Processos de Luto no Idoso
Processos de luto no idoso
Os processos de luto no idoso perpassam diversas esferas da vida. São questões relacionadas à perda de amigos, parentes, filhos, cônjuge, entre outros.
Em alguns casos, pode provocar o enlutamento sobre si mesmo, o que desencadeia sentimentos de medo, angústia e tristeza, além de ser uma mola propulsora para o isolamento social.
Neste texto, apresentamos informações importantes sobre esses processos de luto, além de apontarmos a possibilidade de se investir na psicoterapia para atravessar os momentos difíceis do luto. Acompanhe.
Etapas do processos de luto
Antes de iniciarmos a discussão acerca dos processos de luto no idoso, vamos refletir um pouco sobre as etapas ultrapassadas por qualquer enlutado.
Vale ressaltar que essas etapas não seguem uma sequência fixa para todas as pessoas, bem como pode haver diferença no tempo de duração entre um indivíduo ou outro. Saiba mais:
1. Negação e isolamento
É a fase também denominada como “choque”, ou seja, o momento em que a pessoa tem o choque de receber a notícia de que um ente querido faleceu. Esse choque pode durar dias ou meses, dependendo da elaboração que o sujeito faz da situação.
Durante este período, é comum que a pessoa demonstre sentimento de desespero, raiva, desesperança, angústia e amargura, além de ser uma fase na qual a pessoa pode se isolar socialmente, como forma de ir reorganizando as emoções e a própria vida.
2. Raiva
Outra etapa, muito comum, atravessada pelo enlutado, é a etapa da raiva. Aqui, o sujeito demonstra uma revolta em decorrência do que aconteceu. Algumas pessoas podem demonstrar revolta e ira contra o deus que acredita, por exemplo.
3. Barganha e busca pelo indivíduo perdido
Neste período, é muito comum que o indivíduo enlutado tente barganhar o retorno do falecido. Para isso, pode procurá-lo em locais que ele costumava frequentar, mantém-se próximo da casa do ente querido, tenta negociar com deus alguma forma de ter o ente querido de volta, e assim por diante.
É uma busca pelo sujeito que se perdeu.
4. Depressão e tristeza
Ao ter as tentativas de reencontro fracassadas, o enlutado pode se ver diante de uma realidade dolorosa, que provoca sentimentos de tristeza, desamparo e angústia. Esta é a fase da depressão.
O choro pode ser fácil, e a dificuldade para lidar com a ausência do outro é bastante evidente.
5. Aceitação e reorganização
Por fim, o momento da aceitação e reorganização ocorre quando o luto é bem-elaborado. Neste caso, o sujeito passará a refazer a sua “rota de vida” ao perceber que ainda existe uma história a ser construída, mesmo com a ausência da pessoa que se perdeu.
Aqui, ocorre o desinvestimento, passando a colocar a energia psíquica em outro caminho e outro sentido, ou seja, investindo em algo novo.
Tipos de processos de luto no idoso
Os processos de luto no idoso podem ser diversos – assim como ocorre com qualquer pessoa. Porém, pensando nesta fase da vida, é muito comum que as seguintes perdas possam aparecer no cotidiano do sujeito, como por exemplo:
- Perda do cônjuge;
- Perda de amigos;
- Perda de irmãos;
- Perda dos filhos.
Cada perda pode resultar em um processo de luto único e incomparável, e quando há dificuldades para atravessar uma dessas perdas, a tendência é que as questões emocionais se acumulem.
Isto é, se o sujeito não consegue elaborar o luto da perda de um amigo, ao perder um filho ou irmão a dor poderá ser somada, correndo o risco de se tornar algo patológico em algum momento.
Aspectos relacionados à perda do cônjuge
Sem dúvidas, a perda do cônjuge é um dos assuntos mais comentados em pesquisas sobre os processos de luto no idoso. Isso porque, de maneira geral, o casal costuma ter uma idade semelhante, ou ao menos ambos costumam ser idosos, salvo exceções.
Sendo assim, a perda do parceiro ou da parceira tende a ser a realidade de muitos idosos, o que nos remete à análise dessa situação.
A seguir, descrevemos alguns aspectos relacionados a esse tipo de perda, para que possamos considerar de quais maneiras e quais contingências podem impactar na forma como esse luto será atravessado. Veja:
1. Qualidade da vivência conjugal
A qualidade da vivência conjugal é um fator determinante nos processos de luto no idoso. Quando há uma relação saudável, pautada na presença, no amor, no respeito e no carinho, o idoso pode atravessar uma perda mais significativa.
Ao mesmo tempo, quando a relação provoca uma espécie de dependência emocional, o sofrimento também tende a ser mais intenso.
Em contrapartida, se a relação estava fragilizada, ou se havia intrigas e desentendimentos constantes, o luto será atravessado de outra forma.
Vale ressaltar que cada caso sempre será único, e cada idoso atravessará o luto à sua maneira.
2. Tempo de relacionamento
O tempo de relacionamento também tem relação com a forma como o indivíduo irá vivenciar o seu luto.
Relacionamentos longos podem resultar em uma dificuldade para se reajustar à vida social com foco em namoro ou novo romance. Relacionamentos curtos podem trazer à luz questionamentos sobre “o que poderia ter sido” se houvesse mais tempo.
Cada situação monta um cenário único, que deve ser avaliado como tal na hora de elaborar-se o luto.
3. Processo de adoecer do cônjuge
O processo de adoecer também pode provocar efeitos diferentes na maneira como o indivíduo enfrentará o seu luto.
Se o adoecimento foi gradual, pode ser que o indivíduo encontre no falecimento do parceiro um consolo para as dores que estavam sendo vividas com os tratamentos médicos.
Já quando a morte é abrupta, a situação de choque emocional pode, tendencialmente, ser maior, devido ao “baque” de perder um cônjuge que, antes, estava saudável, e, agora, está falecido.
4. Espiritualidade
A espiritualidade do casal e do indivíduo também contribuem para novas visões sobre o processo de luto.
Pessoas que acreditam que o parceiro foi para o paraíso, ao lado de deus, podem se sentir mais tranquilas diante do acontecimento. Já indivíduos que possam ter concepções mais negativas sobre a espiritualidade do parceiro, podem sofrer por conta de pensamentos a respeito disso.
5. Concepções sobre morte e morrer
A maneira como a pessoa e o casal enxergam a morte e o morrer também impactam nos processos de luto no idoso. Se a pessoa enxerga a morte como algo doloroso e difícil de ser ultrapassado, pode se ver ainda mais angustiada ao perder o seu parceiro.
Já um indivíduo que enxerga na morte um ciclo natural da vida, que encerra uma história, mantendo o seu legado e sem ser agressiva, pode visualizar a situação com “outros olhos”.
Aspectos psicológicos dos processos de luto no idoso e como lidar com alguns deles
Até aqui, pudemos refletir sobre diversos fatores envolvidos com os processos de luto no idoso. Agora, vamos analisar os aspectos psicológicos que podem estar relacionados com esse tipo de situação.
Conhecer esses aspectos pode contribuir para o atravessamento do luto, pois quando entendemos um pouco mais das nossas emoções, podemos aprender a lidar com elas de uma maneira mais saudável e equilibrada.
1. Sentimentos de tristeza e de “vazio”
Sem dúvidas, a tristeza de perder um ente querido é algo que provoca desconfortos intensos. O choro se torna comum, a sensação de vazio pode aparecer, e há, ainda, casos nos quais a pessoa “deixa de enxergar um sentido para a vida”.
Isso ocorre porque organizamos a nossa vida de tal modo que os personagens que fazem parte dela são responsáveis por nos ajudar a dar sentido para o presente e para o futuro. Logo, quando um desses elos é perdido, nós nos vemos diante de uma nova realidade que, agora, é difícil de assimilar. O sentido de nossas vidas estava ancorado no que se perdeu, e precisamos de um tempo para tirar o investimento desse “objeto” e colocar em outro.
O processo é doloroso, e o choro e a tristeza fazem parte. Respeitar tudo isso, dando lugar a novas perspectivas, aos poucos, é algo que respeita a história que construímos com aquela pessoa, e nos permite construir uma nova página em nossas vidas, sem apagar o que foi vivenciado com o outro.
2. Raiva e amargura
A raiva também é um dos aspectos psicológicos muito comum nos processos de luto no idoso. Afinal, questionamentos como “Ele(a) era uma pessoa tão boa, isso é injusto! Por que ele(a)?” podem aparecer, e não é para menos.
Não estamos preparados para a morte. Por mais que possamos esperá-la em alguns casos, ainda assim ela é um choque para nós. Nossa mente, e nosso cérebro, têm dificuldade para assimilar a finitude da vida.
Em paralelo a isso, podemos nos sentir revoltados por não termos a chance de compartilhar novos momentos com a pessoa que partiu. Afinal, como poderemos mostrar as novas conquistas àquele que se foi? Pois é.
Porém, devemos ter a consciência de que a morte faz parte da existência da vida, e que a revolta é um reflexo natural do nosso corpo e da nossa mente frente à tristeza da perda. Sendo assim, devemos compreender que as novas conquistas fazem parte de algo novo em nossas vidas, que teve como base, muitas vezes, o caminho que trilhamos e vivemos com aquele ente querido que partiu.
De certo modo, ele estará participando das novas etapas, mesmo que não fisicamente.
Ao mesmo tempo, não se prive dos seus sentimentos. Se a raiva aparecer, deixe-a falar um pouco com você. Pense sobre as emoções, escute-as e tente, aos poucos, restabelecer o equilíbrio.
3. Isolamento social
O isolamento social também é um comportamento muito comum durante as fases dos processos de luto no idoso. A pessoa pode se sentir sem o desejo de interagir com os outros, pois muitas das interações podem trazer lembranças de momentos vividos com aquele que partiu.
Ao mesmo tempo, ver as pessoas “continuando” a vida pode ser algo bem doloroso para alguns indivíduos, que enxergam o comportamento “normal” dos outros como um desrespeito com aquele que partiu.
Tudo isso é natural e faz parte de muitos processos de luto. No entanto, é interessante tentar se aproximar de pessoas que você ama e confia, estreitando o laço com elas. Afinal, você não precisa atravessar o luto sozinho e, muitas vezes, falar sobre o que se sente é algo que pode ajudar a elaborar as emoções que pesam no peito.
4. Desejo pela figura perdida
O desejo pela figura perdida também tende a aparecer. O indivíduo pode começar a visitar os locais que ela frequentava, pode manter o quarto do falecido intacto, como se ele ainda fosse voltar para a casa, e assim por diante.
Esse contato com essas lembranças pode servir de consolo em alguns momentos, mas, a pessoa percebe que a busca pelo indivíduo, nesses ambientes, não será bem-sucedida. Afinal, em algum momento será possível perceber que o outro, de fato, nunca mais irá voltar.
Saiba que este momento de “reconhecimento” dessa “nunca mais” é algo muito doloroso, e faz parte do processo de luto. Chorar, lamentar e falar sobre isso costumam ser ações que contribuem para a elaboração do luto.
Lembre-se de que não tem problema pensar nas lembranças vividas com o ente querido, mas cuidar da saúde mental, para não tornar o mantimento do quarto da pessoa uma obsessão, é algo importante.
5. Tentativas de traçar novos planos
Com o passar do tempo, a pessoa enlutada pode começar a reorganizar a sua vida, mesmo que ainda tenha momentos de crise com choro, isolamento e revolta.
Novas medidas começam a ser implementadas, o que vai dando novos sentidos à vida.
Por exemplo, se antes a rotina era muito pautada na convivência da pessoa falecida, agora, aos poucos, novas atividades poderão ser incluídas no dia a dia.
Aqui, é interessante implementar pequenas mudanças, de maneira gradativa. Não há necessidade de querer pular etapas e estar “100%” o quanto antes.
Mais vale uma pequena mudança hoje e outra amanhã, do que muitas de uma vez que podem atrapalhar a elaboração do luto, tornando-o algo que foi apenas “deixado de lado”. Afinal, como já comentamos neste texto, o fato de não elaborar o luto pode fazer com que este reapareça mais doloroso e intenso em outras situações de perda – e não só em caso de morte.
6. Medo da morte que se aproxima de si
Sem dúvidas, os processos de luto no idoso também podem colocá-lo diante do medo da morte que se aproxima de si, o que é muito comum.
É verdade que a vida tem um fim, e todo mundo sabe. Mas, quando temos contato com a morte de uma pessoa próxima, isso tende a ficar mais latente e, até mesmo, assustador.
Nessas situações, o ideal é conversar com alguém, especialmente um psicólogo, sobre a forma como você tem se sentido com relação à morte.
De que maneira você enxerga a morte? Como você enxerga o processo de morrer? Será que a morte é realmente algo tão horrível como costumamos imaginar?
Esses e outros questionamentos, quando acompanhado por um profissional da saúde mental, podem ajudar na hora de quebrar tabus e paradigmas relacionados à morte.
7. Sentimento de solidão
Sem dúvidas, o sentimento de solidão e o isolamento social na terceira idade são dois pontos muito importantes que devemos considerar quando pensamos nos processos de luto no idoso.
A pessoa que perde o cônjuge pode se ver “sozinha na vida”, especialmente quando não mora com outras pessoas.
Se esse sentimento de solidão estiver assolando a sua vida, procure fortalecer os laços sociais com os familiares, amigos e conhecidos. Também é possível frequentar eventos sociais da cidade que são desenvolvidos para os idosos.
Você não precisa ser super interativo com as outras pessoas, mas manter pequenos contatos, que vão fomentando a construção de relações interessantes, é um caminho que contribui para o mantimento da saúde mental.
Inclusive, se sentir dificuldade para lidar com o sentimento de solidão, considere conversar com um psicólogo.
A importância do processo psicoterapêutico
O processo psicoterapêutico pode oferecer um suporte a mais para você que está atravessando o luto na terceira idade.
Afinal, sabemos que perder uma pessoa querida não é algo fácil e, às vezes, a superação, sozinho, pode ser bastante complexa e difícil.
Na psicoterapia, portanto, você terá um espaço para falar sobre como se sente, quais são as angústias e anseios, o que deseja para o futuro, etc.
É possível atravessar o processo de luto e refletir sobre o futuro que será desenvolvido a partir da nova realidade.
Aconselhamos que você considere essa possibilidade e dê esse passo em prol da sua qualidade de vida e da sua saúde mental.
Referências
COUTINHO, D. F. O Processo de Luto do Idoso pela Morte do Cônjuge: Memórias, Emoções e Vidas que Seguem. Tese de Dissertação – Universidade Federal do Pará (UFPA), 2014.
OLIVEIRA, J. B. A.; LOPES, R. G. C. O processo de luto no idoso pela morte de cônjuge e filho. Artigos – Psicol. Estud. 13 (2). Jun 2008. DOI: https://doi.org/10.1590/S1413-73722008000200003