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Vida Sexual na Terceira Idade

Vida sexual na terceira idade

A vida sexual na terceira idade, infelizmente, ainda é marcada por muitos tabus e paradigmas que impactam na qualidade de vida e no bem-estar dos idosos. É muito comum vermos comportamentos de aversão ao pensamento de que uma pessoa idosa pode ter uma vida sexual ativa.

Porém, esse tipo de visão deturpada sobre a terceira idade pode ocasionar o “aprisionamento emocional” desses indivíduos, que sentem-se indignos de uma vida sexual por conta das imposições sociais.

Portanto, trouxemos uma série de detalhes sobre esse tipo de situação para que possamos pensar sobre a temática sob uma perspectiva científica, e não pautada no senso comum. Acompanhe.

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A velhice não é sinônimo de assexual

Um primeiro tabu que devemos quebrar, enquanto sociedade, é o fato de que a terceira idade não tem uma relação direta com a assexualidade. Isto é, um idoso não é uma pessoa que não tem desejo sexual, como muita gente pode acreditar.

Entende-se por assexual o indivíduo que não se sente atraído e nem tem desejo sexual pelo gênero feminino, nem pelo masculino. Sendo assim, essa orientação sexual tem sido erroneamente associada à terceira idade.

Embora possam ocorrer mudanças na libido, especialmente no caso das mulheres em algumas situações, ainda assim não estamos diante de um indivíduo assexual. Dito de outro modo, a pessoa não se torna assexual porque envelheceu, portanto, a sua vida sexual pode ser mantida ativa, focando naquilo que gera prazer e qualidade de vida para o sujeito.

Dessa maneira, deve-se parar a ideia de que o idoso não tem desejo sexual ou que é “santo” e “puro” com relação à sexualidade, pois isso é apenas um tabu imposto pela sociedade que não quer encarar a realidade de que os idosos também têm relações sexuais.

Desafios da vida sexual na terceira idade

Quando pensamos na vida sexual na terceira idade, não podemos deixar de mencionar os desafios que podem ser vividos por esses indivíduos.

Pois como já comentamos acima, existem tabus relacionados à vida sexual das pessoas mais velhas, e isso pode gerar vergonha, medo, culpa, repressão e até mesmo dificuldade para expor o que se sente e o que se deseja.

Desse modo, trouxemos algumas considerações sobre esses desafios vividos, a fim de se pensar em formas de mudar o que pode estar acontecendo com essas pessoas. Vejamos:

1. Julgamento alheio

Sem dúvidas, o julgamento das outras pessoas é um dos grandes desafios vividos pelos idosos com relação à vida sexual.

Como dito anteriormente, muita gente ainda associa a velhice com a orientação sexual assexual, o que não é verdadeiro. Isto é, as pessoas idosas também têm desejo sexual e podem querer se relacionar com outras pessoas.

Porém, lidar com esse julgamento pode ser um desafio, mas é importante se priorizar e evitar que os comentários alheios acabem reprimindo os seus desejos.

Lembre-se de que se você e a outra pessoa desejam a relação e existe consentimento, não há nada de errado acontecendo. Colocar-se em primeiro lugar e ignorar os comentários alheios são atitudes benéficas.

2. Problemas de isolamento social

O isolamento social e a solidão na terceira idade, vividos, costumeiramente, por conta das questões relacionadas à saúde, à mobilidade e ao círculo social, podem dificultar a criação de uma vida sexual ativa.

Afinal, há uma dificuldade para encontrar novas pessoas com interesses semelhantes e que despertem o desejo no idoso.

Contudo, é preciso pensar em formas de interagir socialmente com novas pessoas, como, por exemplo, comparecendo a eventos específicos para esse público.

3. Tabus relacionados aos comportamentos homoafetivos

Se as questões sexuais do idoso já são vistas com maus olhos por uma parcela de pessoas, as questões relacionadas ao comportamento homoafetivo são ainda mais.

Isso pode estar associado com questões religiosas ou não, bem como pode ter a ver apenas com a mais pura forma de homofobia e visão deturpada da vida sexual na terceira idade.

Sabemos que não é fácil enfrentar a visão errônea da sociedade, mas tenta focar no que faz sentido para a sua vida, relacionando-se com quem faz você feliz, é mais promissor do que dar atenção ao que os outros estão falando.

4. Visão deturpada da terceira idade

Sem dúvidas, a visão deturpada da terceira idade também atrapalha a vida sexual dos idosos. Isso porque, muitas vezes, os idosos são comparados a seres frágeis, incapazes de ter uma vida sexual, ou doentes a ponto de não conseguirem mais ter libido.

Além disso, muitas pessoas enxergam nos idosos uma postura mais “inocente” ou semelhante a de uma criança, colocando-os em um lugar de ingenuidade e falta de desejo sexual.

Contudo, assim como existe sexualidade na infância – sem caráter erótico, claro -, também existe sexualidade na terceira idade e, neste caso, com caráter erótico.

Não ter vergonha de demonstrar que há desejo é algo que fortalece o sujeito, no sentido de que ele não estará se anulando apenas para “caber” nas imposições sociais.

5. Dificuldades para encontrar parceiros e parceiras

A dificuldade para encontrar um par romântico também pode ser um dos desafios da vida sexual na terceira idade.
Embora não seja impossível, sabemos que devido a uma série de fatores, como mobilidade, ambientes que são visitados, entre outras circunstâncias, podem impactar na hora de conhecer uma pessoa nova.

Sendo assim, é válido buscar por eventos e locais nos quais há uma maior circulação de pessoas idosas, como clubes que têm como foco esse tipo de público.

Inclusive, hoje em dia, a internet também pode servir de aliada na hora de encontrar um novo parceiro, nem que seja para um sexo casual.

6. Questões religiosas

No caso de indivíduos idosos que perderam o cônjuge, pode ser muito difícil encarar a vida sexual na terceira idade quando se parte de uma perspectiva religiosa. Isso porque, em algumas religiões, prega-se a ideia de que o sexo só deve acontecer dentro do casamento. Logo, caso o indivíduo venha a ficar viúvo, deverá encontrar outro par para conhecer, apaixonar-se, namorar e, só então, casar e ter uma vida sexual novamente.

Embora nem todos os idosos tenham essa perspectiva religiosa, sabemos que é a realidade de muitos, o que pode abalar na hora de construir uma vida sexual na terceira idade.

Envelhecer não é enfraquecer e perder libido

Outro ponto muito importante que podemos discutir quando pensamos na vida sexual na terceira idade é o fato de que envelhecer não é o mesmo que enfraquecer. Isto é, existem muitos idosos com vida ativa, força e vitalidade para “dar e vender”.

Sendo assim, associar a velhice com a perda da força e colocar todos os idosos “no mesmo pacote” é algo completamente injusto.

A velhice não é sinônimo de fraqueza ou de perda de libido. Embora existam mudanças significativas no organismo e no psicológico do sujeito, ainda assim é muito possível que ele tenha disposição, energia e, neste caso, libido para vivenciar experiências sexuais saudáveis e positivas.

Devemos quebrar aquela ideia de que uma pessoa velha não tem mais força ou autonomia para seguir uma vida plena. Ela pode ter a vida plena apesar das mudanças no corpo, além de poder ter muito mais energia que muitos jovens sedentários, por exemplo.

Não podemos generalizar! Nem todo idoso é “fraco”, e nem todo “fraco” é um idoso. Assim sendo, quebrar essa ideia de que a pessoa mais velha não tem condições de praticar sexo é algo importantíssimo para que a sociedade, como um todo, desmistifique a sua visão da terceira idade.

Benefícios da vida sexual ativa na terceira idade

Outro ponto que pode contribuir para a quebra de tabus e oferecer aos idosos uma “coragem a mais” para ignorar os julgamentos e apontamentos alheios é o conhecimento dos benefícios de manter a vida sexual na terceira idade.

A seguir, descrevemos alguns deles para que possamos refletir sobre o assunto.

1. Aumento da qualidade de vida

Ter relação sexual pode contribuir para o aumento da qualidade de vida de maneira geral, uma vez que proporciona sensações de prazer e bem-estar, que são valiosas para uma maior satisfação com a vida.

Sendo assim, a prática sexual na terceira idade pode ser vista como um dos caminhos para se sentir satisfeito e feliz no contexto social de maneira geral.

2. Redução de uma vida sedentária

Não apenas com relação ao ato sexual em si, mas a tudo que está envolvido (sair de casa, cuidar da saúde e da beleza, conhecer pessoas novas em eventos, praticar exercícios ao ar livre com grupo de idosos, etc.) pode contribuir para uma redução do estilo de vida sedentário, aumentando as atividades físicas e as interações sociais que melhoram a saúde como um todo.

3. Construção de laços sociais

A construção de laços sociais, nos locais nos quais o idoso pode encontrar o seu novo par, também é algo que oferece mais qualidade de vida e saúde mental. Isso porque o relacionamento na terceira idade pode oferecer uma série de vantagens, como:

  • Aumento da autoestima;
  • Maiores estímulos para a cognição;
  • Prevenção da depressão;
  • Aumento de uma vida mais ativa;
  • Sensação de felicidade e bem-estar;
  • Entre outras vantagens.

4. Melhora na saúde física e mental

O sexo também pode contribuir pra uma melhora na saúde física e mental de uma maneira geral. Isso porque a prática sexual ajuda a reduzir o estresse, aumenta a sensação de relaxamento, promove boas sensações, mantém o corpo ativo, estimula o sistema imunológico, entre outras situações benéficas.

5. Aumento da autoestima

Sem dúvidas, a vida sexual na terceira idade também está associada à autoestima do idoso. Isso decorre do fato de que ele poderá perceber que ainda é interessante e atraente, o que impacta positivamente a autoimagem que ele pode ter de si mesmo.

Além disso, o relacionamento pode fazê-lo perceber que ainda possui muitos caminhos para seguir na vida, e que há novas situações para explorar e viver, o que pode contribuir para um aumento da autoconfiança, por exemplo.

Como encarar os tabus da vida sexual na terceira idade? Considerações importantes

Até aqui, pudemos aprender um pouco mais sobre a vida sexual na terceira idade. Descobrimos quais os benefícios, discutimos sobre pontos que focam na quebra de tabu, etc.

Porém, também sabemos que a vida sexual nesta idade pode ser “mal vista” por muitas pessoas. Nesses casos, os idosos podem se ver diante da censura da família, o que prejudica o bem-estar e a saúde mental.

Contudo, pensando nisso nós trouxemos algumas orientações, descritas a seguir, que podem ser colocadas em prática visando uma posição mais ativa frente aos próprios desejos. Isto é, você não precisa anular o que sente apenas para agradar as outras pessoas, mas, sim, pode focar no que é bom para você e seguir adiante como uma prioridade em sua vida.

Abaixo, portanto, você poderá ver algumas considerações que tendem a ser úteis nesses casos:

1. Comunicação

Manter uma comunicação clara e assertiva, diante das situações de imposição alheia, é muito importante.

Por exemplo, se a família ainda insiste em falácias relacionadas à vida sexual na terceira idade, você pode, com respeito e tranquilidade, quebrar esse tipo de tabu, deixando claro que pessoas na sua idade também amam e sentem desejo sexual.

A comunicação clara, respeitosa e assertiva pode fazer a diferença. Deixe claro que você possui condições de analisar o que é bom ou ruim para si, e que sabe o que deseja ou deixa de desejar.

Quebrar os tabus relacionados à sexualidade, de maneira geral, também é válido.

2. Foco no seu bem-estar e saúde

O foco no seu bem-estar e na sua saúde tende a ser muito mais valioso do que o foco nos julgamentos alheios.

Obviamente, alguns comentários maldosos podem nos magoar, mas devemos sempre nos lembrar de que somos a pessoa mais importante de nossas vidas, logo, devemos priorizar o que é bom e saudável para nós.

3. Buscar interações sociais sadias

Se você percebe que há uma toxicidade presente no ambiente que você convive, será que é interessante manter uma proximidade com essas pessoas? Será que os amigos que estão censurando o seu comportamento sexual são, de fato, pessoas amigas?

Essas reflexões podem abrir espaço para a construção de relacionamentos sociais que sejam mais sadios e justos para com você.

4. Manter comportamentos sexuais seguros

Não se esqueça de que embora a vida sexual na terceira idade é importante, os comportamentos sexuais seguros devem ser mantidos. Isto é, o idoso não está imune às doenças sexualmente transmissíveis e, por isso, é fundamental usar proteção e manter os exames sempre em dia.

Não negligencie a sua saúde. Cuidar, dessa forma, e ter comportamentos seguros é algo que pode, inclusive, contribuir para a maior aceitação da família, caso seja seu objetivo quebrar com os julgamentos que eles possam estar fazendo.

5. Quebrar tabus relacionados ao sexo

Você mesmo pode quebrar tabus relacionados ao sexo. Isto é, às vezes, nós mesmos podemos carregar tabus dentro de nós, crendo que todas as pessoas também enxergam dessa forma.

Porém, quando nos permitimos ir além, ultrapassando esses limites imaginários e focando no que é saudável e interessante para nós, podemos perceber que muitos dos tabus estão em nós, e não nos outros.

Assim sendo, uma das formas de quebrar os tabus sociais sobre a vida sexual na terceira idade é, justamente, quebrar os tabus que existem dentro de nós, vivenciando uma vida sexual plena e feliz.

Considere essas dicas e caso ache pertinente, faça psicoterapia para refletir e pensar sobre as suas questões emocionais e sua história de vida, relacionando tudo isso com a sua vida sexual e com tudo o que deseja viver de agora em diante. Cuide-se!

Referências

ROZENDO, A. S.; ALVES, J. M. Sexualidade na terceira idade: tabus e realidade. Kairós Gerontologia. v. 18 n. 3 (2015).

FERREIRA BARROS, T. A.; DE ASSUNÇÃO, A. L. A.; KABENGELE, D. do C. SEXUALIDADE NA TERCEIRA IDADE: SENTIMENTOS VIVENCIADOS E ASPECTOS DE INFLUÊNCIA. Caderno de Graduação – Ciências Biológicas e da Saúde – UNIT – ALAGOAS, [S. l.], v. 6, n. 1, p. 47, 2020. Disponível em: https://periodicos.set.edu.br/fitsbiosaude/article/view/6560. Acesso em: 7 nov. 2022.