[accordion-model-lca titulo=”Preconceito de gênero no esporte”]

O preconceito de gênero no esporte é uma realidade que deve ser discutida para que possamos minimizar os malefícios que ele é capaz de gerar na vida das pessoas. Afinal, não é de hoje que vemos comparativos entre o desempenho feminino e masculino no esporte, bem como não é de hoje que ouvimos comentários focados na aparência das mulheres, do que no seu desempenho real nas quadras.

Por isso, neste texto buscamos refletir sobre os aspectos envolvidos com o preconceito e quais as medidas que nós, enquanto sociedade, podemos colocar em prática para ajudar. Acompanhe e reflita conosco sobre isso.

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[accordion-model-lca titulo=”Aspectos envolvidos com o preconceito de gênero no esporte”]

Sem dúvidas, são muitos os aspectos e situações envolvidos com o preconceito de gênero no esporte. Quando paramos para pensar sobre a criação dos meninos e das meninas, desde a infância, podemos perceber o quanto o machismo ainda está enraizado em nossa sociedade. Essa cultura machista acaba fortalecendo esse tipo de preconceito, fadando a menina a um caminho muito mais difícil na hora de correr atrás da carreira esportiva.

Enquanto os meninos podem ser muito mais estimulados com relação ao futebol, por exemplo, as meninas podem crescer ouvindo que esse esporte não é para elas, pois se trata de algo muito masculinizado.

Além disso, as cobranças com relação à feminilidade e aos cuidados com a aparência também são intensas desde a infância da menina. Assim, quando chega na fase adulta e deseja seguir a carreira esportiva, a menina que não performar dentro dos padrões impostos de feminilidade irá sofrer preconceito, comentários machistas, etc.

Tudo isso se soma a ideia de que as mulheres são mais frágeis, choronas e fracas do que os homens, enquanto eles são vistos como viris, fortes e potentes.

Com o passar do tempo, todas essas questões enraizadas refletem na vida profissional das atletas dos mais diversos tipos de esportes. Abaixo, descrevemos esses aspectos e outros que podem impactar na qualidade de vida de milhares de atletas femininas para que, assim, possamos refletir sobre o assunto e pensarmos em formas de minimizar esses problemas. Vamos adiante!

1. Cultura da mulher sensível e do homem forte
Como citamos anteriormente, é muito comum vermos as mulheres sendo associadas a uma personalidade mais sensível e frágil, que chora com facilidade, não sabe lidar com pressões e que pode ter maiores dificuldades para lidar com situações difíceis.
Já os homens são “descritos” como seres fortes, potentes e que estão sempre prontos para lidar com desafios e adversidades.
Esse estereótipo que é reforçado continuamente pode acarretar em impactos na maneira como as próprias mulheres se enxergam e são tratadas no meio esportivo. Isto é, elas poderão sofrer preconceitos por parte das outras pessoas ao serem vistas como incapazes, o que reduz o incentivo por parte da equipe que está em volta à atleta.
Além disso, a própria autoestima da mulher pode carregar marcas provocadas por esses discursos machistas que podem minar a autoconfiança de qualquer indivíduo.
Afinal, imagine crescer ouvindo que você é fraco e que determinadas atividades não podem ser executadas por você? Que tipo de incentivo é esse? Quais resultados você acredita que esse discurso pode provocar? Refletir sobre essas questões pode nos ajudar a compreender o quanto o preconceito de gênero no esporte está associado com esse estigma que é criado sobre a mulher e sobre o próprio homem.

2. Cobrança por feminilidade
O preconceito de gênero no esporte também aparece quando vemos a sociedade, a mídia e as pessoas que estão em volta da atleta cobrando uma postura de feminilidade. Isto é, podemos ver matérias falando sobre a maquiagem das mulheres, a roupa que elas vestem, a beleza “feminina” que têm ou não, enfim.
A feminilidade é vista como algo muito importante pela sociedade, mas, na realidade, ela não deveria ser cobrada das mulheres. Performar no feminino não é – nem de longe – um pré-requisito para ser uma boa atleta ou ser uma mulher.
No entanto, não é isso que acontece na maior parte das vezes. A feminilidade continua sendo cobrada, e as mulheres que não se encaixam nela recebem apelidos pejorativos, como “mulher macho”.
Porém, por que associar a mulher à feminilidade? Será que, para ser mulher, é necessário performar no feminino? Ou ainda, para ser uma boa atleta mulher é preciso ser extremamente feminina, no sentido de carregar a feminilidade que a sociedade impõe? É claro que não.
Essas reflexões nos ajudam a entender que o preconceito de gênero no esporte força um papel social na mulher que, na prática, não tem o menor cabimento. A mulher não deixa de ser mulher se ela não usa batom. A mulher não deixa de ser mulher se ela pratica um esporte que é visto como “masculino”. Ela ainda será mulher nessas circunstâncias – e não uma mulher “macho”.
Quebrar esses paradigmas é difícil e exige paciência, mas, discutir sobre o assunto, como estamos fazendo neste momento, é um passo importante.

3. Posição de poder do homem
A posição de poder que o homem tem na sociedade, como um todo, pode ser percebido na discriminação que as mulheres sofrem em ambientes profissionais dos mais diversos tipos.
No esporte, não é diferente. Infelizmente, os homens ainda recebem privilégios no ambiente esportivo, tendo maior atenção da mídia, maior incentivo da família e maior aprovação da sociedade.
As mulheres, além de terem que lutar com todos os desafios que uma carreira esportiva proporciona, precisam lidar com todo o preconceito de gênero no esporte. Consequentemente, o caminho tende a ser ainda mais árduo.
Por isso é tão importante falar sobre o assunto e buscarmos formas de incentivar o esporte feminino no país e no mundo.

4. Cobertura midiática dos esportes e a “mulher invisível”
Estudos apontam que a cobertura midiática dos homens feita nos esportes é até 700% maior do que a que é feita sobre as mulheres. E, pior do que isso, essa cobertura midiática, quando feita sobre as mulheres, pode associá-las à sua beleza, feminilidade, traços, corpo, etc.
Ou seja, além de haver uma cobertura menor do que acontece no universo do esporte feminino, essa cobertura, em muitos casos, foca na sexualização da mulher, deixando de lado a importância do seu desempenho enquanto esportista.
Sem dúvidas, esse preconceito de gênero no esporte pode acarretar em uma menor visibilidade das vitórias e conquistas do esporte feminino. A falta de visibilidade reduz o número de patrocinadores, o que reduz o nível de infraestrutura para as atletas treinarem e seguirem adiante no desenvolvimento esportivo.
Por isso, discutir sobre o papel da mídia é imprescindível para evitar exatamente esse tipo de problema que estamos percebendo a cada dia. Precisamos encontrar meios de mudar a forma como a mídia tem apresentado o papel das mulheres no esporte, dando a elas um espaço mais justo, e não minoritário e, ainda, baseado nas “belezas” das atletas, como se elas fossem meros enfeites nas quadras esportivas.

5. Conceito de incompetência e fragilidade da mulher
O conceito de incompetência e fragilidade da mulher é, ainda, muito forte quando pensamos em preconceito de gênero no esporte.
Podemos ver discursos que diminuem a qualidade do resultado de uma mulher dizendo que “ela só ganhou porque o esporte feminino é mais fácil”. Esse tipo de colocação tende a estar muito associado ao futebol, por exemplo.
Isto é, mesmo quando a mulher atinge a vitória, ainda é vista como incapaz, uma vez que o esporte que ela pratica não é tão intenso quanto o masculino.
Embora realmente existam diferenças biológicas entre homem e mulher, devemos ter a consciência de que a comparação entre os gêneros é totalmente descabida.
Ou seja, não faz o menor sentido dizer que o esporte feminino é “mais fácil” do que o masculino, sendo que ambos possuem características diferentes.
Logo, não tem sentido algum reduzir o ganho da mulher por ela ser mulher! Afinal, ela não precisa, necessariamente, ser a pessoa “frágil” que a sociedade impõe que ela seja.
Além do mais, qualquer tipo de comparação entre pessoas é descabido e não tem sentido, pois não existe a menor chance de duas pessoas atravessarem os mesmos desafios ou terem os mesmos limites no decorrer de suas vidas.

6. Menor estímulo a determinados esportes femininos
Como mencionamos anteriormente, a cobertura midiática de esportes femininos tende a ser muito menor do que a que acontece nos esportes masculinos.
Essa falta de cobertura da mídia e a falta de incentivo da sociedade pode acarretar em uma redução de oportunidades para as atletas, que terão que enfrentar ainda mais dificuldades relacionadas às finanças e à infraestrutura para os treinos.
Ao mesmo tempo, vemos que existem esportes que são vistos como mais femininos, o que faz com que estes recebam um pouco mais de estímulo.
Essa diferenciação entre o que a mulher “pode ou não pode” fazer pode acarretar efeitos nas oportunidades que elas terão no meio esportivo. Por isso, saber reconhecer esse preconceito de gênero no esporte é importante para que possamos quebrá-lo, iniciando com o maior acompanhamento dos esportes femininos que são estereotipados como práticas masculinas – a exemplo, o futebol.

7. Cobranças com relação à maternidade
A mulher, na sociedade em geral, pode sofrer uma grande pressão quanto ao papel de mãe. Isto é, vemos a romantização da maternidade e a visão de que toda mulher só será realizada em sua vida quando se tornar mãe.
No esporte, esse tipo de pressão tende a ocorrer também. A sociedade, a família e mesmo os amigos da mulher podem dizer a ela que é preciso engravidar e constituir uma família. Porém, esse tipo de situação pode fazer com que a mulher acabe se afastando do esporte, devido às mudanças no seu corpo e em prol de um papel que é imposto pela sociedade.
Obviamente, isso dificilmente acontecerá no caminho contrário. Ou seja, o homem não terá impactos no seu corpo ao se tornar pai, o que não o impedirá de seguir a sua carreira esportiva. Ao mesmo tempo, os homens não são tão cobrados para seguir a parentalidade, assim como as mulheres.
Sendo assim, quando pensamos no preconceito de gênero no esporte podemos pensar também nas cobranças com relação à maternidade, e é um papel de toda a sociedade mudar esse pensamento de que a mulher só será completa se tiver um filho.
Ninguém é obrigado a ter um filho que não deseja. Afinal, o que adiantaria criar um filho sem o desejo de viver o papel de mãe, mas, sim, apenas seguindo o que a sociedade impõe e, muitas vezes, abrindo mão de sonhos por conta disso? Pois é.

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[accordion-model-lca titulo=”Como lidar com o preconceito de gênero no esporte?”]

O preconceito de gênero no esporte pode ocasionar impactos na vida de milhares de atletas femininas que buscam, a cada dia, reconhecimento e espaço no mercado esportivo.

Infelizmente, não existem métodos infalíveis para acabarmos de vez com o problema, porém, existem medidas que a sociedade, no geral, pode levar em consideração na hora de valorizar as nossas mulheres atletas.

A seguir, descrevemos algumas dessas ações. Acompanhe.

1. A mídia precisa se posicionar
Podemos pensar, inicialmente, sobre a forma como o esporte feminino vem sendo apresentado na mídia. Como vimos no decorrer deste conteúdo, infelizmente há uma discriminação grande na quantidade de notícias sobre o esporte masculino em detrimento ao feminino.
Sendo assim, um caminho para começarmos a abolir o preconceito de gênero no esporte é justamente a mídia se posicionar de forma mais ativa na hora de divulgar os jogos femininos na televisão, jornais, revistas, sites na internet, entre outros portais de comunicação.
Proporcionar visibilidade contribui para a expansão do esporte feminino, fortalecendo-o.

2. Quebra nos padrões de feminilidade
A quebra nos padrões de feminilidade é algo difícil de ser posto em prática, mas que precisa acontecer.
Todas as pessoas têm um papel muito importante frente a essa temática. Por isso, aniquilar discursos que reforçam que a mulher deve cuidar apenas da aparência e que focam apenas na “beleza” das esportistas devem acabar.
Trazer à tona a ideia de que a mulher pode ou não performar no feminino e, ainda, será considerada mulher, é algo importante.

3. Denúncia de caso de violência de gênero
Denunciar a violência de gênero é um passo importante para minimizarmos esses comportamentos machistas e deturpados que possam ocorrer no ambiente esportivo. A Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180) é focada no atendimento de mulheres vítimas de violência relacionadas ao gênero.

4. Incentivo ao esporte feminino
A sociedade também pode incentivar o esporte feminino assistindo, indo aos estádios e quadras, adquirindo produtos oficiais, divulgando os campeonatos e conversando sobre o assunto.
Quanto mais visibilidade a sociedade der para o esporte feminino, este ficará em mais evidência, receberá mais patrocínio e será cada vez mais estimulado.

5. Não comparar o esporte feminino com masculino
A comparação entre o esporte feminino e masculino não tem o menor sentido. Primeiro, porque as mulheres tiveram mais guerras para travar antes de poderem fazer parte do universo esportivo; segundo, porque homens e mulheres são diferentes, e a comparação seria injusta; terceiro, porque a visibilidade do esporte feminino é diferente da depositada no esporte masculino, o que torna a comparação inviável.
Portanto, quebrar o comportamento de comparação também é fundamental para lutarmos contra o preconceito de gênero no esporte.
Precisamos ter a consciência de que há espaço para todos, e que não há a necessidade de comparar uma situação com a outra. Todos podem ser bons!

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[accordion-model-lca titulo=”A psicoterapia pode ajudar as vítimas de preconceito de gênero no esporte”]

Em casos nos quais a mulher se sente afetada por conta do preconceito de gênero no esporte, além de fazer a denúncia aos órgãos competentes, é interessante investir na psicoterapia.

O processo psicoterapêutico poderá ajudá-la a atravessar as adversidades provocadas pela situação vivida, atravessando os traumas, as angústias, medos e dúvidas.

Ao mesmo tempo, pode fortalecer a inteligência emocional da atleta, auxiliando-a no mantimento de sua saúde mental.

Considere esse acompanhamento profissional nessas circunstâncias.

Referências
HILLEBRAND, M. D.; GROSSI, P. K.; MORAES, J. F. de. Preconceito de gênero em mulheres praticantes do esporte universitário. Psico, [S. l.], v. 39, n. 4, 2009. Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs.br/index.php/revistapsico/article/view/1522. Acesso em: 18 nov. 2022.

SOUZA, J. S. S.; KNIJNIK, J. D. A mulher invisível: gênero e esporte em um dos maiores jornais diários do Brasil. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, [S. l.], v. 21, n. 1, p. 35-48, 2007. DOI: 10.1590/S1807-55092007000100004. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rbefe/article/view/16642. Acesso em: 18 nov. 2022.

TEIXEIRA, Fábio Luís Santos; DE OLIVEIRA CAMINHA, Iraquitan. Preconceito no futebol feminino brasileiro: uma revisão sistemática. Movimento, v. 19, n. 1, p. 265-287, 2013.

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