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Abordagem psicológica nos transtornos de ansiedade

A abordagem psicológica nos transtornos de ansiedade visa minimizar os pensamentos distorcidos relacionados à realidade que o indivíduo vive. Além disso, busca-se trabalhar as questões relacionadas ao desejo de se ter o controle de tudo, criando uma atmosfera na qual o indivíduo pode começar a perceber que nem sempre teremos o controle de todas as coisas, e tudo bem.

Outras ações também são colocadas em prática à medida que as sessões avançam, visando um maior equilíbrio emocional para o sujeito. Neste texto, apresentamos algumas dessas ações que visam minimizar os sintomas de ansiedade, bem como elencamos considerações que podem ser levadas em conta pela família da pessoa com diagnóstico de ansiedade.

Tipos de transtornos de ansiedade

Antes de iniciarmos a discussão da abordagem psicológica nos transtornos de ansiedade, vamos nos atentar aos principais tipos de transtornos de ansiedade presentes na nossa sociedade.
A seguir, descrevemos brevemente a caracterização de cada um deles:

  • Transtorno de ansiedade de separação: Consiste em um medo excessivo que a criança sente ao se separar da sua figura de vínculo, que pode ser os pais, tios, irmãos, cuidadores, etc. A criança com transtorno de ansiedade de separação tem dificuldades para lidar com o afastamento de casa ou da família.
  • Transtorno de ansiedade social (fobia social): Uma pessoa com ansiedade social pode sentir fortes sintomas de ansiedade ao estar em um local público e/ou interagindo com pessoas desconhecidas.
  • Transtorno de pânico: O transtorno de pânico, muitas vezes, está associado ao medo de morrer ou de perder a sanidade mental. Pode estar associado a gatilhos específicos, e causa sintomas como taquicardia, sudorese, etc.
  • Transtorno de ansiedade generalizada: O TAG diz respeito aos episódios ansiosos que ocorrem devido a uma série de eventos. Isto é, não está associado a um único gatilho, como é no caso da ansiedade social
  • (medo das interações sociais e ambientes públicos) e ansiedade de separação (medo de ficar longe das figuras de vínculo), mas sim, associa-se a uma série de acontecimentos vividos pelo indivíduo.

Abordagem psicológica nos transtornos de ansiedade

Compreendido os principais quadros de transtornos ansiosos, vamos agora nos aprofundar um pouco mais na abordagem psicológica nos transtornos de ansiedade.

Esse tipo de conhecimento pode ajudá-lo a compreender quais medidas são colocadas em prática na hora de minimizar os sintomas ansiosos, podendo servir de base, inclusive, para uma análise mais profunda da situação.

Vale ressaltar que o conhecimento da abordagem psicológica, descrita abaixo, não substitui o acompanhamento de um psicólogo. Trata-se de um conteúdo informativo que visa fomentar reflexões e conhecimentos, e não servir de substituto para o acompanhamento profissional.

Além disso, outro ponto que devemos destacar é que cada indivíduo tem a sua própria história de vida. Isso significa que não existe um único método ou protocolo de atendimento, pois cada pessoa pode ter crises de ansiedade relacionadas a fatores bem específicos.

Sendo assim, fomentamos que as descrições a seguir são mais generalistas, mas que o profissional qualificado irá avaliar cada caso de maneira única, desenvolvendo um tratamento alinhado às subjetividades do sujeito.
Esclarecidos esses dois pontos, vamos às considerações:

1. Processo de psicoeducação
O processo de psicoeducação consiste na apresentação de informações importantes sobre o quadro clínico do paciente. Esse processo consiste em descrever o que é um transtorno de ansiedade, quais as possíveis causas, como se manifesta, quais sintomas estão associados, e assim por diante.
Quando o paciente tem a oportunidade de saber mais sobre o seu quadro clínico, torna-se possível compreender melhor o que acontece consigo mesmo, minimizando a sensação de perda de controle que pode ocasionar ainda mais angústia frente ao diagnóstico.
O indivíduo também pode tirar as suas dúvidas com o terapeuta, buscando compreender melhor o que pode estar sentindo, ao mesmo tempo em que explana as suas emoções e passa a escutar a si mesmo após essa ação.

2. Análise dos gatilhos emocionais e sintomas
Durante as sessões de terapia, o paciente também pode começar a falar sobre os momentos nos quais as crises de ansiedade tendem a aparecer com maior frequência.
Essa análise pode ajudar na hora de detectar possíveis gatilhos emocionais e sintomas presentes no dia a dia do paciente.
Dessa maneira, cria-se um maior controle do que pode estar sendo sentido e acontecendo.
Por exemplo, se o paciente consegue detectar que se sente ansioso todas as vezes que vai entregar o seu currículo, por conta de imaginar que não irá conseguir nenhum emprego, ele pode criar uma consciência maior sobre os seus próprios pensamentos e emoções, questionando-se até que ponto aquilo é real ou algo “distorcido” ou ancorado em fatores inadequados – como o discurso de outra pessoa que o diminui.
Da mesma forma, reconhecer os gatilhos emocionais e os momentos nos quais os sintomas aparecem também ajuda na hora de adquirir um maior autoconhecimento e autocontrole. A partir disso as crises, tendencialmente, podem não ocorrer mais de maneira tão inesperada, o que pode ocasionar um fortalecimento emocional do indivíduo.

3. Identificação dos pensamentos automáticos
Diante das crises de ansiedade, é muito comum que o sujeito comece a apresentar pensamentos automáticos. Às vezes, ele sequer se dá conta de que esse tipo de atitude faz parte da sua vida.
Durante a psicoterapia, será possível refletir sobre o que vem à mente quando as crises de ansiedade aparecem. Além disso, é possível analisar o que esses pensamentos têm a dizer. Não no sentido de simplesmente ignorá-los e extingui-los, mas no sentido de compreender o que eles realmente têm a ver com o indivíduo.
Por exemplo, seguindo o que mencionamos acima, uma pessoa que sempre pensa que não irá conseguir nenhum emprego está tendo um pensamento automático ao buscar uma vaga interessante. Na terapia, torna-se possível detectar esse pensamento, mas não paramos por aqui.
Durante as sessões, é possível mergulhar mais a fundo e buscar o que esse pensamento quer dizer. Será que o “não vou conseguir emprego” associa-se com cobranças excessivas dos pais? Será que tem relação com a desvalia que a família proporcionou ao indivíduo em sua infância? Ou ainda, será que a pessoa não consegue encontrar o emprego que quer por motivo de, inconscientemente, se autossabotar?
Esses questionamentos podem ser avaliados durante a análise nos casos de ansiedade.

4. Ressignificação dos pensamentos e das visões sobre a vida
Ao mergulhar em si mesmo, reconhecendo os pensamentos automáticos e as crenças que possui sobre si e sobre a vida, é possível trabalhar a ressignificação do que é vivido e imaginado sobre o mundo.
No exemplo que demos anteriormente, é possível fazer questionamentos como: por que você não conseguirá um emprego? O que é preciso para conseguir um emprego? Você tem feito o que é preciso? Como você pode começar a fazer, respeitando os seus limites? Como você tem encarado essa possibilidade de mudança? Você está preparado para mudar?
Perceba que esses são alguns exemplos de questionamentos que podem abrir um caminho para se refletir sobre novas formas de enxergar as situações.
Apesar de estarmos descrevendo esses passos do processo de abordagem psicológica nos transtornos de ansiedade, não estamos, em momento algum, dizendo que essas etapas são ultrapassadas de forma fácil e rápida. Sabemos que lidar com a ansiedade não é algo simples. Porém, estamos apenas exemplificando alguns caminhos que podem ser percorridos à medida que o tratamento avança, sempre levando em consideração o tempo e os limites do paciente.

5. Fortalecimento de práticas saudáveis
A psicoterapia também pode servir de ponte para o fortalecimento das práticas saudáveis no dia a dia do indivíduo.
Às vezes, algumas crises de ansiedade podem ser minimizadas ou prevenidas com as práticas de exercícios, cuidados com a qualidade do sono, entre outras medidas de relaxamento e bem-estar, como meditação, musicoterapia, atividades ao ar livre, contato com a natureza, etc.
Tudo isso pode ser investigado, analisado e proposto durante as sessões. Ou seja, o terapeuta poderá analisar, junto com o paciente, quais comportamentos e ações podem fazer parte de uma rotina mais saudável.
Por exemplo, se o paciente tem, durante a sessão, o insight de que quando está ao ar livre os sintomas tendem a diminuir ou as crises nem chegam a acontecer, essa prática de entrar em contato com a natureza poderá ser fortalecida, tornando-se um hábito mais frequente e benéfico.
Esse insight pode surgir, assim como tantos outros, à medida que o paciente fala sobre sua rotina, sua vida, forma de lidar com os momentos de crise, o que os antecede, e assim por diante.

6. Construção de planos e metas
Durante as sessões de terapia, o paciente também tem a oportunidade de pensar no seu futuro. Isso porque, às vezes, as crises de ansiedade e o diagnóstico podem criar verdadeiros bloqueios nos sonhos e nos objetivos dos indivíduos. Afinal, o medo de vivenciar uma crise pode ser paralisante, o que atrapalha o desenvolvimento funcional do sujeito.
Sendo assim, à medida que o tratamento avança e o sujeito começa a descobrir novas possibilidades e formas de encarar a sua ansiedade, ele pode desenvolver a construção de planos e metas focados no que deseja atingir, quando atingir e sempre respeitando os seus limites e emoções.

7. Treinamento respiratório
Em alguns casos, o psicólogo poderá apresentar alguns exercícios de relaxamento por intermédio da respiração diafragmática, que visa minimizar as tensões musculares e a sensação de sobrecarga provocada pela crise de ansiedade.

8. Foco em viver no presente e no autoconhecimento
Apesar de construir planos para o futuro, o paciente poderá ter uma visão mais clara do seu presente e do seu autoconhecimento.
Afinal, os transtornos de ansiedade associam-se com o medo do que pode vir a acontecer, ou seja, muitas vezes não estão relacionados a algo que realmente vai acontecer.
Sendo assim, trazer o foco para o presente, pensando conscientemente no agora, pode minimizar as crises e os pensamentos ansiosos com relação a diversas esferas da vida do indivíduo.
Isso pode ser feito com questionamentos durante a sessão, como por exemplo: essa angústia sentida com a possibilidade de X acontecer tem alguma relação com o presente e com a realidade de agora, ou é apenas uma projeção imaginada?
Perceba que isso pode fazer com que analisemos o que realmente está acontecendo e o que apenas imaginamos que pode acontecer.
Ter essa diferenciação em nossa mente, focando no aqui e agora, pode ser bem promissor.

9. Reconhecimento de que não temos o controle de tudo
Durante a terapia, também é possível adquirir o conhecimento e aceitar o fato de que não temos como controlar tudo.
As coisas acontecem à nossa volta de diversas formas, com ou sem a nossa intervenção. Algumas situações escapam do nosso alcance e ficam na mão de outras pessoas. E tudo bem.
A vida é feita com muitos personagens atuando à nossa volta, o que tornaria injusto querermos controlar tudo e todos.
Sendo assim, criar esse reconhecimento de que podemos fazer o que está ao nosso alcance, presente em nossas mãos e diante de nós, é algo que pode minimizar aquela pressão de sempre conseguir fazer mais e mais. Afinal, esse tipo de pressão pode ser um dos gatilhos das crises de ansiedade em muitos casos.

10. Encaminhamento ao tratamento psiquiátrico
Em muitos casos, o paciente ainda não tem o diagnóstico de transtorno de ansiedade, ou o tem, mas não busca acompanhamento psiquiátrico.
Porém, por se tratar de um transtorno mental, o encaminhamento ao psiquiatra poderá ocorrer durante a abordagem psicológica nos transtornos de ansiedade. Isso porque o médico poderá prescrever medicamentos e ações que minimizem os sintomas, complementando o processo psicoterapêutico que visa um aumento na qualidade de vida do sujeito.

Como a família pode ajudar uma pessoa ansiosa?

Ao longo de todo este conteúdo, pudemos avaliar e analisar diversas ações que podem ser colocadas em prática nos casos de ​​abordagem psicológica nos transtornos de ansiedade, sempre respeitando a singularidade e a história de vida do sujeito.
Agora, discutiremos algumas ações que a família pode levar em conta, a fim de apoiar um indivíduo ansioso. Confira:

1. Demonstre abertura para a pessoa falar e se expressar
Uma pessoa em crise de ansiedade pode se sentir emocionalmente sobrecarregada, o que aumenta as sensações de angústia, “aperto no peito”, etc.
Sendo assim, oferecer abertura para a pessoa falar e se expressar é uma ação que pode ajudá-la a reorganizar os pensamentos, ao mesmo tempo em que lida com o que se sente e busca-se formas de compreender melhor as próprias emoções.

2. Jamais anule ou diminua as emoções do indivíduo
Nunca diga que as emoções do sujeito são exageradas ou descoladas da realidade. Embora elas possam parecer dessa forma, lembre-se de que a pessoa tem uma visão totalmente diferente da situação.
Portanto, ouvi-la e dizer que a compreende para, depois disso, apresentar novos caminhos que podem ser seguidos e novas formas de enxergar a situação, é algo mais saudável do que minimizar a dor alheia.
Cuidado com a positividade tóxica nesses casos!

3. Ofereça atividades que podem auxiliar a pessoa no processo de distração
Algumas atividades podem ajudar a pessoa a se distrair nos momentos em que as crises aparecem de forma intensa. Pode ser um passeio ao ar livre, uma música relaxante, uma atividade que a ajude a focar no aqui e agora, como por exemplo, contando algo sobre o almoço que está sendo feito, e assim por diante.

4. Não force a exposição a agentes estressores
Nunca exponha a pessoa às situações de gatilho. Por exemplo, se a pessoa tem crises de ansiedade ao ser exposta a grandes multidões, não a leve a ambientes públicos com muita gente para forçar a exposição.
Lembre-se de que as mudanças e o tratamento são gradativos, e não transformam a vida da pessoa de uma hora para outra.
Afinal, a ansiedade pode estar relacionada a anos de vida da pessoa, então, como resolver tudo isso em questão de horas?

5. Cuidado com a comunicação pouco assertiva e que cria “suspense”
Se você sabe que a pessoa se sente ansiosa diante de determinados discursos e falas, por que forçar a situação? Cuidado com o “suspense” desnecessário que pode apenas expô-la a situações que provocam angústia, estresse e crises.
Quando realmente não for possível esclarecer o que vai acontecer, demonstre apoio para que o indivíduo perceba a sua presença no meio de situações com pouco controle.

6. Ajude a pessoa a entender o que pode acontecer em seguida
Quando for possível, ajude a pessoa a pensar de forma mais racional sobre o que vai acontecer em seguida.
Por exemplo, se ela precisa apresentar um trabalho na faculdade e isso a deixa muito ansiosa, ajude-a a pensar sobre cada etapa.
Faça-a perceber que ela estudou, que as outras pessoas só querem ouvir o que ela tem a dizer e que, na realidade, ninguém prestará atenção nela ininterruptamente, no sentido de focar nela ao invés de focar no conteúdo.
Fazê-la perceber que as pessoas querem saber mais sobre o que ela tem para falar, do que por quem ela é naquele momento em si, pode minimizar a sensação de exposição em alguns casos.
Claro que esse é apenas um exemplo, e é interessante ajustar essas expectativas de acordo com a realidade do sujeito.

7. Construção de hábitos mais saudáveis
Incentive a pessoa a construir hábitos mais saudáveis. Convidá-la para caminhadas, atividades físicas, momentos de hobbies e descontração, entre outras medidas, pode contribuir para um maior equilíbrio emocional e aumento da qualidade de vida.
Tudo isso, somado, também pode ser um bom complemento para a abordagem psicológica nos transtornos de ansiedade, bem como para o tratamento psiquiátrico que possa estar sendo feito.

Este conteúdo é apenas informativo e reflexivo, e não exclui o acompanhamento de profissionais qualificados. Portanto, em caso de dúvidas, contate um psicólogo ou psiquiatra para saber mais sobre os transtornos de ansiedade e buscar o tratamento mais adequado ao seu caso.

Referências
American Psychiatric Association (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

OLIVEIRA, M. I. S. Intervenção cognitivo-comportamental em transtorno de ansiedade: relato de caso. Rev. bras.ter. cogn., Rio de Janeiro , v. 7, n. 1, p. 30-34, jun. 2011 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872011000100006&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 01 nov. 2022.