Abordagem Psicológica do Paciente Obeso e Superobeso
Abordagem psicológica do paciente obeso e superobeso
A abordagem psicológica do paciente obeso e superobeso tem um papel muito importante no mantimento do bem-estar e na promoção de saúde dos pacientes e, inclusive, da própria família.
Por meio do acompanhamento psicológico, questões emocionais e de saúde mental podem ser analisadas, escutadas, movimentadas e transformadas – de acordo com as singularidades de cada indivíduo.
Para saber mais sobre esse processo, e até mesmo compreender possíveis caminhos que o paciente e a família podem seguir diante do diagnóstico, acompanhe este texto sobre a obesidade e a superobesidade.
Abordagem psicológica do paciente obeso e superobeso
A abordagem psicológica do paciente obeso e superobeso visa oferecer um suporte emocional e psíquico para que o indivíduo inicie o tratamento rumo à perda de peso saudável e alinhada às necessidades do seu organismo.
Para isso, questões de autoestima, construção da rede de apoio, criação de metas, implementação de mudanças no estilo de vida, entre outras ações, entram na rotina do indivíduo, que terá suporte do psicoterapeuta durante a sua trajetória de tratamento.
A seguir, descrevemos, com mais detalhes, alguns dos possíveis caminhos que o tratamento psicológico pode seguir nesses casos:
1. Análise e compreensão dos gatilhos compulsivos
A compulsão alimentar pode estar associada a uma série de gatilhos e impulsos do indivíduo. Algumas pessoas podem consumir alimentos de forma demasiada quando se sentem ansiosas. Outras pessoas podem ter outras questões de autoestima associadas à compulsão alimentar.
Sendo assim, é importante considerar que, inicialmente, haverá uma análise dos gatilhos compulsivos do sujeito, procurando entender se existem vestígios de situações específicas que o levam ao comportamento de consumir alimentos demasiadamente.
Em paralelo a isso, a história do sujeito, suas questões de vida, angústias, medos e expectativas também são levantadas nas primeiras sessões.
Vale ressaltar que cada indivíduo obeso ou superobeso tem uma história de vida única e, portanto, os seus gatilhos emocionais podem ser completamente diferentes. Por isso, o terapeuta, juntamente com a colaboração do paciente, poderá analisar quais são os motivos pelos quais a compulsão pode ter se iniciado e se instaurado, embora ela não esteja associada a apenas a um fator.
A partir disso, à medida que se descobre e se encontram fatores que influenciaram no consumo alimentar exacerbado, medidas de minimização desses fatores e de equilíbrio dos gatilhos mentais poderão entrar em cena.
2. Intervenções focadas na autoestima
A autoestima do paciente obeso ou superobeso pode ficar abalada devido à sua condição, aos julgamentos da sociedade e aos padrões impostos.
Isso pode prejudicar as interações e a vida amorosa do indivíduo, que pode vivenciar sentimentos de desvalia.
Além disso, a dificuldade para perder peso e a ausência de autocontrole durante as refeições podem ocasionar um aumento na baixa autoconfiança do sujeito.
Sendo assim, a abordagem psicológica do paciente obeso e superobeso também traz à tona questões e intervenções focadas na autoestima.
Trabalha-se o autoconhecimento, estimula-se a autoaceitação e desenvolvem-se estratégias de mudanças que respeitem os limites do paciente e que mostrem a ele a possibilidade de desenvolver-se sem exagerar na “dose”.
Dito de outro modo, o terapeuta, junto com o paciente, traça caminhos para mudar fatores que impactam na autoestima, respeitando os limites e construindo um amor-próprio que cresce a cada dia.
Isso quer dizer que se o paciente atinge a marca de perder 100 gramas do seu peso corporal, isso será visto como uma vitória que fortalece a autoconfiança e a autoestima.
Não há necessidade de viver transformações insanas e inalcançáveis da noite para o dia para ser “bom”. Pequenas vitórias podem fomentar a autoestima e isso tende a ser desenvolvido na terapia.
Da mesma forma, a aceitação das suas características pessoais, sem associá-las a algo negativo porque não se está dentro dos padrões sociais, também é trabalhada nas sessões.
3. Construção da rede de apoio e sociabilidade
A abordagem psicológica do paciente obeso e superobeso também fomenta a construção de uma rede de apoio e o desenvolvimento das habilidades sociais.
Muitas vezes, devido à baixa autoestima, o paciente obeso ou superobeso pode iniciar o processo de isolamento social, que prejudica o seu bem-estar e a sua saúde.
Sendo assim, durante as sessões de terapia são discutidas formas de fortalecer a vida social do sujeito, auxiliando na quebra de tabus e de medos que possam ocasionar o isolamento social.
Também pode-se avaliar quais são as pessoas que podem fazer parte da rede de apoio do sujeito frente ao tratamento. Essa rede de apoio pode ser constituída por familiares, parentes e amigos, desde que sejam pessoas nas quais o paciente confie e se sinta bem quando estão por perto.
A rede de apoio tem um papel importante no processo de tratamento, pois aumenta a autoconfiança, segurança e autoestima do sujeito, além de ser uma fonte de fortalecimento emocional diante das adversidades.
4. Clarear sentimentos e emoções
Nem sempre é fácil compreender o que as nossas emoções e sentimentos estão tentando nos dizer. Essa “confusão” pode aumentar o sentimento de angústia e desamparo em alguns casos.
Sendo assim, a abordagem psicológica do paciente obeso e superobeso também visa propiciar uma escuta ativa ao indivíduo, para que este possa falar de seus medos, angústias, sonhos, alegrias e tristezas.
Falar sobre o que se sente, seja relacionado ao caso de obesidade ou não, proporciona uma diminuição na carga emocional, oferecendo a possibilidade de se ter mais saúde física e mental.
Por isso, investir na psicoterapia como forma de clarear os sentimentos e emoções pode ser bem promissor.
Vale ressaltar, ainda, que a fala pode ser bastante terapêutica pois permite “colocar para fora” o que se sente e o que se pensa, ao mesmo tempo em que pode-se organizar esses pensamentos e sentimentos.
5. Traçar metas, objetivos e planos
Durante a abordagem psicológica do paciente obeso e superobeso, o terapeuta também poderá desenvolver, com o paciente, metas, objetivos e planos para implementar na vida.
Essas metas são alinhadas aos objetivos, expectativas e limites do paciente, sem ultrapassá-los a todo custo.
Podem estar relacionadas ao processo de emagrecimento, como também podem ter relação com outras esferas da vida, como no caso de incluir mais hábitos saudáveis ou interagir mais com as outras pessoas.
Essas metas podem servir de base para manter a motivação frente aos desafios vividos durante todo o tratamento.
6. Implementar mudanças no estilo de vida
Por meio do processo de psicoeducação, o profissional da saúde também auxilia o paciente na implementação de mudanças positivas no estilo de vida.
É o caso de, juntos, pensarem em formas de melhorar a qualidade do sono do paciente, bem como implementar medidas que reduzam o estresse e a ansiedade no dia a dia, visando minimizar esses sentimentos para que os comportamentos compulsivos, provenientes deles, possam ser diminuídos.
Além disso, obviamente, um planejamento de hábitos saudáveis com foco no emagrecimento também podem ser cogitados nesta fase do tratamento.
7. Sair da posição passiva caminhado rumo à ativa
O psicoterapeuta também produzirá reflexões que podem auxiliar o indivíduo a sair da sua posição passiva, de quem sofre com obesidade ou superobesidade, para caminhar à posição mais ativa, de quem busca formas de combater o problema, aumentando a qualidade de vida.
Para isso, inicialmente é importante reconhecer o problema e a necessidade de haver mudanças significativas.
Depois, traçam-se planos de ação que possam fomentar o tratamento adequado. Por fim, a ação é posta em prática, além de haver o acompanhamento de tudo o que vem sendo feito de forma ativa pelo paciente.
8. Fomentar uma perda de peso real, não mágica
A abordagem psicológica do paciente obeso e superobeso também foca na perda de peso real, e não na idealizada pelo sujeito.
Como idealizada, podemos dizer aquela perda de peso que aconteceria da noite para o dia, ou em pouquíssimos meses.
Considerando tudo isso, muitas vezes, devido ao sofrimento vivido por conta dos casos de obesidade e superobesidade, os indivíduos podem buscar fórmulas mágicas para emagrecer o mais rápido possível.
Porém, sabemos que não é assim que funciona. O emagrecimento pode ser lento em muitos casos, mas isso não significa que ele seja ruim. Mas sim, significa que ele está dentro das possibilidades.
Afinal, mesmo que existissem métodos para um emagrecimento tão rápido, deveríamos desconfiar da eficácia e dos efeitos colaterais que o processo poderia desencadear.
Sendo assim, o paciente pode começar a criar a consciência de que não existe método infalível que fará com que ele perca o peso totalmente e nunca volte a engordar uma grama sequer; mas sim, que existem formas de desenvolver um caminho real e possível, que mesmo diante de “recaídas”, ainda esteja aberto para ser perseguido com calma, sem pressa e sem a necessidade de ocorrer um efeito mágico.
Como a família pode lidar com um paciente obeso ou superobeso?
Além de refletirmos sobre a abordagem psicológica do paciente obeso e superobeso, buscando trazer informações tanto para o paciente, quanto para quem convive com ele, agora descreveremos, nos tópicos abaixo, algumas considerações sobre a atuação da família.
Embora não exista uma receita de “como lidar com um paciente superobeso ou obeso”, ainda assim existem orientações, dadas por especialistas, que podem fomentar uma maior qualidade de vida e bem-estar para o sujeito obeso e a sua família. Veja a seguir algumas dessas reflexões:
1. Acolher, escutar e não julgar
A família ajustada é um laço social muito importante na vida de qualquer pessoa. Dentro dela, encontramos abrigo, exemplo, espelhos e outras questões que contribuem para um desenvolvimento saudável ao longo de nossas vidas. A dinâmica familiar contribui para a formação de quem somos, seja no sentido bom ou ruim.
Isso quer dizer que é na família que, muitas vezes, encontramos o suporte para lidar com as adversidades da vida. E não estamos falando apenas da família de sangue, mas sim, da família que é considerada como tal.
Na situação de obesidade ou superobesidade, a família pode acolher, escutar e proporcionar um ambiente agradável para o indivíduo, sem menosprezá-lo ou julgá-lo.
Dizer que o paciente é preguiçoso ou que a sua condição é uma escolha são discursos cruéis que machucam, causam impactos psicológicos e podem, inclusive, levar à ideações suicidas em algumas situações.
Portanto, acolher, saber ouvir as angústias, demonstrar preocupação e afeto são comportamentos familiares que podem fortalecer o indivíduo.
2. Incentivar mudanças de hábitos
A família pode incentivar, de maneira positiva e respeitosa, as mudanças de hábitos do paciente obeso ou superobeso. É o caso de iniciar programações mais ativas em conjunto, como passeios ao ar livre e atividades físicas diferentes.
Da mesma forma, é possível incentivar uma alimentação mais saudável, preparando um almoço em família que priorize legumes e verduras, por exemplo.
Demonstrar esse olhar sincero e sensível frente ao diagnóstico do familiar, projetando pequenas mudanças – que geram grandes resultados -, são comportamentos válidos para a família colocar em prática, mas sempre respeitando o espaço do outro e sem “forçar” que ele venha a ter um comportamento X ou Y.
3. Incentivar o acompanhamento profissional
Incentivar o acompanhamento profissional é outra ação que a família pode colocar em prática.
Às vezes, o paciente pode se sentir envergonhado ou inseguro de ir até o consultório do profissional da saúde.
Nesses casos, acompanhá-lo, desmistificar o tratamento e apoiá-lo diante das dificuldades é muito importante.
Demonstrar disponibilidade para ir com ele a uma consulta pode mostrá-lo o quanto esse processo pode ser rico, e o quanto a família apoia as mudanças positivas em sua vida.
4. Fortalecer a autoestima e a autoconfiança
Fortaleça, sempre que possível, a autoestima e a autoconfiança do sujeito. Mostre que você acredita que ele é capaz de ir além, mesmo quando ocorre uma recaída e pequenos tropeços no caminho.
Elogiar a pessoa, de forma genuína e sincera, também é importante. Cada elogio pode ser dado de maneira honesta, em momentos diversos do dia a dia. Como por exemplo, elogiar um trabalho, um conhecimento, uma atitude, um traço físico, uma ação bem-sucedida, enfim!
Não há necessidade de elogiar apenas a aparência, mas é claro que esta também pode ser alvo de elogios para fortalecer a autoestima.
Procure demonstrar que acredita no outro, pois isso pode instigá-lo a ir além. Se a família não demonstra confiança na capacidade do indivíduo, a autoconfiança deste poderá ficar abalada.
5. Comemorar as pequenas vitórias
Durante o tratamento da obesidade e superobesidade, o paciente estará diante de diversos desafios. Alguns podem tornar momentos do tratamento mais difíceis, outros nem tanto.
Isso quer dizer que cada pequena conquista, por menor que possa parecer, significa muito na vida daquela pessoa.
Por isso, comemorar com ela cada uma dessas vitórias é uma forma de demonstrar apoio e respeito aos limites e superações do indivíduo.
Ele perceberá que tem o apoio necessário para ir adiante, e que cada passo significa muita coisa em sua história, o que pode fazê-lo enxergar a possibilidade de dar mais um micro passo, e outro, e outro, sem pressa de atingir o irreal, mas sempre focando em si mesmo, nas suas singularidades e saúde.
6. Buscar aprender mais sobre a obesidade
Quando a família tem acesso aos conhecimentos voltados à obesidade, pode quebrar tabus que ela mesma carrega e, muitas vezes, nem se dá conta.
Além disso, o conhecimento propicia tomadas de decisão mais claras e assertivas, de acordo com a situação que está ocorrendo.
Por isso, conversar com profissionais da saúde, buscar informações em fontes confiáveis e aprender mais sobre os casos de obesidade, são caminhos que podem ser percorridos pela família.
7. Não culpabilizar e nem diminuir o paciente
Nunca culpabilize o paciente por conta do seu quadro clínico. Lembre-se de que o indivíduo não escolhe adoecer e muito menos sofrer o que está sofrendo.
Ter esse olhar empático e jamais diminuir a pessoa é muito importante. Caso contrário, a autoestima do sujeito poderá ser massacrada, o que atrapalha o desenvolvimento do tratamento como um todo.
Por isso, sempre considere a premissa de que a obesidade exige tratamento, não culpabilização. Isso pode fazer a diferença na hora de abordar o familiar obeso e de dar a ele oportunidades, em família, para buscar mudanças positivas, saudáveis e que não o diminuam e tampouco o comparem.
Referências
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