Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
O que é a TDAH?
O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) caracteriza-se pela combinação de sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade.
Algumas pessoas apresentam principalmente sintomas de déficit de atenção, outras predominam com sintomas de hiperatividade, e outras ainda apresentam uma combinação de ambos.
A desatenção e/ou hiperatividade no TDAH é persistente, interferindo no desenvolvimento normal do indivíduo, bem como em suas atividades acadêmicas e sociais.
O TDAH pode afetar pessoas de qualquer idade. Embora o diagnóstico possa ser feito em idades mais avançadas, os sintomas precisam estar presentes antes dos 12 anos de idade, de acordo com a definição do transtorno.
Os sintomas de hiperatividade e impulsividade tendem a melhorar com o crescimento da criança, enquanto os sintomas de déficit de atenção costumam persistir.
A prevalência do TDAH é de 5% entre crianças e 2,5% entre adolescentes e adultos.
O diagnóstico é realizado por um Médico Psiquiatra ou Médico Neurologista, a partir da história clínica do paciente. Para chegar a uma conclusão, é necessário excluir outros transtornos mentais, como o Transtorno bipolar e o transtorno de personalidade.
Quais as causas do TDAH?
O TDAH é um dos transtornos psiquiátricos mais bem estudados no mundo.
Apesar disso, há um questionamento contínuo sobre suas causas, e até o momento não existe consenso científico sobre o tema.
Provavelmente, diferentes fatores estão envolvidos, incluindo influências genéticas e ambientais. Cada indivíduo pode ter causas distintas para o transtorno.
O TDAH não está relacionado a fatores culturais ou conflitos psicológicos, mas sim a pequenas alterações na região frontal do cérebro, responsável pela inibição do comportamento e pelo controle da atenção.
Sintomas e Critérios Diagnósticos
Muitas pessoas associam a Hiperatividade a uma pessoa muito ativa, que gosta muito de correr e de se exercitar – o que deve ser considerado algo positivo, não um transtorno.
No entanto, pessoas com TDAH simplesmente não conseguem permanecer paradas ou concentradas em uma atividade. Em uma sala de aula, por exemplo, é aquela criança que está sempre movendo os pés e as mãos, sem conseguir se manter atenta.
O diagnóstico é feito com base nos critérios do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5).
O DSM-5 considera 9 sinais e sintomas de desatenção e 9 de hiperatividade/impulsividade para o diagnóstico. Com base nesses critérios, o TDAH pode ser caracterizado em três tipos diferentes:
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Desatenção predominante: pelo menos 6 sinais e sintomas de desatenção.
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Hiperatividade/impulsividade predominante: pelo menos 6 sinais e sintomas de hiperatividade e impulsividade.
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Combinado: pelo menos 6 sinais de desatenção e 6 sinais de hiperatividade/impulsividade.
Para que cada um dos sinais e sintomas seja considerado, é necessário que:
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Estejam presentes muitas vezes por ≥ 6 meses;
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Sejam mais pronunciados do que o esperado para o nível de desenvolvimento da criança;
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Ocorram em pelo menos 2 situações (ex.: casa e escola);
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Estejam presentes antes dos 12 anos de idade (pelo menos alguns sintomas);
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Interfiram na capacidade funcional da criança em casa, na escola ou no trabalho.
Sintomas de desatenção:
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Não presta atenção a detalhes ou comete erros descuidados em trabalhos escolares ou outras atividades.
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Tem dificuldade em manter a atenção em tarefas escolares ou durante jogos.
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Não parece prestar atenção quando é abordado diretamente.
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Não segue instruções e não conclui tarefas.
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Tem dificuldade para organizar tarefas e atividades.
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Evita, não gosta ou é relutante em se envolver em tarefas que requerem esforço mental contínuo.
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Frequentemente perde objetos necessários para tarefas ou atividades escolares.
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Distrai-se facilmente.
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Esquece-se das atividades diárias.
Sintomas de hiperatividade e impulsividade:
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Movimenta ou torce as mãos e os pés com frequência.
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Frequentemente se move pela sala de aula ou outros ambientes.
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Corre ou escala excessivamente quando não é apropriado.
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Tem dificuldades em brincar tranquilamente.
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Frequentemente se movimenta e age como se estivesse “ligado na tomada”.
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Costuma falar demais.
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Frequentemente responde abruptamente às perguntas, antes mesmo que elas sejam completadas.
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Frequentemente tem dificuldade em aguardar a sua vez.
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Frequentemente interrompe os outros ou se intromete em atividades.
TDAH em adultos
Um dos critérios diagnósticos do TDAH é que os sintomas tenham origem antes dos 12 anos de idade, embora, em alguns casos, eles só possam ser percebidos e compreendidos mais tarde na vida.
Isso pode ocorrer à medida que as demandas se tornam mais complexas, como na entrada no ensino superior, no mercado de trabalho, ou quando a pessoa sai de casa para morar sozinha. No entanto, durante a avaliação médica, observa-se que, de alguma forma, a maioria dos sintomas já acompanhava o paciente por um longo período.
Muitas pessoas com TDAH podem passar a vida inteira sem um diagnóstico, especialmente quando suas atividades profissionais exigem menos atenção e concentração.
Estima-se que 2/3 das crianças com TDAH continuem apresentando sintomas na idade adulta, embora, na maioria dos casos, esses sintomas se manifestem com menor intensidade.
Como regra geral, os sintomas de hiperatividade e impulsividade tendem a melhorar com o crescimento da criança, enquanto os sintomas de déficit de atenção costumam persistir ou até se tornar mais evidentes à medida que a pessoa envelhece.
Tratamento do TDAH
O tratamento para TDAH deve ser multidiciplinar e deve envolver profissionais da área médica, de saúde mental e pedagógica.
Ao invés de seguir um plano padronizado, o tratamento deve ser individualizado, levando-se em conta os prejuízos causados pelo transtorno no cotidiano de cada paciente.
Alguns podem se resolver bem com medidas comportamentais e terapia. Nos casos mais graves ou com resposta insuficiente às medidas comportamentais, a medicação é um complemento necessário.
Tratamento sem medicamentos
Uma pessoa com TDAH que esteja seguindo seu tratamento corretamente tem grande probabilidade de controlar ou desenvolver estratégias para contornar os sintomas, alcançando sucesso tanto na vida pessoal quanto profissional.
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é a principal modalidade de tratamento não medicamentoso para o TDAH.
Entre as estratégias usadas para “contornar” esses desafios, devemos considerar:
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Praticar exercícios físicos: O exercício ajuda a aliviar o estresse, melhorar o humor, acalmar a mente e gastar o excesso de energia típico de pessoas com TDAH.
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Melhorar a qualidade do sono: Dormir poucas horas aumenta os sintomas do TDAH, diminuindo a capacidade de manter o foco durante o dia. Discutimos mais sobre o tratamento da insônia em um artigo específico.
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Melhorar a alimentação: Mantenha uma dieta com pouco açúcar e alimentos de fácil digestão. Isso ajuda a reduzir a distração, a hiperatividade e os níveis de estresse.
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Melhorar a organização: Use agendas para anotar compromissos, guarde objetos em lugares específicos, defina locais para chaves, contas e documentos, e faça listas antes de sair para as compras.
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Evitar procrastinação: Procure não deixar tarefas para depois.
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Definir prioridades: Reserve mais tempo para uma atividade do que você imagina que será necessário para realizá-la.
Tratamento Medicamentoso
A medicação para o tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é recomendada sempre que houver prejuízo funcional significativo. Essa indicação deve ocorrer apenas quando o prejuízo não puder ser explicado por outros fatores e quando intervenções não medicamentosas, como psicoterapia e orientações comportamentais, se mostrarem insuficientes.
Esse prejuízo funcional pode se manifestar por meio de alterações na dinâmica familiar, conflitos com amigos, instabilidade emocional, oscilações de humor ou baixo rendimento escolar.
Principais medicamentos utilizados no tratamento do TDAH
Os principais psicoestimulantes utilizados no tratamento do TDAH são:
- Metilfenidato (Ritalina)
- Lisdexanfetamina (Venvanse)
- Modafinila (Stavigile)
Esses medicamentos atuam, por diferentes mecanismos, na fenda sináptica do cérebro, inibindo a recaptação dos neurotransmissores dopamina e noradrenalina. Essa ação ajuda a regular a atividade elétrica cerebral, melhorando a atenção, o controle dos impulsos e a hiperatividade.
Além dos psicoestimulantes, outros medicamentos podem ser indicados em casos de comorbidades, como ansiedade ou depressão, ou quando há intolerância aos efeitos colaterais dos estimulantes. Nesses casos, é fundamental o acompanhamento com um profissional especializado para avaliação e ajuste do tratamento conforme a resposta de cada paciente.
Quais são os efeitos colaterais dos medicamentos para TDAH?
Estudos mostram que cerca de 70% dos pacientes respondem de forma moderada a excelente aos estimulantes. No entanto, aproximadamente 30% têm resposta insatisfatória. Ainda assim, a adesão ao tratamento é relativamente baixa, em grande parte pelo receio dos pais em administrar medicamentos tarja preta aos filhos.
Vale ressaltar que, quando bem indicados e monitorados, os efeitos colaterais costumam ser controláveis e o risco de dependência é baixo. Entre os Principais efeitos colaterais, incluem-se:
- Cefaleia (geralmente leve e tende a diminuir com o tempo de uso)
- Dificuldade para iniciar o sono (por isso, o medicamento não deve ser administrado após as 18h)
- Falta de apetite (especialmente nas primeiras semanas de uso)
- Irritabilidade no final do dia
Rotina Escolar
O TDAH não compromete diretamente a capacidade de aprendizagem. No entanto, ele afeta significativamente a atenção, o que acaba prejudicando a assimilação de conteúdos e o desempenho escolar. Por esse motivo, dificuldades acadêmicas e até abandono escolar são mais comuns entre indivíduos com TDAH.
Além disso, cobranças excessivas sobre aspectos que estão fora do controle da criança podem gerar frustração e agravar os sintomas do transtorno. Frases como “preste mais atenção”, “você não aprende nada” ou “você não tem interesse em nada” devem ser evitadas, pois não ajudam e podem causar danos emocionais.
Estratégias para melhorar o rendimento escolar de crianças com TDAH
Melhorar a comunicação com a criança é essencial para que ela se sinta acolhida e compreendida. Além disso, alguns ajustes na rotina escolar podem ser benéficos e devem ser avaliados individualmente. Entre as estratégias recomendadas, destacam-se:
- Proporcionar mais momentos de pausa para manter a qualidade da execução das tarefas;
- Dividir tarefas mais longas em etapas menores e mais gerenciáveis;
- Comunicar regras com clareza, por meio de instruções breves e objetivas;
- Ajudar na organização da rotina, determinando horários fixos com início e fim para as atividades escolares;
- Estimular a antecipação de tarefas, reduzindo a procrastinação.
Além disso, é fundamental reconhecer e valorizar qualquer progresso da criança, por menor que seja. O uso de reforços positivos fortalece a autoestima e motiva a criança a continuar evoluindo em suas habilidades de atenção e organização.
Com o tempo e com o tratamento adequado, é possível que o aluno aumente progressivamente sua capacidade de concentração e melhore sua performance acadêmica. Novos ajustes e estratégias podem ser implementados conforme a necessidade de cada caso.
Atividade física em pacientes com TDAH
Uma das características mais marcantes do TDAH é a agitação. Manter-se fisicamente ativo é benéfico não apenas para canalizar o excesso de energia, mas também para auxiliar em aspectos importantes do transtorno, como:
- Falta de foco;
- Impulsividade;
- Dificuldades nos relacionamentos sociais.
A prática regular de atividade física estimula a liberação de neurotransmissores como a dopamina, que está diretamente envolvida na regulação da atenção. Essa ação é semelhante à dos medicamentos utilizados no tratamento do TDAH, que também aumentam os níveis de dopamina no cérebro.
Estudos demonstram que a atividade física, mesmo nas modalidades individuais, contribui para a melhora dos sintomas de impulsividade — em alguns casos, com resultados superiores aos de pacientes que usam apenas medicação, sem se exercitar regularmente.
O aumento do fluxo sanguíneo cerebral promovido pelos exercícios físicos é outro mecanismo que pode ajudar no controle dos sintomas. Como as causas do TDAH são multifatoriais, os benefícios da atividade física também variam entre os indivíduos.
Qual a melhor atividade física para crianças com TDAH?
Apesar da necessidade de gastar energia, não é incomum que crianças com TDAH demonstrem resistência à prática de exercícios. Muitas vezes, elas consideram esse momento como “a parte mais chata do dia”.
Esse comportamento pode estar relacionado à dificuldade de foco e concentração, que compromete o desempenho esportivo. A percepção de baixo rendimento, somada a críticas ou exclusão por parte de colegas ou professores, pode gerar frustração e afastar ainda mais a criança das atividades físicas.
Nesses casos, é importante identificar os motivos da resistência e buscar alternativas mais adequadas. Optar por esportes menos competitivos e mais participativos pode ser uma boa estratégia.
Esportes individuais também devem ser considerados. Modalidades como natação e atletismo, por exemplo, permitem que a criança mantenha maior foco, sem o excesso de estímulos típicos dos esportes coletivos, como o futebol. Vale lembrar que, embora individuais, essas atividades costumam ser praticadas em grupo, favorecendo a interação social.
Incorporar a atividade física ao cotidiano da criança também faz diferença. Caminhar em vez de usar o carro, subir escadas em vez de utilizar o elevador e incluir a criança em tarefas domésticas que envolvam movimento são formas eficazes de aumentar o gasto energético.
É essencial também limitar o tempo de exposição a eletrônicos, como celulares e televisão, que tendem a competir com o interesse por atividades físicas.
O melhor horário para praticar exercícios
O horário da prática de atividades físicas deve considerar o efeito das medicações. A maioria dos tratamentos é planejada para que o pico de ação dos remédios ocorra durante o período escolar. Em alguns casos, pode ser necessário ajustar o horário das atividades físicas ou da medicação, conforme orientação médica, para garantir melhor desempenho e aproveitamento.
TDAH, esporte competitivo e doping
Com o passar do tempo, muitas crianças com TDAH apresentam melhora significativa dos sintomas, especialmente durante a adolescência. Algumas desenvolvem grande interesse por esportes e chegam a competir em alto rendimento.
Nessas situações, pode surgir a preocupação com o doping. Medicações comumente utilizadas no tratamento do TDAH são consideradas substâncias proibidas segundo o Código Mundial Antidoping. No entanto, isso não deve impedir a prática esportiva, tampouco justificar a interrupção do tratamento.
O código prevê exceções por meio de Autorização para Uso Terapêutico, desde que haja comprovação médica da necessidade do uso da medicação. Por isso, é essencial o acompanhamento com profissionais especializados para garantir o equilíbrio entre o tratamento e a prática esportiva de forma ética e segura.