essencial para garantir um diagnóstico preciso.

Diagnóstico diferencial

A gama de distúrbios que podem simular a Esclerose Múltipla é vasta e em alguns casos a incerteza pode ser extremamente difícil de resolver.

O diagnóstico diferencial deve ser considerado a partir da história clínica, exame neurológico e achados de exames.

Um dos principais diagnósticos diferenciais é com a Neuromielite óptica. É uma condição com sintomas parecidos com os da Esclerose Múltipla, porém com maior gravidade. As crises tendem a produzir sintomas mais exacerbados e a recuperação tende a ser incompleta.

Tratamento da Esclerose Múltipla

Embora não haja cura para a Esclerose Múltipla, muitos pacientes vivem bem com a doença.

O tratamento tem como objetivos principais:

  • Acelerar a recuperação durante os surtos;
  • Reduzir a frequência e gravidade das crises;
  • Retardar a progressão da doença;
  • Controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida.
  1. Tratamento das crises

Durante os surtos agudos, o tratamento de escolha são os corticoides, geralmente administrados em altas doses por via oral ou intravenosa, dependendo da gravidade.

Nos casos resistentes aos corticoides, pode ser indicada a plasmaférese (troca de plasma) — um procedimento semelhante à hemodiálise, que remove os anticorpos do sangue que podem estar atacando o sistema nervoso central.

  1. Tratamento modificador da doença

Medicamentos modificadores da doença têm como objetivo diminuir a atividade inflamatória do sistema imune, reduzindo a frequência dos surtos e o risco de sequelas.

Um dos medicamentos mais utilizados é o Interferon Beta, um imunomodulador que:

  • Reduz o número de surtos;
  • Pode diminuir a gravidade dos episódios.

Atenção: O Interferon Beta pode causar efeitos colaterais, como:

  • Alterações hepáticas (exige monitoramento das enzimas do fígado);
  • Desenvolvimento de anticorpos neutralizantes, que podem diminuir sua eficácia.

Outros medicamentos modificadores da doença incluem:

  • Glatirâmer;
  • Natalizumabe;
  • Fingolimode;
  • Ocrelizumabe, entre outros.

A escolha do tratamento depende de vários fatores, incluindo tipo de EM, frequência dos surtos, idade, gravidade da doença e resposta anterior ao tratamento.

  1. Tratamento sintomático

O manejo dos sintomas crônicos e sequelas é essencial para manter a autonomia e a qualidade de vida do paciente. Pode incluir:

  • Fisioterapia: para manter a mobilidade, força e equilíbrio;
  • Tecnologia assistiva: órteses, bengalas, muletas ou cadeira de rodas;
  • Relaxantes musculares: para reduzir a espasticidade (rigidez muscular);
  • Medicamentos para tratar:
    • Dor crônica;
    • Depressão e ansiedade;
    • Distúrbios do sono;
    • Disfunção sexual;
    • Problemas urinários ou intestinais.

Qual o prognóstico da Esclerose Múltipla?

A Esclerose Múltipla raramente é fatal. Entretanto, alguns casos podem estar associadas a condições graves, como infecção urinária ou dificuldade para engolir alimentos.

Sem tratamento, a tendência é que o paciente precise de algum apoio para caminhar cerca de 15 a 20 anos após o diagnóstico e precise de cadeiras de rodas entre 25 e 30 anos após o diagnóstico. Esses prazos têm se extendido significativamente com o tratamento adequado.
A expectativa de vida média para pessoas com EM é cerca de 5 a 10 anos menor que a média populacional. Entretanto, essa diferença parece estar diminuindo com as novas opções de tratamento.

Outras fontes de informação

Nota: esta lista inclui algumas associações e sites com informações que considero estarem bem organizadas, didáticas e com embasamento científico, mas não necessariamente significa que estas são as únicas fontes confiáveis de informação.

Amigos Múltiplos pela Esclerose (AME-CDD)

https://amigosmultiplos.org.br

https://cdd.org.br/patologias/neuromielite-optica/

https://youtube.com/@AmigosMultiplospelaEsclerose

https://instagram.com/amigosmultiplos

https://instagram.com/cddcronicos

 

Associação Brasileira de Esclerose Múltipla (ABEM)

https://www.abem.org.br

 

National Multiple Sclerosis Society (NMSS)

https://www.nationalmssociety.org

 

NMO Brasil

https://www.nmobrasil.com.br

 

Guthy Jackson Charitable Foundation (NMO)

https://guthyjacksonfoundation.org

 

ECTRIMS

https://ectrims.eu

https://ectrims.conference2web.com – Online Library (material técnico e para sociedade)

 

Multiple Sclerosis Brain Health: um pouco de tudo, de informações técnicas a história de tratamentos, incluindo informações sobre importância de boa alimentação e atividade física para um bom cuidado de pessoas com EM

https://www.msbrainhealth.org

 

EM Forma: grupo espanhol com orientação sobre atividade física para EM

https://emforma.esclerosismultiple.com

 

Terry Wahls / The Wahls Protocol: alimentação em doenças autoimunes

https://terrywahls.com