Alcoolismo na Adolescência
Alcoolismo na Adolescência
Saber abordar o alcoolismo na adolescência é imprescindível para criar um ambiente mais seguro para os jovens em desenvolvimento.
Afinal, nesta faixa etária é muito comum que o adolescente, frente às transformações vividas, sinta-se instigado a experimentar novas sensações – e o álcool pode promover isso.
Pensando nesse cenário, trouxemos informações e orientações que podem ajudar pais e educadores nessa árdua tarefa de manter os cuidados e a proteção dos nossos adolescentes. Acompanhe e saiba mais.
Fatores que corroboram para o consumo de álcool na adolescência
Antes de analisarmos algumas recomendações sobre como podemos abordar o alcoolismo, pensemos um pouco mais sobre essa fase.
Afinal, aprender a lidar com um filho adolescente é tão importante quanto saber abordar a temática do álcool. Afinal, esta fase do desenvolvimento humano apresenta características específicas que podem impactar nos comportamentos do jovem.
Por isso, convidamos você a refletir conosco sobre os fatores que, querendo ou não, podem servir de gatilho para o consumo de álcool na adolescência:
1. Pressão dos amigos
Sem dúvidas, a pressão do círculo social do adolescente pode ser uma das molas propulsoras do desenvolvimento de determinados comportamentos de risco.
Como o adolescente está desenvolvendo a sua autonomia e os seus pontos de vista sobre a vida, ele ainda pode agir no efeito “manada”. Isto é, pode ceder às pressões dos amigos para se sentir parte de um grupo.
Essa sensação de fazer parte de um grupo pode ajudá-lo a construir a sua própria identidade e personalidade, além de ser muito importante para a sua autoestima.
Porém, quando o grupo pressiona para ações negativas, surge um problema.
2. Necessidade de encontrar uma identidade
Como o adolescente está buscando a sua identidade, apartando-se da família e desbravando as novidades presentes no mundo, ele pode começar a encontrar, em eventos e ambientes que estimulam o consumo do álcool, uma identificação com outros jovens.
Ou seja, o adolescente pode começar a frequentar festas e eventos, com seus amigos pelos quais ele se identifica, e esses espaços oferecerem bebida alcoólica aos jovens.
Como o adolescente ainda está construindo quem ele é, pode se deixar levar pela situação, experimentando algo novo e compartilhando isso com os seus amigos.
3. “Adrenalina” vivida em situações “proibidas”
O fato de a bebida alcoólica ser algo proibido, para menores de 18 anos, o adolescente pode se sentir instigado em viver a adrenalina de burlar essa regra.
Isso porque, na adolescência, é muito comum essa busca por “quebrar com as regras” para se sentir mais autônomo, diferente e único.
Além disso, quando não há um diálogo claro em casa, que justifique os motivos pelos quais a bebida alcoólica é proibida para menores, o adolescente pode ter a sua curiosidade aumentada, buscando experimentar as sensações que o álcool pode provocar.
É por conta desse tipo de situação que o diálogo assertivo e franco, em casa, é tão importante.
4. Tentativa de criar a sua própria autonomia
O adolescente quer se desvincular da posição de dependente dos pais, que tinha na infância, indo em busca da sua própria autonomia. Isso quer dizer que ele pode experimentar situações de “gente adulta” para se sentir autônomo e “crescido”.
Dentre essas experimentações, a bebida alcoólica pode aparecer. É como se o adolescente enxergasse, nesse consumo, um passaporte para uma vida mais autônoma e independente.
5. Busca de novos prazeres
A busca por novos prazeres também é um dos gatilhos do alcoolismo na adolescência.
O adolescente, diante das suas questões emocionais e psíquicas, pode se sentir instigado a fugir do tédio por meio do consumo de drogas.
Isso porque, durante a adolescência, o cérebro humano diminui drasticamente a recepção de hormônios que proporcionam prazer. Isso significa que aquelas atividades incríveis da infância, hoje, são apenas uma “mesmice chata”, repetitiva e sem atrativo.
As atividades cotidianas se tornam mais entediantes do que nunca, e o adolescente sai em busca de alternativas que elevem as sensações de prazer e provoquem bem-estar.
Neste caso, o comportamento de beber algo proibido, por si só, já gera o prazer e a adrenalina de fugir da mesmice. Mas, além disso, a própria bebida, em um primeiro momento, pode ser prazerosa, embora mais tarde possa provocar sensações de enjoo e mal-estar, por exemplo.
Sendo assim, essa busca por novos prazeres e pela fuga do tédio é mais um dos fatores que contribuem para o consumo de álcool na adolescência.
Como abordar o alcoolismo na adolescência?
Agora que pudemos ter um panorama geral de alguns fatores que contribuem para o consumo de álcool na adolescência, vamos descrever algumas ações que os pais podem colocar em prática a fim de prevenir esse comportamento dos filhos. Confira a seguir.
1. Mantenha-se informado sobre os efeitos do consumo de álcool
Um bom ponto de partida é o dos pais compreenderem, a fundo, os efeitos fisiológicos e psicológicos do consumo de álcool na adolescência. Essas informações podem ser usadas na hora de se abordar essa temática com os jovens.
Desse modo, os pais poderão orientar os filhos adolescentes com mais assertividade, descrevendo fatores como:
- O álcool pode provocar um humor deprimido.
- A bebida afeta o desenvolvimento neurológico.
- A memória e a concentração podem ficar afetadas.
- O desenvolvimento do organismo, como um todo, pode sofrer impactos nocivos.
- O álcool não traz nenhum benefício para o corpo.
- Nossos comportamentos podem ser alterados quando embriagados, o que pode nos colocar em risco.
- Muitas doenças estão envolvidas com o consumo de álcool, como a dependência química e a hepatite alcoólica.
- Entre outras informações.
Estudar a fundo esses efeitos é garantir que os conhecimentos sejam apresentados ao adolescente, em linguagem adequada, para que ele possa refletir melhor sobre a situação.
2. Esclareça as dúvidas do adolescente e cuide com a proibição
Sabemos que o consumo de bebidas por menores de idade é proibido. Mas, em se tratando de educação, apenas proibir pode não ser o bastante. Isso quer dizer que apenas dizer “não pode”, muitas vezes, não vai surtir o efeito que você espera.
Por conta disso, o ideal é que você esclareça as dúvidas do adolescente frente a essa proibição.
Por exemplo, se o adolescente questiona sobre os motivos pelos quais ele não pode beber, seja franco e atencioso com ele. Fale das consequências, cite o que pode acontecer e demonstre a preocupação que você tem com relação a tudo isso.
Seja esclarecedor e justifique a sua posição.
Caso o adolescente questione porque os adultos podem beber, deixe claro que o cérebro de um adulto já está formado, e o de um adolescente ainda está crescendo, criando sinapses e se desenvolvendo a cada dia. Assim sendo, o consumo de álcool poderia deixar marcas para o resto da vida, caso acontecesse antes da vida adulta.
3. Mantenha um relacionamento próximo com o adolescente
Criar um vínculo amigável e baseado na comunicação não-violenta também é relevante na hora de abordar o alcoolismo na adolescência.
Embora os adolescentes possam preferir se manter no seu próprio mundo, ainda assim os pais têm um papel importante na vida desses indivíduos.
Por isso, permita-o participar das decisões da família, deixe-o escolher algum local para que toda a família possa curtir junta, etc.
Faça-o compreender que é ouvido, acolhido e que possui espaço dentro de casa. Esteja sempre por perto, orientando, acolhendo e monitorando.
A ausência excessiva pode resultar na falta de alicerces e espelhos para o adolescente, que procurará, em outras figuras sociais, um termômetro do certo e do errado – e, muitas vezes, essas figuras podem ser outros adolescentes, ou seja, não há um adulto que possa orientar esse grupo.
Seja você um orientador, amigável e atencioso, que respeita o espaço do filho, mas não o deixa “à sorte”.
4. Estimule atividades que sejam interessantes para ele
Como vimos no início deste conteúdo, os adolescentes estão passando por mudanças cerebrais significativas. Isso quer dizer que diversas atividades passam a ser entediantes, e outras, mais arriscadas, chamam a atenção.
Nesse cenário, o ideal é que os pais auxiliem o filho na busca de atividades que possam ser interessantes para ele. Assim, o adolescente poderá encontrar hobbies que proporcionem prazer, sanem a curiosidade e desenvolvam a sociabilidade do jovem, sem necessariamente ter relação com o consumo de drogas – lícitas ou ilícitas -.
Afinal, se os pais forem apenas superprotetores e proibirem o filho de tudo, ele poderá buscar formas de escapar disso e encontrar, em comportamentos nocivos, como o de consumo de álcool, formas de sentir prazer e fugir do tédio.
Sendo assim, ajude o seu filho a encontrar atividades interessantes, como esportes mais radicais ou atividades diferentes, que despertem o interesse dos jovens e construa um ambiente mais rico em estímulos prazerosos – reduzindo, assim, os comportamentos de risco, como o de consumo de álcool -.
5. Informe sobre as consequências negativas do álcool
O seu filho precisa ter acesso à informação para que possa se sentir mais confiante quando algum colega pressioná-lo para consumir álcool.
Isto é, fuja daquela ideia de dizer, de forma vaga, que álcool faz mal. Esclareça que além de doenças e atrasos no desenvolvimento, o álcool também pode:
- Ocasionar a perda do autocontrole.
- Expor o adolescente a situações de risco (como situações como estupro de vulnerável).
- Proporcionar um comportamento que provoque vergonha e culpa mais tarde.
- Desencadear um mal-estar que atrapalhe a rotina do jovem.
- Entre outros efeitos.
Esclarecer essas consequências, comentando sobre o quanto isso se envolve com a quantidade ingerida, como é ingerida e em qual velocidade, é muito importante para dar ao jovem uma ferramenta de proteção muito poderosa: o conhecimento.
6. Aproxime-se do círculo social do seu filho
Sempre que possível, aproxime-se do círculo social do seu filho. Conheça quem são os outros adolescentes com os quais ele convive, e saiba mais sobre cada um deles.
Se detectar algum grupo adolescente de risco, converse com o seu filho e busque sempre monitorar a interação que acontece, tentando se manter próximo e criando um vínculo com todos os jovens.
Essa proximidade pode ajudar na hora de detectar situações que merecem intervenções, como por exemplo, comunicar à outra família de que os jovens estão apresentando comportamentos de risco.
7. Aproxime-se da família dos amigos do seu filho
Seguindo o que acabamos de apontar acima, é muito interessante que os pais também se aproximem da família dos amigos dos filhos. Isso porque, dessa forma, é possível criar uma espécie de “força tarefa”, na qual todas as famílias trocam ideias, monitoram e interagem em prol do desenvolvimento saudável dos adolescentes.
Dessa maneira, é possível manter sempre um adulto por perto, quando os adolescentes estiverem reunidos na casa um do outro.
Além disso, a cada ida a uma festa, um dos adultos (pai de um dos adolescentes) pode ficar responsável por buscar os jovens em determinado horário, ao mesmo tempo.
8. Escute e acolha os seus filhos
Outro ponto muito importante que deve ser considerado na hora de abordar o alcoolismo na adolescência, diz respeito ao comportamento de escutar os seus filhos.
Isto é, muitas vezes nós, adultos, por acreditarmos que sabemos mais do que os jovens, queremos impor uma ideia de forma autoritária.
Porém, quando o adolescente tenta explanar a sua própria opinião, descrevendo o que pensa, pode ser barrado e calado. Não seja esse tipo de adulto!
Mesmo quando o questionamento do filho ou a visão dele esteja, hoje, equivocada, ainda assim ela merece ser escutada e acolhida.
Você pode mostrar que compreende, mas que não concorda com o seu filho. E que por conta da sua experiência de vida e dos estudos que você acompanha, o consumo não deve acontecer em hipótese alguma. Não enquanto o cérebro ainda está se desenvolvendo.
Perceba que dessa forma você não anula a fala do seu filho, mas a acolhe, dando a entender que o que ele pensa e sente é importante, e que você sempre levará em consideração.
9. Cuidado com os seus comportamentos
Muitos pais temem falar sobre o alcoolismo na adolescência com os seus filhos. Porém, muitos pais também se esquecem do quanto os adolescentes estão atentos aos comportamentos dos adultos.
Os jovens ainda têm os pais como um modelo a ser seguido. Sendo assim, se você for incoerente nas suas orientações, o adolescente poderá se sentir enganado e injustiçado.
Por exemplo, se você sempre diz que beber demais faz mal e é ruim, mas acaba ficando embriagado nas festas em família, como poderá ser um exemplo para o mais jovem? Como ele poderá entender essa situação?
Claro que há a questão da idade, mas nós sabemos que as consequências do álcool, quando consumido em excesso, são devastadoras em qualquer fase da vida.
Sendo assim, cuide dos seus comportamentos e tente ser um exemplo para o seu filho. Cuidado com o excesso de bebida e embriaguez na frente dos jovens. Isso pode manchar a sua luta por protegê-lo.
10. Dê regras claras e assertivas
Saiba comunicar as suas regras. Diga, assertivamente, o que pode e o que não pode ser feito.
Por exemplo, dizer apenas “juízo” não é uma boa orientação para o jovem. Agora, dizer “Cuidado com quem estiver perto de você na festa, e nunca se esqueça do quanto as bebidas alcoólicas podem ser prejudiciais na sua idade. Não quero que você beba”.
Perceba que no segundo caso é bem mais claro o que você espera do seu filho.
Considere, ainda, listar as possíveis consequências e “punições” que podem acontecer. Seguindo o exemplo acima: “Estou confiando em você. Se algo acontecer, teremos que rever as suas idas às festas”.
Nesse diálogo, há mais assertividade na fala do pai. Diferente de apenas dizer “Se cuide”.
11. Atue com o auxílio da escola
Procure manter uma proximidade com a escola do seu filho e tente incentivar a implementação de estratégias que abordam o alcoolismo na adolescência.
Converse com a coordenação e com o psicólogo escolar, visando trabalhar em conjunto nessa prevenção.
Essa atuação conjunta pode ser ainda mais importante em casos concretizados de consumo de álcool. Isto é, se o seu filho ou outros adolescentes estiverem consumindo essa droga lícita em momentos “escondidos”, é imprescindível comunicar a escola para que esse ambiente também sirva de reflexão e acolhimento desses jovens, orientando-os.
12. Busque orientação profissional
Não tenha vergonha de buscar ajuda de um psicólogo caso perceba comportamentos inadequados por parte do seu filho. Você não precisa se culpar por isso.
Faça melhor do que isso: busque orientação profissional para toda a família, se possível for. Assim, será possível construir uma atmosfera de acolhimento e reflexão, na qual o adolescente poderá aprender mais sobre os riscos do consumo de álcool e você poderá receber orientações profissionais para lidar com essa situação.
Profissionais da saúde mental podem te ajudar nessa jornada tão importante, e tão desafiadora. Jamais descarte essa ajuda.
13. Fique atento ao fácil acesso ao álcool
Por fim, além de abordar o alcoolismo na adolescência, fique atento ao fácil acesso ao álcool. Ou seja, se você costuma ter muito álcool em casa, considere mudar esse estilo de vida ou mantenha as bebidas bem distantes da visão e do conhecimento do adolescente.
Afinal, a bebida presente em casa pode servir de gatilho de curiosidade para o jovem, que poderá experimentá-la inocentemente.
Cuidado com esse ponto e mantenha sempre um bom monitoramento das bebidas que têm em casa, mantendo um diálogo aberto e sincero com o filho sobre a não autorização do consumo.
Esperamos que este conteúdo possa ter expandido a sua mente de alguma forma. E lembre-se: o acompanhamento profissional e a psicoterapia para pais pode ajudar nessa jornada árdua, mas tão importante, de prevenção ao consumo de álcool na adolescência.
Referências
CAVALCANTE, M. B. P. T.; SANTOS, A. M. D.; BARROSO, M. G. T. Adolescência, álcool e drogas: uma revisão na perspectiva da promoção da saúde. Revisão • Esc. Anna Nery 12 (3) • Set 2008.
MOSS, E.; DURMAN, S. Alcoolismo na adolescência: intervenção na escola. (s.d.).