Aspectos Psicológicos da Fragilidade e Dependência no Idoso
Aspectos psicológicos da fragilidade e dependência no idoso
Pensar nos aspectos psicológicos da fragilidade no idoso é lançar um olhar atento para as dinâmicas vividas na terceira idade, visando oferecer mais qualidade de vida e saúde para aqueles que já ofereceram muitas experiências e conhecimentos para nós.
Por isso, desenvolvemos este conteúdo completo com muitas informações que podem contribuir para o acompanhamento familiar do idoso, no que diz respeito aos cuidados essenciais para manter a qualidade de vida deste.
Fatores envolvidos com a dependência do idoso
Quando pensamos na dependência do idoso, devemos considerar uma série de fatores que podem contribuir para esse tipo de situação. Isso porque não é todo idoso que será dependente da sua família, bem como não há uma idade específica na qual essa dependência pode surgir.
Portanto, verificar quais fatores podem impactar nessa situação pode, ainda, nos trazer pistas de quais medidas ajudam a minimizar a fragilidade na terceira idade. Veja:
1. Fatores físicos
Sem dúvidas, os fatores físicos têm um papel muito importante no curso do desenvolvimento da fragilidade e dependência do idoso.
Afinal, quando há questões de saúde física, como doenças crônicas, problemas de mobilidade, entre outros, o indivíduo passa a ter a sua capacidade funcional afetada.
Entende-se a capacidade funcional como o grau de autossuficiência que o sujeito tem com relação ao que o seu meio exige para manter-se saudável e vivo. Por exemplo, alimentar-se, tomar banho, deitar-se, caminhar, entre outras ações do nosso cotidiano, dizem respeito à nossa capacidade de manter a saúde e a vida.
Logo, quando essa capacidade é afetada, dizemos que a capacidade funcional do indivíduo está fragilizada, ou seja, que ele pode apresentar algumas dependências.
Essa dependência, portanto, pode surgir em decorrência de fatores físicos.
2. Fatores psicológicos
Os fatores psicológicos também podem ocasionar o aparecimento de uma maior fragilidade e, consequentemente, maior dependência por parte do idoso.
É o caso de um idoso que vive processos de luto na terceira idade e precisa, agora, lidar com a vulnerabilidade emocional frente às novas dinâmicas vivenciadas.
Essa vulnerabilidade emocional pode ocasionar efeitos como estresse, depressão, ansiedade, problemas para atravessar o luto, angústia, sentimento de desvalia que causa o isolamento, baixa energia para as atividades cotidianas e a psicossomatização.
Além disso, outras questões psicológicas também podem servir de alicerce na hora de desencadear um quadro de fragilidade na terceira idade.
3. Fatores contextuais
Fatores contextuais como a dinâmica da família e a vida financeira do idoso também podem impactar na forma como ele irá se desenvolver, funcionalmente, na terceira idade.
Quando há problemas financeiros para manter os próprios cuidados, como com relação à aquisição de medicamentos importantes, o indivíduo pode começar a ficar fragilizado, sofrendo impactos na autonomia por conta disso.
Esse é apenas um exemplo, mas o contexto no sentido social também pode impactar a autonomia da pessoa – como o fato de a cidade permitir uma boa mobilidade de idosos em cadeira de rodas, ou não.
Aspectos psicológicos da fragilidade e dependência no idoso e como a família pode lidar com eles
Agora que já pudemos ter uma visão geral de como os fatores físicos, psicológicos e ambientais têm relação com a saúde física e mental do idoso, podemos também analisar quais são os aspectos psicológicos experimentados em casos de dependência e fragilidade.
Essa aquisição de conhecimento pode nos ajudar a manejar as situações de modo mais equilibrado e sadio, visando a qualidade de vida do idoso e de sua família.
1. Deslocamento de relações de poder
Durante a história de desenvolvimento de um grupo familiar, é muito comum que os pais tenham um “poder”, ou uma posição de quem detém o conhecimento e as informações relevantes sobre o que deve ou não deve ser feito.
Contudo, diante da fragilidade e dependência do idoso, o cuidador, que pode ser um filho ou uma filha, começa a assumir uma posição de “poder” na relação.
Esse deslocamento das relações é algo que pode gerar estranhamento, dúvidas, angústia e até mesmo tristeza.
O idoso pode se sentir perdido em seu novo papel social, tendo uma crise de identidade que, em alguns casos, pode ser mais ou menos dolorosa.
A família precisa de paciência nesse momento, pois é necessário considerar que um indivíduo, que viveu uma vida autônoma, precisa estar na posição de dependente agora, e isso pode ser muito confuso com relação às emoções.
2. Sensação de incapacidade
A sensação de ser incapaz é algo que pode gerar frustração, revolta e até mesmo culpa. A pessoa pode se sentir extremamente dependente, o que causa uma frustração diante da rotina.
Afinal, se antes ela podia tomar banho sozinha, como poderá se adaptar com a ideia de que outra pessoa irá vê-la sem roupa neste momento?
A sensação de incapacidade também pode causar vergonha nesse sentido, uma vez que muita intimidade pode ser exposta durante os cuidados oferecidos pelo cuidador.
Desmistificar esses momentos de cuidado é algo muito importante, trazendo uma nova visão para a situação. Por exemplo, encarar os excrementos humanos como algo natural e que faz parte da vida é importantíssimo, ao invés de demonstrar uma postura de “nojo” ou “vergonha” para com o idoso.
Criar um ambiente confortável, que evite ao máximo que muitas pessoas vejam a intimidade do indivíduo também é um caminho. Isto é, se possível, quando houver uma troca de fralda ou for o momento do banho, talvez seja interessante privar as outras pessoas de entrar no ambiente, dando foco apenas à presença do cuidador.
3. Mudanças na autoestima e sentimento de inutilidade
A autoestima, sem dúvidas, pode se abalar. As mudanças físicas, alterações na rotina e na capacidade funcional do indivíduo, mostram a ele uma nova visão de si e do mundo. A maneira como ele se vê e como ele imagina que os outros o vêem é algo que impacta a autoimagem e a autoestima.
Colocar-se no lugar do idoso e imaginar como seria a sua perspectiva nessas situações é algo importante.
Além disso, buscar fortalecer a autonomia e a autoestima do sujeito são ações que contribuem para uma visão mais positiva dele.
Por exemplo, ao invés de simplesmente querer fazer tudo por ele, se há algo que ainda pode ser feito sozinho, permita-o fazer. E jamais negligencie os cuidados com a beleza que o idoso pode querer, como usar um cosmético no rosto que não faz mal à saúde, pois esse gesto de cuidado, mesmo que seja feito pelo cuidador, fortalece a sensação de estar dando atenção à beleza, tão cara para a nossa autoestima.
Além disso, não podemos desconsiderar o quanto o indivíduo tende a se sentir inútil quando está com a sua capacidade funcional comprometida.
Nessas circunstâncias, a família deve demonstrar o valor que o idoso representa para o funcionamento familiar, dando a ele subsídios para compreender que ainda é um ser humano importante e que gera efeitos incríveis na família, como ensinamentos, amor, atenção, carinho, direcionamentos, etc.
4. Questões relacionadas às doenças crônicas
As doenças crônicas também impactam nos aspectos psicológicos da fragilidade e dependência no idoso. O indivíduo se vê mais fragilizado, o que pode fortalecer o medo da morte e o medo de sofrer com a doença.
Além disso, as limitações das enfermidades podem causar revolta, angústia e desamparo.
Por isso, escutar as emoções do idoso, acompanhá-lo nos tratamentos e ajudá-lo a encarar a situação são ações importantes.
Não negligencie o que ele tem a dizer. Mesmo que seja um desabafo desconectado do que está acontecendo no momento (como dizer que se tem medo de morrer quando, na verdade, não há indícios de que a doença esteja evoluindo), ainda assim é importante ouvir, acolher e mostrar disposição em ajudar.
Tudo isso pode criar uma atmosfera de acolhimento e confiança, que permite um maior “aconchego” por parte do idoso.
5. Estresse familiar
A família, como um todo, passa a mudar a sua dinâmica de vivência quando pensamos nos aspectos psicológicos da fragilidade e dependência no idoso.
Um idoso dependente exige um cuidador. Um cuidador precisa de tempo e de “ferramentas” para cuidar do idoso. Tudo isso custa tempo, dinheiro, dedicação e energia – física e mental. Logo, lidar com todas essas mudanças e todas as demandas pode ocasionar estresse familiar.
Lembre-se de que o processo de adaptação precisa ser gradativo e respeitando os limites de cada um. Também considere a premissa que não existe um cuidador perfeito, mas, sim, um cuidador possível. Não se cobre para ser um super-herói, pois você ainda é um ser humano com limites.
Ao mesmo tempo, não negligencie a sua saúde mental e faça psicoterapia. Tudo isso pode ajudá-lo a moldar, aos poucos, uma nova rotina para cuidar do idoso.
6. Sentimentos de perda e luto
Na terceira idade, é muito comum que os processos de luto começam a aparecer com mais frequência.
Isso porque ocorre a perda de parentes, amigos, conhecidos, irmãos e, inclusive, do parceiro ou da parceira.
Esse tipo de situação pode colocar o sujeito diante da “morte”, o que causa conflitos emocionais e funcionais.
No nosso conteúdo sobre processos de luto do idoso, destacamos algumas informações relevantes sobre a temática para você refletir conosco. Não deixe de acessá-lo.
7. Diminuição do bem-estar e da qualidade de vida
Durante a nossa história de vida, praticamos exercícios, cuidamos da alimentação, visitamos médicos periodicamente, investimos em hobbies e colocamos em prática demais ações que podem aumentar o nosso bem-estar e a nossa qualidade de vida.
Porém, à medida que a capacidade funcional de um indivíduo começa a ser afetada, ele pode ter problemas para manter determinadas atividades que são prazerosas e agradáveis. Isso pode impactar a qualidade de vida e o bem-estar vividos no cotidiano.
Sendo assim, a família pode auxiliar buscando compreender quais tarefas ainda podem ser executadas pelo idoso dependente, como assistir algo que gosta, ler alguma revista, passear em um ambiente que é agradável – mesmo que com o uso da cadeira de rodas -, e assim por diante.
Neste momento, pode ser difícil encontrar hobbies que se alinhem com as limitações do idoso, mas, aos poucos, e com paciência, talvez seja possível encontrar algumas possibilidades pertinentes.
8. Medo da solidão e da negligência
O medo da solidão e da negligência também é algo que pode assolar o bem-estar do indivíduo. Dentre os aspectos psicológicos da fragilidade e dependência no idoso, esse pode ser um que o coloca diante de impasses, afinal, ele pode se sentir incomodado de solicitar que a família propicie encontros sociais, ao mesmo tempo em que teme solicitar ajuda para coisas simples.
Porém, a falta de sociabilidade e a vergonha de solicitar ajuda podem ocasionar situações de negligência para com a saúde do sujeito, além do medo da solidão frente ao isolamento social que destacamos no próximo tópico.
A família precisa ficar atenta às necessidades do idoso, mantendo uma comunicação clara e assertiva, buscando atender o que vai além das questões práticas e considere também as questões psicológicas.
9. Isolamento social
Nós, seres humanos, precisamos das interações sociais para fortalecer nossa autoestima, instigar novos conhecimentos e promover qualidade de vida como um todo. Nós somos seres sociais e por isso as interações são importantes.
Sendo assim, o isolamento social pode reduzir a autoestima, causar sentimentos de tristeza, entre outras questões – como pensamentos negativos e disfuncionais.
Por conta disso, a família deve propiciar interações sociais possíveis para o idoso, impedindo que este fique sozinho por muito tempo.
Mesmo que ele não tenha coragem de solicitar passeios, pois pode temer “incomodar” a família, ainda assim é muito importante que os familiares ofereçam esse tipo de suporte no dia a dia.
10. Dificuldade de planejar o futuro
A terceira idade é marcada por perdas significativas na vida do sujeito. Logo, pode ser que ele experimente dificuldades para planejar o futuro.
Faz parte do processo de envelhecer. Porém, devemos ter a consciência de que enquanto houver vida, há o que pode ser feito. Portanto, a família pode atuar como alguém que auxilia na construção de planos para o próximo mês e o próximo ano, por exemplo.
Focar nos sonhos que ainda não foram realizados, mas que ainda podem acontecer, é algo que instiga motivação e bem-estar.
Porém, tudo isso deve ser feito respeitando os limites do indivíduo. E lembre-se de que em casos de desesperança e tristeza extrema, o ideal é procurar ajuda profissional pois é possível que estejamos diante de um caso de depressão no idoso.
Como lidar com a fragilidade e a dependência do idoso?
No decorrer deste conteúdo, apresentamos os aspectos psicológicos da fragilidade e dependência no idoso. Além disso, demos algumas pinceladas com relação ao que pode ser feito diante dos principais impasses atravessados pelo indivíduo.
Agora, apresentamos abaixo algumas recomendações mais gerais, que podem servir de base para o mantimento da saúde mental e da qualidade de vida do indivíduo idoso. Veja:
1. Buscar oferecer apoio qualificado
O apoio emocional pode fazer toda a diferença na hora de lidar com os aspectos psicológicos da fragilidade e dependência no idoso. Afinal, devemos lembrar que os cuidados com o idoso dependente não dizem respeito apenas às questões físicas e práticas, mas, sim, diz respeito ao ser humano que está diante de nós.
Não podemos separar as emoções do que está acontecendo, logo, ser carinhoso, atencioso, respeitoso e gentil são atitudes que podem minimizar o sofrimento vivido diante da dependência.
Não trate o idoso como alguém que merece apenas ser limpo e alimentado. Trate como alguém que merece respeito, que tem uma vida, emoções e uma história. Isso muda a perspectiva.
2. Investir em atividades que instiguem a autonomia
Sempre que possível, a família pode investir em atividades que motivem a autonomia do sujeito. Por exemplo, se ele possui mobilidade reduzida, é possível que a família o ajude a desenvolver atividades manuais, como arte e artesanato. Assim, ele poderá produzir de maneira ativa, respeitando as suas limitações.
Quanto à capacidade funcional, se for possível fazer adaptações que priorizem a atuação autônoma do sujeito, melhor.
Cuidado para não anulá-lo ao tentar fazer tudo por ele. Lembre-se de que há um ser humano nessa história.
3. Fortalecer a sociabilidade dentro das possibilidades
A sociabilidade tem um papel importante nas nossas vidas, como vimos no decorrer deste conteúdo. Sendo assim, oferecer o contato com pessoas queridas, parentes e familiares – desde que isso não seja um risco à saúde do idoso -, são ações que podem aumentar a qualidade de vida do sujeito.
Além disso, esses contatos devem considerar não apenas a condição do idoso. Isto é, os assuntos comentados podem ser os mesmos que seriam falados na mesa de jantar, e não apenas sobre doença ou tratamento.
4. Demonstrar o valor do idoso para a família e jamais diminuí-lo
O idoso pode sofrer impactos na autoestima, como vimos anteriormente. Por isso, é muito importante que a família busque fortalecer uma imagem positiva do idoso, como um mentor ou um “professor” para a família, por exemplo.
Além disso, demonstrar o quanto ele tem um papel importante dentro do seio familiar, mesmo com as suas limitações, é algo promissor.
5. Buscar tratamento especializado
Sem dúvidas, o tratamento profissional também não deve ser descartado. Isso vale tanto para a família, que pode buscar apoio psicológico frente às dificuldades e transformações vividas, quanto para o idoso, que também pode receber esse tipo de apoio.
Assim, torna-se viável lidar com as emoções a partir de um viés científico e que promove mais qualidade de vida e bem-estar. Portanto, não descarte o acompanhamento psicológico. Ele pode agregar muito valor na vida de todos.
Referências
LIMA, A. P.; DELGADO, E. I. A melhor idade do brasil: aspectos biopsicossociais decorrentes do processo de envelhecimento. Ulbra e Movimento (REFUM), Ji-Paraná, v.1 n.2 p76-91., set./out. 2010.
PEREIRA, M. G.; RONCOM, J.; CARVALHO, H. Aspectos psicológicos e familiares do envelhecimento. Livro – O idoso como um todo. Editora: Psicosoma, 2011.