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Doping

Qual a importância da educação em doping para o atleta?

Atletas profissionais e outros que participam de competições esportivas oficiais serão eventualmente submetidos a testes antidoping, para a detecção de substância proibidas no esporte.

Muitos associam o doping ao uso de anabolizantes e outras substâncias com o objetivo claro de ganho de desempenho esportivo. Como a maioria dos esportistas não têm de fato o objetivo de “jogar sujo”, este pode parecer um assunto de menor relevância para alguns, o que não é verdade.

Frequentemente, vemos no noticiário atletas atônitos frente a um teste antidoping positivo. Alguns alegam que não sabem como a substância proibida foi parar no seu corpo, outros culpam a equipe médica, outros culpam a contaminação por suplementos alimentares, outros referem ter feito uso de medicamentos para tratar problemas de saúde sem saber que a medicação era proibida.

Na maior parte das vezes, isso não é uma mera desculpa. A lista de substâncias proibidas vai muito além dos esteroides anabolizantes. Estima-se que cerca de 75% dos casos de doping não estejam de fato associados ao uso intencional com o objetivo de ganho de desempenho esportivo, mas sim a um dos motivos elencados acima.

Infelizmente, quando isso acontece, já é tarde demais. A Agência Mundial Antidopagem (WADA – World Anti-Doping Agency) considera que o atleta é o responsável final por tudo aquilo que for encontrado no seu corpo. Isso significa que não adianta culpar treinador, médico ou quem quer que seja: eles podem até ser punidos, mas isso não livrará o atleta da culpa e da punição.

Violação das leis antidoping

O doping é habitualmente associado à identificação de uma substância proibida na urina ou sangue de um atleta. Entretanto, existem diferentes formas de violação que também podem ser caracterizados como violação à legislação antidoping e que são igualmente punidas.

De acordo com o Código Mundial Antidoping, existem 11 possíveis violações das regras antidoping:

  1. Presença de uma substância proibida ou seus metabólitos ou marcadores na amostra de um atleta.
  2. Uso ou tentativa de uso de uma substância proibida ou método proibido.
  3. Evasão, recusa ou falha em submeter-se à coleta de amostra.
  4. Três falhas com o whereabouts
  5. Adulteração ou tentativa de adulteração de uma amostra.
  6. Posse de substâncias e métodos proibidos.
  7. Tráfico ou tentativa de tráfico de substâncias com a finalidade de doping;
  8. Administração ou tentativa de administração;
  9. Cumplicidade;
  10. Associação com profissionais (médicos, treinadores, outros) que estejam cumprindo punição por doping
  11. Ofensa, retaliação ou intimidação de alguém que tenha feito uma denúncia de doping

Quais as causas mais comuns de doping involuntário?

Tratamento médico

Muitas das substâncias proibidas são usadas regularmente no dia a dia para o tratamento de gripes e resfriados, dor de cabeça, dores em geral, asma e problemas de pele, entre outros. Muitas destas medicações podem ser facilmente compradas na farmácia sem prescrição médica. 

Eventualmente, os atletas são atendidos por médicos que não vivem o dia a dia do esporte e que não estão acostumados à legislação antidoping. Isso pode trazer duas consequências:

  • A prescrição de medicamentos proibidos, que poderão resultar em um teste antidoping positivo;
  • A não prescrição de determinados tipos de medicamentos, devido ao medo que o médico tem de que possa aquela substância possa estar associado ao doping, deixando o atleta insuficientemente tratado.

A melhor forma de se evitar uma punição por doping é conhecer o regulamento antidoping e ter cautela antes de ingerir qualquer medicamento, vitamina ou suplemento alimentar. Ter um Médico do esporte com conhecimento das regras antidoping facilmente acessível e que possa ajudar a orientar o atleta e outros profissionais que venham a atendê-lo, é sempre a melhor alternativa. 

De qualquer forma, é sempre importante que o atleta saiba como e onde pesquisar se uma medicação faz parte da lista de substâncias proibidas, o que discutiremos mais adiante.

Contaminação de suplementos alimentares

O uso de suplementos alimentares, vitaminas e medicações manipuladas, fitoterápicas ou homeopáticas por atletas deve ser considerado com cautela pelos atletas sujeitos à realização de testes antidoping. Estudos realizados em diversos países mostraram que 12 a 58% de todos os suplementos alimentares destinados a esportistas contêm substâncias proibidas pelo Código Mundial Antidopagem.

Em alguns casos, as substâncias dopantes não são declaradas no rótulo do produto e, portanto, o atleta pode desconhecer que esteja consumindo uma substancia dopante. Muitas das substâncias podem inclusive causarem efeitos adversos à saúde. A concentração dessas substâncias contaminantes é geralmente baixa, mas ainda assim rastreável em uma amostra, já que as análises são extremamente sensíveis.

O risco de contaminação é maior nos suplementos que prometem aumentar o desempenho físico ou cognitivo e / ou ajudariam a modificar a aparência do corpo (principalmente a perda de peso). No entanto, substâncias dopantes também foram detectadas até mesmo em suplementos vitamínicos.
A contaminação dos suplementos pode acontecer de duas formas:

  • Contaminação cruzada: os suplementos possuem um menor controle de produção quando comparado aos medicamentos. Eventualmente, podem conter pequenas amostras de outros suplementos, os quais continham a substância dopante;
  • Contaminação deliberada: acredita-se que alguns casos de contaminações sejam causados por empresas que deliberadamente adicionam substâncias dopantes a suplementos alimentares para aumentar seu efeito e, assim, aumentar as vendas.

Devido às dificuldades de controle, a Agência mundial Antidopagem (WADA), Agência antidopagem dos Estados Unidos (USADA), do Brasil (ABCD) e outras não recomendam qualquer tipo ou marca de suplemento alimentar. O uso, quando feito, é por conta e risco do atleta, que fica sujeito a punição, caso acabe por se dopar incidentalmente.

Consumo de carne contaminada

Ainda que a prática seja proibida na maior parte dos países, o uso de esteroides anabolizantes para engordar o gado é uma prática comum em alguns locais, especialmente México e China, mas também já foi detectado em países da América do Sul e outros. Eventualmente, o consumo destes alimentos poderá levar a um resultado de teste anti-doping positivo. O Clembuterol é o principal responsável pela contaminação da carne por substâncias dopantes.

Conceitos por trás da lista antidoping

O objetivo do controle antidoping é impedir o uso de substâncias e métodos prejudiciais à saúde com o objetivo de melhora no desempenho, garantindo o direito dos atletas a uma competição justa e limpa.

O conceito de doping pela WADA é baseado em três critérios:

  • Melhoria do desempenho esportivo;
  • Risco para a saúde do atleta;
  • Violação do espírito esportivo.

Quando dois desses três critérios estão presentes em uma substância ou em um método, ocorre a possibilidade de ela ser incluída na lista de substâncias proibidas.

O conceito de “violar o espírito do esporte” pode dar origem a interpretações subjetivas. Os canabinóides, como o haxixe e a maconha, são exemplos de substâncias consideradas dopantes por serem prejudiciais à saúde do atleta e contrárias aos valores fundamentais do esporte, embora a relação entre o uso destas substâncias e a melhora do desempenho seja bastante frágil.

Lista de substâncias proibidas

A WADA atualiza anualmente a lista de substâncias e métodos proibidos. A lista é válida a partir de 1º de janeiro de cada ano e geralmente é atualizada e aprovada pelo Comitê Executivo da WADA no último trimestre do ano anterior, para depois ser publicada no site da WADA: www.wada-ama.org.

A lista é dividida em três partes:

  • Substâncias e métodos permanentemente proibidos (S0 a S5, M1 a M3);
classe
S0 Substâncias não aprovadas
S1 Esteróides anabolizantes
S2 Hormônios peptídicos, fatores de crescimento e substâncias correlatas
S3 Beta 2 agonistas
S4 Hormônios e moduladores metabólicos
S5 Diuréticos e agentes mascarantes
M1 Manipulação sanguínea ou de componentes sanguíneos
M2 Manipulação física ou química
M3 Doping genético ou celular

 

  • Substâncias proibidas apenas no período de competição (S6 a S9);
Classe
S6 Estimulantes
S7 Narcóticos
S8 Canabinóides
S9 Glucocorticoides

 

  • Substâncias proibidas em esportes específicos (P1).
Classe
P1 Betabloqueadores

 

Vale aqui a consideração de que no caso das substâncias proibidas apenas em competições é preciso que a urina esteja completamente livre da substância e seus metabólitos no momento do teste, o que significa que eles precisam ser interrompidos com uma certa antecedência. Este tempo varia de acordo com a substância e também de atleta para atleta.

Para consultar se um medicamento contém alguma substância proibida, existem duas formas: através do site da WADA, onde as substâncias aparecerão com o nome do seu principio ativo, ou através do site globaldro.com, referendado pelos comitês olímpicos de 7 paises, incluindo Estados Unidos, Canadá e Reino Unido. A vantagem do globaldro.com é que as drogas aparecem pelos nomes comerciais; a desvantagem é que apenas os medicamentos vendidos nestes países estão incluídos, precisando encontrar um análogo das medicações vendidas no Brasil.

Isenção para uso terapêutico (AUT / TUE)

A isenção para uso terapêutico (AUT), muitas vezes referida com o seu nome em inglês (TUE – Terapeutic Use Exemption), é uma liberação para que atletas sujeitos à realização de testes antidoping possam utilizar uma medicação contendo uma substância proibida de acordo com a lei antidoping.

Para que a TUE seja concedida, são considerados os seguintes critérios:

  • A substância proibida é necessária para tratar uma condição médica aguda ou crônica, de modo que a suspensão ou a não utilização da substância piorem significativamente os sintomas;
  • A substância proibida não pode melhorar o desempenho físico além do que seria esperado com o simples tratamento e restabelecimento do estado normal de saúde do atleta;
  • Não há outras alternativas baseadas em evidências ao uso da substância proibida. Em outras palavras – a substância proibida deve ser considerada insubstituível no tratamento da condição médica do atleta;
  • A necessidade do uso da substância proibida não deve ser resultado do uso não terapêutico prévio de qualquer substância ou método proibido pela WADA.

A WADA tem publicado diretrizes específicas para guiar o processo de concessão ou não de uma AUT para cada classe de substâncias:

 Mesmo medicações usadas com uma finalidade terapêutica comprovada podem não ter o uso autorizado e o seu uso previamente à concessão da AUT será considerado ilícito, mesmo que a autorização venha a ser concedida posteriormente. 

Exceção a isso ocorre nas situações nas quais a medicação proibida foi administrada em decorrência de uma emergência médica. Um exemplo disso é um atleta que recebeu sangue após um trauma. Neste caso, o atleta deverá fazer uma solicitação retroativa da AUT.

De acordo com um estudo publicado em 2018 no British Journal of Sports Medicine (1), com dados referentes a 5 edições de jogos olímpicos de verão ou de inverno, foram expedidas 215 autorizações para uso terapêutico para 181 atletas diferentes, o que significa que 0,9% dos atletas competiram com uma AUT. A distribuição das AUT, de acordo com as classes de medicamentos, foi a seguinte:

CLASSE SUBSTÂNCIA HOMENS MULHERES  TOTAL
S1 Esteroides anabolizantes 0 2 2
S2 Hormônios peptídeos, fatores de crescimento e substâncias correlatas 8 3 11
S3 Beta 2 agonistas 59 34 93
S4 Hormônios e moduladores metabólicos 5 3 8
S2/S4 Insulina (mudou de categoria) 13 2 15
S5 Diuréticos e agentes mascarantes 1 2 3
S6 Estimulantes 4 21 25
S7 Narcóticos 3 2 5
S8 Canabinoides 0 0 0
S9 Glucocorticoides 30 17 47
M1 Manipulação do sangue e componentes sanguíneos 0 0 0
M2 Manipulação física e química 1 5 6
M3 Doping celular e genético 0 0 0
P1 Betabloqueadores (proibido em determinados esportes) 0 0 0
total 124 91 215

Drogas mais comuns para o doping

De acordo com o relatório da WADA, a distribuição dos casos de doping no ano de 2019 entre as diferentes classes foi a seguinte:

 

CLASSE SUBSTÂNCIA Eventos Analíticos Adversos % do total de eventos analíticos adversos
S1 Esteroides anabolizantes 1825 44%
S6 estimulantes 611 15%
S5 Diuréticos e agentes mascarantes 677 16%
S4 Hormônios e moduladores metabólicos 362 9%
S9 glucocorticoides 230 6%
S3 Beta 2 agonistas 153 4%
S8 canabinoides 130 3%
S2 Hormônios peptídicos, fator de crescimento e substâncias correlatas 138 3%
S7 narcóticos 30 1%
P1 Beta bloqueadores 20 0.5%
M1 Manipulação do sangue e componentes sanguíneos 2 0.05%
M2 Manipulação física e química 2 0.05%
total 4180 100%

 

Em relação às substâncias dopantes, a tabela abaixo mostra quais foram as mais comuns em 2019:

 

Substância classe Eventos Analíticos Adversos % do total de eventos analíticos adversos
Estanozolol S1 267
clembuterol S1 199
Furosemida S5 199
Drostanolona S1 163
19-norandrosterona S1 162
Testosterona compatível com origem exógena S1 147
Hidroclorotiazida S5 141
Metilfenidrato S6 133
THC S8 130
Boldenona S1 120
Metandienona S1 113
Anfetamina S6 93
Oxandrolona S1 92
Dihidroclorometiltestosterona S1 90
Eritropoetina (EPO) S2 83
Metenolona S1 80
Tamoxifeno S4 80
Terbutalina S3 79
Meldonium S4 79
Cocaina S6 77
enobosarmo (ostarina) S1 74
Clomifeno S4 73
Trembolona S1 69
Canrenona S5 69
LGD-4033 (ligandrol) S1 62
Prednisolona  S9 60
Prednisona S9 57
Dorzolamida S5 50
Clorotiazida S5 48
Higenamina S3 46
Triancinolona S9 44
Mesterolona S1 38
Anastrozole S4 38
Metilexaneamina S6 35
Dimetilpentilamina S6 33
GW 1516 S4 32
Metasterona S1 31
Letrozole S4 30
Mefentermina S6 30
Clostebol S1 28
Probenecida S5 27
Heptaminol S6 26
Trianterene S5 25
Betametasona S9 23
Efedrina  S6 22
Metilprednisolona S9 20
Espironolactona S5 18
Dimetilexilamina S6 18
Torasemida S5 16
Oxilofrina S6 16
Indapamida S5 15
metiltestosterona S1 14
Gonadotrofina coriônica humana  S2 14
Amilorida S5 14
Ibutamoren S2 13
Acetazolamida S5 13
Sibutramina S6 13
Oximetolona S1 12
Tibolona  S1 12
Pentermina S6 12
Salbutamol S3 11
Dexametasona S9 11