Abordagem psicológica no fracasso esportivo
Abordagem psicológica no fracasso esportivo
A abordagem psicológica no fracasso esportivo tem um papel muito importante no mantimento da saúde mental dos atletas. Especialmente nos casos em que há uma extrema pressão externa, o indivíduo pode se sentir desamparado e extremamente frustrado com o resultado não atingido.
Sendo assim, neste texto discutimos alguns pontos de intervenção psicológica para que você conheça um pouco mais sobre as possibilidades que podem ser seguidas nesse caso. Acompanhe.
Aspectos psicológicos presentes no fracasso esportivo
Antes de iniciarmos a descrição dos possíveis caminhos que podem vir a ser seguidos, vejamos alguns dos principais aspectos psicológicos presentes no fracasso esportivo, a fim de termos uma visão mais assertiva sobre essa situação.
Afinal, quando reconhecemos algumas das emoções presentes nas situações, podemos lidar diretamente com elas, de uma maneira mais efetiva. Veja:
1. Frustração
Sem dúvidas, a frustração pode ser bastante intensa diante de uma perda. Especialmente quando a perda é vista como uma verdadeira “punição”. Isto é, muitas vezes a vitória deixa de ser algo importante e se transforma na única coisa que importa para o atleta. Esse tipo de situação pode fortalecer os níveis de frustração vividos após a derrota.
2. Revolta
A revolta também pode aparecer em casos de fracasso esportivo. Ela pode estar associada a um sentimento que envolve o adversário, os colegas do time ou o próprio indivíduo – bem como os três juntos.
Essa revolta pode ocasionar níveis de estresse elevados, que merecem atenção caso o objetivo seja elevar a qualidade de vida do atleta, inclusive, diante de situações adversas.
3. Ansiedade
A ansiedade no esporte também pode aparecer após uma perda significativa. Isso porque o atleta, ao pensar em seu “fracasso”, pode se sentir extremamente ansioso com relação aos próximos jogos e competições.
Sendo assim, é muito importante trabalhar essa ansiedade para evitar que ela impacte a qualidade de vida, a saúde mental e até mesmo o rendimento do atleta.
4. Baixa autoestima
A baixa autoestima também pode ser um dos resultados após uma derrota. O indivíduo pode ter a sua autoconfiança abalada, acreditando que não é bom o bastante para enfrentar, novamente, outro adversário que seja considerado “forte”.
5. Desequilíbrio do grupo
O desequilíbrio do grupo, infelizmente, é outro efeito que pode aparecer. Os indivíduos, ao culpabilizarem uns aos outros, como ocorre em alguns casos, podem se ver diante de conflitos internos ao time.
Além disso, o fato de poder haver um desalinhamento de objetivos de curto, médio e longo prazo, o time também pode sofrer com esse desequilíbrio, uma vez que cada um dos jogadores pode estar focado de um modo diferente.
Aqui, trabalhar a restauração da união e da motivação grupal é um caminho que pode ser cogitado durante a abordagem psicológica no fracasso esportivo.
Abordagem psicológica no fracasso esportivo
No tópico anterior, pudemos ter uma breve visão de alguns dos principais aspectos psicológicos presentes no fracasso esportivo. Obviamente, poderíamos listar muitos outros efeitos que a derrota é capaz de provocar no atleta, uma vez que estamos falando de emoções e, acima de tudo, de subjetividade.
Contudo, focamos nos fatores que podem ser mais recorrentes em algumas situações, a fim de facilitar a compreensão da temática.
Agora, discutiremos, nos próximos tópicos, alguns caminhos que são seguidos na abordagem psicológica no fracasso esportivo. Veja a seguir:
1. Elaboração do luto e das emoções
Quando perdemos algo importante em nossas vidas, independente do que seja, nós podemos atravessar um verdadeiro processo de luto. Na perda esportiva, não é diferente.
Por isso, a elaboração do luto e das emoções provenientes dela é uma das etapas que podem ser consideradas durante a abordagem psicológica no fracasso esportivo.
Esse tipo de elaboração pode ocorrer, ainda, no acompanhamento psicoterapêutico, que é quando o atleta poderá comparecer, semanalmente, às sessões de terapia (online ou presenciais) para discutir sobre as suas emoções, perspectivas diante do que acontece em sua vida, etc.
Assim sendo, o processo de luto poderá ser vivenciado, uma vez que essa ação de elaborá-lo é extremamente importante. Quando negligenciamos as etapas de um luto importante em nossas vidas, ao se deparar com outras situações de perda, no futuro, poderemos ter ainda mais dificuldades para enfrentar a situação, considerando o fato de que as questões não resolvidas podem “se somar”, de certo modo, mais tarde.
Portanto, falar sobre as emoções e permitir-se viver a tristeza da perda, chorando, desabafando, pensando sobre o assunto, são medidas válidas e muito importantes.
Quando pensamos no luto, podemos pensar como um processo no qual precisamos desinvestir uma energia depositada em algo, investindo em outra. Por exemplo, a energia psíquica poderia estar muito investida na vitória, como se ganhar fosse o único sentido da vida naquele instante. Com a perda sendo uma realidade, é necessário tirar esse investimento do objeto perdido, colocando-o em outro. Esse processo de desinvestimento e investimento nada mais é do que o luto. Por isso, precisa-se respeitar o tempo de vivência do atleta, e durante a análise psicoterapêutica isso poderá ser conversado, analisado e elaborado.
2. Cuidados com a autoestima e com a autoconfiança
A abordagem psicológica no fracasso esportivo também considera a necessidade de se trabalhar a autoestima e a autoconfiança do atleta. Como ambas podem estar abaladas em decorrência da perda, elas precisam aparecer durante a abordagem feita pelo psicólogo.
Assim sendo, o atleta, que pode ser convidado a refletir sobre a sua conduta, sua história no esporte, vitórias e perdas, poderá analisar até que ponto, realmente, aquele fracasso diz respeito ao seu todo. Isto é, será que aquela perda é mais importante do que todos os ganhos? Será que a perda é o seu traço mais forte, ou existem outras características pessoas mais positivas?
Pensar sobre os defeitos e as qualidades, bem como as vitórias que já foram atingidas no decorrer da carreira esportiva – como superações, pontuações, entre outros pontos que, não necessariamente, têm a ver com uma vitória de fato -, também pode auxiliar na hora de se refletir sobre a autoestima e a autoconfiança.
Sem deixar de lado a autorresponsabilidade do atleta, muitas questões podem ser levantadas pelo terapeuta para que ele possa refletir sobre os impactos da perda em sua imagem, e até que ponto uma derrota é, de fato, motivo para se sentir diminuído e menos importante.
Afinal, a derrota só existe porque há um outro lado – ou seja, o adversário. Sempre haverá quem ganha e quem perde. É impossível ser bom o tempo todo – as pequenas falhas fazem parte da vida. Mas essas pequenas falhas não dizem que a pessoa é menos válida ou menos importante.
Essas análises e reflexões podem ser bem pertinentes.
3. Trabalho focados em metas
O psicólogo, junto com o atleta e com toda a equipe, também poderá trabalhar questões voltadas ao processo de traçar metas.
Como mencionado anteriormente, a falta de metas e de compatibilidade nos objetivos pode resultar em conflitos e desequilíbrios no grupo.
Por isso, é muito importante que toda a equipe alinhe as expectativas e os próximos passos que devem ser dados, com o propósito de organizar a atuação e impedir que haja desequilíbrios na atuação nas próximas competições.
Isso porque, quando a equipe não está entrosada, é possível que haja efeitos no rendimento do grupo durante as competições.
Sendo assim, o trabalho de metas grupais é muito bem-vindo na hora de restabelecer uma visão de futuro, perspectivas novas para o trabalho no esporte, etc.
Além disso, as metas individuais também poderão ser traçadas, com o propósito de auxiliar o atleta na hora de ter uma visão mais clara de quais etapas ele quer atingir. Isso pode servir de base para a recaptura da motivação, que pode ter se esvaziado na derrota. Ao enxergar caminhos para mudanças e transformações, o indivíduo pode se questionar quanto aos passos que pode dar rumo ao seu crescimento, enxergando na derrota uma aprendizagem para melhorias.
4. Treinamento psicológico (mudanças de percepção, pensamento e motivação)
O objetivo por trás do Treinamento Psicológico é fornecer ferramentas que auxiliem o sujeito na hora de modificar os seus processos psíquicos que possam estar impactando no seu bem-estar e nos seus resultados.
Dentre as áreas que podem ser trabalhadas no Treinamento Psicológico, podemos citar as mudanças de percepção, que podem ajudar o atleta a enxergar a situação por outras vias, para além da “lente da derrota” que ele possa estar usando; mudanças de pensamento, transferindo os pensamentos negativos para visões mais positivas e otimistas para o futuro; motivação, com foco elevá-la para promover mais energia e disposição para o atleta, na hora de enfrentar as novas adversidades que poderão ser vivenciadas com o passar do tempo; entre outras possibilidades.
O Treinamento Psicológico poderá ser colocado em prática de acordo com as singularidades e características de cada atleta. Além disso, torna-se possível abordar questões do desempenho do atleta e da equipe, bem como fatores envolvidos com as competições e a percepção que os atletas podem ter desses eventos importantes.
Assim sendo, pode-se atingir uma verdadeira melhoria sistemática dos comportamentos e do equilíbrio emocional frente às adversidades esportivas.
Embora não seja algo relacionado apenas à derrota, mas, sim, a toda a rotina esportiva, ainda assim o treinamento poderá fazer parte do processo de abordagem psicológica no fracasso esportivo.
Vale ressaltar que esse treinamento deve ocorrer na presença do psicólogo qualificado para tal aplicação.
5. Técnica de relaxamento de Jacobson
A técnica de relaxamento de Jacobson pode ser uma das ferramentas na hora de enfrentar a sobrecarga emocional, o estresse e a ansiedade provenientes da situação de derrota.
Essa técnica consiste em contrair e relaxar os grupos musculares de modo gradual, visando fornecer uma sensação de bem-estar físico e mental para o atleta.
Esse momento de relaxamento poderá ajudá-lo a minimizar as tensões vividas no momento, o que pode contribuir para uma visão mais equilibrada da situação.
6. Ressignificação do ato de ganhar e perder
Como mencionamos no decorrer deste conteúdo, muitas vezes o significado de ganho e de perda podem estar deturpados na visão de alguns atletas. Por isso, a abordagem psicológica no fracasso esportivo também considera a ressignificação desse conceito.
Passa-se a refletir sobre o quanto a perda faz parte do processo de aprendizagem e de crescimento profissional. Além disso, questiona-se sobre outros fatores que podem ser importantes durante a prática esportiva, tirando o foco que pode estar completamente ancorado na vitória.
Isso porque, devido a uma série de fatores, o atleta pode estar enxergando na vitória a única possibilidade de ter sucesso, felicidade e satisfação no esporte, deixando de lado todas as outras conquistas, superações e crescimentos que ele pode proporcionar.
Sendo assim, criar uma nova significação para o ganhar, enxergando como uma possibilidade importante, mas, não como a única possibilidade que importa, é um caminho que pode ser trabalhado nesse momento, promovendo reflexões para os atletas.
7. Aconselhamento psicológico e autorresponsabilidade
A Psicologia Esportiva também poderá ser trabalhado nessas circunstâncias. O aconselhamento psicológico visa auxiliar o indivíduo na busca por soluções para as suas questões emocionais e psicológicas, de modo a elevar o bem-estar, o equilíbrio emocional e a qualidade de vida.
Assim, analisa-se os pontos iniciais que podem estar ocasionando sofrimento emocional e desconforto para o indivíduo, aprofunda-se nessas questões e desenvolve-se um plano de ação para lidar com as adversidades e conquistar mudanças positivas.
8. Trabalho voltado à inteligência emocional
Por fim, o trabalho voltado à inteligência emocional também pode entrar em cena na abordagem psicológica no fracasso esportivo. Entende-se por inteligência emocional a capacidade de detectar, entender e compreender as emoções, aprendendo a lidar com elas de uma maneira mais saudável e menos impulsiva.
Isto é, o atleta poderá aprender a nomear o que sente, quando sente e por que sente, além de poder pensar em formas de aceitar essas emoções, minimizá-las ou simplesmente elaborá-las até que se sinta melhor.
Por exemplo, ao invés de apenas querer fugir da tristeza da perda, é possível pensar por que o indivíduo está triste: o que a perda representa? Como ela impacta a vida do sujeito? Quais outras perdas vem à tona nesse momento?
Além disso, pode-se pensar em formas de lidar com ela: Chorar alivia? Falar sobre a perda é interessante? A tristeza costuma passar em quanto tempo? Será que é o caso de uma pausa para refletir? Como lidar com essa sensação? Você aceita a sua tristeza?
Esses e outros questionamentos podem ajudar o indivíduo a compreender melhor as suas emoções, aprendendo a lidar com elas e, consequentemente, elevando a sua inteligência emocional. Por isso, pode ser um caminho relevante a ser seguido em casos de perda no esporte.
Referências
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SAMULSKI, Dietmar. Psicologia do Esporte; Intervenção Prática. Revista Paulista de Educação Física, v. 3, p. 35-37, 1988.