Perda de cabelo causada pela quimioterapia – abordagem psicológica
Perda de cabelo causada pela quimioterapia – abordagem psicológica
A perda de cabelo é um dos efeitos colaterais da quimioterapia mais prontamente reconhecidos. Ela pode impactar a autoestima e a autoimagem dos pacientes com câncer. Por isso, pensar em formas de lidar com essa questão, visando o fortalecimento da autoimagem positiva, é algo relevante no tratamento contra o câncer.
Pensando nisso, disponibilizamos uma série de considerações sobre essa temática. Acompanhe para saber mais.
Aspectos psicológicos de pacientes com perda de cabelo causada pela quimioterapia
A perda de cabelo causada pela quimioterapia impacta a forma como a pessoa se enxerga e a maneira como lida com as mudanças na aparência. Por isso, a autoestima e a autoimagem sofrem efeitos intensos.
No caso das mulheres que sempre tiveram cabelos longos, esse problema pode se tornar ainda mais intenso, com relação ao bem-estar e à qualidade de vida.
Assim sendo, quando pensamos nessa situação, podemos pensar em questões como:
1. Autoimagem negativa
A autoimagem negativa costuma estar associada à perda de cabelo causada pela quimioterapia. Especialmente em casos nos quais o indivíduo valoriza os seus cabelos, tendo-os como um atributo de beleza e de autoestima, a autoimagem pode ficar fragilizada.
A mudança no formato do rosto, provocada pela falta do “caimento” dos fios em torno da face, provoca um impacto intenso na maneira de se enxergar diante do espelho.
Essa autoimagem negativa pode ser ainda mais intensa no momento em que é feita a raspagem dos cabelos. Isso porque, inicialmente, caem tufos de fios, antes de haver a queda mais densa. Nesse período, a pessoa se depara com uma mudança gradativa, porém, à medida que o caso se agrava, a perda pode levar ao corte maior, ou seja, à raspagem do cabelo, que pode ocasionar um impacto mais abrupto na maneira de se ver.
Essa mudança brusca pode ser difícil de assimilar, ao menos no começo, resultando em tristeza, angústia, revolta, etc.
2. Medo frente à vida sexual e amorosa
A perda de cabelo causada pela quimioterapia pode também resultar em impactos na autoconfiança e na autoestima no que diz respeito à vida sexual e amorosa do indivíduo.
No caso das mulheres, é possível haver um sentimento de insegurança, quanto às práticas sexuais, pelo fato de não ter cabelos. Afinal, no dia a dia é possível utilizar acessórios e opções que minimizem as marcas das quedas de cabelo, mas em um momento de intimidade esses atributos podem não ser tão adequados.
Assim sendo, o medo de se aproximar de outras pessoas, a angústia de conseguir manter uma vida sexual – no sentido de se sentir atraente perante o outro -, também podem ser alguns dos aspectos psicológicos do paciente oncológico.
3. Angústia relacionada à feminilidade
A feminilidade, muitas vezes, está associada aos cabelos longos e sadios de uma mulher. A possibilidade de fazer penteados e adornar os fios com cosméticos são questões que mexem com a visão que a mulher pode ter de sua própria feminilidade.
Sendo assim, a perda de cabelo causada pela quimioterapia pode resultar em angústias e dúvidas sobre esse lado feminino. A mulher pode ter a sensação de que a sua feminilidade está enfraquecida, o que causa sofrimento emocional e pode provocar a necessidade de haver um acompanhamento psicológico.
Ações que contribuem para o aumento da autoestima no caso de perda de cabelo causada pela quimioterapia
Sem dúvidas, a perda de cabelo causada pela quimioterapia pode impactar o bem-estar e a autoestima, especialmente das mulheres.
Por isso, pensar em alternativas que minimizem esses impactos para melhorar a qualidade de vida e restabelecer um equilíbrio emocional é algo interessante.
A seguir apresentamos algumas considerações que podem ser úteis nesse sentido. Veja:
1. Uso de perucas
O uso de perucas costuma ser uma das formas de minimizar as marcas da perda de cabelo. A sugestão é que a mulher encontre alguma peruca que se assemelhe ao seu cabelo natural, para ter uma passagem da perda para uma nova visão sobre a sua própria feminilidade com mais tranquilidade.
Em alguns casos, a falta de poder aquisitivo pode atrapalhar a aquisição de uma peruca, por isso, procurar a Rede Feminina de Combate ao Câncer pode ser um caminho para encontrar o apoio necessário para conquistar esse acessório.
2. Micropigmentação
A micropigmentação das sobrancelhas também tem se mostrado como uma ferramenta interessante para minimizar os impactos que a quimioterapia pode causar na autoestima da mulher.
Isso porque é possível colocar em prática questões voltadas ao visagismo, que valorize os traços naturais da mulher e retome “a moldura” que as sobrancelhas oferecem ao rosto da pessoa.
3. Mudanças no estilo que agreguem à autoestima
A pessoa que passa pela perda de cabelo causada pela quimioterapia também pode abrir-se para novas possibilidades de estilo que a auxiliem no mantimento de sua autoestima.
Isto é, algumas mulheres buscam ressignificar a visão que têm dos seus cabelos, encontrando na queda um novo estilo pessoal que pode marcá-la de uma maneira positiva.
Assim sendo, experimentar novos estilos que agreguem à autoestima pode ser um caminho, mas sempre respeitando os desejos e os gostos da mulher.
4. Psicoterapia
A psicoterapia também tem um papel muito importante nessa jornada. Por meio dela, a pessoa pode relatar suas angústias, dores e anseios relacionados à autoestima. Além disso, é possível escutar a si mesmo, compreendendo melhor o que sente e visando a construção de novos significados para a vida e para as situações vividas.
A prática de autoconhecimento e de autodescobertas também podem abrir caminhos para uma nova visão de si mesmo, que considere outros atributos, tanto externos, ou seja, estéticos, quanto internos, referentes ao intelectual do sujeito.
O “luto” da aparência e dos cabelos perdidos também podem ser vividos, com base nos limites emocionais e no tempo do paciente, visando atravessar esse momento da forma mais tranquila possível.
5. Uso de acessórios e maquiagem
O investimento em acessórios e na maquiagem também pode contribuir para o enfrentamento dos impactos psicológicos ocasionados pela perda de cabelo causada pela quimioterapia.
A mulher pode encontrar, na maquiagem, a possibilidade de inventar e reinventar formas de cuidar de si mesma e da sua beleza.
Já os acessórios podem criar novos estilos, inibir o foco na queda de cabelo e realçar outros traços femininos e belos que a mulher possui.
6. Aceitação da nova realidade
Aceitar a nova realidade também é importante. Isto é, reconhecer que a queda de cabelo faz parte e que as novas características estão presentes na rotina são questões que devem ser levadas em conta.
Obviamente, essa aceitação não acontece da noite para o dia. É necessário um certo tempo para assimilar tudo o que se sente, visando compreender as emoções e aprender a lidar com o que é sentido ao se olhar diante do espelho.
Da mesma forma, é necessário manter um olhar atento para não postergar o reconhecimento da realidade, como no caso de evitar o corte de cabelo mesmo quando este está totalmente escasso, apenas para alimentar a esperança de que ele não irá cair por completo.
Claro que o paciente não precisa raspar o cabelo na primeira semana, mas reconhecer que a realidade é a queda, e não o mantimento, é importante para não criar expectativas irreais que possam aumentar a sensação de angústia, tristeza e frustração.
Esse processo de aceitação pode ser vivenciado com a ajuda de um psicólogo, durante o processo psicoterapêutico.
7. Cuidados com o sentimento de culpa e impotência
Muitas vezes, a queda de cabelo pode ocasionar tanto uma sensação de culpa, quanto de impotência.
A pessoa pode sentir que poderia ter feito algo a mais para manter os cabelos ou proteger a sua saúde, bem como pode se sentir em um beco sem saída diante das consequências da quimioterapia.
De todo modo, é preciso ter consciência de que não existe um culpado para o câncer. O indivíduo não tem culpa de adoecer, pois essa é uma consequência de uma série de fatores ambientais e genéticos, e não do que o indivíduo fez nos últimos meses.
O corpo reage com o aparecimento do câncer por conta de multifatores, e não um só que pode ser um único comportamento do sujeito.
Quanto à impotência, embora ela realmente exista, é possível pensar nos “poderes” que ainda cabem ao indivíduo, como por exemplo, decidir usar acessórios e colocar em prática outras ações que auxiliem no enfrentamento da perda de cabelo causada pela quimioterapia.
Isto é, talvez um caminho mais promissor seja pensar no que pode ser feito agora e no que está ao alcance da pessoa, e não no que já está feito ou no que não pode ser alcançado.
Quando lançamos um olhar para o que está ao nosso controle, percebendo que o que não está ao nosso alcance não nos diz respeito, podemos minimizar pressões que, muitas vezes, podem causar sofrimento emocional.
8. Cuidados com o desejo de agradar aos outros
A autoestima, muitas vezes, associa-se com a forma como agradamos as outras pessoas. Isto é, buscamos aprovações alheias, em algumas circunstâncias da vida, para nos sentirmos mais amados, acolhidos e, consequentemente, ajustados à sociedade.
Porém, é importante tomar cuidado para não se transformar em alguém que se preocupa mais com os pensamentos alheios, do que com a própria saúde.
Dito de outro modo, neste momento o ideal é focar no que faz você feliz, promove bem-estar e aumenta a autoestima com relação ao amor nutrido por si mesmo, e não com relação ao que os outros “podem achar” ou “podem comentar”.
Quando nos damos conta de que as pessoas falam de nós, seja bem ou mal, independente das circunstâncias, percebemos que nada do que façamos pode mudar esse cenário.
Assim sendo, abrir mão dessa necessidade de agradar aos outros pode ser um caminho de alívio e foco maior na própria saúde.
9. Tratamentos estéticos que podem contribuir para a autoestima
Sem dúvidas, os tratamentos estéticos também podem contribuir para o enfrentamento dos impactos causados pela perda de cabelo causada pela quimioterapia.
E não estamos falando de tratamentos que tenham relação apenas com os cabelos, sobrancelhas ou cílios, mas sim, estamos falando de todo e qualquer tratamento estético que fortaleça os pontos fortes do indivíduo, proporcionando bem-estar e autoconfiança.
Esses tratamentos estéticos não precisam ser apenas os que são oferecidos em clínicas de estética, mas sim, apostar em cosméticos, cuidados com a alimentação, exercícios físicos e outras medidas, que elevam a autoestima naturalmente, também é um caminho promissor.
Como contribuir para a autoestima de uma pessoa com perda de cabelo causada pela quimioterapia?
Além do próprio indivíduo tomar medidas que possam ajudá-lo a enfrentar as questões relacionadas à autoestima neste cenário de perda capilar, a família e os amigos também podem contribuir para a construção de um ambiente mais agradável e acolhedor. Veja medidas que podem ser interessantes:
1. Orientações sobre as mudanças
Orientar quanto às mudanças que acontecerão, ou seja, deixar clara a perda de cabelo como uma consequência do tratamento, é algo que pode minimizar a “surpresa” e a angústia vivida ao iniciar o processo de perda capilar.
O indivíduo adoecido tem o direito de saber o que irá acontecer à medida que o tratamento avança, e ter a consciência de que a perda capilar é uma realidade que virá à tona, pode ajudá-lo a se preparar, aos poucos, para tal momento.
2. Apoio emocional
Oferecer suporte emocional, escuta e um olhar empático, nos momentos em que o indivíduo necessita de apoio, também é importante.
Esse tipo de suporte pode criar a sensação de pertencimento, além de ajudar a pessoa a “colocar para fora” as suas dores, visando o “esvaziamento” das sensações ruins que possa estar sentindo.
3. Incentivar as relações sociais
Incentivar as relações sociais também pode ser um bom caminho. Esse tipo de interação pode elevar a autoconfiança, à medida que os laços sociais construtivos e sólidos vão sendo desenvolvidos.
Isso porque, se a pessoa se isolar totalmente do social, poderá apresentar, mais tarde, dificuldades para interagir com outros indivíduos, resultando em casos de timidez, falta de confiança, etc. Por isso, manter uma vida social saudável é importante.
4. Incentivar os cuidados com a saúde mental
Procure sempre incentivar os cuidados com a saúde mental, tanto no que diz respeito ao dia a dia, em casa, quanto aos cuidados que podem ser oferecidos por profissionais da saúde, como psicólogos e psiquiatras.
Assim sendo, instigue o indivíduo a procurar apoio psicológico e a implementar hábitos saudáveis que oferecem benefícios para a saúde e, consequentemente, para a autoestima.
5. Elogiar e fortalecer a autoestima do indivíduo com palavras e atitudes
Elogios sinceros e genuínos, feitos em forma de gestos ou palavras, também contribuem para o fortalecimento da autoestima de qualquer pessoa.
Portanto, elogiar de maneira sincera, recorrente e com coesão é algo muito significativo.
6. Demonstrar afeto que faça a pessoa se sentir pertencente
Demonstrar afeto, carinho e cuidado também são ações que fortalecem a autoestima de uma pessoa. Não estamos falando de demonstrar pena, mas sim, de demonstrar que você se preocupa, se importa e que está disposto a ajudar a pessoa, caso necessário.
Esse tipo de demonstração genuína de afeto pode contribuir para que o indivíduo se sinta parte de um grupo social, pertencente a relacionamentos saudáveis e próximo de pessoas que se importam. Essa sensação de “ser importante” auxilia na manutenção da autoestima, para além das questões estéticas.
7. Incentivar atividades de embelezamento
Incentivar as atividades de embelezamento também é algo interessante. Claro que você não precisa forçar a pessoa, mas mostrar a ela as alternativas para lidar com questões que a deixam insegura é um caminho promissor.
Da mesma forma, se ela se sentir angustiada ou encabulada de iniciar algum processo de embelezamento, mostre apoio e disponibilidade para dar a ela o suporte necessário para ir adiante nesse “sonho”, digamos assim.
Jamais minimize o desejo de o indivíduo buscar alternativas para fortalecer a autoestima, mas sim, deixe claro que a alternativa pode sim ser interessante, mas sem dar a entender que a pessoa depende disso para ficar mais bonita, por exemplo. É preciso ter empatia e delicadeza nesses momentos.
8. Incentivar a prática de exercícios e do autocuidado
Por fim, procure sempre incentivar as práticas de autocuidado, que contribuem para o mantimento da saúde da pele, por exemplo, e do corpo como um todo.
As práticas de exercícios físicos também causam impactos na autoestima e na sensação de bem-estar. Por isso, incentivá-las é muito importante.
Além disso tudo, você também pode conversar com profissionais da saúde para saber de que forma pode se portar de acordo com as singularidades do seu parente ou amigo. Afinal, nunca se esqueça de que cada caso sempre será único.
Referências
COSTA, I. C. R. et. al. Influência da micropigmentação de sobrancelhas na autoestima de pacientes oncológicos. Research, Society and Development, v. 10, n.17, e85101724290, 2021.
SILVA, C. O. et. al. Alterações da autoestima em pacientes oncológicos submetidos ao tratamento quimioterápico. Saúde em Foco: Temas Contemporâneos – Volume 1, 2018.