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Trauma na cabeça em crianças

Particularidades do trauma na cabeça em crianças

Lesões na cabeça durante a infância e adolescência são bastante comuns. A maioria delas é leve e não está associada a lesões cerebrais ou complicações de longo prazo.

Lesões cerebrais mais significativas, como os hematomas intracranianos, embora incomuns, podem acontecer.

Discutiremos neste artigo algumas particularidades do trauma na cabeça em crianças. O que discutiremos aqui é válido especialmente para as crianças acima de dois anos. O Trauma na cabeça em crianças menores de dois anos é discutida em um artigo a parte, devido a suas particularidades.

Causas de Trauma na cabeça em crianças

As quedas são a causa mais comum de traumatismo craniano em crianças. Na maior parte das vezes são traumas leves e que não têm maiores repercussões.
Traumas de maior energia podem estar associados a quedas de grandes alturas, acidentes automobilísticos, queda de bicicleta, atropelamento, traumas relacionados a esportes e abuso infantil.

Sinais e sintomas do trauma na cabeça em crianças

A criança com trauma na cabeça pode apresentar diferentes sinais e sintomas a depender da localização, tipo e gravidade da lesão.
Entre eles, incluem-se:

  • Inchaço do couro cabeludo (“galo”): pode acontecer em decorrência do sangramento a partir de vasos sanguíneos presentes no couro cabeludo.
  • Perda de consciência: embora seja um sinal característico do traumatismo craniano na criança, a perda de consciência ocorre em apenas 5% dos casos. Além disso, na maioria destes casos a criança permanece inconsciente por menos de um minuto.
  • Dor de cabeça: a dor de cabeça está presente em aproximadamente 45% dos casos de traumatismo craniano na criança.
  • Vômito: corre em aproximadamente 10% das crianças e adolescentes após um traumatismo craniano. Nem sempre isso é indício de um traumatismo craniano grave, mas deve ser sempre avaliado.
  • Convulsões: ocorrem em menos de 1% das crianças e adolescentes após um traumatismo craniano.

Sinais de alerta

Alguns sinais de alerta que indicam a necessidade de avaliação médica após um trauma na cabeça em crianças maiores de dois anos incluem:

  • Vômitos recorrentes
  • Convulsão
  • Perda da consciência, mesmo que breve
  • Dor de cabeça intensa ou que piora com o tempo
  • Mudanças comportamentais, incluindo letargia ou irritabilidade
  • Dificuldades para caminhar.
  • Problemas de coordenação.
  • Fala confusa ou arrastada.
  • Tontura persistente.
  • Saída de sangue ou fluido aquoso escorrer do nariz ou orelhas.
  • Ferimento que não parar de sangrar após aplicar pressão por 10 minutos.
  • Traumas de alta energia, incluindo quedas de altura superior a 1,5m ou se houver dúvidas quanto ao mecanismo e a energia do trauma.

Quais são os diferentes tipos de traumatismo craniano?

O traumatismo craniano é um termo que engloba diferentes tipos de lesões, com gravidade e consequências clínicas igualmente diversas.

Concussão cerebral

Concussão Cerebral na infância é uma perturbação temporária no funcionamento do cérebro, como resultado de um movimento repentino e anormal do mesmo. Este movimento súbito leva a um choque do cérebro contra a parede do crânio.

Ela pode ocorrer em decorrência de um golpe direto contra a cabeça ou por um golpe contra outras partes do corpo, levando ao chicoteamento da cabeça.

A concussão resulta em uma alteração temporária do funcionamento cerebral, sem que haja qualquer lesão estrutural.

Fratura do crânio

A fratura do crânio pode ter gravidade bastante variável.

Fraturas sem desvio podem exigir apenas um período breve de observação, com retorno às atividades habituais não esportivas após poucos dias. Estas lesões se resolvem bem e sem qualquer sequela.

Nas fraturas deprimidas, uma parte do crânio encontra-se afundada devido ao trauma. Em alguns casos, pode ser necessário o tratamento cirúrgico para correção da deformidade.

Nos recém-nascidos e bebês, as fraturas podem acometer as suturas, que são os locais de contato entre os diferentes óssos que formam o crânio. Estas fraturas são chamadas de fraturas diastáticas. Durante a infância, os óssos do crânio se fundem, de forma que as suturas deixam de existir.

Fraturas que acometem a base do crânio, chamadas de fraturas basilares, são especialmente preocupantes, devido ao risco elevado de acometimento das meninges. Elas podem levar à formação de hematomas ao redor dos olhos ou atrás das orelhas e podem levar à drenagem de um fluido claro pelo nariz.

Hematoma intracraniano

O hematoma intracraniano se refere ao acúmulo de sangue dentro do cérebro, que pode acontecer entre outras coisas por conta de um Traumatismo cranioencefálico.

Eles são classificados em diferentes tipos, de acordo com a sua localização.

Para compreender os diferentes tipos de hematomas intracranianos, é preciso que se entenda alguns conceitos anatômicos básicos.

O crânio é o osso que envolve a cabeça e que protege o cérebro. Ele é separado do cérebro por uma membrana denominada de meninge, que por sua vez é dividida em três camadas:

  • Dura-mater: camada mais externa da meninge;
  • Aracnoide: camada intermediária;
  • Pia-mater: camada mais interna da meninge.

TCE 1

Hematoma epidural: Hematoma entre o crânio e a dura-mater. Geralmente estão associados a uma fratura de crânio.

Hematoma subdural
O Hematoma Subdural se forma entre as camadas duramater e aracnoide. Às vezes, mas nem sempre, eles estão associados a uma fratura do crânio.

Hematoma intracerebral (intraparanquimatoso): sangramento que acontece dentro do tecido cerebral.

Lesão Axonal Difusa

A Lesão Axonal Difusa é uma lesão disseminada nos axônios, que são a parte longa dos neurônios.

Ela acontece geralmente em decorrência de um movimento de chicote, em decorrência de traumas como um acidente automobilístico, quedas ou a Síndrome do bebê sacudido.

O paciente geralmente fica em coma por um período prolongado de tempo, com lesões em várias partes diferentes do cérebro.

Diagnóstico

O principal objetivo durante a avaliação médica de uma criança com suspeita de traumatismo craniano é descartar a possibilidade de fraturas ou lesões intracranianas que exijam tratamento específico.

O melhor exame para isso é a Tomografia computadorizada. No entanto, nem toda criança precisa realizar o exame

Vale considerar aqui que a tomografia não é um exame inócuo e que ela expõe a criança a uma quantidade não desprezível de radiação. Assim, ela deve ser solicitada de forma criteriosa.

As indicações para a realização de Tomografia Computadorizada incluem:

  • Perda prolongada de consciência (superior a um minuto);
  • Perda de memória persistente ou grave;
  • Confusão;
  • Vômitos persistentes;
  • Dor de cabeça intensa, persistente ou com piora progressiva;
  • Suspeita de abuso;
  • Alterações comportamentais, incluindo irritabilidade extrema, letargia ou diminuição do estado de alerta;
  • Exame neurológico anormal durante a avaliação médica;
  • Saída de líquido sanguinolento ou claro pelas orelhas ou nariz;
  • Traumas de alta energia.

Nos traumas de menor energia, a criança pode ser mantida em observação sem a realização de exames, especialmente nas 12 horas seguintes ao trauma.

Caso ela venha a apresentar alguma mudança neste período, o exame poderá ser indicado.

As crianças que estão bem mais de 12 horas após um traumatismo craniano têm um risco muito baixo de lesão cerebral que requeira intervenção cirúrgica, embora sempre haja uma chance muito pequena de isso acontecer.

Monitoramento domiciliar

Após a criança ser avaliada pelo médico pediatra, os pais podem ser orientado a mantê-la em observação domiciliar em casa.

Neste período, ela deverá ser levada imediatamente de volta ao hospital nas seguintes circunstâncias:

  • A criança vomita duas vezes ou continua a vomitar entre quatro a seis horas após a lesão.
  • Desenvolve uma dor de cabeça grave ou que piora progressivamente.
  • Sonolência anormal, em que os pais têm dificuldade de despertar a criança.
  • Confusão ou outras alterações comportamentais.
  • Dificuldade para andar, falar ou enxergar.
  • Desenvolve um torcicolo.
  • Convulsão ou outros movimentos anormais.
  • A criança não para de chorar, parece inconsolável ou parece mais doente.
  • Apresenta fraqueza ou dormência em qualquer parte do corpo.

Em alguns casos, os pais podem também ser orientados a acordarem a criança no meio da noite.

Se este for o caso, a criança deve ser capaz de acordar e reconhecer os arredores e os pais/responsáveis antes que volte a dormir novamente.

Eventualmente, uma reavaliação em 24 horas poderá ser recomendada para que o exame neurológico seja refeito.

O retorno esportivo ou para outras atividades com risco para novo trauma só deve ser feito após a liberação médica, especialmente na criança vítima de concussão cerebral.

Isso porque um segundo trauma, mesmo que mais leve, pode levar a um sério agravemento do quadro e até mesmo a risco de vida.