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Como lidar com um filho adolescente?

Como lidar com um filho adolescente?

Sem dúvidas, lidar com um filho adolescente é um dos maiores desafios da vida dos pais. Afinal, aquela criança risonha, doce e dependente pode dar espaço para um adolescente irritável, sem paciência e que busca a sua autonomia o tempo todo.

Apesar de serem mudanças necessárias e esperadas para a idade, nem sempre os pais conseguem assimilar todas essas transformações, o que é esperável.

Sendo assim, fizemos este guia com informações e considerações que podem contribuir na hora de lidar com as mudanças que a adolescência acarreta. Confira lendo este texto até o fim.

Aspectos importantes que devem ser considerados

Antes de pensarmos em formas e medidas que auxiliem na construção de uma relação saudável com o filho adolescente, devemos ter consciência de alguns aspectos relevantes desta nova fase na vida do indivíduo. Veja a seguir alguns pontos:

1. Busca da identidade e da aceitação na adolescência
A criança dependente dos pais e que se espelhava em, praticamente, todas as ações dos adultos, deixa de existir e abre espaço para um novo ser: um ser que busca a sua própria identidade.
As mudanças no corpo, nas formas de se relacionar com seus pares e no cérebro resultam em uma reorganização mental na adolescência, que proporciona essa busca por um novo estilo, um novo grupo que o aceitará, uma nova forma de se comunicar, etc.
É nesses “mergulhos” em diversas identidades e personalidades, tidas como “fases”, que o adolescente começará a moldar aquela identidade que caminhará com ele pelo resto de sua vida.
Isso significa que todos esses comportamentos tidos como “estranhos” ou “extravagantes” pelos adultos têm relação direta com essa busca por um novo eu.
Tudo isso, ainda, está relacionado com as descobertas da sexualidade, o interesse pelos pares, as mudanças hormonais e uma nova visão sobre o próprio corpo. Sendo assim, a vaidade faz parte desse processo de descobertas e de reconexão com o próprio corpo, que deixa de ser infantil e vai caminhando para os traços adultos.

2. O que era estimulante, agora é entediante – o familiar não interessa mais
Durante a infância, os receptores de dopamina estão a “mil por hora”. Isso quer dizer que qualquer atividade simples, feita com os amigos ou com os pais, por exemplo, desperta uma sensação de prazer imensa.
Isso explica por que as crianças se sentem tão animadas para atividades cotidianas, como um simples passeio pelo bairro.
Porém, devido às mudanças na estrutura cerebral do adolescente, essa recepção da dopamina tende a cair drasticamente. Como consequência, aquelas atividades que eram incríveis, passam a ser entediantes e desinteressantes.
É por isso que o passeio na casa dos tios, que era visto como algo maravilhoso, agora é careta, chato e uma obrigação que irrita o filho adolescente.
Acredite, não se trata de algo pessoal. São as mudanças cerebrais e psíquicas entrando em ação.

3. O afastamento da família faz parte dessa “busca”
Seguindo o que apontamos acima, o afastamento do adolescente para com a sua família não é de cunho meramente pessoal. Claro que há casos e casos, mas a grande maioria diz respeito a um reflexo natural da idade.
Além de querer buscar uma nova identidade, que dê sentido à sua própria vida, o adolescente também quer fugir daquelas atividades caretas e que são uma verdadeira “mesmice” na rotina, ou seja, não geram tanto prazer.

4. Comportamentos “perigosos” são um reflexo do tédio
Devido à queda na recepção da dopamina, o adolescente pode se ver instigado a ir atrás de atividades que, muitas vezes, são vistas como perigosas e, em alguns casos, de fato são.
Por isso que, na adolescência, vemos os indivíduos tendo um maior interesse por drogas, esportes radicais e atividades que até colocam a vida em risco.
Afinal, é esse “perigo todo” que pode acarretar em mais prazer e mais dopamina, já que o mesmo de sempre não agrada mais como antes.
Sendo assim, manter-se próximo do filho é importante para orientá-lo sobre os comportamentos de risco, ao mesmo tempo em que o auxilia a encontrar atividades que sejam diferentes, instigantes e, também, seguras.

5. O cérebro ainda não está “pronto”
Além de tudo o que já apontamos até aqui, lembre-se de que o cérebro do adolescente não está pronto. E por não estar pronto, as mudanças repentinas de comportamento são mais normais do que se imagina.
Para você ter uma ideia, o nosso cérebro é capaz de crescer e se desenvolver até os 30 anos de idade! Isso significa que teremos muitas mudanças comportamentais até lá.
Pensamos de um jeito, depois pensamos de outro. Podemos passar por fases de comportamentos impulsivos, e mais tarde pensamos melhor nas consequências do que é feito.
Tudo isso reflete as mudanças físicas e químicas em nosso cérebro. Portanto, ter esse conhecimento pode ajudar na hora de compreender que o seu filho adolescente não é problemático… Ele apenas está passando por mudanças no desenvolvimento humano.
Entretanto, aqui vale um adendo: se você percebe comportamentos de risco elevados, considere conversar com um psicólogo, ok?

6. A autonomia vai tornando os pais “desnecessários”
A transição para a vida adulta exige a renúncia da companhia dos pais em diversas atividades. Isto é, o que antes precisava ser feito com o suporte de um adulto, hoje pode ser feito sozinho.
É o caso de o filho adolescente poder ir ao mercado sozinho, bem como ir na casa de um amigo sem a necessidade de ser levado pelos pais.
Isso demonstra essa passagem para uma vida autônoma. Afinal, o indivíduo não terá os pais para sempre ao seu lado, não é mesmo?
Reconhecer isso pode lhe ajudar a entender que, na adolescência, o indivíduo começa a ter pais desnecessários. Não em um sentido rude, mas em um sentido de que o próprio adolescente, pouco a pouco, começa a se tornar autossuficiente – o que é esperado, afinal, na vida adulta ele deverá se sustentar, não é mesmo?

7. O adolescente deixa de idealizar os pais
Além de ter pais cada vez mais “desnecessários” à medida que o tempo passa, o adolescente também deixa de idealizar aqueles pais que ele enxergou na infância.
Isso porque as crianças costumam ver os pais como verdadeiros super-heróis, que estão sempre ali para protegê-los e orientá-los.
Porém, conforme a criança vai entrando na adolescência, ela começa a enxergar os “defeitos” e limitações dos pais. Percebe que eles, assim como ela, não são super-heróis.
A quebra da idealização provoca um verdadeiro luto no adolescente: ele precisa aceitar que os pais não são perfeitos, e isso pode impactar na interação pais-filho, ao menos até que tudo seja elaborado pelo adolescente.
Sendo assim, este é outro ponto que deve ser considerado quando um filho demonstra comportamentos de afastamento. Às vezes, ele precisa de um tempo para assimilar esses “novos pais”.

Como lidar com um filho adolescente?

Depois de ter um panorama geral de diversos pontos relevantes sobre a adolescência, chegou o momento de pensarmos um pouco mais sobre como lidar com um filho adolescente.

Porém, antes de você iniciar a leitura dos tópicos abaixo, lembre-se de que este conteúdo não é um manual ou um passo a passo rígido. Ele é, apenas, um conteúdo voltado para a orientação e informação. Sendo assim, cabe a você, pai ou mãe, avaliar a sua situação e analisar quais ações abaixo podem ser relevantes no dia a dia.

Além disso, jamais dispense o acompanhamento de um profissional, ok?

Dito isso, vamos às considerações.

1. Compreenda que os afastamentos não são de cunho meramente pessoal
Antes de agir de maneira punitiva ou até chantagiosa – sim, há pais que falam “você não me ama mais” quando o filho adolescente se afasta -, tente compreender que há as mudanças que citamos no decorrer deste conteúdo, e que o afastamento não é uma forma de punir os pais.
Isto é, o adolescente pode estar se afastando para buscar a sua identidade, novas atividades mais estimulantes, etc. Ele estará buscando o seu novo grupo social, com pessoas nas quais ele se identifique, forme laços e crie relações que o ajudem a se inserir no mundo “novo” que surge diante dos seus olhos.
Portanto, cuidado com as “brigas” por conta de afastamentos. Converse com o seu filho sobre compreender as mudanças que ocorrem, sem querer forçá-lo a se manter por perto. Mas, claro, sem ser ausente na vida do adolescente. Tudo é uma questão de equilíbrio.

2. Considere o fato de que a transição para a vida adulta exige certas mudanças
Os pais precisam estar cientes de que a adolescência é, acima de tudo, uma transição para a vida adulta.
Isso significa que essas mudanças de comportamento, de atitudes e de visão de mundo, que o filho tem, fazem parte dessa transição.
Ele precisa de espaço para conhecer o novo, recebendo orientações valiosas dos pais, que o ajudem a identificar as situações de perigo e que lhe permitam mergulhar em novas fases da própria autonomia.
Lembre-se de que o seu filho não está pronto. Ele irá errar, acertar, aprender e crescer. Esteja ao lado dele, sem forçar a barra, entendendo que o caminho para a vida adulta exige afastamentos e aproximações entre pais e filhos.

3. Entenda que o cérebro do adolescente está se reorganizando
Considere o fato de que o cérebro adolescente está vivendo uma enxurrada de mudanças. Isto é, o cérebro está se reorganizando:

  • Há mudanças emocionais.
  • O adolescente pode se sentir mais facilmente no tédio.
  • A nova visão de si mesmo está sendo internalizada.
  • A autoestima está sendo desenvolvida.
  • Sua visão de mundo vem sendo elaborada.
  • O cérebro, enquanto órgão, está crescendo e se desenvolvendo.
  • As mudanças químicas do cérebro impactam nos comportamentos.
  • Os hormônios causam reflexos na visão de mundo, na sexualidade, etc.

Enfim, há muita coisa sendo remanejada. Por isso, a paciência dos pais é crucial.

4. Compreenda que o adolescente vive o luto da sua infância
Além de tudo o que já citamos até aqui, não se esqueça de que o adolescente está vivendo o luto da sua infância.
Antes, ele era visto como uma criança, ganhava brinquedos de presente, estava sempre perto dos pais. Agora, precisa cuidar um pouco mais do próprio quarto, da casa, etc. Além disso, possui mais responsabilidades, e é cobrado não mais como uma criança, mas sim como alguém que está crescendo.
Isso pode gerar conflitos internos que exigem tempo de maturação e compreensão.
Portanto, os pais precisam ser compreensivos quando o filho oscilar entre comportamentos tidos como “maduros” e tidos como “infantis”. Ele ainda não é adulto, os comportamentos infantis vão existir.

5. Ofereça aberturas e afrouxamentos, sem deixar os limites de lado
Considere a possibilidade de começar a dar aberturas para o seu filho explorar a própria independência. Permita-o viver algo que ainda não viveu sozinho, sempre orientando-o sobre as consequências e riscos de cada situação.
Ao mesmo tempo, lembre-se de que determinadas atividades ainda não podem entrar na lista de tarefas do adolescente, portanto, é necessário acrescentar alguns limites.
Sendo assim, crie esse “revezamento” entre o que pode começar a ser feito, e o que ficará para mais tarde, acompanhando a evolução do seu filho em cada atividade nova.

6. A comunicação não-violenta é crucial para alertar os filhos
Por fim, lembre-se de estar sempre ao lado do seu filho, orientando-o, sem punir. Fale sobre as consequências, apresente os fatos, seja compreensível. Escute o que ele tem a dizer, tire dúvidas e auxilie-o com a comunicação não-violenta.
Afinal, a punição pode gerar afastamento do adolescente, ao mesmo tempo em que pode servir de estopim para novos comportamentos “negativos”.
Fique atento quanto a isso e procure sempre manter um diálogo franco e aberto com o seu filho, a fim de construir uma rotina que seja baseada no direcionamento, na confiança e no amor.
E, claro, em casos específicos e necessários, conte com a ajuda de profissionais da saúde mental.

Além disso tudo, lembre-se de que a adolescência é um verdadeiro “projeto” da vida adulta. O seu filho está experimentando… Seja você o co-piloto dessa história.

Referências
Cérebro adolescente: O grande potencial, a coragem e a criatividade da mente dos
12 aos 24 anos, nVersos, 2016, 320 páginas.

O cérebro adolescente: A neurociência da transformação da criança em adulto,
181 páginas.