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Tendinite Calcânea (de Aquiles)

O que é a Tendinite Calcânea?

A Tendinite Calcânea, também conhecida como tendinopatia calcânea ou tendinite de Aquiles, caracteriza-se pela inflamação e degeneração do tendão calcâneo (de Aquiles).

70% das pessoas que desenvolvem o problema são corredores ou praticantes de outros esportes que envolvem a corrida (1).


Anatomia

 

O tendão de Aquiles é o mais forte do corpo humano, sendo capaz de suportar até 12 vezes o peso do corpo (2). Ele está localizado na parte de trás do tornozelo, unindo a musculatura da panturrilha com o calcâneo (osso do calcanhar). O tendão tem a função de impulsionar o pé durante a caminhada ou corrida.

O que causa a Tendinite Calcânea?

 

A Tendinite Calcânea resulta da sobrecarga do tendão, ou seja, de um estresse repetitivo além do que ele está preparado para suportar no momento.

Esta sobrecarga pode estar relacionada a dois fatores:

  • Menor resistência do tendão, em função de fraqueza, envelhecimento, degeneração ou doenças como o diabetes;
  • Aumento da demanda, no caso de ganho de peso ou alterações bruscas na rotina de treino. Isso inclui o aumento de volume ou frequência, mudanças de superfície, treinos em terrenos irregulares, treinos de subidas e descidas ou mudanças de calçado.

A técnica esportiva também pode estar envolvida, especialmente quando consideramos uma pisada com pobre absorção de impacto.

Corredores que realizam o apoio inicial da pisada no retropé geralmente o fazem em uma posição adiantada em relação ao centro de forças do corpo. Assim, elas ficam mais vulneráveis para a tendinopatia calcânea.

Se você está habituado a correr na esteira, provavelmente já deve ter percebido como algumas pessoas correm de maneira bastante silenciosa, enquanto outros chamam a atenção pelo barulho que provocam cada vez que pisam na esteira. Isso está justamente relacionado à capacidade de absorção de impacto durante a corrida.

Pessoas que fazem muito barulho ao correr apresentam uma pobre absorção de impacto. Desta forma, estão mais vulneráveis para a tendinopatia calcânea.

No caso de atletas saltadores, a técnica de aterrissagem de saltos também precisa ser avaliada. Quando a aterrissagem é feita de maneira muito seca, com o corpo duro, a energia dispendida no quadril, tendão patelar e tendão de Aquiles será muito maior.

Por fim, é preciso considerar nas mulheres os hábitos de calçados. Aquelas que fazem uso frequente de salto alto podem levar a um encurtamento da musculatura da panturrilha, favorecendo o desenvolvimento da tendinite do calcâneo. Isso é válido especialmente entre aquelas que não têm por hábito a prática de atividades físicas.

O que o paciente sente?

As principais queixas são a dor e a rigidez na parte de trás do tornozelo.

Nos quadros mais leves de Tendinite Calcânea, o paciente apresenta dor no início da corrida, melhora após alguns minutos (quando o corpo já se aqueceu) e volta a doer após a atividade.

Com a evolução do problema, ele passa a ter dor durante toda a corrida, até que se torna constante, independentemente do exercício físico.

Fora do exercício, a dor também piora ao subir ou descer escadas ou ladeiras e após períodos prolongados de inatividade.

Com a evolução da doença, o tendão se torna espesso, podendo ser observado um aumento de volume em comparação com o tornozelo não acometido.

A Tendinite Calcânea pode acometer duas diferentes regiões do tendão como veremos a seguir.

Tendinopatia não insercional

A área acometida encontra-se 2 a 6 cm acima do ponto onde o tendão se fixa no calcâneo.

Esta é uma região pouco vascularizada do tendão, o que dificulta o processo de destruição e reparo que acontece normalmente durante o treino e na recuperação pós-treino.

Com o tempo, a capacidade limitada de reparo do tendão favorece o desenvolvimento da tendinite.

Tendinopatia insercional

Acomete o ponto em que o tendão de Aquiles se fixa no osso. Ela ocorre geralmente em pacientes que apresentam o osso calcâneo proeminente, ao que denominamos de “deformidade de Haglund”.

Esta proeminência pode levar a uma compressão sobre o tendão e, consequentemente, à tendinopatia.

A imagem (A) mostra o abaulamento no calcanhar característico da Deformidade de Haglund. A imagem (B) mostra uma radiografia do calcâneo normal; a imagem (C) mostra uma radiografiado calcâneo com a deformidade de Haglund.


Diagnóstico

 

O diagnóstico da tendinite de Aquiles é clínico, feito com base na história e exame físico do paciente.
A radiografia permite a identificação da Deformidade de Haglund, nos casos de tendinopatia insercional.

A ressonância magnética permite a avaliação da estrutura do tendão e do peritendão. Ela permite, desta forma, avaliar qual a gravidade do comprometimento tecidual do tendão pela Tendinite Calcânea.

Tratamento — fase aguda

 

A maior parte dos casos de Tendinite Calcânea de origem recente é autolimitada e se resolve com o uso de medidas analgésicas e anti-inflamatórias. O objetivo nesta fase é a melhora da dor, não necessariamente da causa da dor.

Afastamento temporário da atividade que está agredindo o tendão, gelo, fisioterapia, medicações analgésicas e anti-inflamatórias, eletroterapia e laser de alta potência são algumas das modalidades que podem ser indicadas para isso.

Afastamento das atividades que causam a dor

A dor é uma ótima referência daquilo que o paciente pode ou não pode fazer. Em um primeiro momento, pode ser necessário o afastamento de algumas atividades que estejam sobrecarregando o tendão.

Isso é válido especialmente para as atividades esportivas de impacto, como a corrida.

Eventualmente, estas atividades poderão ser substituídas por outras modalidades de menor impacto. Transport, bicicleta e  exercícios aquáticos são boas opções para isso.

Gelo

A aplicação de gelo tem efeito analgésico e anti-inflamatório sobre o tendão. Na fase aguda, ele deve ser feito por 20 minutos de cada vez, a cada duas horas.

Saindo desta fase mais intensa de dor, a frequência das aplicações tem menos importância. Entretanto, o gelo ainda ajuda para o alívio dos sintomas.

Tempos excessivos de gelo, acima de 30 minutos, podem causar queimaduras de pele e provocar um efeito rebote que será prejudicial para o tendão em recuperação.

Fisioterapia

Neste primeiro momento, se concentra em medidas de eletrotermofototerapia para o alívio da dor.

Medicação anti-inflamatória

Os medicamentos anti-inflamatórios reduzem a dor e o edema (inchaço), devendo ser utilizados nos períodos de agudização da dor.

Os benefícios na fase crônica são limitados e equivalentes aos dos analgésicos simples (dipirona, paracetamol), além de provocarem mais efeitos colaterais.

O abuso de anti-inflamatório pode inibir o processo de reparo celular e recuperação da Tendinite Calcânea, de forma que não deve ser mantido de forma prolongada.

Terapia por ondas de choque extracorpórea

Terapia que faz uso de impulsos de ondas de choque de alta energia e que estimula o processo de destruição e regeneração no tendão.

Laser de alta potência

O laser de alta potência é uma terapia promissora que vem sendo utilizada nos Estados Unidos e Europa e que agora também está disponível em centros de excelência no Brasil.

Ao contrário do laser frio, que é mais difundido em clínicas de fisioterapia pelo país e pode oferecer uma potência de até 0,5 Watts, o laser de alta potência é um procedimento médico e pode oferecer potência de até 30 Watts.

Dependendo da potência e da energia total utilizada, o laser de alta potência pode ser usado na Tendinite Calcânea tanto com uma função inibitória (para alívio da dor) como com função estimulatória (estimulando o reparo tendão).

Tratamento — fase crônica

 

Uma vez que o paciente esteja com a dor bem controlada para a realização dos movimentos básicos, o foco passa a ser na melhora da força, da mobilidade e do equilíbrio biomecânico ao redor do tornozelo.

O foco principal é nos exercícios excêntricos, que são movimentos de desaceleração nos quais o tendão está se alongando. Uma vez que a dor esteja melhor controlada, o paciente vai retornando gradativamente para a sua prática esportiva regular.

Por fim, é preciso que se avalie e corrija a técnica esportiva, especialmente a técnica de aterrissagem de saltos e da corrida. O retorno esportivo deve ser progressivo e sempre respeitando o limite da dor.

Tratamento cirúrgico


A técnica cirúrgica, no caso de uma tendinite não insercional, envolve a remoção da parte doente do tendão. Se a maior parte do tendão estiver danificada, poderá ser feito um reforço com um enxerto, geralmente um outro tendão do próprio tornozelo.

No caso da tendinite insercional, além da remoção da parte doente do tendão, o esporão ósseo (deformidade de Haglund) é ressecada, de forma a tirar a compressão feita sobre o tendão de Aquiles.

Muitas vezes, a Bursa que envolve o tendão também está inflamada, podendo ser retirada durante a cirurgia.