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Baixa Estatura e Hormônio do Crescimento

Como é definida a Baixa Estatura?

A baixa estatura é uma queixa comum entre pais, familiares e crianças.

A queixa é ainda mais comum durante o estirão do crescimento da adolescência. Isso porque algumas crianças “aceleram” o crescimento em idade mais precoce do que outras, gerando preocupação entre aquelas de crescimento mais tardio.

São classificadas como de baixa estatura as crianças com altura inferior a 97% das pessoas do mesmo sexo e idade. Entretanto, diversas causas podem estar associadas a esta baixa estatura.

Quais as causas da baixa estatura?

A baixa estatura pode ter diferentes causas, incluindo:

  • Baixa estatura constitucional: crianças com pais e mães baixas, nas quais a baixa estatura está dentro do estimado a partir da altura dos pais;
  • Baixa estatura idiopática: crianças com altura abaixo do estimado a partir da altura dos pais, mas nas quais não se encontra nenhuma causa para isso;
  • Atraso constitucional do crescimento: crianças que entram na puberdade mais tardiamente, mas nas quais se espera que irão recuperar a altura quando entrarem no estirão do crescimento;
  • Baixa estatura secundária: decorrente de patologias ou condições crônicas específicas;
  • Deficiência de GH.

Como saber se o crescimento está dentro do esperado para a criança?

Para calcular a altura esperada para uma criança na idade adulta, basta somar as alturas do pai e da mãe e dividir por 2. Para as meninas, subtrai-se 6,5. Para os meninos, soma-se 6,5 cm. Uma variação de até 5cm para mais ou para menos é considerada normal.

Como exemplo, um menino que tem um pai de 170cm e mãe de 160cm terá altura prevista de 171,5cm, podendo variar entre 166,5cm e 176,5cm. Já sua irmã terá altura prevista de 158,5cm, podendo variar entre 153,5cm e 163,5cm.

Baixa estatura 1

De acordo com o exemplo acima, o gráfico acima mostra o que seria considerado normal para a criança na idade adulta.

Para saber se a altura está dentro do esperado, coloca-se a altura estimada no gráfico de crescimento. Com isso, pode-se avaliar se a criança está dentro do que seria esperado para a idade.

Baixa estatura 2

A Zona cinzenta representa a altura que seria considerada normal para a criança do exemplo acima, ao longo do crescimento.

O método descrito acima torna-se pouco preciso durante a pré-adolescência ou adolescência.

Isso porque o desenvolvimento ósseo não acontece na mesma velocidade em todas as crianças.

Algumas possuem maturação mais precoce do que outras. Aquelas de maturação mais tardia demoram mais para entrar no estirão do crescimento, mas, uma vez que isso aconteça, tendem a ultrapassar aquelas de maturação mais precoce.

Quando os gráficos indicam a possibilidade de baixa estatura nesta faixa etária, a criança deverá realizar uma radiografia para a avaliação da idade óssea.

A mão e punho da criança apresentam diversso óssos com cartilagens de crescimento que se fecham gradativamente, em uma sequência previsível.

A determinação da idade óssea se baseia nos achados radiográficos que são observados em 50% das crianças a cada idade. Uma variação de até dois anos entre a idade óssea e a idade cronológica é considerada normal.

Uma vez determinado qual a idade óssea da criança, avalia-se qual a altura esperada para a criança, não por sua idade cronológica, mas sim pela idade óssea.

Baixa estatura 3

Considerando-se o mesmo exemplo acima, digamos que a criança está acabou de completar 13 anos e está cm 1,43m. Sua idade óssea, porém, é de 11,5 anos. Colocando-se no gráfico, sua altura seria considerada baixa de acordo com a idade cronológica (13 anos), mas seria considerada normal de acordo com sua idade óssea (11,5 anos).

Baixa estatura idiopática

Uma vez descartada a baixa estatura constitucional ou por atraso fisiológico do crescimento, precisamos diferenciar a baixa estatura idiopática (sem causa definida específica) da baixa estatura por doenças crônicas ou deficiência de GH.

A caracterização da baixa estatura idiopática é feita após descartada a deficiência do GH.

Baixa estatura secundária

A baixa estatura secundária está associada a diferentes condições, incluindo:

  • Hipotireoidismo;
  • Doenças renais;
  • Doenças hematológicas;
  • Desnutrição;
  • Condições inflamatórias ou autoimunes.

Quando os achados físicos ou o padrão de crescimento diferem significativamente da família, indica-se exame o genético para o diagnóstico de síndromes específicas (p. ex., síndrome de Turner).

Os exames abaixo devem ser solicitados para a avaliação do paciente com baixa estatura

Exame                                                                           
Hemograma Descartar anemia
Ferritina e albumina Avaliar desnutrição
Enzimas hepáticas (TGO, TGP, gama-GT) Descartar doença hepática crônica
VHS Pesquisar doenças inflamatórias crônicas
Cálcio, fósforo, fosfatase alcalina Descartar doenças osteometabólicas
Creatinina, ureia, sódio, potássio, gasometria venosa e urina tipo 1 Descartar doença renal crônica e acidose tubular
Anticorpos antitransglutaminase e IgA sérica Investigar doença celíaca
TSH e T4 livre Descartar alteração na função da tiroide
IGF-1 e IGFBP-3 Avaliar o eixo GH/IGF-1
Cortisol urinário de 24 horas e/ou cortisol salivar das 23 horas (ambos em duas amostras) e/ou teste de supressão de cortisol com dexametasona overnight Descartar síndrome de Cushing
Cariótipo com banda G em todas as meninas Excluir síndrome de Turner
Protoparasitológico de fezes Avaliar presença de verminose

Deficiência de hormônio de crescimento (GH)

O hormônio de crescimento (GH) é um hormônio que responde pela maioria dos processos metabólicos e de crescimento no organismo.

Sua ação é mediada pelo IGF-1, hormônio secretado pelo fígado e que estimula a divisão e o crescimento celular.

As concentrações de GH variam bastante ao longo do dia e são tipicamente baixas ou indetectáveis, exceto após o início do sono. Assim, níveis aleatórios de GH não são úteis para a avaliação diagnóstica.

O IGF-1 é bem mais estável ao longo do dia. Valores de IGF-1 acima da média para idade e sexo são forte evidência contra o diagnóstico de deficiência de GH.

Já os casos com baixos níveis de IGF-1 em crianças maiores sugerem deficiência de GH; mas isso precisará ser confirmado por meio de testes provocativos, uma vez que níveis de IGF-1 também podem ser baixos em outras doenças.

Há diversas opções de testes provocativos para avaliar a reserva secretória de GH, cada qual com sua particularidade.

Nestes exames, são administradas substâncias que estimulam a liberação do GH, sendo que os níveis deste hormônio não irão aumentar em casos de deficiência.

Entre as drogas usadas nos testes provocativos incluem-se a insulina, a clonidina e o glucagon.

A radiografia de mão e punho esquerdo para a avaliação da idade óssea também ajudará no diagnóstico. Isso porque, nos pacientes com deficiência de GH, a idade óssea costuma estar atrasada em pelo menos dois anos em relação à idade cronológica – o que não costuma ser visto no caso de baixa estatura idiopática.

A deficiência de hormônio do crescimento não tem uma causa definida na maior parte dos pacientes. Mas, em 25% deles, há uma causa identificável e que pode precisar ser tratada.

Assim, é importante realizar a avaliação da hipófise e hipotálamo por meio da ressonância magnética para excluir calcificações, tumores e outras anormalidades estruturais.

Tratamento da baixa estatura

O tratamento da baixa estatura com hormônio de crescimento humano (GH) tem sido utilizado há várias décadas. Ele se mostra eficaz naquelas crianças que de fato apresentam deficiência de GH ou outras doenças que restringem o crescimento, incluindo a insuficiência renal e a síndrome de Tunner.

Por outro lado, o hormônio de crescimento não afetará o crescimento no caso de crianças com baixa estatura familiar (terá apenas efeitos colaterais). O resultado é também limitado no caso de baixa estatura idiopática, que por sinal são a maioria dos pacientes que procuram atendimento médico.

Entre os principais fatores que determinam a resposta ao GH durante o primeiro ano de tratamento incluem-se:

  • Idade de início do tratamento (quanto menor a idade, melhor a resposta);
  • Dose (melhor quanto maior a dose);
  • Diferença da estatura em relação ao que seria esperado pela altura dos pais.

No caso da baixa estatura idiopática, pode-se esperar um ganho entre 4 e 7 cm na altura final, a depender de todos estes fatores. É preciso considerar, porém, que o tratamento da Baixa estatura com GH em pacientes já na puberdade costuma ser pouco efetivo.

Além do crescimento, alguns outros efeitos podem ser percebidos com o uso do hormônio de crescimento:

  • Os pés crescem e o paciente perde o tamanho dos sapatos mais rapidamente. O crescimento do pé pode ocorrer dentro de 6 a 8 semanas do início do tratamento.
  • O aumento do apetite é comum, especialmente entre crianças que sofriam com pouco apetite antes do tratamento.
  • A criança apresenta aumento na massa muscular e diminuição da massa gorda.

Embora a duração do tratamento varie, ele costuma ser mantido até que a criança atinja a maturidade esquelética completa ou que ela cresça menos de 02 cm ao longo de um ano completo.

Como é feito o uso do GH?

O GH usado no tratamento é fabricado em laboratório para ser idêntico ao produzido pela hipófise.

Ele é administrado por injeção subcutânea e pode ser administrado por um dispositivo especial de injeção que se parece com uma caneta. Por ser uma injeção bastante superficial, a agulha é pequena e não dói muito.

Como o hormônio do crescimento natural é liberado principalmente durante o sono, o tratamento com GH é mais eficaz quando administrado na hora de dormir.

Efeitos adversos

A sociedade moderna tem enfatizado a ideia de que, quanto mais alta uma pessoa for, melhor.

Isso justifica em parte a grande procura por tratamentos médicos com a intenção de ganho de alguns centímetros a mais, especialmente com o uso do hormônio do crescimento.

O uso GH não é, porém, isento de complicações. Altos níveis de hormônio de crescimento por um longo período podem produzir acromegalia irreversível.

Mesmo as doses menores podem levar a complicações como doenças cardíacas e diabetes.

Assim, o uso do GH deve ser sempre avaliado com bastante critério quanto aos possíveis riscos e benefícios.

De fato, para a maior parte dos pacientes com baixa estatura, o uso do GH não se justifica.