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Polidrâmnio

O que é o líquido amniótico?

O líquido amniótico é o fluido que envolve o feto dentro da bolsa amniótica durante a gestação. Ele desempenha um papel fundamental no desenvolvimento fetal, atuando como amortecedor contra traumas, mantendo a temperatura uterina estável, permitindo o movimento fetal (essencial para o desenvolvimento musculoesquelético) e facilitando o crescimento pulmonar e gastrointestinal.

A saúde do bebê e da mãe é em grande parte refletida no líquido amniótico. Se ele estiver muito alto ou baixo, pode ser sinal de que existe algum problema.

Como o líquido amniótico é formado?

No primeiro trimestre da gestação, o líquido amniótico é formado principalmente pela placenta, que atravessa as membranas fetais por difusão.

Conforme o feto se desenvolve, outras fontes vão atuar nessa formação, como pele e pulmões. A partir do segundo trimestre, a urina fetalpassa a ser responsável por até 2/3 da produção do líquido amniótico. No entanto, essa é uma urina diferente daquela produzida após o nascimento. Ela não contém bactérias nem o cheiro forte de amônia.

O líquido está sempre sendo renovado. No entanto, todas as trocas acontecem lá dentro mesmo: o feto engole líquido, que é absorvido pelo intestino e usado em seu desenvolvimento.

O que é polidrâmnio?

O polidrâmnio é uma condição obstétrica caracterizada pelo excesso de líquido amniótico.

Ele decorre de um desequilíbrio entre a produção do líquido amniótico, por meio da urina fetal e da secreção pulmonar e sua remoção, por meio de deglutição fetal, e de sua absorção intramembranosa e transmembranosa.

Quais as causas de polidrâmnio?

Em até 60% dos casos, especialmente nos casos mais leves, o polidrâmnio é considerado idiopático (sem causa aparente).  Quando há uma causa identificável, as mais comuns incluem:

  1. Malformações congênitas do sistema digestivo ou do Sistema Nervoso Central que impedem o feto de engolir normalmente o líquido amniótico, como

atresia esofágica, hérnia diafragmática, obstrução intestinal ou anencefalia.

  1. Problemas que afetam a circulação fetal normal, especialmente as malformações cardíacas congênitas.
  2. Infecções congênitas (ex: toxoplasmose, CMV)
  3. Distúrbios metabólicos,especialmente a diabetes pré-natal ou a Diabetes Gestacional.
  4. Gestação gemelar com síndrome de transfusão feto-fetal
  5. Isoimunização Rh
  6. Tumores placentários

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico é feito por meio da ultrassonografia obstétrica, utilizando dois parâmetros:

  • Índice de líquido amniótico (ILA): soma das maiores colunas de líquido nos quatro quadrantes uterinos.
  • Maior bolsão vertical (MBV): medida da maior coluna livre de líquido. MBV ≥ 8 cm indica polidrâmnio.

Uma vez feito o diagnóstico, outros exames são feitos com o objetivo de identificar a causa do polidrâmnio. Essa investigação é direcionada de acordo com achados da história clínica e exame físico, podendo incluir:

  • Ecocardiografia fetal.
  • Pesquisa de infecções congênitas.
  • Testes genéticos.
  • Glicemia materna (rastreio para diabetes).

Classificação do polidrâmnio

O polidrâmnio pode ser classificado de acordo com o ILA:

  • Leve: ILA entre 25 e 29,9 cm
  • Moderado: ILA entre 30 e 34,9 cm
  • Grave: ILA ≥ 35 cm 

Complicações

O polidrâmnio pode levar a diversas complicações durante a gravidez e o parto, incluindo:

  • Parto prematuro: o excesso de líquido amniótico pode levar a contrações prematuras e ao rompimento da bolsa antes do termo, resultando em parto prematuro.
  • Descolamento prematuro da placenta: a placenta pode se desprender da parede uterina antes do parto, especialmente em casos de polidrâmnio agudo.
  • Prolapso do cordão umbilical: O cordão umbilical pode sair pela vagina antes do bebê, especialmente após a ruptura da bolsa, o que pode comprimir o cordão e reduzir o fluxo de oxigênio para o bebê.
  • Dificuldades respiratórias na mãe: o útero aumentado devido ao excesso de líquido pode comprimir os pulmões da mãe, causando falta de ar e desconforto respiratório.
  • Hemorragia pós-parto: em alguns casos, o útero pode ter dificuldade em se contrair após o parto, levando a sangramento excessivo.

Tratamento do polidrâmnio

O tratamento depende da gravidade e da causa.

  • Casos idiopáticos leves exigem apenas acompanhamento clínico e ultrassonográfico mais frequente para vigilância da vitalidade fetal, sem necessidade de intervenção
  • Quando uma causa de base para o polidrâmnio é identificada, ela deve ser tratada, sempre que possível.
  • Nos casos de polidrâmnio moderado a grave ou sintomático poderá ser necessária a amniodrenagem (retirada de líquido via amniocentese)
  • A indometacina pode ser considerada em alguns casos selecionados e com monitoramento rigoroso. Ela reduz a produção de urina fetal, mas só pode ser usada antes de 32 semanas, devido ao risco de fechamento prematuro do ducto arterioso.
  • Em alguns casos, a antecipação do parto pode ser considerada.