Psicologia em Oncologia
Aspectos psicológicos do paciente oncológico
Os aspectos psicológicos do paciente oncológico estão associados a uma série de fatores, que podem envolver autoestima, sexualidade, rotina, perspectivas para o futuro, etc.
A singularidade, nesses casos, é bastante notável, pois nenhum indivíduo enfrentará o diagnóstico de câncer da mesma forma. Cada um encara a situação de maneira única, com base em sua história de vida, rede de apoio, saúde mental, etc.
Pensando nisso, trouxemos algumas considerações pertinentes sobre a temática. Acompanhe para saber mais.
A seguir, descrevemos alguns dos possíveis aspectos psicológicos do paciente oncológico. Desse modo, tanto a família, quanto o próprio indivíduo com diagnóstico, poderão ter uma visão mais clara da situação, encontrando formas de elaborar o que vem sendo sentido e buscando maneiras de elevar a qualidade de vida frente ao diagnóstico.
Acompanhe:
1. Sentimento de tristeza
O sentimento de tristeza, sem dúvidas, é bastante recorrente em casos de diagnóstico de câncer e outras enfermidades consideradas graves.
É como se o indivíduo passasse por um processo de luto, afinal, ele “perde” a sua saúde plena e passa, agora, a vivenciar uma nova perspectiva: sob o olhar de um enfermo.
Essa passagem do sadio para o enfermo pode ocasionar sentimentos de tristeza, desânimo, angústia, entre outros, pois a “novidade” negativa pode ser bastante inesperada em muitos casos.
E mesmo quando a desconfiança já existia, ainda assim o paciente pode demonstrar uma desesperança frente ao diagnóstico. Trata-se de uma reação muito comum na descoberta do quadro clínico e no desenvolvimento do tratamento.
2. Medo da morte
O medo da morte também é bastante recorrente. Afinal, ainda vemos muitas falas e discursos que associam os casos de câncer com a morte.
Embora nem todos os pacientes evoluam à óbito nesses casos, ainda assim este medo pode estar bastante presente.
O processo de aceitação do quadro clínico pode ser prolongado em alguns casos, e esse medo de morrer pode ser bem latente.
3. A satisfação da vida muda a perspectiva sobre a morte
Um ponto que é importante considerarmos quando pensamos nos aspectos psicológicos do paciente oncológico, é que, em alguns casos, o grau de satisfação com a vida, especialmente em pacientes mais velhos, pode impactar na perspectiva sobre a morte.
Isto é, indivíduos que se sentem mais satisfeitos com a história de vida que construíram podem se sentir mais “tranquilos” com relação à possibilidade de morrer por conta da enfermidade.
Já indivíduos que têm a sensação de que ainda não cumpriram tudo o que desejavam, ou nem mesmo uma parte desse desejo, podem demonstrar maior medo, revolta e aversão à ideia de pensar sobre a morte.
4. Sentimento de desesperança
O sentimento de desesperança também pode estar muito presente. Primeiro, porque a falta de um prognóstico claro e preciso pode resultar em um medo exorbitante do que acontecerá a seguir, temendo a morte, o tratamento, os medicamentos, os efeitos na vida pessoal e profissional, etc.
Segundo, porque o diagnóstico de casos graves e terminais podem proporcionar um verdadeiro “choque de realidade” no sujeito, fazendo-o se sentir sem esperança perante o que irá acontecer em seguida.
5. Revolta e raiva
Como mencionamos anteriormente, o reconhecimento do diagnóstico de câncer pode levar o sujeito a atravessar uma situação de luto. Essa situação perpassa diversas fases, como ocorre quando perdemos um ente querido.
Dentre essas fases, existe o momento de raiva e revolta, que é quando o indivíduo não aceita o seu diagnóstico e se nega a aceitar. A raiva e a sensação de injustiça, muitas vezes podendo ser direcionados a Deus, podem provocar uma sensação de revolta no indivíduo.
Esse processo faz parte da ressignificação da vida e de tudo o que está acontecendo. O paciente precisa, ainda, assimilar tudo o que ouviu dos médicos e tudo o que deverá fazer de agora em diante.
6. Angústia e temor aos efeitos colaterais
O tratamento do câncer pode ser bastante assustador. Não é de hoje que ouvimos relatos de pacientes que, durante o tratamento, atravessam efeitos colaterais desconfortáveis. Faz parte do processo.
Esse conhecimento comum de que o tratamento é “agressivo” pode resultar em uma forte angústia e temor aos efeitos colaterais. Em alguns casos, inclusive, o paciente pode demonstrar uma certa resistência para com o tratamento, não querendo fazê-lo devido ao medo do que pode acontecer ao se submeter a ele.
No caso de mulheres diagnosticadas com câncer, o medo da perda de sua feminilidade pode aparecer. Afinal, há impactos nos cabelos, na pele, na aparência como um todo, etc. Isso resulta em angústia e temor ao que pode vir a acontecer.
7. Dores emocionais envolvidas com os impactos na vida sexual
O tratamento do câncer pode, em muitos casos, impactar na libido e na autoimagem que o indivíduo tem de si mesmo. Ambos os casos contribuem para o nascimento de problemas na vida sexual, caso não sejam escutados e elaborados de algum modo.
Sendo assim, o indivíduo com câncer pode apresentar uma insatisfação e questões emocionais envolvidas com a sua vida sexual.
A pessoa pode sentir culpa ao não ter interesse sexual no dia a dia, com o parceiro, por exemplo. Embora isso seja injusto, uma vez que a situação que está sendo atravessada justifica a falta de interesse sexual.
Porém, nem sempre é fácil aceitar essa condição. Inclusive, medidas psicológicas podem ser colocadas em prática para que o paciente busque maneiras de lidar com a situação.
8. Angústia frente à desestruturação dos planos de vida
Durante o desenvolvimento da nossa história de vida neste mundo, vamos criando enredos, planos e sonhos. Pensamos sobre o que faremos nas férias, no ano seguinte, nos próximos passos em nossa carreira profissional, e assim por diante.
Porém, o diagnóstico de câncer pode resultar em impactos bastante intensos na vida do indivíduo. Nesses casos, os aspectos psicológicos do paciente oncológico estão envolvidos com a quebra do “cronograma” que vinha sendo seguido.
Os planos de vida são desestruturados, e o paciente se vê diante de uma situação em que precisa mudar a rota, traçar novos sentidos para a vida, etc.
Em casos de pacientes terminais e graves, essa situação de traçar novos planos pode parecer ainda mais difícil. No entanto, enquanto há vida, há planos que podem ser feitos dentro dos limites e perspectivas de cada um.
Contudo, é preciso respeitar o tempo de aceitação da situação para, então, o paciente pensar em caminhos e medidas que poderá seguir de agora em diante.
9. Efeitos na autoestima devido às mudanças físicas
As mudanças físicas podem ser consideráveis devido ao tratamento e às mudanças que ocorrem na rotina e no dia a dia do paciente. Essas mudanças, muitas vezes, podem impactar profundamente a autoestima do indivíduo.
Ele passa a se ver “por outros olhos” diante do espelho, e isso pode ocasionar problemas de baixa autoestima, dificuldade de autoaceitação, ausência da autoconfiança, e assim por diante.
O processo de “quebra” da aparência anterior, abrindo caminhos para um “novo eu externo” pode ser bastante doloroso. Por isso, o acompanhamento psicológico e o suporte da família é extremamente importante.
10. Estresse decorrente da enfermidade
O estresse decorrente de todas as novas situações e intensidades vividas pode ser bem impactante.
A pessoa pode se ver diante de situações completamente inesperadas, que impactam o seu presente, o seu futuro, os seus sonhos. Além disso, a carga de atividades referentes ao tratamento e demais situações envolvidas com o novo “estilo de vida” também aumentam a carga de estresse.
Esse estresse, com o passar do tempo, pode ocasionar efeitos na saúde física e mental do indivíduo. Por isso, encontrar fontes para expressar os sentimentos, estresses e angústias, é algo válido e importante.
11. Insegurança devido à desestruturação financeira
Muitos casos de câncer na família podem impactar a vida financeira de maneira severa. O problema pode ser ainda maior quando o responsável pelo sustento familiar é acometido pela doença.
Sendo assim, a insegurança devido à desestruturação financeira pode ser outro ponto que merece atenção. A pessoa pode temer o futuro da família e de si próprio frente às dificuldades financeiras que começam a surgir.
Os custos do tratamento também podem ser assustadores e desestruturantes em muitos casos.
12. Sentimento de solidão
O fato de vivenciar o diagnóstico também pode provocar o sentimento de solidão no indivíduo adoecido. Ao mesmo tempo, a família também pode experimentar esse tipo de sentimento, uma vez que se sente solitária diante de um diagnóstico que a desestrutura de uma ou de várias formas.
O processo de compreender os motivos pelos quais há esse diagnóstico pode ocasionar esse tipo de sensação. É o caso de algumas famílias se sentirem injustiçadas, pensando “por que eu?” diante do ocorrido. Esse questionamento pode fortalecer a sensação de que se está sozinho.
Como lidar com os aspectos psicológicos do paciente oncológico?
Lidar com os aspectos psicológicos do paciente oncológico pode parecer bastante desafiador e, claro, não é para menos.
No entanto, a aquisição de conhecimento sobre a temática pode ser um ponto de partida rico nessa busca por apoio e suporte ao familiar ou amigo adoecido.
A seguir, apresentamos algumas orientações que podem ser úteis, mas não se esqueça de que elas não substituem as recomendações dadas nas consultas com profissionais da saúde, ok?
Vamos às considerações:
1. Suporte emocional para expressar sentimentos
Tanto a família, quanto os amigos, podem servir de suporte emocional para o paciente oncológico poder expressar os seus sentimentos.
Neste momento, é importante tomar cuidado para não anular as queixas do paciente. Isto é, solicitar que o paciente deixe de lado as angústias e tente “focar no positivo” pode ser mais doloroso do que permitir que ele fale sobre o que sente.
Demonstrar presença, empatia e escuta pode ser um caminho mais relevante nesse caso. O indivíduo, que atravessa muitos aspectos psicológicos frente ao diagnóstico, precisa de espaço para falar e chorar livremente os seus medos, problemas e angústias.
Esse processo, como diria Nasio, pode auxiliar na hora de “gastar” as dores, elaborando-as de uma forma gradativa e minimizando os sentimentos negativos presentes nessas situações.
2. Apoio para uma melhor compreensão das dificuldades vividas
O paciente oncológico pode se deparar com uma série de dificuldades na sua vida. A mudança na rotina, as dores e os efeitos colaterais da doença e do tratamento, as mudanças na vida profissional, os impactos no relacionamento, a mobilidade que pode ser reduzida em alguns casos, entre outros fatores podem ser bem assustadores.
Sendo assim, a família e os amigos podem auxiliar na hora de ressignificar cada mudança e cada dificuldade, dando o apoio necessário para que, aos poucos, o paciente possa se adaptar à sua nova realidade.
É o caso de instalar dispositivos que melhorem a mobilidade dentro de casa, por exemplo. Ou oferecer a construção de uma nova rotina que minimize a sensação de angústia do sujeito, incluindo atividades que possam distraí-lo e fazê-lo bem.
Essas ações em prol da criação de uma nova vida menos nociva é algo que contribui para a saúde mental do sujeito. Afinal, além de ter auxílio no enfrentamento das dificuldades, perceberá o carinho e o cuidado da família, sendo estes fatores importantes no processo de tratamento e enfrentamento dos aspectos psicológicos do paciente oncológico.
3. Auxiliar na obtenção de soluções para as situações que o deixam emocionalmente abalado
Muitas situações podem abalar as emoções do sujeito enfermo. Ele pode ter medo do tratamento, ter medo do que acontecerá com sua vida sexual, medo do que acontecerá na vida profissional, e assim por diante.
Nesses casos, a família e os amigos podem ajudá-lo a enxergar as perspectivas e os acontecimentos que poderão ser postos em prática em seguida. Por exemplo, poderão trazer mais informações, colhidas de fontes confiáveis, sobre como funciona o tratamento, quais efeitos colaterais são esperados e quais medidas já podem ser colocadas em prática para minimizá-los.
Quanto à vida sexual, o parceiro ou a parceira pode desenvolver, em conjunto com o sujeito, novos significados para a vida sexual do casal, buscando alternativas para manter a conexão física, mesmo quando não há o ato da penetração, por exemplo. Afinal, a relação sexual não precisa acontecer apenas com base na penetração, mas sim, pode estar envolvida com muitas outras práticas que são capazes de respeitar as limitações e condições de cada um.
Quando à vida profissional, que também exemplificamos acima, é preciso ressignificar. Se houver a possibilidade de trabalhar de casa, sem forçar a situação e garantindo o maior conforto ao indivíduo, é possível buscar essa possibilidade na empresa do paciente. Caso não seja possível, é necessário dar o apoio emocional para que o indivíduo atravesse o luto da perda do seu trabalho, especialmente se for algo muito significativo em sua vida cotidiana.
Ao mesmo tempo, é possível auxiliá-lo na busca de novos caminhos que o sustentem profissionalmente, como por exemplo, escrever um livro que sempre quis escrever, mas não havia tempo para isso.
Esses são apenas alguns exemplos de soluções que podem ser apresentadas nas situações que abalam o indivíduo emocionalmente. Cabe à família e aos amigos enxergarem quais possibilidades podem ser pertinentes ao paciente em questão.
4. Auxílio no processo de luto e aceitação da situação
Como mencionamos na lista de aspectos psicológicos do paciente oncológico, o processo de luto pode acontecer ao ter conhecimento do diagnóstico.
Sendo assim, a família e os amigos podem auxiliar no processo de aceitação da situação. É preciso dar espaço para o choro, para a revolta, angústia, tristeza e demais manifestações comuns de um processo de luto.
Ao mesmo tempo, é possível oferecer escuta, acolhimento, apoio e palavras de afeto que demonstrem que o indivíduo não está sozinho nesse caso.
A aceitação pode não acontecer da noite para o dia. Por isso, respeitar o tempo do indivíduo é muito importante. Afinal, ele pode necessitar de tempo para assimilar todas as mudanças que ocorreram e que estão prestes a acontecer.
5. Buscar conhecimento e apoio psicológico para lidar com o paciente
A própria família e amigos podem procurar mais conhecimentos sobre o caso do paciente em específico. Afinal, o conhecimento pode ser a base para lidar com todas as questões que vão surgindo no decorrer do tratamento.
Além disso, a busca por apoio psicológico também pode ser importante. Se a família e os amigos cuidarem da sua saúde mental, poderão ter um suporte a mais na hora de oferecer apoio ao indivíduo com diagnóstico de câncer.
Isso porque, todos os envolvidos podem sentir impactos na saúde mental, nas emoções e na rotina, que resultam em questionamentos, medos, angústias, etc., que merecem uma escuta qualificada.
6. Apoio na busca de novos significados sobre o processo de viver
Apoiar o indivíduo na busca de novos planos e sentidos para o processo de viver também pode ser relevante.
Pois, infelizmente, muitos indivíduos com o diagnóstico de câncer podem se sentir sem esperança ou sem perspectivas para o futuro. Consequentemente, podem anular sonhos e objetivos que vinham construindo, sem remodelá-los de acordo com a realidade.
Sendo assim, apoiar o indivíduo na hora de buscar novos projetos para o processo de viver é importante. Incentivar a busca de sonhos, o traçar de objetivos que respeitem os limites do enfermo, entre outras medidas, cabem nessa situação em específico.
Por exemplo, voltando ao exemplo da pessoa escrever um livro, incentivá-la a ir adiante nesse sonho, ajudando-a a contatar editoras ou ghostwriters pode ser um caminho promissor e que estimule a busca por novos projetos de vida.
7. Apoio à busca da psicoterapia
Apresentar a importância da busca pelo apoio psicológico oferecido por profissionais também é um caminho relevante.
Mostre à pessoa quais podem ser as vantagens do processo terapêutico, e ajude-a a compreender a importância dessa prática no dia a dia de qualquer indivíduo.
Considere quebrar paradigmas relacionados à psicoterapia, deixando claro que o processo de terapia não é algo voltado apenas aos “loucos”, como o senso comum pode dizer muitas vezes.
Além disso, acompanhar a pessoa nas idas às sessões e demonstrar disponibilidade nesse sentido pode ser mais uma forma de incentivar a busca por apoio psicológico profissional.
Toda doença envolve-se com a subjetividade
Lembre-se de que em se tratando de uma enfermidade, como o câncer, não existe um passo a passo de como lidar com os aspectos psicológicos do paciente oncológico. Afinal, cada indivíduo atravessa o diagnóstico com base em sua história de vida, subjetividade, emoções e pontos de vista.
Respeitar isso é muito importante. Para isso, considere a premissa de que não existe fórmula mágica para ajudar, porém, oferecer apoio, demonstrar consideração e incentivar a busca por ajuda profissional podem ser medidas bastante construtivas.
Em caso de dúvidas, converse com um psicólogo e com os médicos do paciente. Quanto mais conhecimentos relevantes e que contribuam com os cuidados oncológicos em casa, melhor poderá ser.
Referências
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CHRISTO, Z. M.; TRAESEL, E. S. Aspectos psicológicos do paciente oncológico e a atuação da psico-oncologia no hospital. Disc. Scientia. Série: Ciências Humanas, S. Maria, v. 10, n. 1, p. 75-87, 2009.