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Desafios Nutricionais para o idoso

O que é a Desnutrição no Idoso?

A desnutrição no idoso é um problema relacionado à deficiência de proteína e energia. Ela pode ou não estar associada à deficiência de micronutrientes (vitaminas e minerais). 

Este é um problema mais comum do que se faz parecer. A desnutrição é vista em:

  • Mais de 10% dos idosos na comunidade (1);
  • 10 a 50% dos idosos internados por uma condição aguda;
  • Até 70% dos idosos institucionalizados (2, 3). 

Ainda que muitas vezes vista como um problema relacionado a população de baixa renda com acesso limitado a alimentos, a desnutrição afeta idosos nas diferentes classes sociais e por um conjunto de causas.

A desnutrição pode ser tanto causa como consequência de diversos problemas de saúde comuns à população idosa.

 

Deficiência de proteínas

As recomendações para consumo de proteína entre idosos são até maior do que o recomendado para adultos jovens, devido a uma maior perda proteica a ser reposta. A ingesta alimentar, por outro lado, tende a diminuir 30% em média.

Além disso, a proteína tende a ter uma digestão mais difícil e demorada, dando uma maior sensação de empaixamento. Isso faz com que até de forma involuntária seja comum que o idoso reduza gradativamente o consumo de alimentos ricos em proteína.

 

Deficiência de micronutrientes

Micronutrientes são nutrientes que o organismo precisa em pequenas quantidades, mas que são essenciais para o seu funcionamento. Eles são compostos por vitaminas e minerais

As razões para a ingestão insuficiente de micronutrientes variam:

  • Baixa quantidade de alimentos;
  • Escolha inadequada dos alimentos;
  • Falta de variedade na alimentação.
  • Uso de certos medicamentos que pode interferir no metabolismo de micronutrientes

Descrevemos abaixo as deficiências de micronutrientes mais comuns.

 

Deficiência de Cálcio e Vitamina D

O Cálcio está presente especialmente nos leites e seus derivados (queijos, iogurte, outros) e também em produtos de origem vegetal (folhas verde escuras, brócolis). Muitos idosos consomem quantidades insuficientes desses produtos, levando à deficiência do cálcio.

Além disso, o metabolismo do cálcio depende da Vitamina D. A vitamina D é formada na pele a partir da exposição solar, que muitas vezes é limitado nos idosos.

A deficiência da vitamina D pode ser detectada por meio de um exame de sangue. Já a deficiência do cálcio não. Embora o cálcio possa ser dosado no exame de sangue, ele tende a estar normal mesmo nos pacientes com deficiência. Isso porque, para manter a quantidade de cálcio em circulação normal, o organismo vai gradativamente removendo cálcio dos ossos.

A principal consequência da falta de cálcio e de Vitamina D é o osteopenia e a osteoporose, que por sua faz leva a um aumento no risco de fratura entre os idosos. Além disso, a deficiência de cálcio pode ter relação com câimbras noturnas, formigamento, insônia e diminuição da memória.

 

Deficiência de Zinco

O zinco é um mineral importante para a síntese e funcionamento de várias proteínas. Assim, ele está relacionado a funções como saúde óssea, imunidade e regulação do apetite, entre outras.

A deficiência de zinco também compromete a absorção de outros nutrientes, podendo provocar perda de apetite e perda de peso corporal

O zinco está presente especialmente na carne vermelha e também em produtos de origem vegetal como semente de abóbora, gérmen de trigo e grãos integrais.

A deficiência do mineral pode ser identificada por meio de um exame de rotina.

 

Deficiência de ferro entre idosos

A deficiência de ferro é muito comum na população idosa e pode levar a um quadro de anemia. Diferentes fatores podem contribuir para a deficiência de ferro no idoso, incluindo a diminuição da ingestão alimentar, uso de múltiplos medicamentos, má absorção gastrointestinal e sangramento oculto.

Inicialmente, o paciente apresenta uma perda gradativa dos estoques de ferro, que pode ser medida por meio de um exame de ferritina sérica. Quando esses estoques se tornam insuficientes, o paciente vem a desenvolver a anemia, que é a redução dos glóbulos vermelhos (hemoglobina) presentes no sangue.

Vale aqui lembrar que nem todos os quadros de anemia estão relacionados à deficiência de ferro. O hemograma, feito como parte de um exame de sangue, além de identificar a anemia, trás diversos outros parâmetro que ajuda na diferenciação da causa da anemia.

 

Deficiência de Vitaminas do Coplexo B

As vitaminas do complexo B consistem em um grupo de oito vitaminas hidrossolúveis, que têm funções inter-relacionadas na manutenção da função celular e cerebral.

A deficiência das vitaminas B12, B6 e folato (B9) afeta o funcionamento cognitivo e é acompanhada de sintomas de depressão prevalentes entre os adultos mais velhos.

 

Sinais clínicos da Desnutrição no Idoso

Os sinais e sintomas da desnutrição no idoso incluem:

  • Imunidade reduzida;
  • Cicatrização retardada de feridas; 
  • Redução da força muscular;
  • Pele frágil;
  • Dificuldade de concentração, apatia ou irritabilidade;
  • Falta de apetite.

A redução da força muscular, por sua vez, está por trás da maior parte das dores osteoarticulares na população idosa. Além disso, ela tem um impacto negativo na reabilitação de muitos destes problemas.

Diagnóstico da Desnutrição

A Desnutrição no idoso pode ser caracterizada em qualquer uma das seguintes condições:

  • Índice de Massa Corporal (IMC) < 18,5 kg/m2;
  • Perda de peso não intencional > 10% nos últimos três a seis meses;
  • IMC < 20 kg/m2 e perda de peso não intencional > 5% nos últimos três a seis meses.

Os exames laboratoriais não são úteis para diagnosticar a desnutrição. No entanto, alguns exames podem ser necessários para detectar deficiências específicas, como ferro, folato e vitamina B12.

O aparecimento da Desnutrição no idoso é muitas vezes gradual e, portanto, difícil de detectar.

Quais as causas da Desnutrição no Idoso?

O idoso tende a ter uma redução tanto no consumo energético como no gasto energético. Quando a redução na absorção de energia é maior do que a diminuição no uso de energia, então há perda de peso (4).

A menor absorção de energia, por sua vez, pode ser decorrente tanto de um menor consumo como de uma menor absorção de certos nutrientes.

Redução no apetite

O apetite e a ingestão de alimentos geralmente diminuem com o envelhecimento. As pessoas mais velhas tendem a ter menos fome do que as mais jovens, fazem refeições menores, fazem menos lanches entre as refeições e também comem mais devagar.

Entre os 20 e os 80 anos, há, em média, uma diminuição da ingestão energética de aproximadamente 30% (5).

Digestão e absorção de alimentos

A capacidade do organismo de absorver nutrientes, especialmente certas vitaminas e minerais, pode ficar prejudicada com o avanço da idade.

Além disso, algumas doenças comuns aos idosos, como câncer, gastrite, diarreia ou constipação crônica também podem comprometer a absorção de certos alimentos.

Tratamento da Desnutrição no Idoso

O suporte nutricional não se limita ao fornecimento de suplementos alimentares ou alimentação enteral (por sonda). 

O primeiro passo deve ser sempre otimizar o consumo de alimentos reais. Isso pode incluir o aumento da frequência das refeições e uma melhor escolha nos alimentos e bebidas.

As diretrizes de alimentação saudável para a população em geral habitualmente promovem escolhas alimentares com baixo teor de gordura e baixo teor de açúcar. 

Entretanto, nos pacientes idosos com risco para desnutrição, é preciso pesar os riscos e benefícios desses alimentos.

Em muitos casos, a gordura e o açúcar podem ser importantes aliados como fontes concentradas de calorias.

Ao contrário do que diz a maior parte das diretrizes, pode-se também optar pelo consumo de líquidos nutritivos, como bebidas lácteas, sopas ou suco de frutas, em vez de água ou chá.

Finalmente, a sobremesa uma opção regular, ao invés de deleite para ocasiões especiais.

Na tabela abaixo, mostramos uma série de problemas que podem estar associados a um menor consumo de alimentos, com possíveis soluções para cada um deles.

Problema solução
Perda de apetite
  • Avaliar os medicamentos: certos medicamentos podem afetar o apetite. O ajuste na dose ou nos horários das tomadas pede ser considerado em alguns casos.
  • Incentivar a alimentação frequente e com pequenas porções
  • Priorizar o consumo de alimentos ricos em energia e proteína.
  • Consumir bebidas fora do horário das refeições, uma vez que elas diminuem o apetite.
  • Uma curta caminhada antes das refeições pode ser útil
  • Prover tempo suficiente para as refeições, evitando-se refeições muito rápidas.
Problemas de mastigação
  • Cuidar da saúde bucal e dental;
  • Priorizar alimentos macios e que exigem pouca mastigação.
Dificuldades de deglutição
  • Considerar avaliação fonoaudióloga;
  • Modificar a consistência dos alimentos.
dificuldade em obter ou preparar alimentos
  • Usar alimentos convenientes: refeições congeladas, enlatados, sobremesas prontas, barras de cereais;
  • Preparar lanches e refeições para comer mais tarde ou para guardar no congelador;
  • Fortificar os alimentos com gorduras e açúcar extra: adição de óleo, manteiga, creme, queijo, molhos, açúcar, mel e cremes para aumentar a ingestão de energia.
Problemas de mobilidade
  • Garantir que a assistência para compras e preparação de alimentos esteja disponível
Isolamento social e depressão
  • Considerar aconselhamento específico

Suplementos Alimentares

Os suplementos alimentares são recursos adicionais para aumentar a ingestão de proteínas, energia e micronutrientes. Para isso, eles devem ser usados ​​adequadamente e como parte de uma combinação de estratégias de suporte nutricional.

Por outro lado, alguns fatores podem limitar o sucesso do tratamento com os suplementos, incluindo:

  • Baixa palatabilidade;
  • Risco de efeitos adversos, como náusea e diarreia;
  • Aspectos financeiros.

Alguns estudos mostraram que pode haver uma diminuição no consumo de alimentos reais após a introdução dos suplementos nutricionais (6). Entretanto, outros efeitos refutam este efeito sobre o apetite (7).

Para minimizar este efeito, os suplementos alimentares devem ser administrados entre as refeições, não junto com elas.

Alimentação por sonda (alimentação enteral)

A alimentação por sonda envolve a introdução de um tubo inserido pelo nariz e direcionado até o estômago (sonda nasogástrica) ou até o intestino delgado (sonda nasoenteral).

Alternativamente, a sonda pode ser introduzida através da pele no abdome e direcionada até o estômago (gastrostomia). Isso geralmente é feito quando a expectativa de utilização da sonda for por um prazo superior a quatro semanas.

A alimentação por sonda deve ser considerada para pessoas que não podem comer e beber com segurança, geralmente em decorrência de um problema que limita a capacidade de mastigar ou deglutir um alimento.

O uso de alimentação por sonda em pessoas com doenças crônicas é controverso, especialmente quando usado para pessoas com demência.

A decisão sobre o uso de alimentação por sonda deve ser sempre feita de forma individual com a contribuição de familiares, cuidadores, clínico geral, terapeutas e, se necessário, representação legal.

Nutrição Parenteral

A nutrição parenteral é um método no qual os nutrientes são introduzidos diretamente no sistema venoso, evitando assim o sistema digestivo. Em geral, é usado em ambiente hospitalar em decorrência de um problema temporário ou em um paciente terminal.