Sono na Gestação
Importância do Sono para a Gestante
O sono é um dos pilares da saúde durante toda a vida e tem especial importância na gestação.
Um sono adequado ajuda a regular o humor, o sistema imunológico, os níveis hormonais e o metabolismo.
Ele também contribui para o crescimento fetal, oxigenação adequada e prevenção de complicações. Estudos corelacionam má qualidade do sono a riscos aumentados de condoções como hipertensão gestacional, diabetes gestacional, trabalho de parto prematuro e até transtornos de humor pós-parto.
Como a gestação impacta o sono?
Cada trimestre da gravidez pode afetar o sono de maneira diferente:
Primeiro trimestre
A Sonolência diurna intensa é comum, devido ao aumento da progesterona. Por conta disso, há uma maior necessidade de sonecas diurnas.
A gestante pode também acordar frequente à noite, por conta de náuseas, aumento na frequência urinária e desconfortos diversos.
Segundo trimestre
Muitas gestantes relatam melhora do sono. No entanto, ainda podem ocorrer despertares para ir ao banheiro ou por conta de sonhos intensos
Terceiro trimestre
No terceiro trimestre, há uma maior dificuldade de encontrar uma posição confortável. Sintomas como azia, dores lombares, movimentação fetal e câimbras noturnas podem também atrapalhar o sono. Ronco e apneia do sono podem se intensificar. Por conta disso, o sono tende a ficar mais fragmentado e superficial.
Quais os transtornos do sono mais comuns na gestação?
O sono de qualquer mulher será impactado pela gestação, mas isso pode acontecer de formas diferentes e em intensidades diferentes.
Quando a qualidade, quantidade ou o padrão do sono afeta de forma persistente o bem-estar físico, emocional ou funcional da gestante, fica caracterizado um transtorno do sono.
Mostramos na tabela abaixo a incidência de diferentes transtornos do sono em mulheres não gestantes e também em cada trimestre da gestação.
Transtorno do Sono | Mulheres não gestantes | 1º trimestre | 2º trimestre | 3º trimestre |
Insônia | 15–25% | 38–46% | 45–55% | 60–75% |
Ronco | 10–15% | 10–18% | 20–30% | 30–45% |
Apneia Obstrutiva do Sono (AOS) | 2–9% | 3–5% | 10–15% | 15–26% |
Síndrome das Pernas Inquietas (SPI) | 5–10% | 10–15% | 15–20% | 20–30% |
Parassonias (ex: sonambulismo, pesadelos) | 4–6% | 6–8% | 7–10% | 8–12% |
Insônia
A insônia é definida como qualquer dificuldade em iniciar ou manter o sono durante a noite. Algumas mulheres demoram para iniciar o sono, outros acordam várias vezes durante a noite e outras despertam no meio da madrugada e não conseguem voltar a dormir.
A insônia é especialmente comum no terceiro trimestre da gestação. Ansiedade, desconforto físico, dores, ou alterações hormonais contribuem para isso.
A primeira linha de tratamento da insônia na gestação envolve a prática de atividades físicas leves, melhora na higiene do sono e eventualmente psicoterapia (especialmente a Terapia Cognitivo comportamental). Quando isso não for suficiente e o sono estiver comprometendo a qualidade de vida e a saúde da gestante e do bebê, medicamentos poderão ser considerados, sempre sob orientação médica.
Síndrome das Pernas Inquietas
A síndrome das pernas inquietas é um distúrbio do sono que causa um desejo intenso e muitas vezes irresistível de mover as pernas, especialmente à noite.
A maior incidência da síndrome na gestação está muitas vezes associada a uma eventual carência de ferro ou magnésio, que deve ser avaliada e tratada.
Outras medidas que podem ajudar na melhora dos sintomas incluem:
- Prática de exercícios de leve ou moderada intensidade, como andar de bicicleta ou caminhar. No entanto, exercícios intensos devem ser evitados poucas horas antes de dormir.
- Banho quente antes de dormir.
- Esfregar as pernas para proporcionar alívio temporário.
- Técnicas para a redução do estresse, incluindo meditação, ioga e música suave, entre outras.
Apneia Obstrutiva do Sono
A Apneia Obstrutiva do Sono é caracterizada pela alternância de períodos de silêncio (quando a respiração para ou quase para) seguidas por um ronco alto ou respiração ofegante.
A qualidade do sono fica prejudicada, de forma que os pacientes costumam apresentar os sintomas de uma noite mal dormida durante o dia.
Ela é especialmente comum na gestação, especialmente no terceiro trimestre e em gestantes com sobrepeso ou obesas. Diferentes fatores contribuem para isso:
- Ganho de peso e aumento do IMC: O excesso de tecido adiposo ao redor do pescoço e faringe estreita as vias aéreas.
- Edema das vias aéreas superiores: A retenção de líquidos na gestação leva a inchaço das estruturas da garganta, dificultando o fluxo de ar.
- Alterações hormonais (progesterona e estrogênio): Embora a progesterona estimule a respiração, o relaxamento muscular pode favorecer o colapso da via aérea.
- Aumento do volume abdominal: O útero gravídico reduz a complacência pulmonar e dificulta a expansão torácica, alterando o padrão respiratório.
Pessoas com apneia obstrutiva do sono podem não estar cientes do sono interrompido. Habitualmente, elas apenas percebem que tiveram um sono não reparador durante a noite.
Assim como no caso do ronco, a procura por atendimento acontece em muitos casos quando essas apneias são percebidas pelo companheiro.
A apneia Obstrutiva do Sono está associada a diversos desfechos adversos, tanto por suas consequências diretas (como hipóxia e fragmentação do sono), quanto por sua interação com condições como hipertensão e obesidade:
- A fragmentação do sono piora a saúde mental da gestante, que passa a sofrer com sonolência diurna e maior risco para depressão e transtornos de ansiedade.
- A hipertensão materna aumenta o risco para pré-eclâmpsia e eclampsia.
- A obesidade aumenta o risco para Diabetes Gestacional.
- No feto, a hipóxia aumenta o risco para Sofrimento Fetal, Restrição de crescimento intrauterino, prematuridade ou baixo peso ao nascer.
A primeira linha de tratamento da Apneia Obstrutiva do Sono na Gestação inclui medidas comportamentais, incluindo:
- Evitar dormir em posição supina e estimular decúbito lateral esquerdo (melhora a oxigenação e reduz o colapso das vias aéreas).
- Controle do peso
- Elevar a cabeceira da cama
- Melhora na higiene do sono
Nos casos mais graves ou que não respondem às medidas acima, o uso do CPAP (Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas) pode ser considerado.
Parassonias
As parassonias são um grupo de transtornos do sono caracterizados por eventos físicos ou comportamentais incomuns que acontecem durante o adormecer, o sono ou o despertar.
Existem diversos tipos de parassonia, incluindo o sonambulismo, terrores noturnos, bruxismo, pesadelos e transtornos de movimento.
Na gestação, as parassonias podem estar relacionados a alterações emocionais e hormonais.
O tratamento sempre que possível deve envolver medidas comportamentais, com o uso de técnicas de relaxamento e melhora na higiene do sono. No caso de sonambulismo, é preciso adotar cuidados relacionados à segurança durante o sono, o que inclui evitar beliches ou ambientes com risco de queda. E trancar portas e janelas.
O tratamento medicamentoso deve ser evitado sempre que possível, mas deve ser considerado especialmente se houver risco à segurança da gestante ou do feto, mas sempre sob orientação médica.
Higiene do sono
A higiene do sono é o conjunto de hábitos e práticas comportamentais e ambientais que favorecem um sono mais profundo, reparador e contínuo. Ela é especialmente importante na gestação, quando o corpo da mulher passa por diversas alterações hormonais, físicas e emocionais que podem prejudicar o descanso.
Entre as possíveis medidas para a melhora na higiene do sono, incluem-se:
- Estabelecer rotina de sono: procurar dormir e acordar nos mesmos horários, mesmo nos fins de semana
- Usar a cama apenas para dormir: evitar usar o quarto para trabalhar ou assistir TV
- Melhora no ambiente: manter o quarto escuro, silencioso, arejado e confortável; usar cortinas blackout.
- Desligar celular, TV e computador pelo menos 1h antes de dormir
- Evitar estimulantes como cafeína, refrigerantes com cafeína ou chocolate no fim do dia
- Reduzir líquidos à noite, para evitar idas frequentes ao banheiro
- Evitar refeições pesadas à noite
- Relaxamento antes de dormir, o que pode envolver meditação, ioga para gestantes ou uma leitura tranquila
- Posição adequada para dormir: Lado esquerdo com travesseiro entre as pernas é a mais recomendada
- Evitar cochilos longos de dia: Cochilos curtos, de até 30 minutos, podem ser considerados se necessário, mas evitar no fim da tarde
- Sons suaves e regulares: Sons brancos ou música calma podem ajudar a relaxar