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Sífilis

O que é a Sífilis?

A sífilis é uma infecção causada pela bactéria Treponema pallidum. Na maior parte das vezes, ela é transmitida através da relação sexual sem proteção.

Os primeiros sintomas da sífilis são as úlceras genitais, incluindo feridas indolores no pênis, no ânus ou na vulva, chamadas de cancro.

Caso não seja tratada, a doença desaparece espontaneamente e retorna depois de semanas, meses ou anos nas suas formas secundária ou terciária. Estas formas são mais graves do que a infecção inicial.

Entre as fases secundária e terciária, há um grande período assintomático, chamado de fase de latência. Na fase terciária, são esperadas complicações graves e irreversíveis da doença.

A sífilis tem cura e pode ser facilmente tratada com injeções de penicilina. Para evitar o surgimento de complicações das fases tardias, porém, o tratamento deve ser iniciado o mais rapidamente possível.

Muito do que se fala e do que se conhece sobre a sífilis está relacionada à grande epidemia que se espalhou pela Europa no final do século XV, no período marcado pelas grandes navegações.

Era uma infecção aterrorizante, com lesões graves e sem nenhum tratamento eficaz disponível. Foram quase 500 anos de história e pesquisas científicas até a descoberta da penicilina por Alexander Fleming em 1943 e, com ela, a cura para a doença.

Embora muitos associem a sífilis a uma doença do passado, ela segue mais presente do que nunca.

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) estimam que cerca de 7 milhões de pessoas sejam infectadas anualmente em todo o mundo. No Brasil, dados da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) mostram que o país registrou 115 mil casos de sífilis adquirida em 2020. Vale lembrar que a sífilis é uma doença de notificação obrigatória.

Como a sífilis é transmitida?

A principal forma de transmissão da sífilis é por meio da relação sexual vaginal, anal ou oral desprotegida (sem camisinha).

Outras possíveis formas de transmissão incluem:

  • Contato direto com o sangue de pessoas contaminadas;
  • Compartilhamento de agulhas, no caso de usuários de drogas injetáveis;
  • De mãe para filho, em qualquer fase da gravidez ou no momento do parto normal, se o bebê entrar em contato com a ferida da sífilis.

O risco de transmissão é de aproximadamente 30% com um único encontro sexual. Na gestante não tratada, o risco de transmissão para o feto é 60 a 80%. Infecção anterior não confere imunidade contra reinfecção.

Quais são os sintomas da sífilis?

O primeiro sintoma da sífilis é uma ferida que não sangra e não dói. Ela surge após o contato direto com a ferida de sífilis de outra pessoa.

Quando não é adequadamente tratada, ela pode evoluir para as formas secundária e terciária. Cada uma destas fases tem sinais e sintomas específicos.

Sífilis primária

A sífilis primária é o estágio inicial da doença, que surge cerca de 3 semanas após o contato com a bactéria. Entretanto, este período pode variar entre 1 a 13 semanas.

Essa fase é caracterizada pelo aparecimento do cancro duro, que corresponde a uma pequena ferida ou caroço que não dói e não causa desconforto. Quando inflamada, a ferida libera uma secreção clara.

Nos homens, o cancro duro geralmente aparece ao redor do prepúcio, a pele que envolve a cabeça do pênis (glande).

Nas mulheres, as feridas se formam nos pequenos lábios e na parede da vagina.

Eventualmente elas também podem aparecer no ânus, na boca, na língua, nas mamas ou nos dedos das mãos.

Além das feridas, podem ser observados também a presença de linfonodos na virilha ou próximo da região afetada.

Cerca de metade das mulheres infectadas e um terço dos homens infectados não têm ciência do cancro, uma vez que ele causa poucos sintomas.

Cancros no reto ou na boca, que ocorrem mais comumente em homens, muitas vezes também não são percebidos.

O cancro geralmente tende a desaparecer em 3 a 12 semanas. Então, as pessoas parecem ser completamente saudáveis.

Diagnóstico diferencial

O diagnóstico diferencial principal é com o cancroide, ou Cancro mole

Diferentemente do cancro duro, no cancro mole as feridas são dolorosas, exsudativas, de bordas irregulares e base necrótica, que pode sangrar com facilidade. 

A diferenciação pode ser feita conforme a tabela abaixo:

CANCRO MOLE CANCRO DURO (SÍFILIS)
Primeiros sintomas em 3 a 10 dias  Primeiros sintomas em 21 a 30 dias
Feridas múltiplas Feridas únicas
Base da ferida é mole Base da ferida é dura
Linfonodos na virilha aumentados apenas em um dos lados Linfonodos na virilha aumentados apenas em ambos os lados
Causa dor Não causa dor

Sífilis secundária

Após o desaparecimento das feridas da sífilis primária, o paciente não tratado evolui para um período de seis a oito semanas de inatividade da doença. A seguir, aparecem os sinais e sintomas da sífilis secundária.

A bactéria se espalha pelo corpo através da corrente sanguínea, levando ao aparecimento de manchas rosadas ou pequenos caroços acastanhados na pele, boca, nariz, palmas das mãos ou plantas dos pés. 

Além das feridas, outros sintomas que podem surgir são:

  • Descamação da pele;
  • Linfonodos (Ínguas) em todo o corpo, mas principalmente na região genital;
  • Dor de cabeça, dor muscular, perda de apetite, febre baixa, perda de peso e mal-estar geral.

Essa fase continua na forma de surtos que regridem espontaneamente ao longo dos dois primeiros anos da doença. Entretanto, os surtos tendem a ser cada vez mais frequentes e duradouros.

Sífilis latente

A sífilis latente é caracterizada pela ausência de sinais e sintomas. Ainda assim, os anticorpos continuam a ser detectados pela sorologia para sífilis.

Como os sintomas da sífilis primária e secundária são ocasionalmente mínimos ou ignorados, os pacientes são, com frequência, diagnosticados na fase latente, por meio de sorologia para sífilis.

A sífilis latente pode ser classificada como precoce, quando com menos de 1 ano após a infecção, ou tardia, depois de mais de um ano da infecção. Algumas pessoas permanecem com a doença no estado latente de forma permanente.

Sífilis terciária

A sífilis terciária é a forma mais grave da doença, que aparece entre 10 e 30 anos após a contaminação inicial.

Ela se desenvolve em pessoas que não conseguiram combater espontaneamente a doença na sua fase secundária ou que não fizeram o tratamento adequado.

Neste estágio, os sinais e sintomas da sífilis são caracterizados por:

  • Lesões maiores na pele, boca e nariz;
  • Acometimento de órgãos internos, incluindo coração, nervos, ossos, músculos, fígado e vasos sanguíneos;
  • Dor de cabeça, náusea e vômitos frequentes;
  • Rigidez do pescoço, com dificuldade para movimentar a cabeça;
  • Insônia;
  • Convulsões;
  • Perda auditiva e vertigem
  • Acidente Vascular Cerebral (AVC)
  • Delírios, alucinações e diminuição da memória recente

A sífilis evolui para a forma terciária em aproximadamente 25 a 40% dos pacientes não tratados.

A sífilis cardiovascular representa uma incidência de 10%. Suas principais manifestações são insuficiência aórtica, aneurismas de aorta torácica e abdominal, que raramente evoluem com dissecção, e estenose do óstio da coronária, resultando em quadros de angina.

A neurossífilis se desenvolve em 8% dos pacientes, podendo ser assintomática ou apresentar quadros de meningite sifilítica aguda, hemiplegias, tabes dorsalis e demência paralítica.

Outra forma de acometimento é a sífilis neurovascular. Neste caso, há o aparecimento de arterite, que pode apresentar-se como AVC isquêmico.

Pacientes com formas tardias de neurossífilis podem apresentar quadro demencial progressivo.

Sífilis congênita

A sífilis congênita acontece quando o bebê adquire sífilis durante a gestação ou no momento do parto, sendo normalmente devido à mulher que possui sífilis não fazer o tratamento correto para doença.

A sífilis durante a gravidez pode causar aborto, mal formações ou morte do bebê ao nascer. Em bebês vivos, os sintomas podem surgir desde as primeiras semanas de vida a até mais de 2 anos após o nascimento, incluindo:

  • Manchas arredondadas avermelhadas ou rosadas na pele, incluindo a palma das mãos e a sola dos pés;
  • Irritabilidade fácil;
  • Perda de apetite e da energia para brincar;
  • Pneumonia, anemia, problemas nos ossos e nos dentes;
  • Perda da audição;
  • Deficiência mental.

​O tratamento para sífilis congênita costuma ser feito com o uso de 2 injeções de penicilina por 10 ou 14 dias, a depender da idade da criança.

Como é feito o diagnóstico da Sífilis?

O diagnóstico da Sífilis é geralmente feito pelo Ginecologista, Urologista ou Infectologista ao avaliar as feridas com características típicas.

Mesmo na ausência das feridas, o diagnóstico pode ser feito por meio de um exame chamado VDRL.

O VDRL deve ser solicitado na avaliação de rotina da gestante e em pessoas com diagnóstico confirmado de outras DSTs. Ele é feito também em pessoas de alto risco para a infecção, como no caso de profissionais do sexo ou usuários de drogas injetáveis.

O VDRL é normalmente realizado em todas as gestantes, a cada trimestre da gestação. Isso se justifica pela gravidade da Sífilis congênita e porque ela é facilmente tratada, uma vez feito o diagnóstico.

O VDRL é feito a partir da coleta de uma amostra de sangue e serve tanto para diagnosticar como para monitorar a resposta ao tratamento da sífilis.

O resultado é considerado positivo quando possui título a partir de 1/16. Esse título significa que mesmo diluindo o sangue em 16 vezes ainda é possível identificar anticorpos.

Títulos mais baixos, como 1/1, 1/2, 1/4 e 1/8, indicam que é possível que se tenha sífilis, pois após uma, duas, quatro ou oito diluições ainda foi possível detectar os anticorpos.

Por outro lado, é possível também que isso seja decorrente de uma reação cruzada, ou seja, um falso positivo. Outros exames deverão ser então solicitados para confirmar ou descartar a sífilis.

Como é o tratamento para sífilis?

O tratamento para sífilis é feito com injeções de penicilina-benzatina, também chamada de benzetacil. O tempo de tratamento e o número de injeções pode variar de acordo com a fase da doença que a pessoa se encontra e com os sintomas apresentados.

Segundo o protocolo clínico das Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde (1), o tratamento para sífilis no adulto deve ser feito seguindo este plano:

FASE DA DOENÇA TRATAMENTO TRATAMENTO ALTERNATIVO
Sífilis primária ou secundária Dose única de Benzetacil Doxiciclina 100 mg, 2 vezes ao dia por 15 dias
Sífilis latente recente Dose única de Benzetacil Doxiciclina 100 mg, 2 vezes ao dia por 15 dias
Sífilis latente tardia 1 injeção de Benzetacil por semana, durante 3 semanas Doxiciclina 100 mg, 2 vezes ao dia por 30 dias
Sífilis terciária 1 injeção de Benzetacil por semana, durante 3 semanas Doxiciclina 100 mg, 2 vezes ao dia por 30 dias
Neurosífilis Injeções de Penicilina cristalina por 14 dias Injeção de ceftriaxona 2g por 10 a 14 dias

 

O protocolo acima deve ser mantido mesmo que o paciente apresente melhora dos sintomas, uma vez que esta melhora não indica a cura. 

Após a injeção de penicilina, é comum o surgimento de uma reação que causa febre, dor muscular, dor de cabeça, batimento cardíaco acelerado, respiração baixa e queda da pressão. Estes sintomas podem permanecer por 12 a 24 horas e devem ser tratados apenas com Paracetamol.

O exame de VDRL (discutido acima na sessão sobre diagnóstico) deve ser feito regularmente (geralmente a cada três meses) para avaliar a resposta ao tratamento. Caso o exame mostre uma resposta insatisfatória, poderá ser indicado um novo curso de tratamento.