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Concussão Cerebral nos Esportes de Combate

Riscos da Concussão Cerebral nos esportes de combate

A Concussão Cerebral é a principal preocupação em termos médicos nos esportes de combate. 

Provocar a concussão do adversário é, de fato, o objetivo principal do lutador nestes esportes. Ainda que as regras indiquem que a luta deve ser interrompida na presença de sinais de concussão por parte de um dos lutadores, a caracterização da lesão durante a luta não é simples. 

Mesmo a análise de vídeo feita por especialistas após a luta pode não ser conclusiva quanto a ocorrência ou não de concussão. 

De acordo com a Revista de Esportes de Combate, de Janeiro de 1960 até agosto de 2011, houve 488 mortes relacionadas ao boxe (1). A revista atribui 66% destas mortes a lesões na cabeça, cérebro ou pescoço; apenas uma foi atribuída a uma fratura de crânio. 

Outra preocupação é a demência do lutador. Existem boxeadores com envolvimento mínimo e aqueles que são tão severamente afetados que exigem cuidados institucionais. 

Os sintomas podem envolver dificuldade na fala, rigidez, instabilidade, perda da memória e comportamento inapropriado. Estima-se que cerca de 20% dos boxeadores apresentam sintomas de lesão cerebral crônica (2). 

Estudos recentes mostram que a maioria dos boxeadores profissionais (incluindo aqueles sem sintomas) tem algum grau de dano cerebral.c

Incidência da concussão cerebral nos esportes de combate

Há poucos estudos de qualidade disponíveis sobre a incidência de concussão em esportes de combate. Além disso, os resultados destes estudos são bastante divergentes, até pela dificuldade na caracterização da ocorrência ou não de uma concussão. 

Um estudo que examinou ferimentos sofridos em kickboxing profissional durante um período de 16 anos mostrou uma taxa de lesão de 19,2 concussões por 1000 participações em lutas (3).

Outro estudo que acompanhou boxeadores amadores de elite durante um Período de 5 anos mostrou uma incidência de 0,53 concussões para cada 1000 horas de competição / treinamento (4). 

Acredita-se que exista um significativo índice de subnotificação e que estes números sejam, de fato, bem maiores.

Nocaute e concussão

A definição de nocaute difere de acordo com a modalidade.

No boxe / kickboxing, é caracterizado quando um combatente é incapaz de se levantar depois de ser derrubado por seu oponente antes do o árbitro conta até 10.

A contagem pode ser dispensada pelo árbitro se estiver claro que o combatente não será capaz de se levantar (por exemplo, em virtude da perda de consciência).

O nocaute, neste caso, pode acontecer em decorrência de uma concussão, mas pode também ocorrer devido a outros problemas.

Nas artes marciais mistas (MMA), o nocaute é definido como a paralisação da luta pelo árbitro após a perda da consciência do lutador devido a uma pancada na cabeça. Neste caso, a ocorrência da concussão é clara.

O nocaute técnico é mais difícil de definir, uma vez que engloba uma ampla variedade de razões pelas quais a luta foi interrompida.

No boxe, kickboxing ou MMA o nocaute técnico pode ser dado se o médico interrompe a luta devido à preocupação com uma lesão (por exemplo, ferimentos, concussão ou lesões ortopédicas).

O nocaute técnico também será concedido se o combatente ou o a equipe de corner do combatente solicitar que a luta não continue (‘jogue a toalha’).

Caso o árbitro julgue que um combatente não está mais se defendendo adequadamente, a luta pode ser encerrada por meio de um nocaute técnico.

Em todos esses casos, não há menção a sinais ou sintomas de concussão. A concussão certamente pode acompanhar um nocaute técnico, mas o nocaute técnico nem sempre está associado a uma concussão.

Por fim, é importante enfatizar que a concussão pode ocorrer mesmo na ausência de um nocaute ou nocaute técnico.

Testes neurocognitivos

Um método muito recomendável no acompanhamento de rotina dos atletas de combate é a realização de testes neurocognitivos basais no início da temporada. O mais usado deles é o SCAT 5 (Sport Concussion Assessment Tool) (4).

Como a resposta a testes neurocognitivos é bastante variável de pessoa para pessoa, pode ser difícil detectar após um trauma se o resultado de um teste representa o normal daquela pessoa ou se de fato ele foi comprometido por um quadro concussivo.

Ao realizar um teste neurocognitivo de rotina, este atleta terá uma referência para ser seguida após um trauma com suspeita de concussão.

Em outros casos, a repetição do exame em intervalos frequentes (a cada 6 meses, por exemplo), pode levar à identificação de casos em que eventualmente o atleta não relate qualquer sintoma.

Retorno aos treinos e competições

O retorno para treinos e competições em esportes de combate após uma concussão deve ser avaliado com bastante critério, devido ao alto risco para novos impactos na cabeça. 

As entidades organizadoras destas modalidades adotam períodos de suspensão de acordo com critérios específicos pré-estabelecidos. 

Períodos mínimos de suspensão habitualmente envolvem 30 dias para um nocaute técnico, 60 dias para um nocaute sem perda da consciência e 90 dias para o nocaute com perda da consciência, mas estas regras podem variar.

Em última instância, as suspensões médicas ficam muitas vezes ao critério do médico de ringue. Os médicos do ringue variam muito em seu nível de experiência e as recomendações podem variar bastante. 

Infelizmente, a liberação médica após uma concussão nem sempre é uma exigência para o retorno às competições, sendo esta feita apenas com base nos critérios temporais descritos acima. 

Esta não é a situação ideal, uma vez que em alguns poucos casos os sintomas da concussão podem demorar para se resolverem completamente, em decorrência da Síndrome Pós Concussão.

Outra limitação é que todos os períodos de suspensão são aplicáveis ​​apenas às competições e não tem efeito sobre o que um lutador pode fazer no treinamento / prática / sparring.

Nenhum atleta deve retornar para treinos antes de estar completamente livre de qualquer sinal ou sintoma da concussão. Entretanto, apenas isso não é o suficiente. 

Muitos casos de concussão mais leves podem não ser diagnosticados, colocando o atleta em risco. 

Outro problema é que muitos deixam de relatar os sintomas com medo de serem excluídos de treinos ou competições. 

O uso de testes neurocognitivos podem ajudar muito neste processo.