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Violência física no casamento

Violência física no casamento

A violência física no casamento, infelizmente, é a realidade de muitas pessoas, especialmente de mulheres.

Pensar sobre essa temática, analisar os sinais e buscar ajuda ou oferecer a ajuda adequada são ações que contribuem para uma maior proteção e suporte às vítimas.

Neste texto, apresentamos uma série de considerações sobre a temática. Confira lendo-o até o fim.

O que caracteriza a violência física no casamento?

A violência física no casamento pode ser caracterizada como qualquer ato violento e agressivo que tenha como objetivo prejudicar e maltratar a vítima. É o caso de o agressor usar força física ou objetos para provocar dores e desconfortos físicos na vítima. Veja alguns exemplos de violência:

  • Puxões de cabelo.
  • Empurrões.
  • Tapas e socos.
  • Beliscões.
  • Uso de objetos para ferir.
  • Estrangulamento.
  • Segurar com força e contra a vontade da vítima.
  • Arranhar.
  • Bater a cabeça da vítima na parede.
  • Empurrar nas escadas.

Ciclo da violência física no casamento

Os casos de violência física no casamento podem apresentar um ciclo bastante característico e comum em um relacionamento tóxico. Abaixo descrevemos esse ciclo para que seja possível analisar a forma como ocorre a violência no casamento:

  1. Fase de tensão: Embora todos os relacionamentos tenham momentos de tensão e desconforto, no caso de um relacionamento abusivo essa tensão costuma surgir de um modo específico. A vítima passa a sentir a tensão ao perceber gestos, tom de voz ou atitudes do abusador que têm como objetivo deixá-la acuada, com medo e anulada. Anulada no sentido de que a vítima irá fazer o possível para agradar o abusador frente à situação que ela percebe que o desagradou de algum modo. Porém, a tensão vai apenas aumentando e provocando ainda mais desconforto e medo na vítima.
  2. Momento violento: Passada a fase de tensão, a vítima sofrerá o ataque violento do seu abusador. Este “explode” em um momento de raiva e pode agredi-la fisicamente com o intuito de “corrigir” ou “coibir” determinados comportamentos da vítima.
  3. Lua de mel: Na terceira fase, vem o “arrependimento” do abusador. Este se mostra muito arrependido por ter agredido a vítima, pede desculpas e pode, inclusive, se mostrar “mudado”, muito carinhoso e atencioso. Nesta fase, a vítima pode acreditar que o abusador está mudando, aceitando-o mais uma vez, e é aí que o ciclo da violência física no casamento retoma o seu início.

Como saber se uma pessoa está sofrendo violência física no casamento?

Alguns sinais podem ser considerados na hora de compreender se estamos diante de uma vítima de violência física no casamento. Veja a seguir:

  • A vítima pode demonstrar um medo desproporcional do outro.
  • A vítima pode estar, a todo momento, tentando esconder algo do outro, com medo que ele descubra e possa confrontá-la. Esse medo costuma ser desproporcional. Por exemplo: a vítima pode tentar esconder que quebrou um copo do agressor, por medo de que ele possa puni-la por isso.
  • A vítima usa roupas compridas em dias quentes, como forma de esconder hematomas e ferimentos.
  • A vítima pode usar diversos discursos diferentes para justificar cicatrizes e marcas no corpo, dizendo que bateu no armário da cozinha, caiu da escada, deixou algo cair em si mesma, etc. Muitas vezes, as histórias não fazem muito sentido.
  • A vítima pode ter temor de contradizer o agressor, sempre aceitando o que ele diz, mesmo quando mostra, nitidamente, que não é o que ela deseja.
  • O isolamento social começa a aparecer. A vítima, neste caso, pode se afastar da família e dos amigos, mantendo-se próxima apenas do seu par amoroso.
  • A concentração e outras funções cognitivas começam a ficar prejudicadas.
  • A vítima apresenta alterações no peso sem causas aparentes.
  • A vítima pode demonstrar uma redução na sua independência, não tomando decisões sozinha.
  • Entre outros sinais de mudanças comportamentais, especialmente quando a vítima está perto do agressor.

Consequências psicológicas da violência física no casamento

Infelizmente, sabemos que a violência física no casamento pode ocasionar uma série de consequências severas na saúde psíquica e emocional de uma pessoa. Além disso, a saúde física também pode ficar comprometida, devido à violência sofrida com o passar do tempo.

E por falar em tempo, à medida que ele passa, a situação pode acarretar efeitos ainda mais intensos. Por isso, é muito importante oferecer ajuda à vítima para que o ciclo da violência seja interrompido o quanto antes.

Veja, agora, quais são as possíveis consequências psicológicas dos casos de violência física no casamento:

1. Danos físicos e cerebrais, que podem ser irreversíveis
Os danos físicos e cerebrais podem ser uma das consequências desse tipo de violência. Isso porque as pancadas na cabeça ou em outras partes do corpo da vítima podem resultar em efeitos severos, inclusive irreversíveis.

2. Distúrbios do sono
Os traumas vividos durante os atos de violência física no casamento podem resultar em distúrbios do sono. A vítima pode vivenciar um estado de alerta constante, resultando em casos de insônia, por exemplo.
Os pesadelos podem atrapalhar a qualidade do sono, fazendo-a sentir-se extremamente agitada e com dificuldades para dormir bem.

3. Alterações alimentares
Quando pensamos em questões de saúde mental, não podemos deixar de considerar o quanto isso também influencia em nossa forma de se alimentar. Afinal, a ansiedade e a preocupação excessiva, por exemplo, podem fazer com que alguns indivíduos façam uma ingesta alimentar muito acima do adequado, bem como, em outros casos, os indivíduos podem deixar de consumir a quantidade ideal de nutrientes no dia a dia.
Por isso, quando pensamos nos casos de violência física no casamento, podemos citar as alterações alimentares como uma das possíveis consequências.

4. Disfunções sexuais
As disfunções sexuais também podem aparecer. Isso pode decorrer do fato de que algumas vítimas de violência física no casamento também sofrem com abusos sexuais. Esses abusos podem ocasionar verdadeiros “traumas”, que desencadeiam casos de vestibulodínia, por exemplo.

5. Alterações da autoimagem e baixa autoestima
A autoimagem que temos de nós mesmos, muitas vezes, ancora-se em situações que ocorrem à nossa volta.
Se formos negligenciados emocionalmente e sofrermos constantemente com críticas, comparações e violências, podemos começar a nos enxergar de forma depreciativa.
No caso da violência no casamento, portanto, a vítima pode sofrer com baixa autoestima e alterações intensas na autoimagem.
Por isso, a busca pela psicoterapia pode ser tão importante nesses casos.

6. Distúrbios cognitivos como problemas de memória e baixa concentração
Problemas de memória e dificuldade para se concentrar também são sinais que podem aparecer após a violência física no casamento ser sofrida.
A vítima pode começar a ter dificuldades para desenvolver novas aprendizagens, seja por questões emocionais, seja por questões cerebrais e físicas.

7. Transtorno de ansiedade e ataques de pânico
Os transtornos de ansiedade, ataques de ansiedade ou ataques de pânico também podem ser consequências vividas por quem sofre ou sofreu violência física no casamento.
Afinal, o estresse e a ansiedade vividos durante a relação podem ocasionar esse tipo de efeito. A pessoa fica tanto tempo em estado de alerta e com medo do futuro – medo do que o agressor fará no futuro, por exemplo -, que pode desenvolver esse tipo de quadro clínico.

8. Sentimento de vergonha e/ou medo
Muitas vezes, as vítimas de violência física no casamento podem sentir vergonha de ter vivido tudo o que viveu. Algumas, inclusive, sentem-se culpadas por não terem “escapado” da relação o quanto antes.
Embora não seja culpa da vítima, esse sentimento ainda é muito forte e pode perdurar por um tempo. Para minimizá-lo e ressignificá-lo, é possível buscar apoio de um psicólogo.
O mesmo vale para o medo: solicitar medidas protetivas e buscar apoio psicológico são ações que podem contribuir para uma redução dele.

9. Isolamento social
Durante o relacionamento abusivo, a vítima pode se ver obrigada a se afastar dos amigos e familiares. Caso contrário, as crises de violência física no casamento poderiam ser mais recorrentes – como se o agressor usasse a força para impedir que a vítima pudesse construir uma vida social.
Consequentemente, tanto durante a relação, como após o fim do casamento ou namoro, a vítima poderá sofrer por conta do isolamento social. A dificuldade para estabelecer os relacionamentos perdidos durante a relação poderá ser bem significativa.
Além disso, por medo de se envolver com outros agressores e parceiros tóxicos, a vítima também poderá se isolar de situações que possam levá-las ao engate de um novo relacionamento amoroso.
Novamente, reiteramos que o apoio psicológico pode ser muito importante nesses casos. Afinal, por meio da psicoterapia é possível encontrar potenciais mecanismos para lidar com os medos e efeitos da violência física no casamento.

10. Transtorno de Estresse pós-traumático
O Transtorno de Estresse pós-traumático é ocasionado após a vivência de uma situação extremamente ameaçadora ou catastrófica. No caso da violência no casamento, a vítima pode sentir-se exposta a situações extremas e, inclusive, pode vivenciar casos de quase morte – uma vez que a violência pode ser tão intensa a esse ponto em muitos casos.
O fato de atravessar essas situações pode resultar no desenvolvimento de TEPT. Aqui, a busca de apoio psiquiátrico e psicológico é de suma importância. Ambos oferecerão o suporte para que a vítima atravesse os sintomas e busque, no dia a dia, formas de lidar com o que sente e revive das situações traumáticas.
Os pensamentos intrusivos e repetitivos poderão ser comentados na psicoterapia, como meio de estancá-los e interrompê-los por meio do uso de estratégias e intervenções por parte do psicólogo.

O que fazer em caso de violência física no casamento?

A violência física no casamento pode provocar uma série de danos físicos e emocionais na vítima. Por isso, saber o que fazer nesses casos é importantíssimo. Abaixo descrevemos passos que a vítima pode considerar e que a família pode levar em conta na hora de dar o apoio necessário. Veja:

O que a vítima pode fazer

Sabemos que para a vítima não é tão simples denunciar ou buscar apoio. Às vezes, os casos de violência física no casamento são tão frequentes que ela pode nem perceber que, na verdade, está em um relacionamento tóxico.

Contudo, analisar a situação, perceber os sinais de agressão e buscar ajuda é imprescindível para proteger a vida e a saúde. Veja abaixo algumas recomendações pertinentes:

1. Queixa na delegacia de polícia
A queixa pode ser feita em uma delegacia, bem como a mulher pode ligar para o 180 – Central de Atendimento à Mulher.
Nessa central, a mulher receberá informações sobre os locais em que pode prestar queixa, como por exemplo, na Casa da Mulher Brasileira, nos Centros de Referências, nas Delegacias de Atendimento à Mulher (Deam), nas Defensorias Públicas, nos Núcleos Integrados de Atendimento às Mulheres, entre outros (Fonte).

2. Busca de uma rede de apoio
Buscar uma rede de apoio também pode ser um caminho relevante nesses casos. Você pode conversar com algum amigo de confiança ou com seus familiares, solicitando apoio nesse momento tão difícil.
Não tenha vergonha de pedir ajuda. Você não está fazendo nada de errado. Pelo contrário! Está apenas lutando pela sua vida e integridade, colocando-se em primeiro lugar. Isso é muito importante para manter a saúde e a qualidade de vida. Cuide-se e busque apoio de quem você confia.

3. Afastamento do agressor
Afaste-se do agressor assim que possível. Você não precisa se preocupar em criar justificativas para a sua ausência, pois é um direito seu afastar-se daquilo que faz mal.
Sendo assim, você pode procurar apoio de conhecidos para manter-se longe do agressor.
Evite, inclusive, dar informações sobre o local que você ficará hospedada, a fim de evitar que o agressor a procure.

4. Buscar apoio psicológico
Durante o processo de separação vivido ao afastar-se do agressor, você pode considerar a busca de apoio psicológico frente à situação.
Afinal, sabemos que esse processo de mudança pode ser bastante difícil e doloroso em muitos casos. Não tenha vergonha de chorar, sofrer e precisar desse tipo de apoio.
É um direito seu buscar o que pode fazer bem a você e à sua saúde.
Sendo assim, considere a psicoterapia como forma de impulsionar os cuidados com você mesma frente às explosões de emoções e experiências negativas que possa estar vivendo. Você não precisa enfrentar tudo sozinha.

5. Se não houver rede de apoio, procurar um alojamento temporário
Infelizmente, sabemos que nem todas as mulheres têm uma rede de apoio sólida com quem podem contar. No entanto, existem Casas de Abrigo que têm como objetivo oferecer alojamento temporário para mulheres vítimas de violência física no casamento.
Você pode encontrar abrigo ao discar 180 pelo telefone e solicitar informações sobre os alojamentos disponíveis na sua cidade.
Lembre-se de que esse alojamento tem como propósito protegê-la e oferecer um cuidado a mais para você. Sendo assim, não tenha vergonha de buscar apoio! Você merece esse cuidado.

O que a família e os amigos podem fazer

Caso você conheça uma pessoa que esteja sofrendo com violência física no casamento, você mesmo pode colocar medidas em prática que auxiliem no apoio e na ajuda nesses casos. Veja a seguir o que pode ser feito nessas situações:

1. Denúncia
Você também pode fazer a denúncia dos casos de violência física no casamento. Para isso, é possível discar para os números abaixo e solicitar ações que contribuam para a proteção da vítima:

  • Disque 190 para chamar a polícia em situações urgentes.
  • Disque 180 para denunciar casos de violência física no casamento.

2. Acolhimento e apoio
Acolher e apoiar a vítima também é uma forma de ajudá-la diante de uma situação tão difícil e complicada. Você pode oferecer abrigo, apoio emocional e escuta ativa no dia a dia.
Apenas tenha o cuidado de não “forçar” que a vítima fique falando sobre o assunto. Lembre-se de que a situação pode ser bastante dolorosa e difícil para ela. Por isso, respeitar o tempo de assimilação da vítima, dando apoio de acordo com os limites dela, também é algo muito importante.

3. Incentivo à psicoterapia
Incentive a vítima a procurar ajuda psicológica. Esse tipo de ajuda poderá oferecer a ela a oportunidade de falar sobre as emoções, encontrar apoio emocional para o dia a dia, bem como poderá servir de base para a psicoeducação, que é quando o profissional psicólogo orienta o indivíduo sobre as suas condições, sobre o que pode ser feito diante da situação de violência, e assim por diante.
Além disso, a autoestima e o autoconhecimento da vítima poderão ser trabalhados nesse processo, sendo que ambos são essenciais para o fortalecimento da saúde mental.
Por isso, ofereça apoio nesse sentido e impulsione a vítima a buscar esse tipo de ajuda profissional.

Referências
BRASIL, Serviços e Informações. Denunciar e buscar ajuda a vítimas de violência contra mulheres (Ligue 180). Disponível em: https://www.gov.br/pt-br/servicos/denunciar-e-buscar-ajuda-a-vitimas-de-violencia-contra-mulheres. Acesso em 25 out. 2022.

MANITA, Celina (coord.). Violência doméstica: compreender para intervir Guia de Boas Práticas para Profissionais de Saúde. Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género : Lisboa, 2009.