Anemia Gestacional
O que é a Anemia Gestacional?
A anemia gestacional é definida pela diminuição da concentração de hemoglobina no sangue materno, comprometendo a oxigenação dos tecidos da mãe e do feto. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define anemia gestacional como hemoglobina < 11 g/dL em qualquer momento da gestação.
Ela afeta cerca de 40% das gestantes, sendo uma das condições mais frequentes do pré-natal. No Brasil, estima-se que entre 20 e 30% das gestantes apresentem algum grau de anemia, especialmente no segundo e terceiro trimestres.
Quais as causas da Anemia Gestacional?
A deficiência de ferro (anemia ferropriva) é responsável por mais de 90% dos casos de anemia gestacional.
Outras possíveis causas incluem:
- Deficiência de ácido fólico;
- Deficiência de vitamina B12.
- Doenças crônicas (ex: insuficiência renal, infecções, câncer).
- Hemoglobinopatias hereditárias (ex: talassemia, anemia falciforme).
- Perdas sanguíneas (menstruação intensa antes da gravidez, múltiplas gestações, sangramentos na gestação).
Anemia ferropriva
A anemia ferropriva responde por mais de 90% dos casos de anemia gestacional.
Ela está associada a um aumento da demanda de ferro na gestação por conta das demandas do feto, da placenta ou pelo maior volume sanguíneo da gestante.
São fatores que aumentam o risco para a deficiência de ferro na gestação:
- Estoques maternos baixos antes da gravidez, por conta de menstruação intensa ou gestação anterior recente.
- Dieta pobre em ferro ou com ferro de baixa biodisponibilidade (especialmente em dietas vegetarianas).
- Baixa absorção intestinal, que pode estar associada ao uso de inibidores dietéticos, doenças intestinais ou uso de medicamentos antiácidos.
- Perdas sanguíneas, por conta de hemorragias ou parasitoses intestinais.
Anemia por deficiência de ácido fólico
A deficiência de ácido fólico é uma causa relativamente comum de anemia gestacional, especialmente no 2º e 3º trimestres de gestação.
O ácido fólico (ou folato, na sua forma natural) é uma vitamina do complexo B, mais especificamente a vitamina B9. Ele participa de processos fundamentais como a formação do DNA e RNA, síntese de proteínas, divisão e maturação celular e formação de células sanguíneas (eritropoiese).
Durante a gestação, a mulher precisa de cerca de 4 a 5 vezes mais folato do que em mulheres não gestantes, por causa de:
- Rápida multiplicação celular do feto e da placenta.
- Expansão do volume sanguíneo materno.
- Maior demanda para a produção de glóbulos vermelhos.
Além da Anemia megaloblástica, a deficiência de ácido fólico pode estar associada a outras complicações gestacionais, como aborto espontâneo, restrição de crescimento intrauterino (RCIU), parto prematuro e desenvolvimento de defeitos congênitos, como anencefalia e espinha bífida.
O folato não é armazenado em grandes quantidades no organismo. Assim, e fundamental que se tenha uma reposição diária por meio de dieta e suplementação.
Devido à importância do ácido fólico desde o início da gestação, é recomendável que mulheres que estejam pretendendo engravidar suplementem o ácido fólico por
pelo menos 30 dias antes da concepção. A suplementação deve ser mantida até o final da gestação.
Anemia por deficiência de Vitamina B12
A vitamina B12 (ou cobalamina) é uma vitamina do complexo B essencial para a formação e maturação dos glóbulos vermelhos. Além disso, ela também é importante para a síntese de DNA e para a manutenção da função neurológica, especialmente para a mielinização dos nervos. Ela é portanto fundamental para a manutenção da saúde mental e cognitiva.
Durante a gestação, são fatores que justificam uma maior demanda de vitamina B12:
- Crescimento fetal acelerado (especialmente do sistema nervoso central)
- Expansão do volume sanguíneo materno
- Formação da placenta
- Necessidade de armazenar B12 no fígado fetal (reserva para os primeiros meses de vida)
A vitamina B12 é encontrada exclusivamente em alimentos de origem animal (carne, fígado, ovos, leite e derivados) e é absorvida no íleo com a ajuda do fator intrínseco, uma proteína produzida no estômago.
Mulheres com estoques baixos pré-gestacionais, má absorção intestinal ou dietas sem alimentos de origem animal têm risco aumentado de deficiência.
A deficiência de vitamina B12 pode levar ao desenvolvimento de anemia megaloblástica (glóbulos vermelhos grandes e imaturos). Além disso, pode também ter diversas outras consequências, tanto para a gestante como para o feto.
Para a gestante, as complicações incluem:
- Sintomas neurológicos: parestesias, fraqueza, desequilíbrio, depressão, irritabilidade
- Fadiga intensa, palpitações, palidez, falta de ar
- Comprometimento cognitivo
Para o feto e o recém-nascido:
- Restrição do crescimento intrauterino (RCIU)
- Prematuridade
- Abortamento espontâneo
- Defeitos do tubo neural
- Atrasos no desenvolvimento motor e cognitivo
- Hipotonia e distúrbios neurológicos no bebê.
- A deficiência materna não tratada pode causar lesões neurológicas irreversíveis no feto, mesmo na ausência de anemia.
Fatores de risco para a anemia gestacional
O risco de anemia gestacional é maior nas seguintes condições:
- Gestação múltipla ou Intervalo curto entre gestações.
- Gestação na adolescência.
- Baixa ingestão alimentar de ferro, folato ou B12.
- Baixo nível socioeconômico.
- História prévia de anemia
- Vômitos intensos (hiperêmese gravídica).
- Infecções intestinais (ex: verminoses).
- Condições crônicas associadas à má absorção (doença celíaca, gastrite atrófica, cirurgia bariátrica).
Sintomas
A anemia pode ser assintomática nos estágios leves. Nos casos moderados a graves, pode estar associada aos seguintes sintomas:
- Fadiga e fraqueza
- Palidez (pele e mucosas)
- Tontura ou vertigem
- Dispneia (falta de ar) aos esforços
- Taquicardia
- Cefaleia
- Unhas frágeis, queda de cabelo
Diagnóstico da Anemia Gestacional
Os sintomas descritos acima são comuns em muitas gestantes, independentemente da anemia. Assim, toda gestante deve ser investigada para anemia, independentemente dos sintomas.
O diagnóstico é feito por meio de um hemograma completo, que deve ser feito no primeiro trimestre da gestação e repetido no segundo trimestre. Hemoglobina abaixo de 11 g/dL fecham o diagnóstico de anemia.
Outros exames incluem:
- Ferritina: ajuda no diagnóstico da deficiência de ferro, antes mesmo do aparecimento da anemia.
- Dosagem de vitamina B12, de ácido fólico.
- Testes parasitológicos.
Tratamento
Toda gestante deve receber ferro profilático a partir da 20ª semana até 3 meses após o parto.
Os casos mais leves de anemia podem ser tratados com sulfato ferroso. Nos casos mais graves, com hemoglobina < 7 g/dL ou sintomas importantes, pode ser necessária a transfusão de ferro intravenoso ou a transfusão de hemácias.
Complicações
A anemia pode levar a complicações tanto para a gestante quanto para o bebê.
Para a gestante:
- Fadiga severa
- Insuficiência cardíaca
- Infecções
- Aumento do risco de hemorragia no parto
- Maior morbimortalidade materna
Para o feto/neonato:
- Restrição do crescimento intrauterino (RCIU)
- Prematuridade
- Baixo peso ao nascer
- Alterações do desenvolvimento neurológico
- Maior risco de anemia no primeiro ano de vida
Prognóstico
Quando diagnosticada e tratada precocemente, a anemia na gestação tem bom prognóstico. A adesão ao tratamento oral e o acompanhamento no pré-natal são essenciais para evitar complicações. Casos graves ou negligenciados podem levar a riscos importantes para a mãe e o bebê.