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Relacionamento extraconjugal

Relacionamento extraconjugal

Um relacionamento extraconjugal pode ser iniciado por uma série de motivos. A sua existência pode abalar a estrutura do casamento, bem como pode, após a superação da traição, fortalecer os laços entre o casal.

Pensar sobre essa temática pode abrir caminhos para reflexões que nos auxiliem na hora de tomar uma decisão frente ao problema. Por isso, convidamos você para acompanhar este conteúdo e saber mais.

Por que as pessoas traem?

Não existe uma única resposta generalista para essa pergunta. Afinal, os comportamentos humanos não estão associados a causas “8 ou 80”. Muitas circunstâncias, singularidades e fatores podem estar envolvidos com isso.

Portanto, embora possamos pensar em alguns dos motivos pelos quais a traição é presente na sociedade, ainda assim não podemos diagnosticar por que um parceiro trai a sua esposa apenas com base nesses pontos.

Mas sim, podemos refletir sobre o assunto, analisando a situação com um olhar mais crítico e buscando, a partir disso, estabelecer tomadas de decisão e ações que contribuam para a saúde mental de ambos os envolvidos na situação.

Por isso, gostaríamos que você visse as questões abaixo como fatores de análise e reflexão, não como uma verdade absoluta.

Na nossa lista de potenciais motivos pelos quais as pessoas traem, consideramos informações apontadas no livro de Mirian Goldenberg, em seu livro “Por que homens e mulheres traem?” e outros artigos científicos, presentes nas referências. Acompanhe:

1. Permissividade
Infelizmente, ainda vemos muitos traços do machismo presente na nossa sociedade. Assim sendo, no caso da traição cometida por homens, uma realidade muito emergente é o fato de que a masculinidade é vista sob um prisma de que os homens “de verdade” “pegam” mulheres diferentes, ao longo de sua vida.
Assim sendo, tanto a imposição enraizada na sociedade, quanto até mesmo a pressão dos amigos, pode resultar em um comportamento traidor.
Por exemplo, se um homem está diante de uma mulher que está “dando atenção” a ele, e os seus amigos percebem isso, é possível que o grupo social encoraje esse homem a “dar em cima” dessa mulher. Simplesmente porque isso seria uma prova de masculinidade e virilidade, mesmo que esse comportamento possa ser nocivo para a esposa que o aguarda em casa.
Perceba que essa permissividade, de achar que “os homens traem mesmo” ou, então, “que os homens são todos iguais” é algo que pode fomentar o comportamento infiel.
Obviamente, isso não justifica o comportamento de homens que traem, mas pode ser um fator que fortalece essa atitude.

2. Repetições na vida do indivíduo
Cada relacionamento é único, assim como cada indivíduo. Por conta disso, cada pessoa possui uma história de vida e influências familiares e sociais diferentes.
Neste caso, é possível que a pessoa tenha crescido em um lar no qual a traição estivesse presente e, além disso, fosse normalizada.
Ao vivenciar essa experiência na infância e adolescência, o indivíduo pode enxergar o comportamento de trair como algo aceitável e muito comum, mesmo que sinta que não é correto fazer isso.
Quando a situação vivida na infância não é refletida e elaborada, pode se manter “dentro” da pessoa pelo resto de sua vida, levando-a, inclusive, à repetição de tais comportamentos.

3. Questões de autoestima
A autoestima tem um papel muito importante na saúde mental e na autoimagem de qualquer pessoa. Quando a insegurança e a baixa autoestima aparecem, alguns indivíduos podem sair em busca de um fortalecimento, e esse fortalecimento, em alguns casos, pode ser “engatar” um novo relacionamento, no caso, um relacionamento extraconjugal.
Isso porque essa relação nova, bem como o processo de ter sucesso na conquista, são fatores que podem elevar a autoestima dessa pessoa, fazendo-a ter tais comportamentos como forma de fortalecer a visão que tem de si mesma.

4. Desejo pelo novo/adrenalina
Essa questão também pode levar o indivíduo a um relacionamento extraconjugal, afinal, a monotonia e o tédio de viver uma relação que provoque sensação de estagnação pode acarretar o desejo de viver algo novo e diferente.
Esse novo pode ser excitante para algumas pessoas, fazendo-as tomar atitudes frente às sensações vividas. Neste caso, ao se deparar com o flerte de um estranho, por exemplo, a pessoa pode se sentir instigada a ir atrás desse novo, visando experimentar coisas diferentes que elevem a adrenalina e aquela sensação de “frio na barriga”.
Novamente, não estamos justificando o comportamento infiel, mas sim, apresentando fatores que podem servir de gatilho e fomentar esse tipo de atitude.

5. Desejo pelo término
Em alguns casos, o indivíduo pode desejar terminar a relação, porém, por ter dificuldades de expressar esse desejo, começa a tomar atitudes nocivas que façam com que o outro termine por ele.
Apesar de isso ser bastante cruel, é algo muito real nas relações humanas. Afinal, nem sempre é fácil assumir um desejo ou uma vontade. Logo, assumir que quer terminar, sem ter pretexto para isso, pode ser um problema para alguns.
Em contrapartida, ao trair e permitir que o parceiro ou a parceira descubra, é possível “ter uma brecha” que justifique o término e, ainda, que faça com que o outro decida terminar.

6. Problemas sexuais no relacionamento
Apesar de não ser justificativa, a lacuna sexual ao viver em um casamento sem sexo pode ser um dos estopins para o comportamento infiel.
A pessoa que trai pode ter como justificativa, para si mesma, que a ausência do sexo na relação é o que a impulsiona a ir atrás de vivências sexuais fora do casamento.
Apesar de ser um ponto muito complexo, existem pessoas que acreditam que esse é um motivo plausível, mas não podemos dizer se é certo ou errado. Cada casal é único e possui as suas próprias “regras de convivência”, podemos dizer. Vale uma reflexão interna, dentro do relacionamento.

7. Conflitos no relacionamento
Os conflitos no relacionamento também podem fragilizar a relação de diversas formas. Quando esses conflitos não são resolvidos e passam a se somar, é possível que haja um afastamento entre o casal, o que os leva, em algumas circunstâncias, a viver novas experiências com outras pessoas.
Obviamente, isso não é uma regra. Isto é, não é todo casal com conflitos que trai um ao outro.

8. Desejo de vingança ou retaliação
Os relacionamentos humanos são complexos, pois além de os indivíduos serem, por si só, complexos, também há a soma da complexidade de duas pessoas diferentes dentro da relação amorosa.
Sendo assim, é possível que alguns indivíduos usem a traição como forma de se vingar de algum erro do parceiro, especialmente quando querem “pagar na mesma moeda”, ou seja, ao descobrirem uma traição, traem também, mesmo quando dizem que amam a pessoa que tem ao lado.
Já a retaliação pode acontecer em situações mais agressivas, quando uma pessoa controladora deseja que o parceiro ou a parceira se molde às suas vontades e, caso não se molde, a traição servirá de retaliação, culpando o outro pelo comportamento infiel.

Novamente, reiterando nosso ponto de vista, embora existam estudos que apontem alguns dos motivos pelos quais o relacionamento extraconjugal existe, não podemos dizer que a traição é ideal e aceitável por conta disso.
Apenas trouxemos os pontos acima para que possamos refletir e analisar as situações de forma mais ampla, considerando a complexidade humana.

Quais os impactos psicológicos do relacionamento extraconjugal?

Os impactos psicológicos que o relacionamento extraconjugal pode ocasionar na pessoa traída são diversos. Até porque cada indivíduo vive a sua vida e as suas emoções de forma singular.

Isso quer dizer que algumas pessoas atravessarão a situação sem grandes problemas, enquanto outras viverão um processo de luto que poderá ser mais difícil e doloroso.

Porém, embora não exista uma generalização ao pensarmos nos aspectos psicológicos envolvidos nesses casos, podemos, ainda, refletir sobre algumas das possíveis consequências vividas pela pessoa traída. Veja:

1. Baixa autoestima
A autoestima pode ficar abalada em situações nas quais a pessoa descobre um relacionamento extraconjugal do parceiro ou da parceira.
Afinal, a pessoa pode começar a se questionar se é insuficiente ou inadequada para o outro.
A comparação com a “outra” ou o “outro” também pode aparecer. Questionamentos como: será que ele(a) é melhor que eu? Onde eu errei? O que o(a) outro(a) tem que eu não tenho? Podem minar a mente da pessoa traída.
No entanto, é importante deixar claro que essa comparação não é justa. As pessoas não traem porque sentem que o(a) parceiro(a) é insuficiente, apenas. Elas traem por conta de muitas questões. Além disso, comparar-se a outra pessoa é algo injusto, afinal, é impossível criar uma régua capaz de medir um ser humano melhor ou pior.

2. Culpa
A culpa também pode aparecer em algumas circunstâncias. A pessoa pode sentir que foi insuficiente ou que “provocou” determinado comportamento no outro.
Porém, é importante deixarmos um adendo de que a culpa não é de quem sofre com a traição, mas sim de quem a comete. Mesmo quando o relacionamento está desgastado, ainda assim a pessoa traída não tem responsabilidade sobre os comportamentos do(a) parceiro(a).

3. Conflitos no relacionamento
Obviamente, superar uma traição não é uma tarefa tão simples assim. Além disso, cada pessoa pode enfrentar a situação de uma forma diferente.
Portanto, é muito provável que surjam conflitos no relacionamento quando a traição é descoberta ou confessada.
A pessoa traída pode se sentir abalada, enquanto o traído pode se sentir arrependido. As brigas, em decorrência do ocorrido, podem aparecer com mais intensidade, e até mesmo o processo de separação pode ser cogitado.
Embora nem todo casal que trai cogita se separar, ainda assim o conflito após a descoberta pode existir, desestruturando o emocional dos dois por um tempo.

4. Vivência do luto da pessoa idealizada
O processo de luto também pode ocorrer ao descobrir um relacionamento extraconjugal do parceiro.
Isso porque, quando iniciamos um relacionamento, construímos uma fantasia sobre a outra pessoa, que, em alguns aspectos, destoa da realidade.
É por isso que enxergamos perfeição quando estamos apaixonados. Nós enxergamos o outro como perfeito, como repleto de qualidades e como a pessoa que, sem dúvidas, nos fará feliz para sempre.
Porém, a realidade não é assim. As pessoas têm defeitos e, aos poucos, isso vai sendo notado à medida que a relação evolui.
No entanto, mesmo que os defeitos comecem a aparecer, ainda assim o amor pode fazer com que determinadas questões do outro passem despercebidas por nós mesmos.
Assim sendo, imaginamos que o outro preza pela relação e o encaramos como alguém que jamais faria algo como nos trair.
Como consequência, a descoberta do relacionamento extraconjugal pode ser um choque de realidade que causa uma dor intensa no indivíduo. Ele deixa de enxergar a pessoa idealizada e passa a enxergar o real. O real pode ser difícil de assimilar, e é necessário viver o luto daquela pessoa que foi fantasiada pela mente apaixonada.
Esse processo pode ser mais longo ou mais curto. Depende de pessoa para pessoa. E pode causar impactos na saúde emocional.

5. Insegurança frente ao futuro
O medo do futuro também pode estar presente quando pensamos nas consequências da descoberta do relacionamento extraconjugal.
Isso porque, em casos de término depois de relacionamentos longos, a pessoa pode ter dúvidas sobre como retomar a sua vida amorosa, como confiar em outra pessoa, etc.
Já em casos nos quais a relação se mantém, o indivíduo pode sentir angústia na hora de confiar no parceiro ou na parceira, acreditando que a traição poderá acontecer de novo, a qualquer momento.

6. Outras questões singulares do indivíduo
Obviamente, cada caso é sempre único, e já deixamos isso claro no decorrer deste texto. Sendo assim, existem muitos aspectos psicológicos e emocionais que podem ser detectados nos casos de relacionamento extraconjugal.
Caberá ao indivíduo analisar os impactos que a situação tem provocado em sua vida e, se necessário, procurar ajuda psicológica para lidar com essa questão.

7. Medo de relações futuras
O medo de reviver a dor da traição em relações futuras pode provocar um certo isolamento da pessoa traída, que se retrai para não entrar em novos “romances” que possam colocá-la “em risco”.
Essa esquiva amorosa pode provocar insatisfação, tristeza e diversos outros efeitos emocionais e psicológicos. Por isso, a psicoterapia pode ser muito relevante nessas situações.

Como lidar com um relacionamento extraconjugal?

Lidar com um relacionamento extraconjugal do parceiro ou da parceira não é tarefa simples. Não existe uma receita de bolo que seja capaz de remover a dor emocional que a pessoa traída possa estar sentindo.

No entanto, existem algumas ações que podem contribuir para o desenvolvimento de mudanças positivas e gradativas em nossa vida pessoal e amorosa. Veja abaixo:

1. Comunicação no relacionamento
A comunicação no relacionamento tem um papel muito importante, de maneira geral. Mas se tratando de questões relacionadas à traição, essa comunicação é indispensável.
O casal precisará conversar, ponderar, dialogar e refletir sobre o que aconteceu, por que aconteceu, se acontecerá de novo, etc. Além disso, o futuro da relação só poderá ser trabalhado por meio de uma conversa franca.
Essa conversa não precisa acontecer no momento em que o relacionamento extraconjugal é descoberto. Afinal, o abalo emocional, de ambos os lados, pode ser bastante intenso, o que pode prejudicar o diálogo e impedir que ambos compreendam o outro de forma empática – a posição defensiva pode entrar em ação aqui.
Por isso, dar um tempo para assimilar o que se sente e elaborar o ocorrido pode ser bem relevante nessa jornada de dialogar e pensar sobre o futuro da relação.

2. Análise da situação
Dentro das conversas, o casal precisa analisar a situação. O que aconteceu? Quando aconteceu? De que modo aconteceu? Existe um porquê? Como essa situação abala o relacionamento? Como está o emocional de ambos os lados? Quais prejuízos isso gerou? E quais reflexões trouxe à tona?
São diversas as perguntas e análises que podem ser feitas nessas situações.

3. Tomadas de decisão
Diante de toda a reflexão e análise que é feita, é preciso que o casal chegue, em algum momento, a tomar uma decisão.
Seja a decisão de seguir adiante com a relação, bem como encerrar o relacionamento e cada um seguir a sua vida.
Essa decisão não precisa acontecer de uma hora para outra. É possível refletir por um tempo, sem forçar a barra em nenhum dos lados.

4. Vivência da dor e ressignificação
A vivência da dor irá acontecer em algum momento. É possível que ambos os lados estejam sofrendo com a situação. Portanto, dar tempo ao tempo para ressignificar o que aconteceu e buscar formas de “virar a página” é algo importante.
Ninguém precisa ter pressa de apagar as emoções. Elas fazem parte do processo de restauração.

5. Terapia individual ou de casal
Tanto a terapia de casal, quanto a individual, podem servir de alicerce na hora de superar a dor provocada pelo relacionamento extraconjugal.
A pessoa traída terá a chance de fortalecer a autoestima no casamento, falar de suas angústias, encontrar insights que a auxiliem na sua tomada de decisão, e assim por diante.
O casal também poderá aprender mais sobre um e sobre o outro, além de desenvolverem uma comunicação mais assertiva, que possa estreitar o laço amoroso novamente. Em alguns casos, a terapia também pode deixar a necessidade de término mais clara.
A partir das terapias, os indivíduos abrem caminhos para o autoconhecimento e para a ressignificação do ocorrido, traçando planos e objetivos para o futuro.

Se você percebeu que a pessoa ao seu lado tem um relacionamento extraconjugal, cogite conversar com ela, e se estiver passando por problemas emocionais por conta disso, busque ajuda profissional.

Referências
ELISEU, E. J. A importância da comunicação no relacionamento amoroso. Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade do Sul de Santa Catarina, 2017.

FÉRES-CARNEIRO, T. Separação: o doloroso processo de dissolução da conjugalidade.
Artigos • Estud. psicol. (Natal) 8 (3) • Dez 2003.

GOLDENBERG, M. Por que homens e mulheres traem? – Rio de Janeiro : Editora BestBolso, 2010.

SATTLER, Marli Kath; TAVARES, Ana Cristina Costa Nicola; SILVA, Isabela Machado da. A infidelidade no relacionamento amoroso: possibilidades no trabalho clínico com casais. Pensando fam., Porto Alegre , v. 21, n. 1, p. 162-175, jul. 2017 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-494X2017000100013&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 17 out. 2022.