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O que dizer e o que não dizer para o paciente com câncer?

O que dizer e o que não dizer para o paciente com câncer?

Saber o que dizer e o que não dizer para o paciente com câncer é algo que pode contribuir para um apoio mais eficaz durante todo o tratamento.

Afinal, embora possamos ter boas intenções na maior parte das vezes, ainda assim algumas falas podem prejudicar o emocional do indivíduo, ao invés de contribuir para o fortalecimento.

Por isso, fizemos este breve guia com considerações que podem ajudá-lo nessa trajetória tão importante. Confira.

O que dizer a um paciente com câncer?

Obviamente, é importante esclarecermos que em se tratando da comunicação na família, não existem “regras” ou um “passo a passo” do que deve ser seguido para oferecer mais bem-estar e qualidade de vida ao paciente.

Afinal, cada caso sempre será único, e algumas pessoas podem se sentir felizes diante de algumas interações, enquanto outras podem se sentir invadidas.

Por isso, considere os nossos apontamentos abaixo como pontos de reflexão, e avalie o que pode fazer sentido para o caso do seu familiar ou amigo, sem querer “forçar” uma situação agradável.

Até porque, em alguns casos, o paciente pode preferir um abraço silencioso do que palavras que tentam acalentar, mas acabam causando angústia, por exemplo.

Sendo assim, devemos ter um olhar atento e delicado na hora de interagir com o nosso familiar ou amigo com diagnóstico de câncer, no que diz respeito à doença.
Esclarecido isso, vamos às considerações:

1. Demonstrar presença
Durante a sua comunicação, você pode demonstrar presença na vida da pessoa. Isto é, mandar uma mensagem, fazer uma ligação ou marcar uma visita para, simplesmente, conversar, podem ser medidas bastante positivas e promissoras.
Você pode demonstrar essa presença de maneira equilibrada, sem “sufocar” com um excesso de mensagem e demonstração de preocupação.
Seja sincero com relação aos seus sentimentos, e mostre-se preocupado se estiver se sentindo dessa forma. Assim sendo, a sua comunicação poderá priorizar o contato entre vocês, fornecendo benefícios para o paciente.

2. Dizer que está disposto a ouvi-lo
Deixar claro que você está disposto a ouvir o outro pode ser algo bem relevante. Às vezes, o paciente adoecido pode estar sofrendo com uma baixa autoestima e sentimentos de desvalia, comuns nos diagnósticos de câncer. Isso quer dizer que ele pode estar se sentindo “um peso” na vida das pessoas, o que o faz ficar mais “calado” com relação às próprias emoções.
Ao dizer que você está disponível para ouvi-lo, é possível quebrar essa barreira que possa existir no dia a dia do doente. Consequentemente, ele pode vir a se sentir mais à vontade na sua presença, desabafando e gastando as suas dores com palavras e lágrimas.
Esse acolhimento e escuta podem ajudá-lo a enfrentar as adversidades, bem como contribuem para uma organização emocional mais efetiva.

3. Tirar dúvidas com uma linguagem apropriada
Se o paciente tiver dúvidas sobre o prognóstico ou o tratamento, por exemplo, e você tiver esse conhecimento, tire essas dúvidas com uma linguagem apropriada.
Não minta nessas situações. Apresente os fatos com base na verdade, sem aumentar ou diminuir o que pode estar acontecendo.
No entanto, cuidado com as palavras escolhidas. Pratique a empatia e pense bem na forma como você irá tirar as dúvidas do seu familiar ou amigo.

4. Demonstre disponibilidade em ajudar
Demonstrar disponibilidade em ajudar também é interessante. Você pode dizer que está disponível para auxiliá-lo nas atividades cotidianas, como por exemplo, a necessidade de ir ao mercado fazer compras.
Apenas cuidado com essa disponibilidade. Algumas pessoas podem se sentir inferiorizadas se você tentar demonstrar uma disponibilidade para as coisas mais simples e que elas ainda podem praticar sozinhas.
Por isso, ao invés de oferecer disponibilidade para algo específico, considere perguntar: Como posso ajudá-lo? Você está precisando de alguma coisa? Posso te dar uma carona se você quiser, o que acha?
Perceba que essas perguntas são mais amplas e não ferem a autoestima da pessoa.

5. Incentivar a busca pela ajuda psicológica quando necessário
Se você se deparar com o indivíduo em sofrimento psíquico e com sinais de depressão, por exemplo, considere incentivar a busca por ajuda psicológica.
Às vezes, o paciente pode nem se dar conta de que as suas questões emocionais estão bastante abaladas. Você, neste caso, pode apresentar a possibilidade de buscar ajuda qualificada para enfrentar os desafios vividos.
Dê a entender que a psicoterapia pode ajudá-lo a ter mais qualidade de vida, e que é algo que pode contribuir para a vida de qualquer pessoa. Evite fazer com que ele se sinta um “doente mental”, pois esse estigma em volta da necessidade de procurar um psicólogo pode desencorajá-lo de ir adiante.

6. Demonstrar afeto e carinho
Em diversos momentos, a demonstração de afeto e carinho, por meio de palavras e gestos, pode ser algo mais valioso do que tentar encontrar “mil e uma soluções” para os problemas que vêm sendo atravessados.
Isto é, em muitos casos, a demonstração de afeto pode ocasionar uma atmosfera mais tranquila de bem-estar e acolhimento ao paciente, diferente do que frases prontas como “vai ficar tudo bem” podem proporcionar.
Ser sincero com relação aos sentimentos e demonstrar isso ao outro pode ser uma das peças-chave para o fortalecimento do vínculo, criando um espaço mais acolhedor e agradável. Pense nisso.

7. Convidar para momentos de descontração
Infelizmente, ainda existem muitos estigmas em volta do paciente com câncer, mas a verdade é que, em muitos casos, é possível seguir uma rotina relativamente normal. Nem tudo na vida da pessoa gira em torno da sua enfermidade.
Sendo assim, convidar a pessoa para momentos diferentes, como um passeio, viagem, jantar, visita, ou qualquer outra atividade que esteja dentro dos limites do indivíduo, é algo que pode ser dito e colocado em prática.
Não precisamos isolar a pessoa do mundo, se as condições médicas estiverem equilibradas. Mas sim, podemos oferecer momentos de lazer tais quais ofereceríamos em qualquer outra situação.
Assim, você se faz presente, auxilia o indivíduo na hora de se distrair e descontrair, e promove um fortalecimento do laço existente entre vocês.

O que não dizer para o paciente com câncer?

Pensando no que dizer e o que não dizer para o paciente com câncer, pudemos ver, até aqui, que o afeto, a escuta e a compreensão do indivíduo são fatores que contribuem para o mantimento dos cuidados com a saúde mental.

Agora, vamos refletir um pouco sobre os discursos que, apesar de serem feitos com boas intenções, podem magoar e causar mal-estar no sujeito com câncer. Veja abaixo:

1. Minimizar as mudanças e efeitos do câncer
Diante de um diagnóstico de câncer e o medo de morrer, por exemplo, podemos ver o indivíduo desequilibrado emocionalmente. Esse desequilíbrio é esperado e muito normal em muitas fases do tratamento.
Porém, embora tenhamos a intenção de ajudar e tranquilizar, não podemos minimizar os efeitos da doença. Isto é, devemos evitar comentários como “você é forte e o câncer nem faz diferença na vida”, ou algo como “nem parece que você tem câncer”.
Isso porque esses discursos podem dar a entender que a pessoa está “sofrendo desnecessariamente”, o que a leva a se fechar em suas emoções, ao invés de colocá-las para fora quando há oportunidade.
Jamais diminua a dor ou os impactos do câncer. Embora existam situações mais ou menos agressivas, isso não nos dá o direito de dizer se algo está intenso ou não. Somente a pessoa sabe o peso de suas dores e mudanças.

2. Anular as emoções
Da mesma forma que não devemos minimizar os efeitos do câncer, não podemos anular as emoções da outra pessoa.
Se ela estiver triste, revoltada ou chorosa, não devemos dizer algo como “não fique assim, existem casos piores”. Independentemente de haver ou não haver casos piores ou melhores, não existe uma régua para as dores emocionais.
Portanto, é completamente injusto ficarmos anulando o que a pessoa sente, dizendo a ela que poderia “ser pior”. Afinal, independentemente se poderia ou não ser pior, ela já está sofrendo no momento, e é isso que devemos nos atentar.
Outra forma de anular a emoção é simplesmente tentar “enxergar tudo positivamente”. Isto é, a positividade tóxica também deve ser evitada nesse tipo de caso.
Ficar dizendo que o câncer é uma oportunidade “de refletir sobre a vida” é algo extremamente cruel e sem sentido. Pois pare e pense, de maneira racional: será que é justo uma pessoa sofrer profundamente com um câncer para “pensar na vida”? Não seria mais fácil ela, simplesmente, ter a oportunidade de pensar sem precisar passar pelas dores da enfermidade?
Por isso, cuidado com as palavras que você usa para tentar “animar” o outro. Se não souber como animar, procure manter-se calado, dando apoio emocional com abraços, demonstração de presença, etc.
Por fim, outro exemplo de anulação das emoções seria dizer algo como “eu sei exatamente como você se sente”. Embora você possa ter vivido algo semelhante, a verdade é que nunca saberemos exatamente o que o outro sente. E se dissermos que sim, agindo de uma forma que minimize o que ele sente, a anulação das emoções poderá estar acontecendo.
Vale ressaltar que anular as emoções é prejudicial para a saúde mental.

3. Comparar com outros casos
A comparação é algo que pode causar impactos profundos na saúde emocional da pessoa. Como dito anteriormente, não existe uma régua para as dores emocionais. Portanto, jamais compare o indivíduo com outras pessoas que superaram diagnósticos semelhantes.
Da mesma forma, não o compare com outros tipos de enfermidades que podem ser mais intensas e agressivas.
Não se esqueça de que cada caso sempre será único, e cada pessoa irá enfrentar as adversidades da vida de uma maneira diferente. Por isso, comparar é algo completamente esdrúxulo.
Até porque, não podemos nos esquecer de que cada pessoa tem a sua maneira de ver a vida, de ver as dores, de sentir as adversidades, e assim por diante. Ninguém cresce com as mesmas perspectivas. Nem mesmo irmãos gêmeos têm a mesma personalidade e a mesma visão de mundo. Então, como poderíamos comparar qualquer pessoa, em qualquer situação? Parece algo inviável, concorda?

4. Tomar decisões ou ajudar sem consultar o paciente
Tomar decisões sobre a vida do paciente ou “ajudá-lo” sem perguntar antes são atos de desrespeito e de falta de consideração.
Por exemplo, simplesmente ir ao mercado e fazer a compra do mês, levando-a à casa do paciente, não é algo muito interessante se vocês não combinaram isso.
Da mesma forma, decidir pela pessoa em situações que ela mesma pode dizer sim ou não é algo desrespeitoso. Por exemplo, se ela recebe o convite para ir a um casamento, você não tem o direito de decidir que ela não vai.
Devemos ter o cuidado de não anular o sujeito, pois ao tomarmos para nós a responsabilidade de decidir e ajudar quando bem entendermos, sem perguntar e sem entender o ponto de vista do indivíduo, podemos estar tratando-o como alguém inferior.
Claro que há casos graves que exigem uma atuação mais ativa por parte da família, mas ainda assim podemos conversar e saber mais sobre o que o paciente pensa sobre determinadas decisões.

5. Conversar apenas sobre o câncer
Apesar de a preocupação ser genuína, ainda assim devemos ter o cuidado de não conversar apenas sobre o câncer.
Esse hábito de tocar nesse assunto o tempo todo pode cansar a pessoa, deixando-a abatida e até mesmo estressada.
Pois imagine se fosse o contrário? Se você tivesse que enfrentar um grande problema e esse assunto fosse o único discutido nas rodas de conversa?

6. Jamais chame a atenção para as mudanças físicas
Nunca chame a atenção do paciente para as mudanças físicas, mesmo que seja para elogiar. Por exemplo, dizer que a pessoa ficou mais “magrinha e bonita” é algo extremamente ruim.
Ela não perdeu peso porque quis. Ela perdeu peso porque está doente, e sabe disso. Sendo assim, fortalecer esse tipo de discurso é lembrá-la, o tempo todo, de que a aparência física está sofrendo alterações devido aos impactos da doença.

7. Jamais incentive tratamentos sem eficácia comprovada
Nunca, em hipótese alguma, incentive algum tipo de tratamento que não possua eficácia comprovada.
No momento do desespero, a pessoa pode perguntar a sua opinião sobre determinados tipos de tratamentos “diferentes”. Deixe claro que esse tipo de tratamento sem comprovação científica pode causar efeitos colaterais desconhecidos, e inclusive piorar o quadro.
Incentive-a a sempre conversar com médicos confiáveis e experientes, e não com pessoas que sequer têm formação na área da saúde.

8. Cuidado com o exagero de perguntas
Sabemos que quando um parente ou amigo recebe o diagnóstico de câncer e/ou inicia o tratamento, muitas dúvidas podem surgir. Podemos ficar curiosos diante da situação, com um desejo de saber mais sobre o que está acontecendo.
Porém, o excesso de perguntas pode ocasionar efeitos na saúde mental da pessoa. Ficar falando da doença e perguntando tudo sobre ela, o tempo todo, pode sobrecarregar o bem-estar do indivíduo, além de levá-lo a responder perguntas que podem deixá-lo desconfortável, com medo, triste, abalado, etc.
Portanto, controle a sua curiosidade e permita que a pessoa tome a decisão de falar livremente sobre o que está acontecendo com ela.

9. Não minta para o paciente tentando agradá-lo
Por fim, jamais minta para o paciente com o intuito de agradá-lo. Por exemplo, não diga algo como “talvez o seu cabelo não caia”, pois sabemos que um dos efeitos colaterais do tratamento é justamente a perda de cabelo causada pela quimioterapia.
Portanto, embora as intenções possam ser positivas, as mentiras podem levar à frustração mais tarde.

Se tiver dúvidas sobre o que dizer e o que não dizer para o paciente com câncer, não hesite em conversar com o médico que está o acompanhando. Assim, quem sabe, você poderá ter informações mais claras e fidedignas que poderão ser relatadas ao paciente, ao invés de mentir para tentar minimizar a situação.

Referências
ABRALE, Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia. 9 coisas que você nunca deve falar para uma pessoa com câncer. Artigo de blog. Disponível em: https://www.abrale.org.br/noticias/9-coisas-que-voce-nunca-deve-falar-para-uma-pessoa-com-cancer/. Acesso em 27 out. 2022.

CENTRO DE COMBATE AO C NCER. Conversando com o paciente. Disponível em: https://cccancer.net/comportamento/conversando-com-o-paciente/. Acesso em 27 out. 2022.

UNIMED. Câncer: como ajudar um amigo a enfrentar a doença. Artigo de blog. Disponível em: https://www.unimed.coop.br/viver-bem/saude-em-pauta/cancer-como-ajudar-um-amigo-a-enfrentar-a-doenca. Acesso em 27 out. 2022.