Acompanhamento pediátrico da criança de três anos
Desenvolvimento da criança de três anos
A criança de três anos desenvolve muitas habilidades e, em alguns momentos, quer mostrar que pode fazer as coisas sozinhas.
Elas podem insistir em colocar a comida no próprio prato ou a se vestir sozinha, ainda que não façam isso da forma correta.
Também é um momento de testar limites, fazer negociações, desenvolver relações sociais.
A linguagem se desenvolve muito e a criança passa a ser compreendida por todos na maior parte do tempo
Trocando de roupa
Em alguns momentos, a criança de três anos pode insistir em se vestir sozinha.
As combinações de cores podem parecer estranhas, o sapato ou a roupa podem ser colocadas do lado contrário. Além disso, a troca de roupa pode levar dezenas de minutos e a muitas roupas desdobradas ao chão.
No entanto, é importante dar a oportunidade para estas tentativas e demonstrações. No final, ela faz questão de mostrar o que conseguiu. O ideal é que sejam elogiadas por isso e que as correções sejam feitas, mas não o tempo todo.
Socialização
O bebê de três anos está bem menos autocentrado do que no ano anterior, mas ainda não consegue dividir muito bem suas coisas.
Quando vê um amiguinho com um brinquedo seu, quer tirar dela de qualquer maneira, mesmo que não demonstrasse interesse por aquele brinquedo há muito tempo.
Pior do que isso, pode pegar um brinquedo do amigo e se negar a devolvê-lo.
Algumas crianças conseguem resolver seus conflitos por conta própria, mas a maioria ainda recorre para um adulto para isso.
Por outro lado, elas começam a aprender a negociar. Como exemplo, podem combinar de contar até 20 e depois emprestar ao amigo, e assim sucessivamente. O rodizio e a negociação pode se mostrar mais interessante do que o brinquedo em sí.
Testando limites
A palavra não é uma das primeiras que a criança aprende, mas uma das últimas à qual ele irá respeitar.
Quando uma criança ouve não do pai, sua primeira reação tende a ser pedir o mesmo para a mãe ou para a avó.
Da mesma forma, dizer para uma criança que está com pressa é querer que ela faça tudo mais devagar ou que arrume outras coisas para fazer antes de sair.
Os pais precisam saber quando é hora de ceder ou não. No entanto, não podem demonstrar insegurança.
Quando uma criança se joga no chão porque não vai ganhar um doce, por exemplo, é fundamental que ela não receba a recompensa que está buscando.
Iniciação esportiva
Com três anos de idade, as crianças já conseguem correr, pular, se agachar, saltar. Assim, muitas passam a demonstrar interesse pela iniciação esportiva.
O esporte, no entanto, precisa ser introduzido de uma forma lúdica, sem que a criança seja corrigida na maior parte do tempo.
Jogar futebol, por exemplo, significa correr atrás da bola e chutar para qualquer lado. Pode por a mão.
Mais do que isso, a brincadeira é mais para a criança mostrar suas habilidades do que para seus pais. Ficar driblando a criança insistentemente pode deixa-la frustrada e sem vontade de participar da brincadeira. Como regra geral, a criança aceita a maior parte das atividades, desde que ela seja o centro das atenções.
Quando presentes, as regras precisam ser divertidas.
Muitos pais optam por colocar o filho em uma escolinha de esportes. Mas, quando possível, o ideal é que elas se exercitem com os pais ou amigos de uma forma desorganizada.
Também é preferível prover a criança oportunidades variadas, evitando-se restringí-la a uma ou duas atividades esportivas específicas.
A recomendação é que toda a criança deva se exercitar de forma vigorosa por ao menos uma hora, em todos ou na maior parte dos dias da semana.
Desenvolvimento da linguagem
O vocabulário da criança se torna mais amplo, contando agora com aproximadamente 600 palavras. Ela passa também a usar preposições (ex. em cima, com e atrás), plural e sentimentos em frases cada vez mais longas.
Ela aprende também a usar frases no presente, passado e futuro.
Apesar de ter ainda algumas trocas de letras, sua fala é facilmente compreendida pela maioria das pessoas.
No entanto, pode faltar lógica nas conversas em alguns momentos. A criança pode muitas vezes estar mais interessada em conversar do que no conteúdo da conversa propriamente dita. Ela pode fazer perguntas, mas sem se interessar muito em escutar a resposta. É normal também que mude facilmente de assunto.
Transtornos do neurodesenvolvimento
Os transtornos do neurodesenvolvimento são geralmente diagnosticados um pouco mais tarde, entre os 4 e os 6 anos de idade. No entanto, a maior parte das crianças com alguma forma destes transtornos já mostrará sinais claros de algum tipo de atraso nesta faixa etária de três anos. Nestes casos, a avaliação pelo neuropediatra poderá ser recomendada.
Os Transtornos do Neurodesenvolvimento são problemas neurológicos que podem interferir com a aquisição, retenção, ou aplicação de habilidades e que se desenvolvem ao longo da infância, geralmente antes da idade escolar.
Eles podem envolver problemas relacionados à atenção, memória, percepção, linguagem, solução de problemas ou interação social. Como consequência, podem comprometer o funcionamento pessoal, social, acadêmico ou profissional.
Entre os principais tipos de transtornos do neurodesenvolvimento, incluem-se:
- Transtorno do desenvolvimento intelectual (deficiência intelectual);
- Transtornos de comunicação (linguagem, fala, comunicação, gagueira);
- Transtorno do espectro autista (autismo);
- Transtorno do déficit de atenção/hiperatividade (TDAH);
- Transtornos de aprendizagem;
- Transtornos de movimento.
Alimentação
Refeições com a família toda reunida são muito importantes. Os bons hábitos devem ser adotados por todos, não apenas pela criança. Se o uso do celular na mesa é ruim para as crianças, também é para os pais. Da mesma forma que a criança deve permanecer sentada à mesa, os pais também não devem se levantar assim que acabarem de se alimentar.
O mesmo vale para a escolha alimentar. A criança e os pais devem adotar uma alimentação diversificada e nutricionalmente rica, evitando produtos ultraprocessados, açúcar e gordura trans ou saturada. Bebidas açucaradas, como refrigerantes ou sucos (mesmo os naturais) devem ser uma exceção à mesa.
Quando uma mãe se refere ao brigadeiro como a melhor coisa do mundo, o filho tende a fazer o mesmo.
A capacidade estomacal da criança ainda é limitada. Assim, as refeições precisam ser pensadas previamente. Quando uma criança chega em casa e faz um lanchinho para esperar o jantar, provavelmente ela não aceitará o jantar – até porque tende a gostar menos da comida do jantar do que do lanchinho.
Muitas crianças chegam ao terceiro ano de vida com maus hábitos alimentares estabelecidos, não se devendo medir esforços para corrigí-los.
A seletividade alimentar é esperada e comum a qualquer criança. No entanto, a hiperseletividade – em alguns casos com dependência de um único alimento – precisa ser combatida.
O risco de engasgo ainda é um problema sério nesta idade. Para minimizar o risco, a criança deve sentar para comer. Ela não deve ser autorizada a comer enquanto caminha, corre ou brinca em parquinhos.
Além disso, é preciso evitar alimentos de formato redondo, oval ou cilíndrico, alimentos com consistência dura ou firme e alimentos duros cortados com menos de 3 cm de diâmetro.
Entre estes alimentos, incluem-se:
- Salsicha
- Balas duras e pirulitos
- Amendoim, nozes e castanhas
- Pedaços de frutas duras como maçã, ou vegetais crus como a cenoura
- Uvas inteiras
- Pipocas
Sono
Sonecas
No terceiro ano de vida, muitas crianças abandonam as sonecas diurnas, enquanto outras ainda fazem uma soneca, geralmente no período da tarde.
Essa transição, no entanto, pode ser demorada. Algumas crianças podem mostrar sinais claros de cansaço, embora se neguem a dormir.
Especialmente quando cansadas, o balanço do carro é tudo o que ela precisa para pegar no sono – as vezes, precisam menos de um quarteirão para isso. Esta soneca não programada pode ser um problema no final da tarde, quando ainda é muito cedo para emendar com o sono noturno, mas tarde o suficiente para que, ao acordar, tenham problemas para voltar a dormir à noite.
Uma dica interessante nestes casos é levar o pijama e a escova de dentes ao sair de casa, adiando o retorno para o horário em que a criança normalmente iria dormir.
Privação de sono
A criança de três anos ainda precisa de mais tempo de sono do que os adultos, com um total de 10 a 13 horas por dia (incluindo o sono noturno e sonecas)
Infelizmente, a rotina da casa faz com que muitas destas crianças acabem dormindo mais tarde do que deveriam, levando a uma privação crônica de sono. Sonolência diurna excessiva e irritabilidade são alguns dos sinais que podem indicar uma privação do sono.
Pesadelos
É esperado que muitas crianças de três anos de idade comecem a chorar no meio da noite. O motivo pode ser um pesadelo ou episódios de terror noturno.
A criança pode chorar, gritar, gemer, sentar na cama e se debater. A crise pode durar alguns minutos e é raro que seja de mais de 15 minutos. Depois que passa, a criança volta a dormir e, no dia seguinte, não vai lembrar de nada.
Muitas acabam indo para o quarto dos pais nestes momentos de pesadelo, devendo receber o apoio necessário.
Xixi na cama
Mesmo crianças que já não usam mais fraldas podem ter ainda “acidentes” de vez em quando, especialmente durante a noite, por mais alguns meses ou até anos.
Passar a noite toda sequinho é o último estágio do desfraldamento, e tende a ser mais difícil para os meninos do que para as meninas.
É comum também que crianças nesta idade fiquem muito tempo sem fazer xixi na cama, mas tenham um acidente eventual. Isso é mais comum de acontecer ao dormir fora de casa, quando estão muito cansadas ou após algum evento marcante, como uma mudança de escola ou a chegada de um irmão.
Fazer xixi na cama só é considerado um problema quando acontece de forma frequente em crianças acima de 5 ou 6 anos, quando passa a caracterizar o que se chama de Enurese Noturna.
Prevenção de acidentes
Cuidados na cozinha
O bebê no segundo ano de vida é capaz de se deslocar rapidamente, mas ainda não reconhece perigos. Todo o cuidado é pouco para mantê-lo afastado de fogões. Dar sempre preferência por colocar panelas na parte de trás do fogão, onde o bebê não consiga alcançar.
O mesmo cuidado é válido para bebidas quentes, como o café.
Cuidados com o transporte
A criança de três anos precisa sempre ser transportada no banco de trás do carro e fazendo o uso da cadeirinha.
Cuidados com janelas
A janela é sempre uma fonte de curiosidade para a criança. Assim, é preciso verificar que todas as janelas da casa estejam protegidas com redes específicas e que a rede passe pelas manutenções necessárias.
Mesmo no caso de janelas altas, a criança é capaz de arrastar uma cadeira rapidamente para dar uma espiadinha no mundo exterior.
Todo cuidado é pouco ao visitar a casa de um amigo ou familiar que não tenha proteção nas janelas.
Cuidados com o trânsito
Por mais que a criança demostre ter conhecimento sobre cuidados com o trânsito, como andar nas calçadas, ela tem uma capacidade limitada de se proteger.
Ao ver uma rua vazia, ela se sente a vontade para entrar na rua – mesmo que tenham carros vindo.
Ao atravessar a rua, ela pode parar imediatamente para pegar um objeto caído no chão, sem se preocupar com o trânsito. Isso é válido também quando uma bola cai na rua.
Assim, crianças de três anos de idade devem estar sempre de mãos dadas, mesmo que andando na calçada.