Câncer de Endométrio
O que é o Câncer de Endométrio?
O Câncer de Endométrio é uma condição na qual as células que formam o revestimento interno do útero (endométrio) sofrem uma mutação e começam a se multiplicar de forma descontrolada.
Ele acomete principalmente as mulheres na pós-menopausa, depois dos 60 anos. Apenas 20% das pacientes estão na fase de pré-menopausa e apenas 5% têm idade inferior a 40 anos (1).
O Câncer de Endométrio não deve ser confundido com o sarcoma uterino, um câncer agressivo que acomete a musculatura do útero e que representa menos de 10% dos cânceres uterinos (2).
Tipos Histológicos de Câncer de Endométrio
O Câncer de Endométrio pode ser categorizado em diferentes tipos e subtipos histológicos. Esta diferenciação é fundamental, já que irá guiar o tratamento e o prognóstico do câncer.
Carcinoma Endometrioide
O Carcinoma Endometrioide é responsável por aproximadamente 80% dos casos de Câncer de Endométrio (3).
Existem diferentes subtipos de Carcinoma Endometrioide, incluindo o adenocarcinoma, adenoacantoma, carcinoma adenoescamoso, carcinoma secretor, carcinoma ciliado e adenocarcinoma viloglandular.
Destes, o adenocarcinoma é de longe o tipo mais comum. Ele se forma nas glândulas do endométrio e na maior parte das vezes tem bom prognóstico.
Outras formas menos comuns de Carcinoma Endometrioide podem ser mais agressivos.
Carcinoma Seroso Papilífero
O Carcinoma Seroso Papilífero é o segundo tipo mais comum de Câncer de Endométrio. Ele é mais agressivo do que o Carcinoma Endometrioide e é responsável pela maior parte dos casos metastáticos.
Além disso, ele tem a tendência de recidivar, mesmo quando diagnosticado e tratado em suas fases iniciais.
Carcinoma de Células Claras
O Carcinoma de Células Claras é menos comum do que os outros tipos listados acima. Entretanto, ele é também o mais agressivo.
Carcinossarcoma Uterino
O Carcinossarcoma Uterino tem origem no endométrio e apresenta características tanto do Carcinoma Endometrial como do Sarcoma, um câncer de origem no músculo uterino.
Esta também é uma forma agressiva de Câncer de Endométrio. Além disso, o Carcinossarcoma não responde bem à quimioterapia ou radioterapia.
Classificação
A classificação do Câncer de Endométrio é baseada na quantidade de células cancerígenas organizadas em glândulas que se parecem com as glândulas encontradas em um endométrio normal e saudável.
Assim, eles são divididos em três graus:
- Grau 1: 95% ou mais de tecido cancerígeno que forma glândulas;
- Grau 2: entre 50 e 94% de tecido cancerígeno que forma glândulas;
- Grau 3: menos da metade do tecido cancerígeno formando glândulas.
O prognóstico do Câncer de Endométrio depende principalmente do tipo histológico e do grau do tumor, sendo que quanto maior o grau, mais agressivo é o câncer e menor a probabilidade de cura.
Assim, o Câncer de Endométrio pode ser dividido em dois grandes grupos:
Câncer de Endométrio Tipo 1
Inclui os cânceres endometrioides Graus 1 e 2. Eles geralmente não são muito agressivos e não se espalham facilmente para outros tecidos.
Eles são geralmente causados por um excesso do hormônio estrogênio.
Aproximadmanete 80% dos cânceres de endométrio são do Tipo 1 (4).
Câncer do Endométrio Tipo 2
Inclui todos os outros tipos de Câncer de Endométrio, incluindo:
- Carcinoma Endometrioide Grau 3;
- Carcinoma Papilífero Seroso;
- Carcinoma de Células Claras;
- Carcinoma Indiferenciado;
- Carcinossarcoma Uterino.
Sinais e Sintomas do Câncer de Endométrio
O principal sinal do Câncer de Endométrio é a alteração no fluxo menstrual normal, o que é observado em 90% das pacientes com câncer (5).
Isso pode incluir o aumento no volume menstrual, sangramento entre os períodos ou sangramento após a menopausa.
Corrimento vaginal não sanguinolento também pode ser um sinal de Câncer de Endométrio.
Outros sinais e sintomas que podem estar presentes incluem:
- Dor pélvica;
- Massa palpável na pelve;
- Perda de peso injustificada.
Diagnóstico
O diagnóstico do Câncer de Endométrio habitualmente é feito a partir da investigação de sinais e sintomas compatíveis.
Os principais exames usados para isso incluem:
Ultrassom
As imagens do ultrassom podem ser usadas para avaliar se o útero contém uma massa (tumor) ou se o endométrio é mais espesso do que o normal.
Pode ser feito tanto o ultrassom abdominal como o transvaginal.
Avaliação Tecidual
Uma amostra do tecido endometrial pode ser obtida por meio de sucção ou curetagem. A seguir, esta amostra é avaliada com um microscópio. Quando são encontradas células cancerígenas, o patologista é capaz de indicar o tipo de câncer e o grau do tumor.
Exames para Pesquisa de Metástase
Uma vez confirmado o diagnóstico do Câncer de Endométrio, outros exames são realizados com o objetivo de investigar a presença de eventual câncer metastático.
Isso pode incluir, especialmente:
- Radiografia ou Tomografia do tórax, para a pesquisa de metástase pulmonar;
- Tomografia do abdome;
- Ressonância Magnética do cérebro e coluna, para pesquisar metástase no sistema nervoso central;
- PET Scan;
- Outros.
Estágios do Câncer de Endométrio
A Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) classifica o câncer de endométrio em quatro estágios:
- Estágio I: câncer confinado ao útero;
- Estágio II: câncer que se espalhou para o colo do útero;
- Estágio III: câncer se espalhou para a vagina, ovários e/ ou linfonodos regionais;
- Estágio IV: câncer se espalhou para a bexiga urinária, reto ou órgãos localizados longe do útero, como pulmões ou ossos.
Aproximadamente 70% das mulheres é diagnosticada com Câncer de Endométrio nos estágios 1 e 2. Outros 20% são diagnosticados no estágio 3 e cerca de 10% são diagnosticados no estágio 4.
Tratamento do Câncer de Endométrio
O tratamento para o Câncer de Endométrio geralmente envolve a cirurgia para remoção do útero, trompas de falópio e ovários.
A cirurgia é feita como parte de um tratamento mais amplo, que pode envolver também Quimioterapia, Radioterapia, Hormonioterapia ou Terapia Alvo.
Cirurgia
O tratamento para o Câncer de Endométrio geralmente envolve a cirurgia para remoção do útero, trompas de falópio e ovários.
Diferentes vias de acesso podem ser usadas para isso, incluindo a remoção pela vagina (histerectomia vaginal total), por uma grande incisão abdominal (histerectomia abdominal total) ou por pequenas incisões no abdômen (histerectomia total laparoscópica). A cirurgia robótica tem também resultado em grandes avanços neste tipo de cirurgia.
Ao retirar os ovários, o corpo fica privado dos hormônios alí produzidos e a mulher entra em menopausa precoce. Discutimos as diversas consequências da Menopausa Precoce em um artigo específico.
Durante a cirurgia, seu cirurgião também inspecionará as áreas ao redor do útero para procurar sinais de que o câncer se espalhou.
Os linfonodos regionais também podem ser testados e, em alguns casos, removidos.
Radioterapia
A radioterapia usa poderosos feixes de energia, como raios X e prótons, para matar as células cancerígenas.
Em alguns casos, seu médico pode recomendar radiação para reduzir o risco de recorrência do câncer após a cirurgia.
Em outros pacientes, ela pode ser feita antes da cirurgia, com o objetivo de reduzir o tamanho do tumor e facilitar a remoção.
A radioterapia pode ser feita por feixe externo, através da pele, ou por um feixe interno, com um aparelho introduzido através da vagina (braquiterapia).
Quimioterapia
A quimioterapia é um tratamento que usa medicamentos para matar as células cancerígenas.
Dependendo do caso, estes medicamentos podem ser administrados na veia ou por meio de comprimidos.
A quimioterapia também pode ser usada antes da cirurgia, com o objetivo de reduzir o tamanho do tumor e facilitar sua remoção na cirurgia, ou após a cirurgia, com o objetivo de eliminar eventuais células tumorais que tenham ficado para trás durante a cirurgia.
Por fim, a quimioterapia pode ser recomendada para o tratamento de câncer avançado ou recorrente que já se espalhou para além do útero.
Infelizmente, células normais não cancerígenas também podem sofrer o efeito dos quimioterápicos, especialmente aquelas que apresentam rápida multiplicação. Isso justifica os conhecidos efeitos colaterais da quimioterapia, os quais discutimos em um artigo à parte.
Terapia Hormonal
A Terapia Hormonal envolve tomar medicamentos para diminuir os níveis hormonais no corpo.
Em resposta, as células cancerígenas que dependem de hormônios para crescer podem ser destruídas.
Este tratamento é indicado geralmente em mulheres com câncer do endométrio avançado (estágio III ou IV) ou que voltou após o tratamento (recorrente). Ela é frequentemente administrada junto com a quimioterapia.
Os principais hormônios usados na hormonioterapia para o câncer de endométrio incluem:
- Progestinas (tratamento hormonal mais utilizado);
- Tamoxifeno;
- Agonistas do hormônio liberador do hormônio luteinizante (agonistas do LHRH). Inibidores de aromatase.
Terapia Alvo
A Terapia Alvo para o câncer envolve o uso de medicamentos que agem sobre características exclusivas das células cancerígenas ou sobre estruturas que controlam o comportamento das células cancerígenas.
Ela é geralmente usada junto com quimioterapia para o tratamento do Câncer de Endométrio avançado.
Imunoterapia
A Imunoterapia é uma forma de tratamento contra o câncer que reforça o funcionamento sistema imunológico no combate ao câncer.
A Imunoterapia é um tratamento medicamentoso que ajuda o sistema imunológico a combater o câncer.
Para o Câncer de Endométrio, a imunoterapia pode ser considerada se o câncer estiver avançado e outros tratamentos não tiverem ajudado.
Cuidados Paliativos
Os Cuidados Paliativos são cuidados médicos especializados que se concentram no alívio da dor e outros sintomas de uma doença grave, quando não se tem a expectativa de cura da doença.
Eles podem ser usados durante outros tratamentos agressivos, como Cirurgia, Quimioterapia ou Radioterapia.
Tratamento nos Diferentes Estágios do Câncer de Endométrio
Estágio 1
O câncer de ovário em Estágio 1 é aquele que está restrito ao útero.
No paciente com carcinoma endometrioide em Estágio 1, Tipo 1 (baixo grau), a cirurgia pode ser o único tratamento necessário.
No paciente com carcinoma endometrioide em Estágio 1, Tipo 1 (alto grau), a cirurgia costuma ser seguida por radioterapia.
Algumas mulheres mais jovens com Câncer de Endométrio precoce podem ter seu útero removido sem remover os ovários. Isso evita a menopausa e os problemas que podem vir com ela.
Cânceres como Carcinoma Papilífero Seroso, Carcinoma de Células Claras ou Carcinossarcoma são mais propensos a já terem se espalhado para fora do útero quando diagnosticados, mesmo que isso não tenha sido encontrado nos exames.
Em alguns casos, uma cirurgia mais extensa será indicada, incluindo a remoção dos linfonodos pélvicos e para-aórticos junto com a remoção do Útero, Ovário e Trompas de Falópio.
Após a cirurgia, a quimioterapia é administrada para ajudar a evitar que o câncer volte. A radioterapia também poderá ser usada.
Estágio 2
O Câncer de Endométrio no Estágio 2 é aquele que se espalhou para o colo do útero, mas ainda não cresceu para fora do útero.
Uma opção de tratamento é fazer a cirurgia primeiro, seguida pela radioterapia.
A cirurgia neste caso envolve uma histerectomia radical, que inclui a retirada do útero, parte da vagina e uma ampla área de ligamentos e tecidos ao redor desses órgãos, além dos Ovários, Trompas de Falópio e os linfonodos pélvicos e para-aórticos.
A radioterapia pode ser administrada após a cirurgia, para eliminar eventuais células cancerígenas que tenham ficado para trás.
Em outros casos, o tratamento é iniciado com a radioterapia, com o objetivo de reduzir o tamanho do tumor. A seguir, o paciente é submetido a uma histerectomia simples, com retirada do Útero, Ovários e Trompas de Falópio.
Uma amostragem de linfonodos também é removida para avaliar a presença de câncer. Caso os linfonodos se mostrem comprometidos, isso indica que o câncer está de fato no Estágio 3, e não no Estágio 2.
Para mulheres com Câncer Tipo 2 (incluindo o Carcinoma Endometrioide de alto grau, Carcinoma Papilífero Seroso ou Carcinoma de Células Claras) a cirurgia pode incluir a omentectomia (retirada do tecido gorduroso que cobre os órgãos abdominais) e biópsias peritoneais.
Após a cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou ambos podem ser administrados para ajudar a evitar que o câncer volte.
Estágio 3
O tratamento geralmente envolve a retirada do Útero, Ovários e Trompas de Falópio.
Em alguns casos, pode ser necessária a histerectomia radical, que inclui a retirada de parte da vagina e uma ampla área de ligamentos e tecidos ao redor desses órgãos.
Além disso, é feita a retirada e testagem de parte dos linfonodos.
Lavagens pélvicas serão feitas e o omento poderá ser removido.
Em alguns casos, a radioterapia poderá ser administrada antes da cirurgia, para reduzir o tamanho do tumor e permitir uma maior eficácia com a cirurgia.
Para câncer endometrial avançado que não pode ser tratado com cirurgia ou radiação, o tratamento com imunoterapia pode ser uma opção.
Estágio 4
Na maioria dos pacientes com Câncer de Endométrio em Estágio 4, o câncer se espalhou demais para que ele possa ser completamente removido por meio de cirurgia.
A histerectomia e a remoção de Trompas de Falópio e Ovários ainda podem ser feitas para evitar sangramento excessivo, ainda que isso não seja suficiente para curar o câncer. A radioterapia também pode ser usada por esse motivo.
A Terapia Hormonal pode ser usada. Entretanto, os cânceres de alto grau e aqueles sem receptores detectáveis de progesterona e estrogênio nas células cancerígenas provavelmente não responderão à Terapia Hormonal.
A quimioterapia também pode ajudar a manter a doença sob controle por algum tempo, sendo que o custo benefício deste tratamento deve ser avaliado individualmente.
A Terapia Alvo e a Imunoterapia também podem ser consideradas em alguns casos.
Prognóstico
O prognóstico do Câncer de Endométrio depende de diferentes fatores, incluindo a idade e saúde geral da paciente, tipo histológico do tumor e estágio de evolução da doença.
Considerando-se todos os pacientes, a taxa média de sobrevida em 5 anos é de 84% (6).
Nos diferentes estágios da doença, a sobrevida em 5 anos é a seguinte:
- Grau 1 e grau 2: 96%;
- Grau 3: 71%;
- Grau 4: 20%.
Em relação ao tipo histológico de câncer, a sobrevida em 5 anos de pacientes com câncer endometrióide varia de 75% a 86%. Em contraste, apenas 35% das pacientes com os outros tipos de Câncer de Endométrio sobrevivem neste período (7).